terça-feira, 29 de dezembro de 2009

CRÕNICAS POLÍTICAS

POSSÍVEL ÚLTIMA CARTA AO OSMAR
Paulo Wainberg


Osmar, como todos sabem, é meu correspondente que não responde e não corresponde. Tem mais ou menos sessenta anos, solteirão convicto – não é gay - bebedor de cerveja e, ultimamente, deu de comer apenas peito de frango, salada verde e linquiça colonial no Barranco, alegando que picanha incha.
Mas, vamos à carta.
Querido Osmar, seja lá você quem for. Reparou que o médico paulista, especialista em fertilização, está preso por ter assediado sexualmente suas pacientes ( quantas concordaram, hein?), mas ninguém fala nas centenas, ou milhares, de casais que tiveram filhos graças a ele, sem assédio ou sacanagem?
Reparou, querido Osmar, que todas as notícias sobre o cidadão, publicadas na imprensa em geral e no Jornal Nacional em particular, são escabrosas?, mulheres testemunhando contra ele, maridos vociferando contra ele e a nossa imprensa, tão assim imparcial, totalmente despreocupada em entrevistar uma única família feliz, graças ao trabalho do prisioneiro?
Enquanto isto, Osmar, o Dantas Banqueiro teve todos os processos contra ele suspensos, graças ao juridicamente correto entendimento de nossa suprema corte, segundo o qual enquanto não se processar, julgar e, possivelmente condenar, o Juiz que condenou o Dantas, nada pode ser feito? E, Osmar, até que isso seja feito, todos os crimes dos quais o Dantas Banqueiro são acusados – inocente ou culpado – prescreverão na forma da lei?
Qual a sua opinião a respeito do nosso querido governador do Distrito Federal, que já havia sido cassado no Senado (ops! Perdão pela palavrão), em conjunto com o ACM (ops! Perdão pelas iniciais), no escândalo da quebra do sigilo – Você lembra, Osmar? – Já se vão anos – e o ACM voltou ao senado, aclamado pelo seu eleitorado corrupto, o Arruda assumiu o Governo do Distrito Federal, aclamado pelo seu eleitorado corrupto, que recebeu dinheiro vivo do seu assessor, que distribuiu uma grana literalmente federal aos deputados distritais, que recebeu outra grana federal das suas empresas apoiadoras e. querido Osmar, nenhum deles está preso?
E o nosso Poeta? O ínclito Sarney? Por que o Jornal Nacional não fala mais nele? E o Renan? Ninguém mais fala no Renan?
Estão todos soltos, iluminados, ricos, plenos de influência, sem que se saiba nenhum, nenhum único ato de bondade que tenha beneficiado nosso povo – esse povo imbecil do qual fazes parte, Osmar, enquanto o médico aquele, tarado, vá lá que seja, mas com excelentes serviços prestados a milhares de casais, está na cadeia!
Você, Osmar, é um idiota, um imbecil. Perdi anos da minha vida escrevendo a você e nunca tive uma resposta, nunca tive sequer a confirmação de que você tenha recebido minhas cartas, você, estúpido, faz parte dos que, em troca de uma camiseta, de um albergue, de uma diretoria de catador de papel no Congresso, você, Osmar, é quem elege essa turba, essa canalha, em nome da Democracia!
Certa vez Rui Barbosa, num período histórico em que predominavam as oligarquias, as ditaduras, os reinos espúrios, num período em que o conceito de “democracia” era ainda apenas um conceito, com pouquíssima aplicação prática, largou uma frase de efeito, tumular, lapidar e perpétua: “A PIOR DEMOCRACIA É MELHOR DO QUE A PIOR DITADURA”.
Tinha toda razão a Águia de Haia. Tem razão até hoje!
Porém, Osmar, você que se vende por uma cesta básica, por um poço artesiano na sua vila, por dois mil réis pra comprar chuchu, ainda não entendeu que a comparação ruibarbosiana é anacrônica, que hoje não se trata de comparar Democracia e Ditadura, que hoje se trata de comparar Democracia com Democracia, e que a frase correta, nos dias atuais, para quem não se vende, para quem acredita na liberdade e no Direito, para quem não sustenta, ao custo de impostos, falanges de funcionários inúteis, assessores inexistentes, cargos em comissão falaciosos e cargos de confiança inconfiáveis é : A PIOR DEMOCRACIA É PIOR DO QUE QUALQUER DITADURA E DO QUE QUALQUER BOA DEMOCRACIA.
É por esta razão, Osmar, que esta é a última vez que escrevo para você. Seu silêncio arrogante já me irritou e sua conivência silenciosa, corruptamente eleitoral é suficiente para que a amizade que sempre lhe dediquei, se extinga.
Você só tem uma possibilidade, comigo. Não precisa nem me escrever, responder ou corresponder. Com isto estou acostumado.
Porém, o ano que vem você vai votar. Se você votar em alguém para, argh, senador, me esqueça. Temos que extinguir, extirpar, estripar essa voraz instituição que de nada serve e que nos custa, dos trinta bilhões de arrecadação anual, sei lá quantos bilhões vão para os bolsos senatoriais.
Para Presidente, fique à vontade, vote em quem quiser e achar melhor. De certa forma você, Osmar, e seus cupinchas, costumam acertar.
Agora, para deputado federal, abra o olho. Peça folha corrida criminal e cível, na Justiça Comum, Federal e do Trabalho. Na caia no papo.
Bom, é quase Ano Novo, quase tudo, pela frente. Se você se comprometer comigo – e cumprir a promessa – de não votar para senador, posso reconsiderar minha decisão e, em 2010, de vez em quando, escrever alguma coisa para você.
E nem estou preocupado. Seja você quem for, que seja dos bons.

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