segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
CRÔNICA DE NATAL
João Eichbaum
Sou cristão porque me batizaram, quando era muito pequenininho e ainda não sabia dizer “não”. Devo ter esperneado, na hora do batismo, com água fria e sal na testa, devo ter me borrado e mijado na rica fralda que a minha mãe preparou para o batismo, pobre de mim, mas nem o padre nem meus padrinhos entenderam a minha linguagem. Hoje, não tenho dúvidas, esperneei, berrei, e me borrei porque não queria ser cristão.
Que me perdoem os cristãos, os que vão à missa, os que acreditam nos padres, nos bispos, no papa e outros que tais, mas não me sinto muito à vontade em sendo cristão, exatamente porque me impuseram uma religião goela abaixo, não respeitaram os meus esperneios, berros, puns e cagadas, não entenderam, quando eu quis dizer “parem com isso, seus fiadas putas”.
Foi uma baita sacanagem, isso foi. E depois disso, em nome do cristianismo, ainda me proibiram de fazer sacanagens com as menininhas eternamente primaveris, de quem eu sempre gostava e com os mulherões dos outros, as quais sempre encheram meus olhos e estiveram na mira da minha admiração.
Mas, agora, o que fazer? Sou cristão e pronto. Não tenho como reverter o batismo.
E por ser cristão, conquanto não acredite em presépios com ovelhinhas e vaquinhas, menininhos Jesus de olhos azuis e degolação de crianças (embora quando ouço berros das mesmas na vizinhança, me lembro, saudosamente, do Herodes), caio na onda dos presentes e abraços, e tenho que ouvir “feliz natal”, sem querer, a toda a hora e receber cartões (sim, por incrível que pareça, tem gente que ainda usa os Correios e escreve cartões e me manda e eu tenho que botar tudo no lixo) e e-mails com a frase, eternamente recorrente, “feliz natal”. E tem gente que até me deseja um “abençoado natal”.
Mas suporto, pacientemente, tudo isso e olho, pacientemente, o povo se atropelando nas ruas e lojas, porque é Natal e é sempre no Natal que tomo o penúltimo porre do ano, lembrando que sou cristão.
À saúde de todos vocês.
João Eichbaum
Sou cristão porque me batizaram, quando era muito pequenininho e ainda não sabia dizer “não”. Devo ter esperneado, na hora do batismo, com água fria e sal na testa, devo ter me borrado e mijado na rica fralda que a minha mãe preparou para o batismo, pobre de mim, mas nem o padre nem meus padrinhos entenderam a minha linguagem. Hoje, não tenho dúvidas, esperneei, berrei, e me borrei porque não queria ser cristão.
Que me perdoem os cristãos, os que vão à missa, os que acreditam nos padres, nos bispos, no papa e outros que tais, mas não me sinto muito à vontade em sendo cristão, exatamente porque me impuseram uma religião goela abaixo, não respeitaram os meus esperneios, berros, puns e cagadas, não entenderam, quando eu quis dizer “parem com isso, seus fiadas putas”.
Foi uma baita sacanagem, isso foi. E depois disso, em nome do cristianismo, ainda me proibiram de fazer sacanagens com as menininhas eternamente primaveris, de quem eu sempre gostava e com os mulherões dos outros, as quais sempre encheram meus olhos e estiveram na mira da minha admiração.
Mas, agora, o que fazer? Sou cristão e pronto. Não tenho como reverter o batismo.
E por ser cristão, conquanto não acredite em presépios com ovelhinhas e vaquinhas, menininhos Jesus de olhos azuis e degolação de crianças (embora quando ouço berros das mesmas na vizinhança, me lembro, saudosamente, do Herodes), caio na onda dos presentes e abraços, e tenho que ouvir “feliz natal”, sem querer, a toda a hora e receber cartões (sim, por incrível que pareça, tem gente que ainda usa os Correios e escreve cartões e me manda e eu tenho que botar tudo no lixo) e e-mails com a frase, eternamente recorrente, “feliz natal”. E tem gente que até me deseja um “abençoado natal”.
Mas suporto, pacientemente, tudo isso e olho, pacientemente, o povo se atropelando nas ruas e lojas, porque é Natal e é sempre no Natal que tomo o penúltimo porre do ano, lembrando que sou cristão.
À saúde de todos vocês.
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
COLUNA DO PAULO WAINBERG
O JANTAR
Paulo Wainberg
Dizem que todos os anos, em Dezembro, Belzebu, Mefistófeles e Lúcifer se reúnem para um jantar de avaliação sobre o ano que passou e o planejamento para o ano seguinte.
O cardápio é elaborado pela alma penada de Chef de Cuisine cozinheiro que, após preparar e servir o jantar de Maria Antonieta, na noite de 14 de julho de 1789, no Petit Trianon do Palácio de Versailles, tirou o avental e o chapéu de mestre-cuca e aderiu ao povo na grande tarefa de derrubar a Bastilha.
Para evitar discussões sobre hierarquia, a mesa do jantar tinha a forma de um triângulo eqüilátero para que todos ocupassem simultaneamente a cabeceira.
Belzebu era o encarregado das almas dos políticos, assessores, jornalistas, jogadores, comentaristas e repórteres de futebol, flanelinhas, telefonistas de call centers, juízes de todos os tribunais, delegados de todas as polícias, promotores públicos, chefes de repartição e encarregados de almoxarifado.
Mefistófeles administrava as almas dos empresários, especuladores, banqueiros, garçons irritados, pregadores, vendedores de consórcios, economistas, motoristas de táxi, motoqueiros, gerentes de financeiras, arquitetos de interior, pichadores e organizadores de passeatas.
Lúcifer geria almas do resto da população, como os infratores de pecados, capitais e veniais, vendedores de churrasquinho de gato, críticos de arte, literatura, música e cinema, executivos, radialistas chatos, eminências pardas, vendedores de rede na praia, agentes funerários, publicitários, pessoas que ocupam os dois espaços em escadas rolantes, gente que para nas portas dos edifícios, operadoras de celular que ligam para saber se está tudo bem e mil outras.
Para quebrar o gelo inicial e dar boas gargalhadas tinham combinado há milênios que durante a refeição, falariam exclusivamente sobre a seção brasileira do Inferno.
Deixavam os assuntos sérios para os licores e charutos.
Belzebu era o mais animado de todos, pois havia superlotado seu setor naquele ano. Milhares de vereadores e deputados, todos os senadores e milhões de candidatos haviam assinado o Pacto. Também era infinito o número de assessores signatários e o Presidente está ali, ali para assinar, seduzido pela promessa de uma possível re-eleição. Belzebu tinha enorme esperança de trazer sua alma para as profundezas, um lucro extraordinário na sua contabilidade além da expectativa de boas conversas.
Aumentara suas doses de sedução cooptando almas das outras seções para alimentar a ambição do Presidente, fornecendo números e estatísticas deslumbrantes, tirando o Presidente da linha de frente dos escândalos sucessivos e inserindo-lhe a sensação de invencibilidade. Tinha Belzebu certeza de que, se não fosse neste, no ano que vem o Presidente pingaria sua gota de sangue no Pacto.
Mefistófeles também exultava. Usando as almas dos executivos, administradas por Lúcifer, conseguira deflagrar uma crise financeira mundial de tal proporção que as almas sob sua gerência não pensavam duas vezes em assinar o Pacto com o próprio sangue.
Os três desabaram numa gargalhada infernal que ressoou em todo o território do Inferno, quando Mefistófeles referiu que seus gerenciados no Brasil se diziam tranqüilos e que a crise não era com eles. Quando relatou algumas das frases de economistas e vendedores de consórcios, Belzebu e Lúcifer engasgaram de tanto rir e tiveram que cuspir os pedaços de ovos de cardeal acebolados, servidos como entrada. Para aquele ano não sobrava mais espaço na sua seção e ele já providenciara no novo anexo para o ano seguinte.
Lúcifer era o menos entusiasmado. Embora o setor de aproveitadores de tragédias tivesse crescido bastante nos últimos meses, estava enfrentando uma forte e ferrenha concorrência celestial. Ao que lhe constava, há muito os céus haviam desistido das almas gerenciadas por Belzebu e Mefistófeles, concentrando suas energias no contingente dele, Lúcifer. Guardava uma mágoa mal-disfarçada, considerando que por trás de tudo havia um favorecimento velado aos outros dois. Enquanto Mefistófeles e Belzebu haviam conseguido quase dois bilhões de assinaturas novas no Pacto, Lúcifer mal atingira a marca do bilhão.
- O meu setor – reclamou Lúcifer, engolindo um delicioso pedaço do prato principal – está muito visado e as adesões ao Pacto estão diminuindo em ordem geométrica. Preciso pensar em novas estratégias para o próximo ano – concluiu, pegando outra fatia.
Mefistófeles, com o tridente, serviu-se de generosa porção de intestino grosso de caçadores ao molho pardo, prato infernalmente conhecido pela perfeição com que Chef de Cuisine o preparava, adicionando molhos exóticos como salsaparrilha e quistos sebáceos.
- Eu não posso reclamar – falou Belzebu, mastigando um olho de advogado em conserva. Ainda hoje à tarde colhi a assinatura do presidente do Supremo Tribunal de Justiça e do Chefe da Polícia Federal. Eles querem, imaginem só, que o povo acredite na versão deles no caso do DD.
Nova gargalhada ribombou nas profundezas.
- O problema que estou enfrentando – continuou – é conciliar as garantias que dei, em troca da assinatura do Pacto, ao TG, JS e DR que eles seriam eleitos. Mas – e gargalhou novamente – eles são brasileiros, desde quando acreditam em promessas?
- O mais engraçado aconteceu comigo – ponderou Mefistófeles. Desafio vocês a contarem caso mais divertido. Coisa bem de brasileiro. E quáquáquáquá. Foi tão forte a gargalhada que duas pontes móveis de uma senhora que tomava cafezinho em um boteco de Veneza se soltaram. Mandei meus demônios oferecerem duplicação de estradas, redução do valor de pedágios, recuperação de lagos e rios, construção de túneis e viadutos e o fim do mosquito da dengue. Eles obtiveram a assinatura de ministros, secretários de estado, todos os executivos, donos de empreiteiras, fiscais da saúde e os caras acreditaram! Faço isso todos os anos com os novos que estão ocupando os postos e eles acreditam. Eu garanto o que prometo a eles: grana, muita grana. Ficam ricos lá em cima e depois são descobertos, presos, perdem tudo e depois descem, direto para os meus braços. Eu me divirto caras, me divirto muito com essa gente. Acho que nunca vão aprender.
- O meu problema – disse Lúcifer – é que os pecados capitais são cada vez menos pecados. Lá em cima estão perdoando a torto e a direito. Marido de um com a mulher de outro não faz nem cosquinhas. Os publicitários, que antes enchiam meus porões, são absolvidos a torto e a direito. Os chatos já nascem perdoados senão o céu ficaria vazio, e assim por diante. Honestamente, acho que as religiões lá em cima estão sofrendo um forte afrouxamento moral. Assim não é possível! Se a situação não mudar vou ter que pedir a convocação de uma Convenção Integral!
- Ó! – exclamaram Belzebu e Mefistófeles. – Uma Convenção Integral? Com a presença dos Dois?
- Exatamente – disse Lúcifer, servindo-se da sobremesa: mousse de cérebros da estação. Com a presença dos Dois!
Eles sabiam o que aquilo representava. Apenas uma vez, desde a queda, se realizara uma Convenção Integral: quando houve forte pressão lá de cima, encabeçada por sacerdotes vaticanenses, para absolver os nazistas. E fora terrível!
Um Debate Infinito que mudou as estruturas da superfície e exigiu arranjos apressados tanto em cima quanto em baixo. As profundezas saíram vitoriosa, uma vitória que custou caro, pois tiveram que, na contrapartida, abrir mão da elite russa, dos agentes da CIA e das almas de GV, CL, LCP, todos brasileiros e gozando, para a eternidade e injustamente do ponto de vista infernal, as delícias celestiais.
Ardilosamente o Inferno criou novo mercado para compensar as perdas, uma nova fonte de almas: os terroristas.
As configurações da superfície foram de tal modo abaladas que até para o espaço os humanos foram, em busca de novos lugares para corromper.
E agora vinha Lúcifer propor uma nova Convenção Integral com todas as respectivas e imponderáveis conseqüências!
- Calma, calma, companheiros, é apenas uma idéia. Ainda não decidi porque pretendo recuperar o terreno perdido. Já não existe, por exemplo, um único agente funerário que não tenha assinado o Pacto. A quase totalidade dos vendedores de rede na praia já assinou.E o pessoal da televisão, sem exceção, em troca da promessa de audiência.
Estou programando uma forte investida, ano que vem, nos pesquisadores de opinião, nos médicos em geral e ali, no Brasil, nas pessoas que enviam crônicas pela internet. Com estes não terei perdão.
Mais calmos Mefistófeles e Belzebu terminaram a sobremesa e foram para o salão de fogo fátuo. Sentaram confortavelmente em suas poltronas enquanto o capuchinho, café preparado com borra de fígado de freis capuchinhos, era servido por Chef de Cuisine em pessoa, que foi muito cumprimentado pelo jantar oferecido.
Quando chegaram os licores e charutos os três, sabendo que tinham pouco tempo até o dia 31 para apresentarem pessoalmente os relatórios e projetos ao Diabo, passaram a discutir os assuntos sérios.
Sem mais delongas Mefistófeles perguntou a Belzebu:
- Então, meu caro, quando Barack Obama assinará o Pacto?
Paulo Wainberg
Dizem que todos os anos, em Dezembro, Belzebu, Mefistófeles e Lúcifer se reúnem para um jantar de avaliação sobre o ano que passou e o planejamento para o ano seguinte.
O cardápio é elaborado pela alma penada de Chef de Cuisine cozinheiro que, após preparar e servir o jantar de Maria Antonieta, na noite de 14 de julho de 1789, no Petit Trianon do Palácio de Versailles, tirou o avental e o chapéu de mestre-cuca e aderiu ao povo na grande tarefa de derrubar a Bastilha.
Para evitar discussões sobre hierarquia, a mesa do jantar tinha a forma de um triângulo eqüilátero para que todos ocupassem simultaneamente a cabeceira.
Belzebu era o encarregado das almas dos políticos, assessores, jornalistas, jogadores, comentaristas e repórteres de futebol, flanelinhas, telefonistas de call centers, juízes de todos os tribunais, delegados de todas as polícias, promotores públicos, chefes de repartição e encarregados de almoxarifado.
Mefistófeles administrava as almas dos empresários, especuladores, banqueiros, garçons irritados, pregadores, vendedores de consórcios, economistas, motoristas de táxi, motoqueiros, gerentes de financeiras, arquitetos de interior, pichadores e organizadores de passeatas.
Lúcifer geria almas do resto da população, como os infratores de pecados, capitais e veniais, vendedores de churrasquinho de gato, críticos de arte, literatura, música e cinema, executivos, radialistas chatos, eminências pardas, vendedores de rede na praia, agentes funerários, publicitários, pessoas que ocupam os dois espaços em escadas rolantes, gente que para nas portas dos edifícios, operadoras de celular que ligam para saber se está tudo bem e mil outras.
Para quebrar o gelo inicial e dar boas gargalhadas tinham combinado há milênios que durante a refeição, falariam exclusivamente sobre a seção brasileira do Inferno.
Deixavam os assuntos sérios para os licores e charutos.
Belzebu era o mais animado de todos, pois havia superlotado seu setor naquele ano. Milhares de vereadores e deputados, todos os senadores e milhões de candidatos haviam assinado o Pacto. Também era infinito o número de assessores signatários e o Presidente está ali, ali para assinar, seduzido pela promessa de uma possível re-eleição. Belzebu tinha enorme esperança de trazer sua alma para as profundezas, um lucro extraordinário na sua contabilidade além da expectativa de boas conversas.
Aumentara suas doses de sedução cooptando almas das outras seções para alimentar a ambição do Presidente, fornecendo números e estatísticas deslumbrantes, tirando o Presidente da linha de frente dos escândalos sucessivos e inserindo-lhe a sensação de invencibilidade. Tinha Belzebu certeza de que, se não fosse neste, no ano que vem o Presidente pingaria sua gota de sangue no Pacto.
Mefistófeles também exultava. Usando as almas dos executivos, administradas por Lúcifer, conseguira deflagrar uma crise financeira mundial de tal proporção que as almas sob sua gerência não pensavam duas vezes em assinar o Pacto com o próprio sangue.
Os três desabaram numa gargalhada infernal que ressoou em todo o território do Inferno, quando Mefistófeles referiu que seus gerenciados no Brasil se diziam tranqüilos e que a crise não era com eles. Quando relatou algumas das frases de economistas e vendedores de consórcios, Belzebu e Lúcifer engasgaram de tanto rir e tiveram que cuspir os pedaços de ovos de cardeal acebolados, servidos como entrada. Para aquele ano não sobrava mais espaço na sua seção e ele já providenciara no novo anexo para o ano seguinte.
Lúcifer era o menos entusiasmado. Embora o setor de aproveitadores de tragédias tivesse crescido bastante nos últimos meses, estava enfrentando uma forte e ferrenha concorrência celestial. Ao que lhe constava, há muito os céus haviam desistido das almas gerenciadas por Belzebu e Mefistófeles, concentrando suas energias no contingente dele, Lúcifer. Guardava uma mágoa mal-disfarçada, considerando que por trás de tudo havia um favorecimento velado aos outros dois. Enquanto Mefistófeles e Belzebu haviam conseguido quase dois bilhões de assinaturas novas no Pacto, Lúcifer mal atingira a marca do bilhão.
- O meu setor – reclamou Lúcifer, engolindo um delicioso pedaço do prato principal – está muito visado e as adesões ao Pacto estão diminuindo em ordem geométrica. Preciso pensar em novas estratégias para o próximo ano – concluiu, pegando outra fatia.
Mefistófeles, com o tridente, serviu-se de generosa porção de intestino grosso de caçadores ao molho pardo, prato infernalmente conhecido pela perfeição com que Chef de Cuisine o preparava, adicionando molhos exóticos como salsaparrilha e quistos sebáceos.
- Eu não posso reclamar – falou Belzebu, mastigando um olho de advogado em conserva. Ainda hoje à tarde colhi a assinatura do presidente do Supremo Tribunal de Justiça e do Chefe da Polícia Federal. Eles querem, imaginem só, que o povo acredite na versão deles no caso do DD.
Nova gargalhada ribombou nas profundezas.
- O problema que estou enfrentando – continuou – é conciliar as garantias que dei, em troca da assinatura do Pacto, ao TG, JS e DR que eles seriam eleitos. Mas – e gargalhou novamente – eles são brasileiros, desde quando acreditam em promessas?
- O mais engraçado aconteceu comigo – ponderou Mefistófeles. Desafio vocês a contarem caso mais divertido. Coisa bem de brasileiro. E quáquáquáquá. Foi tão forte a gargalhada que duas pontes móveis de uma senhora que tomava cafezinho em um boteco de Veneza se soltaram. Mandei meus demônios oferecerem duplicação de estradas, redução do valor de pedágios, recuperação de lagos e rios, construção de túneis e viadutos e o fim do mosquito da dengue. Eles obtiveram a assinatura de ministros, secretários de estado, todos os executivos, donos de empreiteiras, fiscais da saúde e os caras acreditaram! Faço isso todos os anos com os novos que estão ocupando os postos e eles acreditam. Eu garanto o que prometo a eles: grana, muita grana. Ficam ricos lá em cima e depois são descobertos, presos, perdem tudo e depois descem, direto para os meus braços. Eu me divirto caras, me divirto muito com essa gente. Acho que nunca vão aprender.
- O meu problema – disse Lúcifer – é que os pecados capitais são cada vez menos pecados. Lá em cima estão perdoando a torto e a direito. Marido de um com a mulher de outro não faz nem cosquinhas. Os publicitários, que antes enchiam meus porões, são absolvidos a torto e a direito. Os chatos já nascem perdoados senão o céu ficaria vazio, e assim por diante. Honestamente, acho que as religiões lá em cima estão sofrendo um forte afrouxamento moral. Assim não é possível! Se a situação não mudar vou ter que pedir a convocação de uma Convenção Integral!
- Ó! – exclamaram Belzebu e Mefistófeles. – Uma Convenção Integral? Com a presença dos Dois?
- Exatamente – disse Lúcifer, servindo-se da sobremesa: mousse de cérebros da estação. Com a presença dos Dois!
Eles sabiam o que aquilo representava. Apenas uma vez, desde a queda, se realizara uma Convenção Integral: quando houve forte pressão lá de cima, encabeçada por sacerdotes vaticanenses, para absolver os nazistas. E fora terrível!
Um Debate Infinito que mudou as estruturas da superfície e exigiu arranjos apressados tanto em cima quanto em baixo. As profundezas saíram vitoriosa, uma vitória que custou caro, pois tiveram que, na contrapartida, abrir mão da elite russa, dos agentes da CIA e das almas de GV, CL, LCP, todos brasileiros e gozando, para a eternidade e injustamente do ponto de vista infernal, as delícias celestiais.
Ardilosamente o Inferno criou novo mercado para compensar as perdas, uma nova fonte de almas: os terroristas.
As configurações da superfície foram de tal modo abaladas que até para o espaço os humanos foram, em busca de novos lugares para corromper.
E agora vinha Lúcifer propor uma nova Convenção Integral com todas as respectivas e imponderáveis conseqüências!
- Calma, calma, companheiros, é apenas uma idéia. Ainda não decidi porque pretendo recuperar o terreno perdido. Já não existe, por exemplo, um único agente funerário que não tenha assinado o Pacto. A quase totalidade dos vendedores de rede na praia já assinou.E o pessoal da televisão, sem exceção, em troca da promessa de audiência.
Estou programando uma forte investida, ano que vem, nos pesquisadores de opinião, nos médicos em geral e ali, no Brasil, nas pessoas que enviam crônicas pela internet. Com estes não terei perdão.
Mais calmos Mefistófeles e Belzebu terminaram a sobremesa e foram para o salão de fogo fátuo. Sentaram confortavelmente em suas poltronas enquanto o capuchinho, café preparado com borra de fígado de freis capuchinhos, era servido por Chef de Cuisine em pessoa, que foi muito cumprimentado pelo jantar oferecido.
Quando chegaram os licores e charutos os três, sabendo que tinham pouco tempo até o dia 31 para apresentarem pessoalmente os relatórios e projetos ao Diabo, passaram a discutir os assuntos sérios.
Sem mais delongas Mefistófeles perguntou a Belzebu:
- Então, meu caro, quando Barack Obama assinará o Pacto?
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
PRA QUEM AINDA ACREDITA EM PAPAI NOEL, CEGONHA E JUSTIÇA
AS AMBIÇÕES DA MINISTRA
João Eichbaum
Leio nos jornais que a ministra Ellen Gracie foi indicada para vaga na OMC, (Organização Mundial do Comércio) pelo Palácio do Itamaraty, “em nome do governo brasileiro”. Diz mais a notícia: “a ministra comunicou aos colegas, na quinta-feira, que disputaria a vaga”.
Indicada pelo governo brasileiro. Eu li, vocês leram. O “governo brasileiro” é o Executivo, aquele pelo qual responde um cidadão que nem o curso primário tem completo. Pois a ministra se sujeitou, se submeteu ao governo, assim limitado em sua cultura.
Diz a mesma notícia que “desde que deixou a presidência do STF a ministra ambiciona nova colocação”.
Se ela for escolhida, amanhã, na história, figurará a senhora Ellen Gracie como uma representante brasileira na OMC, assim como se orgulham os brasileiros de terem tido um baiano na corte de Haia, o Rui Barbosa que, na verdade, só tinha um baita papo e nada mais.
Tanto a ministra Ellen como Rui Barbosa .nada mais fizeram do que “negociar”, vamos dizer assim, a sua indicação para os órgãos de jurisdição internacional. Ninguém os foi buscar em casa, ninguém reconheceu, espontaneamente, os seus talentos, a sua habilidade, no trato com as questões internacionais, pela simples razão de que eles jamais tiveram oportunidade de demonstrar tal capacidade.
Pergunto, para vocês, qual foi a questão internacional que foi resolvida pela “inteligência” de Rui Barbosa? Alguém aí da platéia sabe me responder?
É assim, meus amigos, que as pessoas se projetam: porque se candidatam, porque querem aparecer, porque querem ter seus nomes nos anais, porque fazem qualquer tipo de negócio, para alcançar seus objetivos.
Diz a notícia que “o primeiro cargo pretendido” pela ministra era a Corte de Haia, que não levou. Depois “ seu nome foi cogitado para ocupar o Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos,” o que também não levou.
“As tentativas frustradas – diz a notícia – motivaram críticas reservadas dos ministros do Supremo, que não gostaram de ver a colega negociar cargos com o governo e continuar julgando ações, algumas envolvendo o próprio Executivo”.
Aí eu pergunto: e a independência do Judiciário, como é que fica? E esses ministros que criticaram a “colega” têm autoridade moral para tanto? Ou se esqueceram eles de que, sem “padrinhos”, jamais chegariam ao Supremo?
Não vou comentar nada, gente. Só estou mostrando de que “espécie” de gente é composto o Supremo Tribunal Federal.
João Eichbaum
Leio nos jornais que a ministra Ellen Gracie foi indicada para vaga na OMC, (Organização Mundial do Comércio) pelo Palácio do Itamaraty, “em nome do governo brasileiro”. Diz mais a notícia: “a ministra comunicou aos colegas, na quinta-feira, que disputaria a vaga”.
Indicada pelo governo brasileiro. Eu li, vocês leram. O “governo brasileiro” é o Executivo, aquele pelo qual responde um cidadão que nem o curso primário tem completo. Pois a ministra se sujeitou, se submeteu ao governo, assim limitado em sua cultura.
Diz a mesma notícia que “desde que deixou a presidência do STF a ministra ambiciona nova colocação”.
Se ela for escolhida, amanhã, na história, figurará a senhora Ellen Gracie como uma representante brasileira na OMC, assim como se orgulham os brasileiros de terem tido um baiano na corte de Haia, o Rui Barbosa que, na verdade, só tinha um baita papo e nada mais.
Tanto a ministra Ellen como Rui Barbosa .nada mais fizeram do que “negociar”, vamos dizer assim, a sua indicação para os órgãos de jurisdição internacional. Ninguém os foi buscar em casa, ninguém reconheceu, espontaneamente, os seus talentos, a sua habilidade, no trato com as questões internacionais, pela simples razão de que eles jamais tiveram oportunidade de demonstrar tal capacidade.
Pergunto, para vocês, qual foi a questão internacional que foi resolvida pela “inteligência” de Rui Barbosa? Alguém aí da platéia sabe me responder?
É assim, meus amigos, que as pessoas se projetam: porque se candidatam, porque querem aparecer, porque querem ter seus nomes nos anais, porque fazem qualquer tipo de negócio, para alcançar seus objetivos.
Diz a notícia que “o primeiro cargo pretendido” pela ministra era a Corte de Haia, que não levou. Depois “ seu nome foi cogitado para ocupar o Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos,” o que também não levou.
“As tentativas frustradas – diz a notícia – motivaram críticas reservadas dos ministros do Supremo, que não gostaram de ver a colega negociar cargos com o governo e continuar julgando ações, algumas envolvendo o próprio Executivo”.
Aí eu pergunto: e a independência do Judiciário, como é que fica? E esses ministros que criticaram a “colega” têm autoridade moral para tanto? Ou se esqueceram eles de que, sem “padrinhos”, jamais chegariam ao Supremo?
Não vou comentar nada, gente. Só estou mostrando de que “espécie” de gente é composto o Supremo Tribunal Federal.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
QUEREM PELAR A NUDEZ?
Paulo Wainberg
Entendi bem? O ator Pedro Cardoso quer acabar com o nu no cinema, teatro e TV?
Para q ue fique bem claro, adoro o ator Pedro Cardoso. Acho que ele tem um talento raro, uma qualidade cômica versátil capaz de fazer rir tanto na comédia escrachada quanto na mais sutil.
Mas tem que internar o cara, por favor!
O corpo humano, oculto por roupas, não é um imperativo religioso, que me perdoem os fiéis. Muito pelo contrário, salvo o circunstancial obscurantismo vitoriano imposto ao mundo no século XIX, mercê da influência da Igreja Católica, a roupa é elemento indispensável ao estímulo erótico, à fantasia sexual e à sensualidade sem a qual não existiria a dança, o teatro, a paquera e o bar.
Os humanos são estimulados pelos sentidos, isto é uma verdade, pelos cinco, quer dizer, olhar a garota dançando e imaginá-la tirando a roupa ou olhar quando ela tira a roupa e apreciar cada pedacinho do corpo que vai surgindo aos poucos é de uma grandeza erótica incrível. E vice-versa, imagino eu. Toque de mão é outra loucura. Os cheiros, my God, são de arrepiar (neste ponto somos como os animais: o famoso feromônio), sentir o salgado da pele na língua, ouvir o murmúrio ou o gemido, pronunciar palavras excitantes, aqui D’el Rey!, meus sais, meus sais!
O que as mulheres possuem que excitam os homens eu sei muito bem. O que excita as mulheres num homem eu meio que imagino. Também consigo entender as atrações homossexuais pois considero o homossexualismo o terceiro sexo, tão natural, pertinente e adequado quando os outros dois.
Falo por mim e me garanto: Sou capaz de apreciar a beleza masculina com a maior tranqüilidade e o meu ideal de homem, como homem que sou, seria um cara do tipo Sean Connery, quando jovem: másculo, sedutor, sutil e violento.
Não raro ando pela rua cantando para mim mesmo a música tema do James Bond tendo na cabeça a imagem do Sean nos seus melhores momentos.
Não sinto qualquer atração física por ele ou por qualquer outro homem, é uma questão de jeito, eu acho. Nasci homem e hétero, fazer o que?
Bom, agora que me revelei, sem constrangimento ou preconceito, quero voltar à questão levantada pelo Pedro Cardoso: há excessos de nudismo no cinema, teatro e tv? Para mim a resposta é: Não!
É que entendo que a diferença entre pornografia e erotismo é tão imensa que não há como comparar uma com a outra.
A pornografia está ao serviço de instintos primitivos, sem qualquer idealização ou sentimento nobre – entendendo-se por “sentimento nobre” aquele que só o ser humano é capaz de sentir, em razão da inteligência. Pornografia é sexo por sexo, programado, explícito, focado nas regiões genitais e nas práticas sexuais sem qualquer sentido ou emoção, um entra-e-sai inconseqüente ao molho de gritos falsos e murmúrios fingidos.
É excitante? Claro que sim. Mas excita exatamente este fragmento do “persona” que é animalesco, esgota-se em si mesmo e leva, no máximo, à masturbação e ao vazio que se sucede, pois é ou não é um desperdício de energia a masturbação solitária praticada simplesmente como um alivio hormonal?
Nada contra, por favor. A masturbação faz parte, é importante, um contato de grande intimidade do indivíduo consigo mesmo. Porém, quando esse indivíduo necessita da pornografia para masturbar-se... pobre infeliz, é um solitário patológico.
Muito diferente é masturbar-se pensando no ser amado. Ainda que solitária, a masturbação assim praticada reveste-se de conteúdo amoroso e, como em todo o amor, em qualquer paixão, torna-se um ato de entrega, um modo de estar junto, a fantasia eventual no lugar da realidade desejada.
Havendo amor a masturbação não esgota, ao contrário, mais aumenta a excitação, o desejo, a tesão e aquilo que considero condição absoluta para um verdadeiro amor: a entrega total.
O erotismo, ao contrário da pornografia, está ao serviço desses valores, desses bens humanos.
A nudez ao serviço do erotismo tem conteúdo artístico transcendental. Quando vemos na tela ou no palco atores de verdade expressando a sensualidade que, no ser humano é universal, invadem-nos diversas emoções, muitas delas confusas porque, se diante de um filme pornográfico, satisfeita a curiosidade inicial, logo a seguir ficamos indiferentes, quando a cena erótica envolve nossos sentidos, pensamentos e emoções, saímos dali alterados e, de um jeito ou de outro, melhorados para cumprir as funções humanas.
Nada de mal em sentir-se sexualmente atraído por uma bela atriz, por um lindo ator. Nada de mal em excitar-se diante da nudez explícita ou do sexo explícito apresentados como decorrência de um contexto estético, de uma trama criativa cuja conseqüência inevitável seja exatamente aquela: a sexualidade exposta, a sensualidade sugerida, o erotismo à flor da pele.
Qual homem não gostaria de ter uma mulher maravilhosamente linda – como as que os filmes mostram, escondendo as imperfeições – nos seus braços e ao seu dispor? Qual mulher não gostaria da mesma coisa, com relação a um lindo ator?
Mas sabemos, enquanto estamos assistindo, que o que nos é mostrado é pura ficção e que tais figuras não estão ao nosso alcance. E este conjunto de circunstâncias não melhora nossa sensibilidade, por acaso?
Não ficamos mais elevados diante da beleza, mesmo que inatingível? Não desejamos todos, em algum momento da vida, sermos um Sean Connery no papel de James Bond ou uma Marilyn Monroe no papel da vizinha em Pedaço Mora ao Lado?
Meu caro Pedro Cardoso. Se algum dia e por acaso ler estas palavras, saiba que a arte está a anos luz de distância da pornografia. Que a nudez de atrizes e atores não vende filmes ou programas de televisão. E que o público, isto é, as pessoas são seres complexos e inteligentes e por esta razão existe mercado para a pornografia e para a arte, independente de classe social, grau de instrução e problemas psíquicos.
Nós, humanos, temos a razão para controlar instintos e selvageria e isso faz uma enorme indiferença pois pornografia e erotismo são invenções humanas. O sexo não.
Aconselho o seguinte, que acho que há tempo você não faz: bota uma sunga e vá para a praia num domingo de sol.
Depois me conta.
Paulo Wainberg
Entendi bem? O ator Pedro Cardoso quer acabar com o nu no cinema, teatro e TV?
Para q ue fique bem claro, adoro o ator Pedro Cardoso. Acho que ele tem um talento raro, uma qualidade cômica versátil capaz de fazer rir tanto na comédia escrachada quanto na mais sutil.
Mas tem que internar o cara, por favor!
O corpo humano, oculto por roupas, não é um imperativo religioso, que me perdoem os fiéis. Muito pelo contrário, salvo o circunstancial obscurantismo vitoriano imposto ao mundo no século XIX, mercê da influência da Igreja Católica, a roupa é elemento indispensável ao estímulo erótico, à fantasia sexual e à sensualidade sem a qual não existiria a dança, o teatro, a paquera e o bar.
Os humanos são estimulados pelos sentidos, isto é uma verdade, pelos cinco, quer dizer, olhar a garota dançando e imaginá-la tirando a roupa ou olhar quando ela tira a roupa e apreciar cada pedacinho do corpo que vai surgindo aos poucos é de uma grandeza erótica incrível. E vice-versa, imagino eu. Toque de mão é outra loucura. Os cheiros, my God, são de arrepiar (neste ponto somos como os animais: o famoso feromônio), sentir o salgado da pele na língua, ouvir o murmúrio ou o gemido, pronunciar palavras excitantes, aqui D’el Rey!, meus sais, meus sais!
O que as mulheres possuem que excitam os homens eu sei muito bem. O que excita as mulheres num homem eu meio que imagino. Também consigo entender as atrações homossexuais pois considero o homossexualismo o terceiro sexo, tão natural, pertinente e adequado quando os outros dois.
Falo por mim e me garanto: Sou capaz de apreciar a beleza masculina com a maior tranqüilidade e o meu ideal de homem, como homem que sou, seria um cara do tipo Sean Connery, quando jovem: másculo, sedutor, sutil e violento.
Não raro ando pela rua cantando para mim mesmo a música tema do James Bond tendo na cabeça a imagem do Sean nos seus melhores momentos.
Não sinto qualquer atração física por ele ou por qualquer outro homem, é uma questão de jeito, eu acho. Nasci homem e hétero, fazer o que?
Bom, agora que me revelei, sem constrangimento ou preconceito, quero voltar à questão levantada pelo Pedro Cardoso: há excessos de nudismo no cinema, teatro e tv? Para mim a resposta é: Não!
É que entendo que a diferença entre pornografia e erotismo é tão imensa que não há como comparar uma com a outra.
A pornografia está ao serviço de instintos primitivos, sem qualquer idealização ou sentimento nobre – entendendo-se por “sentimento nobre” aquele que só o ser humano é capaz de sentir, em razão da inteligência. Pornografia é sexo por sexo, programado, explícito, focado nas regiões genitais e nas práticas sexuais sem qualquer sentido ou emoção, um entra-e-sai inconseqüente ao molho de gritos falsos e murmúrios fingidos.
É excitante? Claro que sim. Mas excita exatamente este fragmento do “persona” que é animalesco, esgota-se em si mesmo e leva, no máximo, à masturbação e ao vazio que se sucede, pois é ou não é um desperdício de energia a masturbação solitária praticada simplesmente como um alivio hormonal?
Nada contra, por favor. A masturbação faz parte, é importante, um contato de grande intimidade do indivíduo consigo mesmo. Porém, quando esse indivíduo necessita da pornografia para masturbar-se... pobre infeliz, é um solitário patológico.
Muito diferente é masturbar-se pensando no ser amado. Ainda que solitária, a masturbação assim praticada reveste-se de conteúdo amoroso e, como em todo o amor, em qualquer paixão, torna-se um ato de entrega, um modo de estar junto, a fantasia eventual no lugar da realidade desejada.
Havendo amor a masturbação não esgota, ao contrário, mais aumenta a excitação, o desejo, a tesão e aquilo que considero condição absoluta para um verdadeiro amor: a entrega total.
O erotismo, ao contrário da pornografia, está ao serviço desses valores, desses bens humanos.
A nudez ao serviço do erotismo tem conteúdo artístico transcendental. Quando vemos na tela ou no palco atores de verdade expressando a sensualidade que, no ser humano é universal, invadem-nos diversas emoções, muitas delas confusas porque, se diante de um filme pornográfico, satisfeita a curiosidade inicial, logo a seguir ficamos indiferentes, quando a cena erótica envolve nossos sentidos, pensamentos e emoções, saímos dali alterados e, de um jeito ou de outro, melhorados para cumprir as funções humanas.
Nada de mal em sentir-se sexualmente atraído por uma bela atriz, por um lindo ator. Nada de mal em excitar-se diante da nudez explícita ou do sexo explícito apresentados como decorrência de um contexto estético, de uma trama criativa cuja conseqüência inevitável seja exatamente aquela: a sexualidade exposta, a sensualidade sugerida, o erotismo à flor da pele.
Qual homem não gostaria de ter uma mulher maravilhosamente linda – como as que os filmes mostram, escondendo as imperfeições – nos seus braços e ao seu dispor? Qual mulher não gostaria da mesma coisa, com relação a um lindo ator?
Mas sabemos, enquanto estamos assistindo, que o que nos é mostrado é pura ficção e que tais figuras não estão ao nosso alcance. E este conjunto de circunstâncias não melhora nossa sensibilidade, por acaso?
Não ficamos mais elevados diante da beleza, mesmo que inatingível? Não desejamos todos, em algum momento da vida, sermos um Sean Connery no papel de James Bond ou uma Marilyn Monroe no papel da vizinha em Pedaço Mora ao Lado?
Meu caro Pedro Cardoso. Se algum dia e por acaso ler estas palavras, saiba que a arte está a anos luz de distância da pornografia. Que a nudez de atrizes e atores não vende filmes ou programas de televisão. E que o público, isto é, as pessoas são seres complexos e inteligentes e por esta razão existe mercado para a pornografia e para a arte, independente de classe social, grau de instrução e problemas psíquicos.
Nós, humanos, temos a razão para controlar instintos e selvageria e isso faz uma enorme indiferença pois pornografia e erotismo são invenções humanas. O sexo não.
Aconselho o seguinte, que acho que há tempo você não faz: bota uma sunga e vá para a praia num domingo de sol.
Depois me conta.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
OS INCIDENTES NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
NOTA:
"A Associação Nacional dos Magistrados Estaduais exige que os fatos envolvendo as notícias de corrupção no Estado do Espírito Santo sejam apurados com seriedade a fim de serem esclarecidos perante à sociedade e à própria classe dos Juízes que se encontra perplexa.
É preciso que a sociedade compreenda ser o Poder Judiciário composto por Juízes comprometidos com seu dever, primando pela prestação jurisdicional amparada nos princípios da imparcialidade e, ainda, pela sua independência funcional que só é desempenhada quando não há envolvimento em atos de corrupção que devem ser veementemente repelidos pela sociedade e pelo próprio Poder Judiciário, e que fatos isolados não abalam a imagem pública dos Juízes, estribada na dignidade, severidade e integridade com que exercem sua função social.
A Anamages se solidariza com a magistratura Capixaba, certo que os fatos envolvendo denúncia de corrupção de uns poucos integrantes de seu Poder Judiciário, são fatos isolados, que não maculam a dignidade da magistratura daquele Estado, ao tempo que repudia qualquer conduta ilícita, seja por parte de qualquer magistrado estadual ou de qualquer agente público e pretende que os fatos sejam apurados observando-se o devido processo legal e os princípios constitucionais. E, em havendo culpados, sejam exemplarmente punidos."
Observações.de João Eichbaum
1)Será preciso que a ANAMAGES exija a “apuração dos fatos”?
A entidade poderia ter ficado quieta, porque quem exige a “apuração dos fatos” é a sociedade, como um todo, é a lei. Não é necessário que venha uma associação de juízes, como se fosse uma vestal, vir a público, se mostrando indignada. Ou será que ela se esquece de que os juízes envolvidos são associados dela?
2) A sociedade não está convicta de que tem juízes “comprometidos”, verdadeiramente com o seu dever, “primando pela prestação jurisdicional”, mas sim de que há muitojuízes, ministros e desembargadores professores, conferencistas, badalados no meio jurídico, que os fazem esquecer que é seu dever sentenciar, ao invés de deixar as sentenças para os estagiários e assessores.
3) Será que a “imagem pública dos juízes” está verdadeiramente estribada na “dignidade, severidade e integridade”? Quantos anos foram necessários para exirpar (alguns) casos de nepotismo no Judiciário?
NOTA:
"A Associação Nacional dos Magistrados Estaduais exige que os fatos envolvendo as notícias de corrupção no Estado do Espírito Santo sejam apurados com seriedade a fim de serem esclarecidos perante à sociedade e à própria classe dos Juízes que se encontra perplexa.
É preciso que a sociedade compreenda ser o Poder Judiciário composto por Juízes comprometidos com seu dever, primando pela prestação jurisdicional amparada nos princípios da imparcialidade e, ainda, pela sua independência funcional que só é desempenhada quando não há envolvimento em atos de corrupção que devem ser veementemente repelidos pela sociedade e pelo próprio Poder Judiciário, e que fatos isolados não abalam a imagem pública dos Juízes, estribada na dignidade, severidade e integridade com que exercem sua função social.
A Anamages se solidariza com a magistratura Capixaba, certo que os fatos envolvendo denúncia de corrupção de uns poucos integrantes de seu Poder Judiciário, são fatos isolados, que não maculam a dignidade da magistratura daquele Estado, ao tempo que repudia qualquer conduta ilícita, seja por parte de qualquer magistrado estadual ou de qualquer agente público e pretende que os fatos sejam apurados observando-se o devido processo legal e os princípios constitucionais. E, em havendo culpados, sejam exemplarmente punidos."
Observações.de João Eichbaum
1)Será preciso que a ANAMAGES exija a “apuração dos fatos”?
A entidade poderia ter ficado quieta, porque quem exige a “apuração dos fatos” é a sociedade, como um todo, é a lei. Não é necessário que venha uma associação de juízes, como se fosse uma vestal, vir a público, se mostrando indignada. Ou será que ela se esquece de que os juízes envolvidos são associados dela?
2) A sociedade não está convicta de que tem juízes “comprometidos”, verdadeiramente com o seu dever, “primando pela prestação jurisdicional”, mas sim de que há muitojuízes, ministros e desembargadores professores, conferencistas, badalados no meio jurídico, que os fazem esquecer que é seu dever sentenciar, ao invés de deixar as sentenças para os estagiários e assessores.
3) Será que a “imagem pública dos juízes” está verdadeiramente estribada na “dignidade, severidade e integridade”? Quantos anos foram necessários para exirpar (alguns) casos de nepotismo no Judiciário?
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
COLABORAÇÃO DA VIVIAN, PARA AUMENTAR O NÚMERO DE FIADASPUTAS
Por mais absurdo que pareça, mas isso aconteceu... Estas são piadas retiradas do livro 'Desordem no tribunal'. São coisas que as pessoas disseram, e que foram transcritas textualmente pelos taquígrafos que tiveram que permanecer calmos enquanto estes diálogos realmente aconteciam à sua frente.
Então VEJAMOS Abaixo:
Advogado : Qual é a data do seu aniversário? Testemunha: 15 de julho.Advogado : Que ano? Testemunha: Todo ano.____________________________________________ Advogado : Essa doença, a miastenia gravis, afeta sua memória? Testemunha: Sim.Advogado : E de que modo ela afeta sua memória? Testemunha: Eu esqueço das coisas.Advogado : Você esquece... Pode nos dar um exemplo de algo que você tenha esquecido? ____________________________________________ Advogado : Que idade tem seu filho?Testemunha: 38 ou 35, não me lembro.Advogado : Há quanto tempo ele mora com você?Testemunha: Há 45 anos. ____________________________________________ Advogado : Qual foi a primeira coisa que seu marido disse quando acordou aquela manhã? Testemunha: Ele disse, 'Onde estou, Bete?'Advogado : E por que você se aborreceu?Testemunha: Meu nome é Célia.____________________________________________Advogado : Seu filho mais novo, o de 20 anos.... Testemunha: Sim.Advogado : Que idade ele tem? ______________________________________________Advogado : Sobre esta foto sua... o senhor estava presente quando ela foi tirada? _______________________________________________ Advogado : Então, a data de concepção do seu bebê foi 08 de agosto? Testemunha: Sim, foi.Advogado : E o que você estava fazendo nesse dia? _______________________________________________ Advogado : Ela tinha 3 filhos, certo? Testemunha: Certo.Advogado : Quantos meninos? Testemunha: NenhumAdvogado : E quantas eram meninas? _______________________________________________ Advogado : Sr. Marcos, por que acabou seu primeiro casamento? Testemunha: Por morte do cônjuge.Advogado : E por morte de que cônjuge ele acabou?_______________________________________________ Advogado : Poderia descrever o suspeito?Testemunha: Ele tinha estatura mediana e usava barba. Advogado : E era um homem ou uma mulher?_______________________________________________ Advogado : Doutor, quantas autópsias o senhor já realizou em pessoas mortas? Testemunha: Todas as autópsias que fiz foram em pessoas mortas... _______________________________________________ Advogado : Aqui na corte, para cada pergunta que eu lhe fizer, sua resposta deve ser oral, Ok?
-Que escola você freqüenta? Testemunha: Oral. _______________________________________________ Advogado : Doutor, o senhor se lembra da hora em que começou a examinar o corpo da vitima? Testemunha: Sim, a autópsia começou às 20:30 h. Advogado : E o sr. Décio já estava morto a essa hora? Testemunha: Não... Ele estava sentado na maca, se perguntando porque eu estava fazendo aquela autópsia nele. _____________________________________________ Advogado : O senhor está qualificado para nos fornecer uma amostra de urina?_______________________________________________ Essa é a melhor de todas!!!
Advogado : Doutor, antes de fazer a autópsia, o senhor checou o pulso da vítima?
Testemunha: Não.
Advogado : O senhor checou a pressão arterial?
Testemunha: Não.
Advogado : O senhor checou a respiração?
Testemunha: Não.
Advogado : Então, é possível que a vítima estivesse viva quando a autópsia começou?
Testemunha: Não.
Advogado : Como o senhor pode ter essa certeza?
Testemunha: Porque o cérebro do paciente estava num jarro sobre a mesa.
Advogado : Mas ele poderia estar vivo mesmo assim?
Testemunha: Sim, é possível que ele estivesse vivo e cursando Direito em algum lugar !!! 'DEUS não escolhe os capacitados ... Ele capacita os escolhidos'
Vivian Gonçalves Dias
Por mais absurdo que pareça, mas isso aconteceu... Estas são piadas retiradas do livro 'Desordem no tribunal'. São coisas que as pessoas disseram, e que foram transcritas textualmente pelos taquígrafos que tiveram que permanecer calmos enquanto estes diálogos realmente aconteciam à sua frente.
Então VEJAMOS Abaixo:
Advogado : Qual é a data do seu aniversário? Testemunha: 15 de julho.Advogado : Que ano? Testemunha: Todo ano.____________________________________________ Advogado : Essa doença, a miastenia gravis, afeta sua memória? Testemunha: Sim.Advogado : E de que modo ela afeta sua memória? Testemunha: Eu esqueço das coisas.Advogado : Você esquece... Pode nos dar um exemplo de algo que você tenha esquecido? ____________________________________________ Advogado : Que idade tem seu filho?Testemunha: 38 ou 35, não me lembro.Advogado : Há quanto tempo ele mora com você?Testemunha: Há 45 anos. ____________________________________________ Advogado : Qual foi a primeira coisa que seu marido disse quando acordou aquela manhã? Testemunha: Ele disse, 'Onde estou, Bete?'Advogado : E por que você se aborreceu?Testemunha: Meu nome é Célia.____________________________________________Advogado : Seu filho mais novo, o de 20 anos.... Testemunha: Sim.Advogado : Que idade ele tem? ______________________________________________Advogado : Sobre esta foto sua... o senhor estava presente quando ela foi tirada? _______________________________________________ Advogado : Então, a data de concepção do seu bebê foi 08 de agosto? Testemunha: Sim, foi.Advogado : E o que você estava fazendo nesse dia? _______________________________________________ Advogado : Ela tinha 3 filhos, certo? Testemunha: Certo.Advogado : Quantos meninos? Testemunha: NenhumAdvogado : E quantas eram meninas? _______________________________________________ Advogado : Sr. Marcos, por que acabou seu primeiro casamento? Testemunha: Por morte do cônjuge.Advogado : E por morte de que cônjuge ele acabou?_______________________________________________ Advogado : Poderia descrever o suspeito?Testemunha: Ele tinha estatura mediana e usava barba. Advogado : E era um homem ou uma mulher?_______________________________________________ Advogado : Doutor, quantas autópsias o senhor já realizou em pessoas mortas? Testemunha: Todas as autópsias que fiz foram em pessoas mortas... _______________________________________________ Advogado : Aqui na corte, para cada pergunta que eu lhe fizer, sua resposta deve ser oral, Ok?
-Que escola você freqüenta? Testemunha: Oral. _______________________________________________ Advogado : Doutor, o senhor se lembra da hora em que começou a examinar o corpo da vitima? Testemunha: Sim, a autópsia começou às 20:30 h. Advogado : E o sr. Décio já estava morto a essa hora? Testemunha: Não... Ele estava sentado na maca, se perguntando porque eu estava fazendo aquela autópsia nele. _____________________________________________ Advogado : O senhor está qualificado para nos fornecer uma amostra de urina?_______________________________________________ Essa é a melhor de todas!!!
Advogado : Doutor, antes de fazer a autópsia, o senhor checou o pulso da vítima?
Testemunha: Não.
Advogado : O senhor checou a pressão arterial?
Testemunha: Não.
Advogado : O senhor checou a respiração?
Testemunha: Não.
Advogado : Então, é possível que a vítima estivesse viva quando a autópsia começou?
Testemunha: Não.
Advogado : Como o senhor pode ter essa certeza?
Testemunha: Porque o cérebro do paciente estava num jarro sobre a mesa.
Advogado : Mas ele poderia estar vivo mesmo assim?
Testemunha: Sim, é possível que ele estivesse vivo e cursando Direito em algum lugar !!! 'DEUS não escolhe os capacitados ... Ele capacita os escolhidos'
Vivian Gonçalves Dias
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
COLUNA DO PAULO WAINBERG
QUESTÕES MUNICIPAIS: UMA DIDÁTICA
Paulo Wainberg
Mildred, a governanta, tirou o seio esquerdo para fora e ofereceu-o para os beijos de Lord Cunnigham, o último sobrevivente da outrora poderosa dinastia de duques passistas da Escola de Samba Forever, sediada aos pés da santa cruz, no município de Milonga de Cima, arqui-rival de Milonga de Baixo.
Lord Cunnigham esbaforiu-se em lambidas úmidas de cuspe no bico excitado do seio esquerdo de Mildred que, gemendo, botava a língua para fora, como se fosse um tamanduá-bandeira, espécie em extinção na atribulada natureza deles dois.
Milonga de Cima ficava no sopé do morro e Milonga de Baixo no cume do mesmo morro. Os dois municípios eram inimigos mortais, inimizade que começou décadas antes quando, no concurso anual de masturbação masculina, o representante de Milonga de Baixo não aceitou a decisão da juíza, Rainha da Primavera de Milonga de Lado que fora eleita graças ao apoio dos eleitores de Milonga de Cima, no segundo turno.
A Rainha deixou de computar uma masturbada do representante de Milonga de Baixo, alegando que ela se completara com o instrumento flácido e que, flácido, não valia.
Foi uma zorra, o pau comeu solto e, desde então, os milonguenses de Baixo declararam guerra aos milonguenses de Cima.
Porém alguns milonguenses de Baixo concordaram com a decisão da Rainha e outros tantos de Cima discordaram e, assim, os dois municípios ficaram divididos entre si o que prejudicou de tal forma as decisões que, desde então, o concurso de masturbação deixou de ser realizado.
Milonga de Baixo era assim chamada porque seus habitantes, no cume do morro, olhavam para baixo quando queriam olhar Milonga de Cima. E vice-versa, isto é, os habitantes de Milonga de Cima tinham que olhar para cima quando queria olhar Milonga de Baixo.
Incapaz de conter a ansiedade, Lord Cunnigham puxou para fora o seio direito de Mildred e passou a lamber, beijar e mordiscar os dois mamilos, com rapidez e intensidade, para que Mildred tivesse a impressão que seus dois seios estavam sendo lambidos, beijados e mordiscados ao mesmo tempo.
As narinas de Mildred fumegavam como um vulcão em vias de acordar. Seu corpo tremia e, quase sem se dar conta, puxava a cabeça de Lord Cunnigham contra seus peitos a ponto de quase sufocar o indigitado que, para se ver livre do sufoco, enfiou a mão entre as coxas de Mildred, em busca de você sabe o que.
Como acontece nas grandes tragédias, o amor deles era proibido e por isso se encontravam naquele local, à sombra de um parreiral silvestre que ficava no território neutro entre as duas Milongas onde, por questões ideológicas, ninguém ia.
Desgraçadamente Mildred era milongueira de Baixo e Lord Cunnigham era milongueiro de Cima. E mesmo que ambos se declarassem pertencentes às respectivas facções dissidentes não tinham autorização das suas clãs para desenvolver o grande amor que sentiam, um pelo outro.
O mais interessante é que se conheceram por acaso em Milonga do Lado, que se beneficiava politicamente da rivalidade entre as duas Milongas, ora apoiando uma, ora outra, quando se tratava de decidir graves questões de interesse comunitário. Graças a isso Milonga do Lado era paparicada tanto por Milonga de Cima quanto por Milonga de Baixo e, numa dessas sessões de paparicação, Mildred e Lord Cunnigham puseram os olhos uma no outro e se quedaram irremediavelmente apaixonados.
Naquele momento Lord Cunnigham já massageava gostosamente as regiões, aquelas, de Mildred que correspondia, sôfrega e fogosa, uivando como um cachorro louco. O nobre homem preparava-se para o ato solene da introdução – visto que ela estava prontinha para a recepção – quando foi interrompido por uma voz masculina, irada e histriônica:
- Mas o quê que é isso, por todos os demônios do Inferno?!
Ainda com os joelhos no chão e a bunda branca para cima, Lord Cunnigham virou a cabeça em direção à voz e viu, horrorizado, que seu dono era nada mais nada menos que Wilfredo, o alfaiate de Milonga de Cima, inimigo mortal de Frédéric, o alfaiate de Milonga de Baixo.
- Fornicando a sombra do parreiral silvestre? Logo vós, Lord Cunnigham, o último sobrevivente de sua dinastia? O que ireis dizer aos vossos netos? – trovoou Wilfredo.
Com a dignidade que o momento conferia, Lord aprumou-se, deixando Mildred com as pernas abertas estendida no chão, ergueu as calças, puxou o zíper e apertou o cinto. Com voz calma, pausada e nobre, olhando Wilfredo nos olhos, afirmou em tom de censura:
- E não te avisei, Wilfredo, que estas calças estavam largas? Erraste novamente nas minhas medidas. Está decidido: a partir de hoje farei minhas roupas exclusivamente com Frédéric, o alfaiate de Milonga de Baixo.
Horrorizado com o que ouvira, Wilfredo disparou morro abaixo, rumo à Milonga de Cima onde, com notável rapidez, espalhou a notícia entre a população.
Aliviado, Lord Cunnigham voltou-se para sua amada que ali permanecia, repôs-se na posição anterior, reaqueceu e tratou de completar o serviço que, na opinião dos dois, foi muito bom.
Daquele dia em diante as relações entre as duas Milongas foram reatadas porque Frédéric, sabendo que ganhara um novo cliente, apressou-se a visitar Lord Cunnigham, carregando seus tecidos, revistas de moda, agulhas, tesouras, giz e réguas.
Mildred subiu o morro rumo a Milonga de Baixo e mal chegou em casa, recebeu um telefonema de Anastácia, decana de Milonga de Cima
querendo contratá-la como governanta de Nicolau, seu velho marido.
Em pouco tempo uma grande festa celebrou o fim da rivalidade entre as duas Milongas que, em conjunto, romperam relações com Milonga de Lado por quem, por tanto tempo, foram exploradas.
Naquele mesmo ano recomeçaram os concursos anuais de masturbação. O atual placar mostra uma leve vantagem de Milonga de Baixo sobre Milonga de Cima que promete reagir. Seu representante já iniciou a pré-temporada e afirma que chegará ao concurso na ponta dos dedos.
Paulo Wainberg
Mildred, a governanta, tirou o seio esquerdo para fora e ofereceu-o para os beijos de Lord Cunnigham, o último sobrevivente da outrora poderosa dinastia de duques passistas da Escola de Samba Forever, sediada aos pés da santa cruz, no município de Milonga de Cima, arqui-rival de Milonga de Baixo.
Lord Cunnigham esbaforiu-se em lambidas úmidas de cuspe no bico excitado do seio esquerdo de Mildred que, gemendo, botava a língua para fora, como se fosse um tamanduá-bandeira, espécie em extinção na atribulada natureza deles dois.
Milonga de Cima ficava no sopé do morro e Milonga de Baixo no cume do mesmo morro. Os dois municípios eram inimigos mortais, inimizade que começou décadas antes quando, no concurso anual de masturbação masculina, o representante de Milonga de Baixo não aceitou a decisão da juíza, Rainha da Primavera de Milonga de Lado que fora eleita graças ao apoio dos eleitores de Milonga de Cima, no segundo turno.
A Rainha deixou de computar uma masturbada do representante de Milonga de Baixo, alegando que ela se completara com o instrumento flácido e que, flácido, não valia.
Foi uma zorra, o pau comeu solto e, desde então, os milonguenses de Baixo declararam guerra aos milonguenses de Cima.
Porém alguns milonguenses de Baixo concordaram com a decisão da Rainha e outros tantos de Cima discordaram e, assim, os dois municípios ficaram divididos entre si o que prejudicou de tal forma as decisões que, desde então, o concurso de masturbação deixou de ser realizado.
Milonga de Baixo era assim chamada porque seus habitantes, no cume do morro, olhavam para baixo quando queriam olhar Milonga de Cima. E vice-versa, isto é, os habitantes de Milonga de Cima tinham que olhar para cima quando queria olhar Milonga de Baixo.
Incapaz de conter a ansiedade, Lord Cunnigham puxou para fora o seio direito de Mildred e passou a lamber, beijar e mordiscar os dois mamilos, com rapidez e intensidade, para que Mildred tivesse a impressão que seus dois seios estavam sendo lambidos, beijados e mordiscados ao mesmo tempo.
As narinas de Mildred fumegavam como um vulcão em vias de acordar. Seu corpo tremia e, quase sem se dar conta, puxava a cabeça de Lord Cunnigham contra seus peitos a ponto de quase sufocar o indigitado que, para se ver livre do sufoco, enfiou a mão entre as coxas de Mildred, em busca de você sabe o que.
Como acontece nas grandes tragédias, o amor deles era proibido e por isso se encontravam naquele local, à sombra de um parreiral silvestre que ficava no território neutro entre as duas Milongas onde, por questões ideológicas, ninguém ia.
Desgraçadamente Mildred era milongueira de Baixo e Lord Cunnigham era milongueiro de Cima. E mesmo que ambos se declarassem pertencentes às respectivas facções dissidentes não tinham autorização das suas clãs para desenvolver o grande amor que sentiam, um pelo outro.
O mais interessante é que se conheceram por acaso em Milonga do Lado, que se beneficiava politicamente da rivalidade entre as duas Milongas, ora apoiando uma, ora outra, quando se tratava de decidir graves questões de interesse comunitário. Graças a isso Milonga do Lado era paparicada tanto por Milonga de Cima quanto por Milonga de Baixo e, numa dessas sessões de paparicação, Mildred e Lord Cunnigham puseram os olhos uma no outro e se quedaram irremediavelmente apaixonados.
Naquele momento Lord Cunnigham já massageava gostosamente as regiões, aquelas, de Mildred que correspondia, sôfrega e fogosa, uivando como um cachorro louco. O nobre homem preparava-se para o ato solene da introdução – visto que ela estava prontinha para a recepção – quando foi interrompido por uma voz masculina, irada e histriônica:
- Mas o quê que é isso, por todos os demônios do Inferno?!
Ainda com os joelhos no chão e a bunda branca para cima, Lord Cunnigham virou a cabeça em direção à voz e viu, horrorizado, que seu dono era nada mais nada menos que Wilfredo, o alfaiate de Milonga de Cima, inimigo mortal de Frédéric, o alfaiate de Milonga de Baixo.
- Fornicando a sombra do parreiral silvestre? Logo vós, Lord Cunnigham, o último sobrevivente de sua dinastia? O que ireis dizer aos vossos netos? – trovoou Wilfredo.
Com a dignidade que o momento conferia, Lord aprumou-se, deixando Mildred com as pernas abertas estendida no chão, ergueu as calças, puxou o zíper e apertou o cinto. Com voz calma, pausada e nobre, olhando Wilfredo nos olhos, afirmou em tom de censura:
- E não te avisei, Wilfredo, que estas calças estavam largas? Erraste novamente nas minhas medidas. Está decidido: a partir de hoje farei minhas roupas exclusivamente com Frédéric, o alfaiate de Milonga de Baixo.
Horrorizado com o que ouvira, Wilfredo disparou morro abaixo, rumo à Milonga de Cima onde, com notável rapidez, espalhou a notícia entre a população.
Aliviado, Lord Cunnigham voltou-se para sua amada que ali permanecia, repôs-se na posição anterior, reaqueceu e tratou de completar o serviço que, na opinião dos dois, foi muito bom.
Daquele dia em diante as relações entre as duas Milongas foram reatadas porque Frédéric, sabendo que ganhara um novo cliente, apressou-se a visitar Lord Cunnigham, carregando seus tecidos, revistas de moda, agulhas, tesouras, giz e réguas.
Mildred subiu o morro rumo a Milonga de Baixo e mal chegou em casa, recebeu um telefonema de Anastácia, decana de Milonga de Cima
querendo contratá-la como governanta de Nicolau, seu velho marido.
Em pouco tempo uma grande festa celebrou o fim da rivalidade entre as duas Milongas que, em conjunto, romperam relações com Milonga de Lado por quem, por tanto tempo, foram exploradas.
Naquele mesmo ano recomeçaram os concursos anuais de masturbação. O atual placar mostra uma leve vantagem de Milonga de Baixo sobre Milonga de Cima que promete reagir. Seu representante já iniciou a pré-temporada e afirma que chegará ao concurso na ponta dos dedos.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
PRA QUEM AINDA ACREDITA EM CEGONHA, PAPAI NOEL E JUSTIÇA
OS VENDEDORES DE SENTENÇA E OS MENTIROSOS
João Eichbaum
O que é pior: vender sentenças ou mentir que as proferiu, mentir que leu o processo?
O juiz, o desembargador, o ministro que vende sentenças pode vender justiça, ou injustiça, dependendo de quem paga mais. E o juiz, o desembargador, o ministro que simplesmente assina o texto que foi montado por sua assessoria, composta de secretários, estagiários e assessores propriamente ditos, não faz melhor. Isto é, tanto pode estar fazendo justiça, como injustiça, e tanto se lhe dá.
Os primeiros cometem crimes, vão presos, são execrados pela opinião pública. Mas dos outros, ninguém fala. Nem os advogados. A imprensa, então simplesmente ignora tais coisas. Ninguém os acusa de receberem o nosso dinheiro, em pagamento por um serviço que não prestaram.
E eles, com a maior cara de pau, saem por aí, a pronunciar conferências, a dar aulas em Faculdades de Direito, a aparecer como grandes juristas, os fiadasputas.
Ninguém pode acusá-los de nada. Porque não há provas. Não há como provar que os fiadasputas nada fazem, apenas assinam os acórdãos e as sentenças, e não estão nem aí para o que vier a acontecer. Eles não têm consciência, não têm responsabilidade, não têm um mínimo de escrúpulo: recebem seus polpudos vencimentos, no penúltimo dia útil de cada mês.
Qual é a diferença entre esses mentirosos e os vendedores de sentença? O dolo não é igual, nuns e noutros? E todos gostam de dinheiro, venha donde vier.
A diferença é que os mentirosos recebem do Estado o pagamento pelas sentenças que não proferiram, enquanto os vendedores de sentenças recebem de particulares o pagamento por sentenças que proferiram.
Em matéria de fiadaputice, quem é que leva a taça?
João Eichbaum
O que é pior: vender sentenças ou mentir que as proferiu, mentir que leu o processo?
O juiz, o desembargador, o ministro que vende sentenças pode vender justiça, ou injustiça, dependendo de quem paga mais. E o juiz, o desembargador, o ministro que simplesmente assina o texto que foi montado por sua assessoria, composta de secretários, estagiários e assessores propriamente ditos, não faz melhor. Isto é, tanto pode estar fazendo justiça, como injustiça, e tanto se lhe dá.
Os primeiros cometem crimes, vão presos, são execrados pela opinião pública. Mas dos outros, ninguém fala. Nem os advogados. A imprensa, então simplesmente ignora tais coisas. Ninguém os acusa de receberem o nosso dinheiro, em pagamento por um serviço que não prestaram.
E eles, com a maior cara de pau, saem por aí, a pronunciar conferências, a dar aulas em Faculdades de Direito, a aparecer como grandes juristas, os fiadasputas.
Ninguém pode acusá-los de nada. Porque não há provas. Não há como provar que os fiadasputas nada fazem, apenas assinam os acórdãos e as sentenças, e não estão nem aí para o que vier a acontecer. Eles não têm consciência, não têm responsabilidade, não têm um mínimo de escrúpulo: recebem seus polpudos vencimentos, no penúltimo dia útil de cada mês.
Qual é a diferença entre esses mentirosos e os vendedores de sentença? O dolo não é igual, nuns e noutros? E todos gostam de dinheiro, venha donde vier.
A diferença é que os mentirosos recebem do Estado o pagamento pelas sentenças que não proferiram, enquanto os vendedores de sentenças recebem de particulares o pagamento por sentenças que proferiram.
Em matéria de fiadaputice, quem é que leva a taça?
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
COLUNA DO PAULO WAINBERG
MEA MAXIMA CULPA
Paulo Wainberg
De arrependidos o inferno está cheio.
Ou, como se diz em iídiche, mas eu só sei em português, desculpa, desculpa, mas o buraco ficou, buraco aí significando o dano e a injustiça.
Dizem os penalistas que é preferível dez culpados soltos do que um inocente preso. E estão absolutamente certos porque o Direito Penal, como ciência social, não tolera a injustiça.
Dias desses, contra todos os meus princípios, enviei uma crônica defendendo a pena de morte.
Ainda bem que não acredito em inferno, senão para lá iria, de tão arrependido que fiquei.
Como pude eu ir assim tão frontalmente contra os meus princípios, contra todas as coisas que sempre defendi e preguei?
A pena de morte é o homicídio oficial, institucional, prática viciosa e hipócrita.
Além de não resolver o problema da criminalidade é instrumento catalisador do sadismo de diretores de prisão, carcereiros e, acima de todos eles, o carrasco, o que aperta o botão da eletricidade, solta a corda da forca, libera o conduto de gás ou faz cair a guilhotina.
O carrasco é, sem eufemismo, o legítimo assassino profissional. Ganha salário para matar de forma legítima porque uma lei assim determina.
Entretanto eu, este cidadão que vos fala, pai de família, vacinado, inscrito no CPF e com razoável formação, ousei defender a pena de morte.
Só tenho a alegar que agi motivado por violenta emoção, o que diminui a pena, mas não me absolve.
O que me faz lembrar O Drama de Jean Barois, romance de Roger Martin Du Gard, um dos tantos escritores franceses que fizeram definitivamente a minha cabeça.
Jean Barois era ateu. Radicalmente ateu. Durante sua vida lutou contra a idéia da existência de Deus, fundou revistas com publicações das teses materialistas em voga na época, participou de debates, um legítimo ativista anticlerical.
Então sucedeu que, ao atravessar uma das ruas de Paris, perdido em seus profundos pensamentos, não percebeu que em desabalada carreira uma carruagem vinha em sua direção. Segundos antes de ser atingido gritou: - Meu Deus, me ajude!
Ainda no hospital, recuperando-se do atropelamento, não lhe saia da mente o socorro que buscara, diante da morte iminente. Justo ele, tão fervorosamente certo da inexistência de Deus, para ele apelara na hora crucial como se fora o mais comezinho dos crentes.
Com o conflito assim escancarado, matutou, matutou e viu recrudescer sua certeza: apelara a Deus por medo que, como não cansava de afirmar, era a origem primeira da fé.
Com efeito, entre os mais definitivos argumentos para provar a inexistência de Deus, estava o medo da morte que originava a necessidade de inventar o ser poderoso e criador.
Não! Ele não iria sucumbir àquilo que considerava a mais grave das imbecilidades humanas. Com férrea vontade e disposição de espírito, mal saiu do hospital e retomou sua luta ateísta.
Foi além: em testamento, que publicou em sua revista, afirmou categoricamente que não acreditava em Deus. Enquanto vivesse essa era a sua posição e autorizava desde já sua internação em um hospício caso, em qualquer etapa de sua vida, mudasse de pensamento.
Em resumo: Jean Barois, mentalmente sadio, era ateu. Jean Barois crente seria um louco a ser internado.
Seguiram-se os dias e, apesar de suas convicções, o episódio do acidente não lhe saia da cabeça.
O romance se desenvolve até atingir um clímax quase insuportável, tamanha a tensão que vai acometendo os leitores. Por isso recomendo fortemente a leitura desse livro para que você, que ainda não leu, viva a magnífica experiência e descubra você mesmo como o livro termina.
Como se verá, a vida imita a arte frase que eu mesmo disse numa das crônicas do meu livro de estréia que, por modéstia, não vou revelar que se chama Conversa de Verão.
Eu sei, eu sei, de almas arrependidas o Diabo se alimenta. Inclusive costuma celebrar os arrependimentos num almoço anual em que, dentro do caldeirão fervente estão as próprias.
Eu sei, desculpa, desculpa, mas o buraco ficou.
E em assim sendo, fazendo minhas algumas palavras de Jean Barois, desde já declaro que sou cabal, visceral, carnal e, na falta de palavra mais forte, furuncularmente CONTRÁRIO à pena de morte.
Se algum dia eu disser coisa oposta, como fiz em outra crônica, estão todos autorizados a me colocar num quarto fechado, com paredes acolchoadas, preso numa camisa de força e sedado com tranqüilizantes para cavalo. Mais do que isso: autorizo que me submetam a uma lobotomia frontal.
E, como prova definitiva do meu arrependimento e da certeza de minha convicção, se um dia mudar de idéia, passo a torcer para o... argh... Grêmio.
MEA MAXIMA CULPA
Paulo Wainberg
De arrependidos o inferno está cheio.
Ou, como se diz em iídiche, mas eu só sei em português, desculpa, desculpa, mas o buraco ficou, buraco aí significando o dano e a injustiça.
Dizem os penalistas que é preferível dez culpados soltos do que um inocente preso. E estão absolutamente certos porque o Direito Penal, como ciência social, não tolera a injustiça.
Dias desses, contra todos os meus princípios, enviei uma crônica defendendo a pena de morte.
Ainda bem que não acredito em inferno, senão para lá iria, de tão arrependido que fiquei.
Como pude eu ir assim tão frontalmente contra os meus princípios, contra todas as coisas que sempre defendi e preguei?
A pena de morte é o homicídio oficial, institucional, prática viciosa e hipócrita.
Além de não resolver o problema da criminalidade é instrumento catalisador do sadismo de diretores de prisão, carcereiros e, acima de todos eles, o carrasco, o que aperta o botão da eletricidade, solta a corda da forca, libera o conduto de gás ou faz cair a guilhotina.
O carrasco é, sem eufemismo, o legítimo assassino profissional. Ganha salário para matar de forma legítima porque uma lei assim determina.
Entretanto eu, este cidadão que vos fala, pai de família, vacinado, inscrito no CPF e com razoável formação, ousei defender a pena de morte.
Só tenho a alegar que agi motivado por violenta emoção, o que diminui a pena, mas não me absolve.
O que me faz lembrar O Drama de Jean Barois, romance de Roger Martin Du Gard, um dos tantos escritores franceses que fizeram definitivamente a minha cabeça.
Jean Barois era ateu. Radicalmente ateu. Durante sua vida lutou contra a idéia da existência de Deus, fundou revistas com publicações das teses materialistas em voga na época, participou de debates, um legítimo ativista anticlerical.
Então sucedeu que, ao atravessar uma das ruas de Paris, perdido em seus profundos pensamentos, não percebeu que em desabalada carreira uma carruagem vinha em sua direção. Segundos antes de ser atingido gritou: - Meu Deus, me ajude!
Ainda no hospital, recuperando-se do atropelamento, não lhe saia da mente o socorro que buscara, diante da morte iminente. Justo ele, tão fervorosamente certo da inexistência de Deus, para ele apelara na hora crucial como se fora o mais comezinho dos crentes.
Com o conflito assim escancarado, matutou, matutou e viu recrudescer sua certeza: apelara a Deus por medo que, como não cansava de afirmar, era a origem primeira da fé.
Com efeito, entre os mais definitivos argumentos para provar a inexistência de Deus, estava o medo da morte que originava a necessidade de inventar o ser poderoso e criador.
Não! Ele não iria sucumbir àquilo que considerava a mais grave das imbecilidades humanas. Com férrea vontade e disposição de espírito, mal saiu do hospital e retomou sua luta ateísta.
Foi além: em testamento, que publicou em sua revista, afirmou categoricamente que não acreditava em Deus. Enquanto vivesse essa era a sua posição e autorizava desde já sua internação em um hospício caso, em qualquer etapa de sua vida, mudasse de pensamento.
Em resumo: Jean Barois, mentalmente sadio, era ateu. Jean Barois crente seria um louco a ser internado.
Seguiram-se os dias e, apesar de suas convicções, o episódio do acidente não lhe saia da cabeça.
O romance se desenvolve até atingir um clímax quase insuportável, tamanha a tensão que vai acometendo os leitores. Por isso recomendo fortemente a leitura desse livro para que você, que ainda não leu, viva a magnífica experiência e descubra você mesmo como o livro termina.
Como se verá, a vida imita a arte frase que eu mesmo disse numa das crônicas do meu livro de estréia que, por modéstia, não vou revelar que se chama Conversa de Verão.
Eu sei, eu sei, de almas arrependidas o Diabo se alimenta. Inclusive costuma celebrar os arrependimentos num almoço anual em que, dentro do caldeirão fervente estão as próprias.
Eu sei, desculpa, desculpa, mas o buraco ficou.
E em assim sendo, fazendo minhas algumas palavras de Jean Barois, desde já declaro que sou cabal, visceral, carnal e, na falta de palavra mais forte, furuncularmente CONTRÁRIO à pena de morte.
Se algum dia eu disser coisa oposta, como fiz em outra crônica, estão todos autorizados a me colocar num quarto fechado, com paredes acolchoadas, preso numa camisa de força e sedado com tranqüilizantes para cavalo. Mais do que isso: autorizo que me submetam a uma lobotomia frontal.
E, como prova definitiva do meu arrependimento e da certeza de minha convicção, se um dia mudar de idéia, passo a torcer para o... argh... Grêmio.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
PRA QUEM AINDA ACREDITA EM PAPAI NOEL, CEGONHA E JUSTIÇA
A JUSTIÇA DOS AVIÕESINHOS
João Eichbaum
Deu no jornal que: “O Ministério Público e a Justiça querem saber quem foi o autor da faixa “Inter o único campeão de tudo”, que em um monotor, sobrevoou o Olímpico no jogo Grêmio x Atlético-MG”.
O “Ministério Público” não é senão, segundo o jornal, a senhora, ou senhorita promotora Sônia Eleni Corrêa Memsch e a “Justiça” está representada pelo juiz Felipe Keuneke, titular da segunda Vara do Júri de Porto Alegre.
Num primeiro momento, fico extremamente feliz e peço aos meus amigos que se rejubilem, soltem foguetes, cantem aleluia, porque, finalmente, o “Ministério Público” e a “Justiça” já cumpriram todas as suas obrigações, não estão a dever nada a ninguém, o povo gaúcho foi contemplado com uma justiça que não se pode chamar de merda, está plenamente feliz com os juízes e promotores, a quem paga rigorosamente em dia – no penúltimo dia útil de cada mês, bem antes do pessoalzinho das fábricas, das faxinas, do serviço pesado, da alavanca da economia, que é donde sai o dinheiro para pagar em dia – repito – juízes e promotores.
Claro, meus amigos, podem consultar cartórios e tribunais, não há de restar processo nenhum, unzinho sequer, porque a Justiça julgou tudo e o Ministério Público também não tem mais nada a fazer.
É por isso que eles querem saber agora quem foi o autor da faixa ”Inter único campeão de tudo”... Eles têm mais é que se preocupar com as grandes questões, com as coisas de futebol, com a paixão de gremistas e colorados, com os aviõeszinhos e suas faixas. Afinal são pagos – em dia – para isso mesmo, para tratar dessas “grandes” questões.
Mas, agora que o Ministério Público e a Justiça já não têm o que fazer, começo a ficar com medo, porque até o verbo no condicional já é crime, para eles.
É que, de acordo com a mesma notícia de jornal, “a alegação é de que a brincadeira incitaria a violência”.
Ah, então tá “incitaria” a violência. Portanto, o verbo no condicional já tipifica uma conduta penal.
Que se lixem os doutrinadores! Verbo no condicional já define crime. Foi criado pela promotora e pelo juiz uma nova espécie de delito. Além do delito consumado e do delito tentado, temos agora o delito potencial. E a frase, “Inter campeão do mundo”, que não está prevista nem no Código Penal, nem na Lei das Contravenções Penais” pode atrair a sanção da lei.
Viu, gente, acabaram com a nossa alegria: julgaram todos os processos, deixaram o Ministério Público e a Justiça sem ter o que fazer, e aí está o resultado: a gente tem que se cuidar do verbo no condicional.
Ah, uma coisinha sem importância, o juiz Keuneke se confessa gremista...
João Eichbaum
Deu no jornal que: “O Ministério Público e a Justiça querem saber quem foi o autor da faixa “Inter o único campeão de tudo”, que em um monotor, sobrevoou o Olímpico no jogo Grêmio x Atlético-MG”.
O “Ministério Público” não é senão, segundo o jornal, a senhora, ou senhorita promotora Sônia Eleni Corrêa Memsch e a “Justiça” está representada pelo juiz Felipe Keuneke, titular da segunda Vara do Júri de Porto Alegre.
Num primeiro momento, fico extremamente feliz e peço aos meus amigos que se rejubilem, soltem foguetes, cantem aleluia, porque, finalmente, o “Ministério Público” e a “Justiça” já cumpriram todas as suas obrigações, não estão a dever nada a ninguém, o povo gaúcho foi contemplado com uma justiça que não se pode chamar de merda, está plenamente feliz com os juízes e promotores, a quem paga rigorosamente em dia – no penúltimo dia útil de cada mês, bem antes do pessoalzinho das fábricas, das faxinas, do serviço pesado, da alavanca da economia, que é donde sai o dinheiro para pagar em dia – repito – juízes e promotores.
Claro, meus amigos, podem consultar cartórios e tribunais, não há de restar processo nenhum, unzinho sequer, porque a Justiça julgou tudo e o Ministério Público também não tem mais nada a fazer.
É por isso que eles querem saber agora quem foi o autor da faixa ”Inter único campeão de tudo”... Eles têm mais é que se preocupar com as grandes questões, com as coisas de futebol, com a paixão de gremistas e colorados, com os aviõeszinhos e suas faixas. Afinal são pagos – em dia – para isso mesmo, para tratar dessas “grandes” questões.
Mas, agora que o Ministério Público e a Justiça já não têm o que fazer, começo a ficar com medo, porque até o verbo no condicional já é crime, para eles.
É que, de acordo com a mesma notícia de jornal, “a alegação é de que a brincadeira incitaria a violência”.
Ah, então tá “incitaria” a violência. Portanto, o verbo no condicional já tipifica uma conduta penal.
Que se lixem os doutrinadores! Verbo no condicional já define crime. Foi criado pela promotora e pelo juiz uma nova espécie de delito. Além do delito consumado e do delito tentado, temos agora o delito potencial. E a frase, “Inter campeão do mundo”, que não está prevista nem no Código Penal, nem na Lei das Contravenções Penais” pode atrair a sanção da lei.
Viu, gente, acabaram com a nossa alegria: julgaram todos os processos, deixaram o Ministério Público e a Justiça sem ter o que fazer, e aí está o resultado: a gente tem que se cuidar do verbo no condicional.
Ah, uma coisinha sem importância, o juiz Keuneke se confessa gremista...
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
COLABORAÇÃO VIVIAN, PRA ESQUECER OS FIADASPUTAS
Tche da uma olhada nos modelo de carro que vão vir agora, ja vou encomendar um pra mim....
FOLHA DE SÃO BORJA - 13 Set 2008
Lançamento de nova fábrica gaúcha de carros
Os diretores da ARG - Autos do Rio Grande - informarão, durante a Semana Farroupilha, sua decisão de instalar sua primeira filial/montadora em São Borja, tendo em vista a proximidade da cidade de Santo Tomé, que facilita o contrabando com o Mercosul (pela ponte ou pelo rio Uruguai). Os gaúchos poderão contar com uma linha de veículos especialmente projetada para as características do pampa, que cultua as tradições e atende a vários segmentos do mercado gaudério, com os seguintes modelos:
*- Charrua:* Camioneta para a família, amplo porta-mala-de-garupa, onde se leva o farnel e os apetrechos pro mate, muito espaço pra espalhar as patas, na frente e atrás. Nas versões QB (Quanto Badulaque) e CT (Cheia de Tralha). Depois de velha, dá pra cortar e fazer picape.
*- Minuano:* Carro esporte, nas versões MB (Metido a Besta) e CF (Cheio de Frescura). Grande penetração aerodinâmica, mais assanhado que lambari de sanga. É carro pra quem tem guaiaca cheia.
* - Taura:* 'Top' de linha, tipo sedã limãozine. Revestimento interno de pelego sintético importado do Paraguai. Terceiro banco em compartimento isolado, especial para transporte de sogra e guri birrento.
*- Guasca:* Modelo popular de 1000 PV (Pingo-a-Vapor). Bom para quem é pelado de nascença ou como segundo carro da família. Quem tiver um Guasca e outro carro melhor, guarde o carro bom na garagem e deixe o Guasca de fora. Nas versões PR (Pé Rapado) e ME (Meio Esgualepado). A ARG cogita, ainda, o lançamento do modelo esportivo Bagual GT (Guasca Turismo), que vai depender das vendas das outras versões do Guasca.
*Para conhecer melhor os carros da ARG, vejamos os opcionais:*
*- Buzina em três padrões: devon, hereford e angus.
- Estofamento em couro de vaca (se quiser curtido, tem que encomendar).
- Injeção eletrônica (quem aplica é o Gaudêncio da Agropecuária).
- Não precisam de ar condicionado, pois têm vento encanado.
- Fogo de chão opcional. - Não tem macaco, mas tem bugio.
- Não tem extintor de incêndio: tem urinol, que deve ser mantido cheio.
- Três marchas pra frente, uma para trás , duas pra esquerda e duas pra direita, como no vanerão.
- Câmbio paralelo automático, sem esse negócio de ficar pegando na alavanca, porque não pega bem.
- Pára-choques em forma de guampa.
- Não tem portas: há modelos com duas ou quatro cancelas, 'Hatchê'.
- Sai de fábrica com um rádio que só sintoniza a Guaíba.
- Rédea hidráulica opcional.
- Todos os modelos de pneus Michelan são fornecidos pela Borracharia do Xirú Alçado.
- Rotação do motor medida em BPM (Boleios por Minuto).
- Porta-luvas equipado com três opções: papel higiênico, sabugo de milho ou folha de mamona.
*- TODOS OS MODELOS TÊM PORTA-CUIA NO CONSOLE E A ÁGUA PRO CHIMARRÃO É AQUECIDA COM ENERGIA SOLAR: ecológico uma barbaridade, tchê!!!
Vivian Gonçalves Dias
FOLHA DE SÃO BORJA - 13 Set 2008
Lançamento de nova fábrica gaúcha de carros
Os diretores da ARG - Autos do Rio Grande - informarão, durante a Semana Farroupilha, sua decisão de instalar sua primeira filial/montadora em São Borja, tendo em vista a proximidade da cidade de Santo Tomé, que facilita o contrabando com o Mercosul (pela ponte ou pelo rio Uruguai). Os gaúchos poderão contar com uma linha de veículos especialmente projetada para as características do pampa, que cultua as tradições e atende a vários segmentos do mercado gaudério, com os seguintes modelos:
*- Charrua:* Camioneta para a família, amplo porta-mala-de-garupa, onde se leva o farnel e os apetrechos pro mate, muito espaço pra espalhar as patas, na frente e atrás. Nas versões QB (Quanto Badulaque) e CT (Cheia de Tralha). Depois de velha, dá pra cortar e fazer picape.
*- Minuano:* Carro esporte, nas versões MB (Metido a Besta) e CF (Cheio de Frescura). Grande penetração aerodinâmica, mais assanhado que lambari de sanga. É carro pra quem tem guaiaca cheia.
* - Taura:* 'Top' de linha, tipo sedã limãozine. Revestimento interno de pelego sintético importado do Paraguai. Terceiro banco em compartimento isolado, especial para transporte de sogra e guri birrento.
*- Guasca:* Modelo popular de 1000 PV (Pingo-a-Vapor). Bom para quem é pelado de nascença ou como segundo carro da família. Quem tiver um Guasca e outro carro melhor, guarde o carro bom na garagem e deixe o Guasca de fora. Nas versões PR (Pé Rapado) e ME (Meio Esgualepado). A ARG cogita, ainda, o lançamento do modelo esportivo Bagual GT (Guasca Turismo), que vai depender das vendas das outras versões do Guasca.
*Para conhecer melhor os carros da ARG, vejamos os opcionais:*
*- Buzina em três padrões: devon, hereford e angus.
- Estofamento em couro de vaca (se quiser curtido, tem que encomendar).
- Injeção eletrônica (quem aplica é o Gaudêncio da Agropecuária).
- Não precisam de ar condicionado, pois têm vento encanado.
- Fogo de chão opcional. - Não tem macaco, mas tem bugio.
- Não tem extintor de incêndio: tem urinol, que deve ser mantido cheio.
- Três marchas pra frente, uma para trás , duas pra esquerda e duas pra direita, como no vanerão.
- Câmbio paralelo automático, sem esse negócio de ficar pegando na alavanca, porque não pega bem.
- Pára-choques em forma de guampa.
- Não tem portas: há modelos com duas ou quatro cancelas, 'Hatchê'.
- Sai de fábrica com um rádio que só sintoniza a Guaíba.
- Rédea hidráulica opcional.
- Todos os modelos de pneus Michelan são fornecidos pela Borracharia do Xirú Alçado.
- Rotação do motor medida em BPM (Boleios por Minuto).
- Porta-luvas equipado com três opções: papel higiênico, sabugo de milho ou folha de mamona.
*- TODOS OS MODELOS TÊM PORTA-CUIA NO CONSOLE E A ÁGUA PRO CHIMARRÃO É AQUECIDA COM ENERGIA SOLAR: ecológico uma barbaridade, tchê!!!
Vivian Gonçalves Dias
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
COLUNA DO PAULO WAINBERG
BIS IN IDEM
Paulo Wainberg
Quando entrou na máquina do tempo para voltar ao passado e apertou o botão, não fazia a menor idéia do que iria acontecer.
Ficou cego devido ao clarão e quando a visão voltou viu-se entrando na máquina do tempo e apertar o botão.
Imediatamente ele viu-se olhando para as costas dele mesmo que entrava na máquina do tempo e apertava o botão.
Quando a grande sala estava repleta dele mesmo e ele já estava do lado de fora, percebeu que tinha que interromper a seqüência para acabar com a conseqüência.
Pois cada vez que ele entrava na máquina do tempo e apertava o botão voltava alguns segundos ao passado e ia para o último lugar da fila.
Durante os poucos segundos de reflexão ele já estava no jardim do grande edifício e logo em seguida do outro lado da calçada.
Ele tinha que se impedir de entrar na máquina do tempo e apertar o botão, isso era urgente, imprescindível, pensou, ao ver os setenta quilômetros de fila dele mesmo a sua frente.
Mas como fazer? - perguntou-se, percebendo que estava em outra cidade e, mal percebeu isso e já estava fora da outra cidade, no meio de campos sem fim.
Nenhuma idéia lhe ocorria quando sentiu uma coisa dura e fria às suas costas e, antes de se virar, viu que estava dentro da máquina do tempo e logo em seguida diante da porta por onde ele tentava entrar em vão.
Dera a volta no planeta e batera de costas com a sua frente, completando o ciclo e congelando o tempo.
Parou imediatamente de se reproduzir porque, de costas, impedia-se de entrar na máquina do tempo e apertar o botão. Não tinha como se mover, pois a máquina era estreita e não cabia dois, lado a lado. Ele do lado de fora não conseguia entrar, sem perceber que as costas dele mesmo trancavam a passagem.
Com grande esforço ele, do lado de dentro, conseguiu virar-se e ficou de frente com ele do lado de fora que se vendo do lado de dentro nada entendeu e teve uma crise de pânico.
Do lado de dentro ele disse para si mesmo, do lado de fora, que não entrasse na máquina do tempo nem apertasse o botão porque a coisa estava preta.
Do lado de fora ele controlou o pânico e compreendeu que ele já havia entrado na máquina do tempo e apertado o botão, causando uma sucessão sucessiva dele mesmo graças a uma ruptura inesperada no contínuo espaço-tempo sobre o qual a máquina do tempo operava.
Do lado de dentro ele explicou para si mesmo, do lado de fora, que ele ocupava a circunferência inteira do planeta sendo ele, do lado de dentro, o último dele mesmo e que ele, do lado de fora, era o primeiro.
O de lado de fora perguntou a si mesmo do lado de dentro qual seria a solução.
O do lado de dentro concluiu que só havia um modo de interromper o processo e que por isso ele, do lado de fora ia desobstruir a porta e ele do lado de dentro sairia pela porta de entrada, percorrendo o caminho inverso até que ele, do lado de fora fosse o primeiro da fila.
Ele do lado de fora compreendeu a idéia e deu um passo para o lado. Imediatamente ele, do lado de dentro, saiu da máquina do tempo e continuou caminhando de costas, seguido por ele do lado de dentro que foi seguido por ele do lado de dentro até que, doze anos depois ele, do lado de fora, viu-se diante da desbloqueada entrada da máquina do tempo, tendo-se atrás de si, o primeiro de frente encostado nas costas dele.
O tempo que ele levou caminhando de costas para dar outra volta na circunferência do trajeto, percorrendo caminho paralelo ao que percorrera na primeira vez, foi rápido, considerando o tamanho do planeta.
Ele, do lado de fora viu que ele, estava de costas, encostado na dura e fria parede da máquina do tempo, do lado de lá, e compreendeu que o círculo se fechara novamente.
Com um suspiro de alívio entrou na máquina do tempo e apertou dois botões ao mesmo tempo.
Imediatamente ele, do lado de fora, foi-se dissolvendo um a um e ele, do lado de dentro, foi o único que restou.
Saiu da máquina do tempo, consultou o indicador espaço-tempo e viu que estava de volta ao exato momento em que entrara na máquina do tempo e apertara o botão.
Pensativo dirigiu-se para a saída, algo ocasionara a ruptura do contínuo espaço-tempo, uma probabilidade e quinhentos trilhões de acontecer. Ia demorar até descobrir o defeito. Abriu a porta e estancou, ouvindo passos atrás de si.
Virou-se.
Ele saiu da máquina do tempo, consultou o indicador espaço-tempo e viu que estava de volta ao exato momento em que entrara na máquina do tempo e apertara o botão.
Segundos depois ele saiu da máquina do tempo, consultou o...
Paulo Wainberg
Quando entrou na máquina do tempo para voltar ao passado e apertou o botão, não fazia a menor idéia do que iria acontecer.
Ficou cego devido ao clarão e quando a visão voltou viu-se entrando na máquina do tempo e apertar o botão.
Imediatamente ele viu-se olhando para as costas dele mesmo que entrava na máquina do tempo e apertava o botão.
Quando a grande sala estava repleta dele mesmo e ele já estava do lado de fora, percebeu que tinha que interromper a seqüência para acabar com a conseqüência.
Pois cada vez que ele entrava na máquina do tempo e apertava o botão voltava alguns segundos ao passado e ia para o último lugar da fila.
Durante os poucos segundos de reflexão ele já estava no jardim do grande edifício e logo em seguida do outro lado da calçada.
Ele tinha que se impedir de entrar na máquina do tempo e apertar o botão, isso era urgente, imprescindível, pensou, ao ver os setenta quilômetros de fila dele mesmo a sua frente.
Mas como fazer? - perguntou-se, percebendo que estava em outra cidade e, mal percebeu isso e já estava fora da outra cidade, no meio de campos sem fim.
Nenhuma idéia lhe ocorria quando sentiu uma coisa dura e fria às suas costas e, antes de se virar, viu que estava dentro da máquina do tempo e logo em seguida diante da porta por onde ele tentava entrar em vão.
Dera a volta no planeta e batera de costas com a sua frente, completando o ciclo e congelando o tempo.
Parou imediatamente de se reproduzir porque, de costas, impedia-se de entrar na máquina do tempo e apertar o botão. Não tinha como se mover, pois a máquina era estreita e não cabia dois, lado a lado. Ele do lado de fora não conseguia entrar, sem perceber que as costas dele mesmo trancavam a passagem.
Com grande esforço ele, do lado de dentro, conseguiu virar-se e ficou de frente com ele do lado de fora que se vendo do lado de dentro nada entendeu e teve uma crise de pânico.
Do lado de dentro ele disse para si mesmo, do lado de fora, que não entrasse na máquina do tempo nem apertasse o botão porque a coisa estava preta.
Do lado de fora ele controlou o pânico e compreendeu que ele já havia entrado na máquina do tempo e apertado o botão, causando uma sucessão sucessiva dele mesmo graças a uma ruptura inesperada no contínuo espaço-tempo sobre o qual a máquina do tempo operava.
Do lado de dentro ele explicou para si mesmo, do lado de fora, que ele ocupava a circunferência inteira do planeta sendo ele, do lado de dentro, o último dele mesmo e que ele, do lado de fora, era o primeiro.
O de lado de fora perguntou a si mesmo do lado de dentro qual seria a solução.
O do lado de dentro concluiu que só havia um modo de interromper o processo e que por isso ele, do lado de fora ia desobstruir a porta e ele do lado de dentro sairia pela porta de entrada, percorrendo o caminho inverso até que ele, do lado de fora fosse o primeiro da fila.
Ele do lado de fora compreendeu a idéia e deu um passo para o lado. Imediatamente ele, do lado de dentro, saiu da máquina do tempo e continuou caminhando de costas, seguido por ele do lado de dentro que foi seguido por ele do lado de dentro até que, doze anos depois ele, do lado de fora, viu-se diante da desbloqueada entrada da máquina do tempo, tendo-se atrás de si, o primeiro de frente encostado nas costas dele.
O tempo que ele levou caminhando de costas para dar outra volta na circunferência do trajeto, percorrendo caminho paralelo ao que percorrera na primeira vez, foi rápido, considerando o tamanho do planeta.
Ele, do lado de fora viu que ele, estava de costas, encostado na dura e fria parede da máquina do tempo, do lado de lá, e compreendeu que o círculo se fechara novamente.
Com um suspiro de alívio entrou na máquina do tempo e apertou dois botões ao mesmo tempo.
Imediatamente ele, do lado de fora, foi-se dissolvendo um a um e ele, do lado de dentro, foi o único que restou.
Saiu da máquina do tempo, consultou o indicador espaço-tempo e viu que estava de volta ao exato momento em que entrara na máquina do tempo e apertara o botão.
Pensativo dirigiu-se para a saída, algo ocasionara a ruptura do contínuo espaço-tempo, uma probabilidade e quinhentos trilhões de acontecer. Ia demorar até descobrir o defeito. Abriu a porta e estancou, ouvindo passos atrás de si.
Virou-se.
Ele saiu da máquina do tempo, consultou o indicador espaço-tempo e viu que estava de volta ao exato momento em que entrara na máquina do tempo e apertara o botão.
Segundos depois ele saiu da máquina do tempo, consultou o...
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
PRA QUEM AINDA ACREDITA EM PAPAI NOEL, CEGONHA E JUSTIÇA
STF considera legal prorrogar grampos sobre Medina
O Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou que são legais as sucessivas prorrogações de grampos telefônicos autorizadas pelo ministro Cezar Peluso para apurar um esquema de venda de sentenças judiciais. Gravações feitas pela Polícia Federal, obtidas com autorização judicial, apontam Virgílio Medina, irmão do ministro Paulo Medina, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), negociando o pagamento de R$ 1 milhão para a concessão de uma liminar liberando o funcionamento de 900 máquinas caça-níqueis em Niterói, no Rio de Janeiro. Paulo Medina é apontado pelos policiais como a pessoa central no esquema. -O que o Poder Judiciário não suporta é a perda de sua credibilidade - opinou Cezar Peluso, relator do pedido de denúncia contra o ministro Paulo Medina.
STF acaba com a prisão de depositários infiéis
- O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu ontem que ninguém poderá ser preso por ter uma dívida e se desfazer do bem que foi dado como garantia ao empréstimo. Com a decisão, o STF acabou na prática com a prisão civil dos chamados depositários infiéis. Por maioria de votos, o Supremo concluiu na sua decisão que esse tipo de prisão somente pode ocorrer nos casos de dívida de pensão alimentícia, mas nunca em contratos como leasing, por exemplo. Durante o julgamento, os ministros do STF fizeram questão de deixar claro que a Constituição Federal prevê como um dos direitos fundamentais a liberdade e não se deve privar um ser humano dessa garantia por causa de uma dívida. Ou seja, para eles, a prisão de uma pessoa não resolve o problema do pagamento da dívida.
STF: Ex-marido terá que dividir 20 bilhões de cruzeiros sonegados em partilha de bens
A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça manteve decisão que determinou a sobrepartilha de 20 bilhões de cruzeiros que foram sonegados por ex-marido durante processo de separação amigável de casamento realizado em regime de comunhão universal de bens.O valor devido deve ser atualizado monetariamente até a data do seu efetivo pagamento. O cruzeiro foi moeda nacional no período de março de 1990 a julho de 1993
Suspenso julgamento sobre divisão de precatórios para pagamento de honorários advocatícios
A ministra Ellen Gracie pediu vista e interrompeu o julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 564132 impetrado pelo estado do Rio Grande do Sul. Na ação, o estado quer impedir que advogados consigam fracionar o valor da execução de precatórios, manobra que permite o pagamento de honorários antes mesmo de o valor principal ser pago. Entidades que representam a categoria dos advogados defendem a execução autônoma dos honorários, independentemente do valor principal a ser recebido pelo cliente. Antes do pedido de vista, os ministros Eros Grau (relator), Menezes Direito, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Carlos Ayres Britto foram favoráveis aos argumentos dos advogados e negaram provimento ao recurso do RS, por concordarem que os honorários advocatícios são autônomos, ou seja, não têm a mesma natureza do pagamento principal da ação e não precisam ser vinculados a ele. Na visão dos representantes da categoria, como o honorário advocatício não é um dinheiro que pertence diretamente ao cliente, não deve ser considerado verba acessória do processo.
O Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou que são legais as sucessivas prorrogações de grampos telefônicos autorizadas pelo ministro Cezar Peluso para apurar um esquema de venda de sentenças judiciais. Gravações feitas pela Polícia Federal, obtidas com autorização judicial, apontam Virgílio Medina, irmão do ministro Paulo Medina, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), negociando o pagamento de R$ 1 milhão para a concessão de uma liminar liberando o funcionamento de 900 máquinas caça-níqueis em Niterói, no Rio de Janeiro. Paulo Medina é apontado pelos policiais como a pessoa central no esquema. -O que o Poder Judiciário não suporta é a perda de sua credibilidade - opinou Cezar Peluso, relator do pedido de denúncia contra o ministro Paulo Medina.
STF acaba com a prisão de depositários infiéis
- O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu ontem que ninguém poderá ser preso por ter uma dívida e se desfazer do bem que foi dado como garantia ao empréstimo. Com a decisão, o STF acabou na prática com a prisão civil dos chamados depositários infiéis. Por maioria de votos, o Supremo concluiu na sua decisão que esse tipo de prisão somente pode ocorrer nos casos de dívida de pensão alimentícia, mas nunca em contratos como leasing, por exemplo. Durante o julgamento, os ministros do STF fizeram questão de deixar claro que a Constituição Federal prevê como um dos direitos fundamentais a liberdade e não se deve privar um ser humano dessa garantia por causa de uma dívida. Ou seja, para eles, a prisão de uma pessoa não resolve o problema do pagamento da dívida.
STF: Ex-marido terá que dividir 20 bilhões de cruzeiros sonegados em partilha de bens
A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça manteve decisão que determinou a sobrepartilha de 20 bilhões de cruzeiros que foram sonegados por ex-marido durante processo de separação amigável de casamento realizado em regime de comunhão universal de bens.O valor devido deve ser atualizado monetariamente até a data do seu efetivo pagamento. O cruzeiro foi moeda nacional no período de março de 1990 a julho de 1993
Suspenso julgamento sobre divisão de precatórios para pagamento de honorários advocatícios
A ministra Ellen Gracie pediu vista e interrompeu o julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 564132 impetrado pelo estado do Rio Grande do Sul. Na ação, o estado quer impedir que advogados consigam fracionar o valor da execução de precatórios, manobra que permite o pagamento de honorários antes mesmo de o valor principal ser pago. Entidades que representam a categoria dos advogados defendem a execução autônoma dos honorários, independentemente do valor principal a ser recebido pelo cliente. Antes do pedido de vista, os ministros Eros Grau (relator), Menezes Direito, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Carlos Ayres Britto foram favoráveis aos argumentos dos advogados e negaram provimento ao recurso do RS, por concordarem que os honorários advocatícios são autônomos, ou seja, não têm a mesma natureza do pagamento principal da ação e não precisam ser vinculados a ele. Na visão dos representantes da categoria, como o honorário advocatício não é um dinheiro que pertence diretamente ao cliente, não deve ser considerado verba acessória do processo.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
COLUNA DO PAULO WAINBERG
O MUNDO É O BASTANTE
Paulo Wainberg
Nos anos Oitenta fui de uma importância fundamental para as grandes empresas. Não havia reunião de diretoria em que meu nome não fosse citado, enaltecido e recomendado.
Foi uma época esplendorosa da minha vida quando, diariamente, eu recebia telefonemas e visitas de vendedores de consórcios, enciclopédias, túmulos, ações, investimentos financeiros, títulos patrimoniais de dezenas de clubes.
Eles se anunciavam dizendo, para meu orgulho e glória, que a diretoria havia recomendado meu nome, fato que me dava uma sensação de importância magnífica.
Enciclopédias eu comprei, uma sobre bichos e outra em inglês, visto que, como recomendado pela diretoria editorial, aquelas obras seriam extremamente importantes para uma adequada formação de meus filhos que, sinceramente, não poderiam ser privados do acesso à cultura e à informação.
Estão lá em casa até hoje. Minha filha nunca abriu um único volume. Nem eu. Nem ninguém da minha família.
Porém, como poderia eu recusar a oferta, vinda assim de tão altos escalões corporativos? E, egoisticamente recusar à minha filha tão transcendental oportunidade?
Adquiri também um consórcio para um carro que, todos os meses eu poderia receber, ou por lance ou por sorteio. Não fui sorteado e não dei lance. No terceiro mês agi por conta própria, comprei o carro que eu queria e dei o consórcio como entrada.
O sucesso excessivo, a fama explícita e o reconhecimento das diretorias empresariais exagerado produziram em mim o desejo de voltar à antiga obscuridade, enfarado que fiquei de tamanha visibilidade.
Não foi fácil, mas consegui convencer minha secretária da época a não me passar mais ligações de ofertadores, por mais que insistissem e invocassem a grandeza da honra que suas diretorias me conferiam.
Voltei ao anonimato e, por muitos e muitos anos, as diretorias mercantis esqueceram que eu existia.
Malgrado certa sensação de abandono, sucedeu que, assim ignorado, voltei às minhas anteriores práticas de comprar o que eu queria, quando eu queria, onde eu queria. Tive algumas dificuldades iniciais, pois já me acostumara a ter meus desejos definidos pelas diretorias empresarias.
Você sabe como as escolhas em geral são difíceis.
Felizmente me acostumei com a renovada realidade e ao longo dos anos seguintes minhas compras obedeceram a três critérios imutáveis que cumpri de forma intransigente, sem concessões e em rigorosa ordem: impulso, vontade e necessidade.
Com a pertinácia que me é peculiar comprei na Colômbia, pela bagatela de cem dólares, três pedras de cristal, informado que fui pela vendedora, dos efeitos energéticos positivos dos cristais; fiz um enxoval completo dois números menores do que o meu porque iria – e ainda vou – emagrecer. Troquei vários aparelhos de som, automóveis, adquiri uns posters pornográficos num brique, enfim, fui fiel às minhas prioridades, com prudência e parcimônia, baseado no universal princípio econômico segundo o qual, quem não deve teme. Eu, para não temer, devo.
Não é que ontem, pelas quatro da tarde, minha secretária me passa a ligação de um senhor chamado Charles. Imaginei tratar-se de Charles Kieffer, patrono da Feira do Livro, único Charles que conheço, querendo me convidar para alguma homenagem ou coisa assim. Disse-me o Charles ao telefone, literalmente:
- O seu nome foi selecionado e recomendado por nossa diretoria para uma oferta maravilhosa de um consórcio.
Quase caí da cadeira: estou recuperando minha antiga importância? Disfarcei e disse:
- Que ótimo. Consórcio do que, mesmo?
- Para o que senhor desejar, doutor. Imóveis, carros, eletrodomésticos...
- Para divórcio tem? – interrompi.
- Como?
- Divórcio. Aqui em nosso escritório elaboramos um plano de consórcio para divórcio. Se o senhor aderir, poderá se divorciar por lance ou por sorteio, são dois divórcios por mês, ou então no final do plano. Com uma vantagem adicional: o senhor pode transferir o plano para quem quiser, algum amigo, sua mãe e até mesmo para sua mulher.
- Sério?- perguntou Charles. Vocês têm mesmo esse plano? E quem for solteiro, como eu?
- Não tem problema nenhum. O senhor pode ingressar no plano especial de Divórcio Preventivo.
- Preventivo? Como é que funciona?
- É simples. Hoje o senhor é solteiro, mas um dia vai casar. Se você adquirir um plano de Divórcio Preventivo, quando casar já estará com seu divórcio assegurado.
Sem nenhum comentário Charles agradeceu e desligou o telefone.
Eu fiquei dividido entre dois sentimentos: orgulhoso por estar ocupando outra vez um lugar de destaque entre as diretorias das grandes empresas e temeroso de que venham condicionar e decidir sobre os meus ideais de consumo.
Estarão os velhos tempos de volta? Sou de novo uma celebridade entre os executivos?
Para me preservar resolvi responder ao ferro com ferro. Ofereçam-me um consórcio e devolverei em troca o consórcio de divórcio.
Aos mais afoitos advirto: já estou bolando outro plano consorcial, algo a ver com rolhas, tampas de garrafa e preservativos
Paulo Wainberg
Nos anos Oitenta fui de uma importância fundamental para as grandes empresas. Não havia reunião de diretoria em que meu nome não fosse citado, enaltecido e recomendado.
Foi uma época esplendorosa da minha vida quando, diariamente, eu recebia telefonemas e visitas de vendedores de consórcios, enciclopédias, túmulos, ações, investimentos financeiros, títulos patrimoniais de dezenas de clubes.
Eles se anunciavam dizendo, para meu orgulho e glória, que a diretoria havia recomendado meu nome, fato que me dava uma sensação de importância magnífica.
Enciclopédias eu comprei, uma sobre bichos e outra em inglês, visto que, como recomendado pela diretoria editorial, aquelas obras seriam extremamente importantes para uma adequada formação de meus filhos que, sinceramente, não poderiam ser privados do acesso à cultura e à informação.
Estão lá em casa até hoje. Minha filha nunca abriu um único volume. Nem eu. Nem ninguém da minha família.
Porém, como poderia eu recusar a oferta, vinda assim de tão altos escalões corporativos? E, egoisticamente recusar à minha filha tão transcendental oportunidade?
Adquiri também um consórcio para um carro que, todos os meses eu poderia receber, ou por lance ou por sorteio. Não fui sorteado e não dei lance. No terceiro mês agi por conta própria, comprei o carro que eu queria e dei o consórcio como entrada.
O sucesso excessivo, a fama explícita e o reconhecimento das diretorias empresariais exagerado produziram em mim o desejo de voltar à antiga obscuridade, enfarado que fiquei de tamanha visibilidade.
Não foi fácil, mas consegui convencer minha secretária da época a não me passar mais ligações de ofertadores, por mais que insistissem e invocassem a grandeza da honra que suas diretorias me conferiam.
Voltei ao anonimato e, por muitos e muitos anos, as diretorias mercantis esqueceram que eu existia.
Malgrado certa sensação de abandono, sucedeu que, assim ignorado, voltei às minhas anteriores práticas de comprar o que eu queria, quando eu queria, onde eu queria. Tive algumas dificuldades iniciais, pois já me acostumara a ter meus desejos definidos pelas diretorias empresarias.
Você sabe como as escolhas em geral são difíceis.
Felizmente me acostumei com a renovada realidade e ao longo dos anos seguintes minhas compras obedeceram a três critérios imutáveis que cumpri de forma intransigente, sem concessões e em rigorosa ordem: impulso, vontade e necessidade.
Com a pertinácia que me é peculiar comprei na Colômbia, pela bagatela de cem dólares, três pedras de cristal, informado que fui pela vendedora, dos efeitos energéticos positivos dos cristais; fiz um enxoval completo dois números menores do que o meu porque iria – e ainda vou – emagrecer. Troquei vários aparelhos de som, automóveis, adquiri uns posters pornográficos num brique, enfim, fui fiel às minhas prioridades, com prudência e parcimônia, baseado no universal princípio econômico segundo o qual, quem não deve teme. Eu, para não temer, devo.
Não é que ontem, pelas quatro da tarde, minha secretária me passa a ligação de um senhor chamado Charles. Imaginei tratar-se de Charles Kieffer, patrono da Feira do Livro, único Charles que conheço, querendo me convidar para alguma homenagem ou coisa assim. Disse-me o Charles ao telefone, literalmente:
- O seu nome foi selecionado e recomendado por nossa diretoria para uma oferta maravilhosa de um consórcio.
Quase caí da cadeira: estou recuperando minha antiga importância? Disfarcei e disse:
- Que ótimo. Consórcio do que, mesmo?
- Para o que senhor desejar, doutor. Imóveis, carros, eletrodomésticos...
- Para divórcio tem? – interrompi.
- Como?
- Divórcio. Aqui em nosso escritório elaboramos um plano de consórcio para divórcio. Se o senhor aderir, poderá se divorciar por lance ou por sorteio, são dois divórcios por mês, ou então no final do plano. Com uma vantagem adicional: o senhor pode transferir o plano para quem quiser, algum amigo, sua mãe e até mesmo para sua mulher.
- Sério?- perguntou Charles. Vocês têm mesmo esse plano? E quem for solteiro, como eu?
- Não tem problema nenhum. O senhor pode ingressar no plano especial de Divórcio Preventivo.
- Preventivo? Como é que funciona?
- É simples. Hoje o senhor é solteiro, mas um dia vai casar. Se você adquirir um plano de Divórcio Preventivo, quando casar já estará com seu divórcio assegurado.
Sem nenhum comentário Charles agradeceu e desligou o telefone.
Eu fiquei dividido entre dois sentimentos: orgulhoso por estar ocupando outra vez um lugar de destaque entre as diretorias das grandes empresas e temeroso de que venham condicionar e decidir sobre os meus ideais de consumo.
Estarão os velhos tempos de volta? Sou de novo uma celebridade entre os executivos?
Para me preservar resolvi responder ao ferro com ferro. Ofereçam-me um consórcio e devolverei em troca o consórcio de divórcio.
Aos mais afoitos advirto: já estou bolando outro plano consorcial, algo a ver com rolhas, tampas de garrafa e preservativos
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
VARIAÇÕES EM TORNO DO TEMA FIADASPUTAS
E A MAIORIA AINDA ACHA QUE NÃO É MACACO
João Eichbaum
Lúcido e inteligente, meu colega Adair Philippsen publicou na ZH de ontem um excelente artigo, intitulado “Lições de Outros Animais”. Encabeça o texto uma citação de Ernesto Sabato: “os animais são melhores do que nós”.
Lendo o artigo de Adair Philippsen, não há como não lembrar de Charles Darwin e concluir com a mesma idéia de Ernesto Sabato: nós, os macacos humanos, somos os piores animais.
Em resumo, Philippsen discorre sobre o respeito que os outros animais têm pela natureza que os sustenta e sobre o equilíbrio que disso resulta para eles, equilíbrio esse demonstrado no pleno funcionamento do meio ambiente, sem necessidade de leis, de polícia, de governo, de deputados e juízes ou de advogados especializados em direito ambiental.
Mas o macaco chamado homem não age assim. Mesmo com polícia, leis, regulamentos, Ibama e tudo o mais, ele não respeita a natureza. O dinheiro sempre fala mais alto, a corrupção, que não existe entre os animais, se encarrega de facilitar o descumprimento das leis.
Os “grandes empreendimentos” imobiliários e a ânsia de exibir riqueza e poder estão acima de tudo e comandam as barbaridades: destroem-se florestas, rouba-se o espaço das águas, dinamita-se a montanha assentada na pedra milenar, sem falar na destruição pela química, em nome da tecnologia e do progresso.
Sim, o macaco homem é o pior, exatamente por ser o mais burro de todos os animais (com perdão da palavra “burro”, injustamente escolhida como antônimo de inteligência). Ele pensa que é “muito” inteligente, esquecendo-se de que carrega 98% da carga genética dos chimpanzés. E por ser burro, isto é, por não saber usar a sua inteligência, é que ele transa animalescamente, povoa animalescamente o mundo e depois tem que arranjar lugar para morar, comida para viver e ainda dar terras para o MST. Depois que desceu das árvores, abandonou a floresta e perdeu o rabo, tornou-se isso que aí está: pior do que qualquer outro macaco.
Se fosse inteligente, como pensa que é, o macaco homem seria diferente e não precisaria se enternecer com catástrofes que ele mesmo causa e que são transformadas em dinheiro pelos donos da grande imprensa.
João Eichbaum
Lúcido e inteligente, meu colega Adair Philippsen publicou na ZH de ontem um excelente artigo, intitulado “Lições de Outros Animais”. Encabeça o texto uma citação de Ernesto Sabato: “os animais são melhores do que nós”.
Lendo o artigo de Adair Philippsen, não há como não lembrar de Charles Darwin e concluir com a mesma idéia de Ernesto Sabato: nós, os macacos humanos, somos os piores animais.
Em resumo, Philippsen discorre sobre o respeito que os outros animais têm pela natureza que os sustenta e sobre o equilíbrio que disso resulta para eles, equilíbrio esse demonstrado no pleno funcionamento do meio ambiente, sem necessidade de leis, de polícia, de governo, de deputados e juízes ou de advogados especializados em direito ambiental.
Mas o macaco chamado homem não age assim. Mesmo com polícia, leis, regulamentos, Ibama e tudo o mais, ele não respeita a natureza. O dinheiro sempre fala mais alto, a corrupção, que não existe entre os animais, se encarrega de facilitar o descumprimento das leis.
Os “grandes empreendimentos” imobiliários e a ânsia de exibir riqueza e poder estão acima de tudo e comandam as barbaridades: destroem-se florestas, rouba-se o espaço das águas, dinamita-se a montanha assentada na pedra milenar, sem falar na destruição pela química, em nome da tecnologia e do progresso.
Sim, o macaco homem é o pior, exatamente por ser o mais burro de todos os animais (com perdão da palavra “burro”, injustamente escolhida como antônimo de inteligência). Ele pensa que é “muito” inteligente, esquecendo-se de que carrega 98% da carga genética dos chimpanzés. E por ser burro, isto é, por não saber usar a sua inteligência, é que ele transa animalescamente, povoa animalescamente o mundo e depois tem que arranjar lugar para morar, comida para viver e ainda dar terras para o MST. Depois que desceu das árvores, abandonou a floresta e perdeu o rabo, tornou-se isso que aí está: pior do que qualquer outro macaco.
Se fosse inteligente, como pensa que é, o macaco homem seria diferente e não precisaria se enternecer com catástrofes que ele mesmo causa e que são transformadas em dinheiro pelos donos da grande imprensa.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
COLABORAÇÃO DA VIVIAN PARA AUMENTAR O NÚMERO DOS FIADASPUTAS
MAIS PÉROLAS DO ÚLTIMO ENEM - EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO 'O sero mano tem uma missão...' (A minha, por exemplo, é ter que ler isso!) 'O Euninho já provocou secas e enchentes calamitosas. .' (Levei uns minutos para identificar o El Niño...) 'O problema ainda é maior se tratando da camada Diozanio!' (Eu não sabia que a camada tinha esse nome bonito) 'A situação tende a piorar: o madereiros da Amazônia destroem a Mata Atlântica da região.' (E além de tudo, viajam pra caramba, hein?) Não preserve apenas o meio ambiente e sim todo ele.' (Faz sentido) 'O grande problema do Rio Amazonas é a pesca dos peixes' (Achei que fosse a pesca dos pássaros.) 'É um problema de muita gravidez.' (Com certeza...se seu pai usasse camisinha, não leríamos isso!) 'A AIDS é transmitida pelo mosquito AIDES EGIPSIO.' (Sem comentário)'Já está muito de difíciu de achar os pandas na Amazônia' (Que pena. Também ursos e elefantes sumiram de lá) 'A natureza brasileira tem 500 anos e já esta quase se acabando'(Foi trazida nas caravelas, certo ?)'O cerumano no mesmo tempo que constrói, também destroi, pois nos temos que nos unir para realizarmos parcerias juntos.'(Não conte comigo) 'Na verdade, nem todo desmatamento é tão ruim. Por exemplo, o do Aeds Egipte seria um bom beneficácio para o Brasil' (Vamos trocar as fumaças pelas moto-serras) ... menos desmatamentos, mais florestas arborizadas. ' (Concordo! De florestas não arborizadas, basta o Saara!) 'Isso tudo é devido ao raios ultra-violentos que recebemos todo dia.' (Meu Deus... Haja pára-raio!) 'Tudo isso colaborou com a estinção do micro-leão dourado.'(Quem teria sido o fabricante? Compaq ? Apple? IBM?) 'Imaginem a bandeira do Brasil. O azul representa o céu , o verde representa as matas, e o amarelo o ouro. O ouro já foi roubado e as matas estão quase se indo. No dia em que roubarem nosso céu, ficaremos sem bandeira..' (Caraca! Ainda bem que temos aquela faixinha onde está escrito 'Ordem e Progresso'..) '... são formados pelas bacias esferográficas. ' (Imaginem as bacias da BIC.)'Eu concordo em gênero e número igual.' (Eu discordo!) 'Precisa-se começar uma reciclagem mental dos humanos, fazer uma verdadeira lavagem celebral em relação ao desmatamento, poluição e depredação de si próprio.' (Putz, que droga é essa?) 'O serigueiro tira borracha das árvores, mas não nunca derrubam as seringas. (Esse deve ter tomado uma na veia) 'Vamos deixar de sermos egoistas e pensarmos um pouco mais em nos mesmos.' (Que maravilha!) Vivian Gonçalves Dias__________________________________________________________
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
COLUNA DO PAULO WAINBERG
NON SENSE
Paulo Wainberg
Conheço dois tipos de pessoas: as que são assim e as que são assado. As assim gostam disto e daquilo e as assado não. As assim dizem que vão ou não vão, as assado, talvez.
As que são assim interagem na abstração e no eflúvio. As que são assado dissimulam no rasgo e na coragem.
As pessoas que são assim desenvolvem traços narcórios, capilares exumados e raras profundidades.
As pessoas que são assado perambulam e se fulminam entre azeitonas.
As que são assim freqüentam escalábrios, dormem em pantufagens e pandorgueiam, escorreitas.
As que são assado cometem glicerinas, praticam mao-tsé-tung em academias, lipoaspiram vaginas e mijam no seco.
Eu gostaria de conhecer outros tipos de pessoas, que fossem, sei lá, fulanas, beltranas e sicranas.
Teria com elas marmorices, gardolices e clarices. Passaria dias inteiros entre punções aquilinas, fermentando colos boçais até adormecer. Sonharia conquiquilhas e acordaria ensarrado, entre bugalhos, sovacos e avestruzes.
Mas não. Coube-me por destino conhecer apenas pessoas assim ou assado.
Pessoas assim fomentam, formatam, firminam e fuligem. Querem sempre um toma lá dá cá dialético rico em teores clitoráxicos, mas nenhum engodo fosforecente.
Já as assado exigem buscapés rosados, protásios firulentos, flibusteiros sem graça, bem aos moldes do comeu, não leu e sinodal.
Com todos os quiabos, polainas e borzeguins! Como isso me rita!
Jivago com meus tostões e pergunto: Quais eu restolho, estas ou aquelas? As assim ou as assado?
Respingo pronomes sulfurados, beatos e pernilongos e repolho: nem pum nem potro.
Será, quem sabe, hora de inverter os políbios? Depravar os arreios? Fenestrar ovos mastodontes?
Tristemente conluio: É lateralmente impossível encontrar um ambos, simulacramente assim e assado, um que não perceveja, que não confrade e muito menos chávena ou samovar.
Em van recorro ruas de arrabalde, vejo cocheiros e tamanduás e o que cobra é rouco, nenhum e quasimodo.
Em van confúcio os ecos, recorrecos e botecos, chinelando uma usura, pustulando uma prosódia e tudo o que macho é gente basculante, sem ver e sem gonha.
Em van relusco, refusco e etrusco, mas é ventil. Nada me contrafaz, nada me sobeja à seborréia.
Fresta-me uma falácia: Jamais cabrochar, seja assim, seja assado; jamais estuprar os que me desencarnam; jamais preliminar, nem aquiles nem alibaba.
Levarei a vitela deflorada e, qual aquarela doidivanas, irei aldrovando, dom casmurro e cortiço, rebosteando as traições.
E quando menos esporrearem, eu voltaren.
Paulo Wainberg
Conheço dois tipos de pessoas: as que são assim e as que são assado. As assim gostam disto e daquilo e as assado não. As assim dizem que vão ou não vão, as assado, talvez.
As que são assim interagem na abstração e no eflúvio. As que são assado dissimulam no rasgo e na coragem.
As pessoas que são assim desenvolvem traços narcórios, capilares exumados e raras profundidades.
As pessoas que são assado perambulam e se fulminam entre azeitonas.
As que são assim freqüentam escalábrios, dormem em pantufagens e pandorgueiam, escorreitas.
As que são assado cometem glicerinas, praticam mao-tsé-tung em academias, lipoaspiram vaginas e mijam no seco.
Eu gostaria de conhecer outros tipos de pessoas, que fossem, sei lá, fulanas, beltranas e sicranas.
Teria com elas marmorices, gardolices e clarices. Passaria dias inteiros entre punções aquilinas, fermentando colos boçais até adormecer. Sonharia conquiquilhas e acordaria ensarrado, entre bugalhos, sovacos e avestruzes.
Mas não. Coube-me por destino conhecer apenas pessoas assim ou assado.
Pessoas assim fomentam, formatam, firminam e fuligem. Querem sempre um toma lá dá cá dialético rico em teores clitoráxicos, mas nenhum engodo fosforecente.
Já as assado exigem buscapés rosados, protásios firulentos, flibusteiros sem graça, bem aos moldes do comeu, não leu e sinodal.
Com todos os quiabos, polainas e borzeguins! Como isso me rita!
Jivago com meus tostões e pergunto: Quais eu restolho, estas ou aquelas? As assim ou as assado?
Respingo pronomes sulfurados, beatos e pernilongos e repolho: nem pum nem potro.
Será, quem sabe, hora de inverter os políbios? Depravar os arreios? Fenestrar ovos mastodontes?
Tristemente conluio: É lateralmente impossível encontrar um ambos, simulacramente assim e assado, um que não perceveja, que não confrade e muito menos chávena ou samovar.
Em van recorro ruas de arrabalde, vejo cocheiros e tamanduás e o que cobra é rouco, nenhum e quasimodo.
Em van confúcio os ecos, recorrecos e botecos, chinelando uma usura, pustulando uma prosódia e tudo o que macho é gente basculante, sem ver e sem gonha.
Em van relusco, refusco e etrusco, mas é ventil. Nada me contrafaz, nada me sobeja à seborréia.
Fresta-me uma falácia: Jamais cabrochar, seja assim, seja assado; jamais estuprar os que me desencarnam; jamais preliminar, nem aquiles nem alibaba.
Levarei a vitela deflorada e, qual aquarela doidivanas, irei aldrovando, dom casmurro e cortiço, rebosteando as traições.
E quando menos esporrearem, eu voltaren.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
VARIAÇÕES EM TORNO DO TEMA FIADASPUTAS
POBRE NÃO DÁ LUCRO PARA AS AUTORIDADES
João Eichbaum
Os pobres não dão lucro direto para as autoridades. Portanto, ó, no deles.
Vocês viram dia desses uma manchete que dizia GOLPE CONTRA O TRANSPORTE CLANDESTINO?
O que é que vocês poderiam imaginar, lendo só a manchete? Vocês chegariam à conclusão de quê?
Só lendo o texto é que a gente fica sabendo: tem uma turminha, donos de Uno, Palio, Celta, Ka, Corsa Sedan e Tempra que leva o pessoal de Guaíba pra Porto, (hora do pico, naturalmente) a troco de merrecas, vale transporte, por exemplo.
Pois esse pessoal foi surpreendido por agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais e da Brigada Militar, que montaram duas barreiras, uma na Estrada do Conde e outra na Br 116, na saída do bairro Cohab Santa Rita. Um aparato policial, portanto. Enquanto alguns policiais faziam greve, outros armavam barreira para atacar, não delinqüentes, mas uns pobres diabos que se viram para ganhar um troquinho a mais.
O crime deles? Fazer concorrência para a empresa de Transporte Expresso Rio Guaíba.
Isso é crime, senhores! Um crime gravíssimo, que tira os policiais da greve, para ficarem de alerta, desde as cinco da matina. Outros crimes, como assaltos e tráfico de drogas são crimes de pequena monta, não fazem mal a ninguém, por isso os agentes não se preocupam com eles. Mas dar carona e levar um vale transporte, ah isso é crime contra a Fazenda Estadual!
Esse trabalho de investigação, segundo o jornal, já estava preparado há três meses, pois em agosto um grupo de policiais civis, militares e funcionários da Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional começou a fazer o acompanhamento dos carros que eram usados no transporte clandestino de passageiros de Guaíba – as palavras não são minhas, são do jornal.
Transporte “clandestino”. Já pensaram? É possível transportar clandestinamente alguém, através de rodovias movimentadas, que todo o mundo enxerga? Por favor, jornalistas de meia tigela, vão procurar no dicionário o que significa “clandestino”.
Pois tudo isso, minha gente, foi feito para beneficiar uma empresa de transportes, que estava vendo diminuir o número de passageiros. Não foi para beneficiar uma população, uma comunidade, mas para beneficiar o dono da empresa. Para proteger os interesses dele, o Estado botou um batalhão de policiais na rua – armados até os dentes, certamente.
E agora vem a pergunta: e o que faz o Estado para melhorar o transporte coletivo? Por que é que o Estado não dá uma olhada nas paradas de ônibus onde os pobres se aglomeram, por longo tempo, à espera de um coletivo e, quando entram têm que ficar de pé, se apertando, se bolinando, suando e peidando “clandestinamente”?
A resposta é muito simples: pobre não dá lucro para as autoridades. E quem não dá lucro tem mais é que se ralar.
João Eichbaum
Os pobres não dão lucro direto para as autoridades. Portanto, ó, no deles.
Vocês viram dia desses uma manchete que dizia GOLPE CONTRA O TRANSPORTE CLANDESTINO?
O que é que vocês poderiam imaginar, lendo só a manchete? Vocês chegariam à conclusão de quê?
Só lendo o texto é que a gente fica sabendo: tem uma turminha, donos de Uno, Palio, Celta, Ka, Corsa Sedan e Tempra que leva o pessoal de Guaíba pra Porto, (hora do pico, naturalmente) a troco de merrecas, vale transporte, por exemplo.
Pois esse pessoal foi surpreendido por agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais e da Brigada Militar, que montaram duas barreiras, uma na Estrada do Conde e outra na Br 116, na saída do bairro Cohab Santa Rita. Um aparato policial, portanto. Enquanto alguns policiais faziam greve, outros armavam barreira para atacar, não delinqüentes, mas uns pobres diabos que se viram para ganhar um troquinho a mais.
O crime deles? Fazer concorrência para a empresa de Transporte Expresso Rio Guaíba.
Isso é crime, senhores! Um crime gravíssimo, que tira os policiais da greve, para ficarem de alerta, desde as cinco da matina. Outros crimes, como assaltos e tráfico de drogas são crimes de pequena monta, não fazem mal a ninguém, por isso os agentes não se preocupam com eles. Mas dar carona e levar um vale transporte, ah isso é crime contra a Fazenda Estadual!
Esse trabalho de investigação, segundo o jornal, já estava preparado há três meses, pois em agosto um grupo de policiais civis, militares e funcionários da Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional começou a fazer o acompanhamento dos carros que eram usados no transporte clandestino de passageiros de Guaíba – as palavras não são minhas, são do jornal.
Transporte “clandestino”. Já pensaram? É possível transportar clandestinamente alguém, através de rodovias movimentadas, que todo o mundo enxerga? Por favor, jornalistas de meia tigela, vão procurar no dicionário o que significa “clandestino”.
Pois tudo isso, minha gente, foi feito para beneficiar uma empresa de transportes, que estava vendo diminuir o número de passageiros. Não foi para beneficiar uma população, uma comunidade, mas para beneficiar o dono da empresa. Para proteger os interesses dele, o Estado botou um batalhão de policiais na rua – armados até os dentes, certamente.
E agora vem a pergunta: e o que faz o Estado para melhorar o transporte coletivo? Por que é que o Estado não dá uma olhada nas paradas de ônibus onde os pobres se aglomeram, por longo tempo, à espera de um coletivo e, quando entram têm que ficar de pé, se apertando, se bolinando, suando e peidando “clandestinamente”?
A resposta é muito simples: pobre não dá lucro para as autoridades. E quem não dá lucro tem mais é que se ralar.
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