UM
PAÍS À DERIVA, NO MAR DA INCOMPETÊNCIA
João
Eichbaum
Como
professor de Direito Constitucional, Temer conseguiu construir a maior heresia
da história da ciência jurídica no Brasil: transformou os descontraídos e
folgazões brasileiros em subalternos de um Estado apocalíptico.
O
Direito Constitucional é a fonte das regras de administração do Estado,
condensadas na Constituição. Essas regras deveriam representar para os
governantes o mesmo que a partitura representa para os músicos, estabelecendo a
ordem que preside a harmonia.
O talento, na música, dispensa a partitura. O dom do ouvido perfeito, aliado à
habilidade no manejo do instrumento musical, substitui o pentagrama. O músico,
então, “toca de ouvido”.
A
política também pode ser “tocada de ouvido”, sem o domínio da literatura
jurídica e de todos os conhecimentos específicos sobre administração. Mas, para isso é preciso também talento, como
na música. É preciso ter o dom de absorver as regras que presidem a organização
do bem comum e de saber usá-las nas turbulências sociais.
No
Brasil o que temos são aventureiros cevados na falácia, gente que, ou não sabe
ler as regras da ciência política, ou não tem competência para “tocar de
ouvido”, agregando o interesse de todos em torno do bem comum. O resultado é
isso que aí está: um país entregue à violência, à desigualdade e à desordem.
O
episódio doloroso, desatado pela insatisfação dos caminhoneiros e sofrido por
todos os que sustentam a nação, é o segundo ato do dramalhão a que foi reduzida
nossa história. O primeiro se passou num porão da República, encenado pelo
Presidente e um ex-açougueiro, que enriqueceu à custa do rabo dos políticos.
O
Temer do encontro furtivo com um iletrado espertalhão é o mesmo Temer que,
cercado de incompetentes ministros, se embananou na administração do país:
mostrou que não tem capacidade nem para conviver com as misérias da glória. Fez
o que está no manual dos ofícios tirânicos: armou uma praça de guerra contra
cidadãos que, condenados ao destino infame de viver só para contrariar a morte,
são esganados pelo fisco para garantir o luxo e o desperdício com os cartões
corporativos da Corte republicana.
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