ENTRE DOGMAS E HIPOCRISIAS
João
Eichbaum
A
paixão pode ser cúmplice do silêncio. Mas o fim de todas as esperanças tem
força para violá-lo. Com lesões na cabeça e nos membros inferiores, uma mulher,
ao ser medicada na emergência do hospital, não revelou a origem dos ferimentos.
Instauradas
a partir do boletim médico do hospital, as investigações policiais tropeçaram
no silêncio oposto pela mulher. Só um ano depois raiou o dia impossível da revelação.
A paixão dera lugar ao fim de todas as esperanças de reconciliação, transformando
os suspiros em lágrimas: seu agressor era um padre, a quem a mulher se
entregava em noites furtivas.
A
Igreja Católica desfralda a bandeira da castidade como mentira romântica do
celibato sacerdotal. Quer dizer, usa a hipocrisia para estimular a fantasia
popular sobre aquilo a que denomina “mistérios de Deus”.
Não
é segredo algum: todo mundo sabe que o sexo é uma função biológica. As
glândulas de reprodução são os instrumentos usados pela natureza para a
preservação do gênero animal, de que o homem é espécie. Sem o sexo, o homem já
teria desaparecido da face da terra.
Trata-se,
portanto, de uma das funções essenciais da natureza animal. É a que ocupa o
cume na escala dos prazeres da vida, exatamente para mostrar que a vida depende
dela.
Por outro lado, perversidades e deserções do
estado clerical demonstram a hipocrisia do celibato como distinção outorgada
aos “escolhidos por Deus”. E, como se não bastassem os incontáveis casos de
pedofilia, que despertam apenas “angústia apostólica” no Sumo Pontífice, o Rio
Grande do Sul apimenta agora a história negativa da Igreja, com o padre de
Caxias do Sul que espancou a amante.
Tendo
levado a sério as lições do apóstolo Paulo que mandava as mulheres se
submeterem aos homens, o padre vai ser indiciado como um joão ninguém qualquer,
desses que enchem a cara no sábado e descontam suas frustrações em cima da
patroa: Lei Maria da Penha nele.
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