CRÔNICAS DISCURSIVAS
PANDEMIA E PANDEMÔNIO
Paulo Wainberg
Já lhes aconteceu, querido amigo, estimada amiga, de confundir alhos com bugalhos?
Alguma vez você, no supermercado, pegou um pé de bugalho na mão e afirmou, categórica e definitivamente e em evidente confusão: isto é um pé de alho?
Você já colocou bugalho no espaguete ao alho e óleo? E, durante o jantar, sentiu a diferença?
Você já pendurou pencas de bugalhos nas aberturas da casa, para afastar os vampiros? E depois foi mordido por um?
Você já mastigou bastante bugalho, com cachaça e canja de galhinha, para curar uma forte constipação? E continuou espirrando?
Qual é o cheiro do bugalho?
Porque o do alho, na boca, é brabo. Todo o gostinho bom do alho sucumbe ao que ele faz com o hálito da donzela. Ou do mancebo.
Eu sempre digo: coma alho e retire-se!
Já lhe aconteceu de comer bugalho?
Comigo, sinceramente, nunca aconteceu. Jamais confundi um bugalho com alho. Nem conheço alguém que tenha caído em tal armadilha.
Este assunto me veio à cabeça porque sou um contestador permanente dos fatos tidos como aceites, definitivos e incontestáveis.
Dogmas.
Vivem dizendo para não confundir alhos com bugalhos e, quando pergunto o que são bugalhos, ninguém sabe me responder. Fui consultar, no Google é claro, e descobri que bugalho é muito parecido com alho, desde que se encontre uma árvore de bugalho, se é que bugalho dá em árvore.
É o caso da vinda do presidente do Irã ao Brasil, por exemplo. O homem – no sentido mínimo da palavra – é raivoso, racista, antissemita, prepotente, arrogante, pregador da guerra e da destruição, vinha ao Brasil, onde seria recebido pelo Presidente Lula e pelo Corpo Diplomático, tendo em vista interesses comerciais.
Aliás, como será um corpo diplomático? Imagino o de uma mulher tatuada, de alto a baixo, com passaportes.
Acho que manter relações comerciais com o Irã é muito bom para o Brasil e muito bom para o Irã. Estes são os alhos.
Mas receber, com honras de chefe de estado, tal sanguinário personagem, aí estão os bugalhos.
Não cabe mais à nossa geração e às que nos sucedem, aceitar radicalismos destruidores, sejam de que natureza forem.
Não há espaço, no mundo moderno e suas maravilhosas conquistas, para ideais obsoletos, nacionalismos purgatórios, supremacias raciais, religiosas e éticas.
Eu, pelo menos, acredito nisto.
Acredito que a globalização é um fato e que uma jovem iraniana sabe perfeitamente o que se passa na cabeça de um rapaz americano, simplesmente acessando a internet, por mais que a proíbam de acessá-la.
Não vejo razão para que existam, no mundo, bolsões de miséria, de doenças, de genocídios e de obscurantismo em geral.
Não há mais lugar para bugalhos, neste Planeta.
Porém, infelizmente, eles existem, a contaminar nosso alho e nossa sopa. Estão aí, como o presidente do Irã, como os terroristas de todo o gênero, como as grandes corporações a transfigurar a globalização e a distorcê-la como fato econômico, fonte de lucro, riqueza e poder.
Bugalhos proliferando, como as drogas, o alcoolismo, a imprudência e a impudícia. Como o crime organizado, a indústria poluente, o capitalismo feroz, o comunismo elitista, o nazismo revisto, a corrupção institucional, as perdas e ganhos, os danos morais, os modus operandi, a discriminação e o jogo sujo.
Estamos na era do futuro, hora de separar o joio do trigo, de extirpar a febre aftosa, de combater o vírus e nunca mais confundir alhos com bugalhos, assim mesmo, no plural.
A iminência de uma pandemia ajuda a refletir sobre o pandemônio: Se somos capazes de unir as nações para combater um vírus de gripe – supondo que não seja verdadeira a teoria da conspiração, segundo a qual o vírus foi criado pelos farmacêuticos – somos também capazes de extirpar os homens-virus que, como o presidente do Irã, os neonazistas, os xenófobos, os racistas discriminadores, os corruptos e seus corruptores e os terroristas em geral, querem uma pandemia de terror e um pandemônio permanente, a garantir-lhes o espaço virulento onde podem chafurdar e exercer o poder.
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