segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

VARIAÇÕES EM TORNO DO TEMA FIADASPUTAS

POBRE NÃO DÁ LUCRO PARA AS AUTORIDADES

João Eichbaum

Os pobres não dão lucro direto para as autoridades. Portanto, ó, no deles.
Vocês viram dia desses uma manchete que dizia GOLPE CONTRA O TRANSPORTE CLANDESTINO?
O que é que vocês poderiam imaginar, lendo só a manchete? Vocês chegariam à conclusão de quê?
Só lendo o texto é que a gente fica sabendo: tem uma turminha, donos de Uno, Palio, Celta, Ka, Corsa Sedan e Tempra que leva o pessoal de Guaíba pra Porto, (hora do pico, naturalmente) a troco de merrecas, vale transporte, por exemplo.
Pois esse pessoal foi surpreendido por agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais e da Brigada Militar, que montaram duas barreiras, uma na Estrada do Conde e outra na Br 116, na saída do bairro Cohab Santa Rita. Um aparato policial, portanto. Enquanto alguns policiais faziam greve, outros armavam barreira para atacar, não delinqüentes, mas uns pobres diabos que se viram para ganhar um troquinho a mais.
O crime deles? Fazer concorrência para a empresa de Transporte Expresso Rio Guaíba.
Isso é crime, senhores! Um crime gravíssimo, que tira os policiais da greve, para ficarem de alerta, desde as cinco da matina. Outros crimes, como assaltos e tráfico de drogas são crimes de pequena monta, não fazem mal a ninguém, por isso os agentes não se preocupam com eles. Mas dar carona e levar um vale transporte, ah isso é crime contra a Fazenda Estadual!
Esse trabalho de investigação, segundo o jornal, já estava preparado há três meses, pois em agosto um grupo de policiais civis, militares e funcionários da Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional começou a fazer o acompanhamento dos carros que eram usados no transporte clandestino de passageiros de Guaíba – as palavras não são minhas, são do jornal.
Transporte “clandestino”. Já pensaram? É possível transportar clandestinamente alguém, através de rodovias movimentadas, que todo o mundo enxerga? Por favor, jornalistas de meia tigela, vão procurar no dicionário o que significa “clandestino”.
Pois tudo isso, minha gente, foi feito para beneficiar uma empresa de transportes, que estava vendo diminuir o número de passageiros. Não foi para beneficiar uma população, uma comunidade, mas para beneficiar o dono da empresa. Para proteger os interesses dele, o Estado botou um batalhão de policiais na rua – armados até os dentes, certamente.
E agora vem a pergunta: e o que faz o Estado para melhorar o transporte coletivo? Por que é que o Estado não dá uma olhada nas paradas de ônibus onde os pobres se aglomeram, por longo tempo, à espera de um coletivo e, quando entram têm que ficar de pé, se apertando, se bolinando, suando e peidando “clandestinamente”?
A resposta é muito simples: pobre não dá lucro para as autoridades. E quem não dá lucro tem mais é que se ralar.

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