terça-feira, 8 de dezembro de 2009

NÓS, PRIMATAS

OS SERES “HUMANOS

João Eichbaum

“Quais são os limites do ser humano para atingir seus objetivos na vida? Ainda é possível falarmos em ética, honestidade e humildade, sem sermos considerados tolos?”
A pergunta, evidentemente desencadeada pelos últimos acontecimentos de Brasília, com dinheiro enfiado em cuecas e meias, fazendo rimar corrupção com oração, vem do jornalista Leandro Molina, em artigo publicado no jornal Zero Hora de sábado último. Mais adiante, no mesmo artigo, pondera seu autor que “a tradição da corrupção está incutida em todas as sociedades”. E partindo da afirmação de que “não existe sociedade sem crime, sem violência, sem doença”, manifesta sua indignação contra a apatia dos cidadãos, que nada fazem para varrer esse mal.
O articulista não se dá conta de que o chamado “ser humano” não passa de um primata, fortemente influenciado pela natureza animal de que é dotado e que vive em constante conflito com as regras impostas pelo convívio social, quer em forma de leis, quer em forma de preceitos religiosos ou morais.
O que ocorre é que nem todos sobrepõem tais regras e preceitos à sua animalidade. Nenhuma estatística até hoje foi feita, a partir da qual se possa aquilatar o percentual de humanos que vivem com extrema dignidade até no seu comportamento mais recôndito, quando não tem ninguém a fiscalizá-lo.
Se cada criatura chamada “humana” fizer um exame de consciência, há de deparar, em seu íntimo, com mais manifestações de animalidade do que de racionalidade. Nem é preciso ir muito longe: as mais primárias necessidades fisiológicas, de que ninguém escapa, nos colocam no mesmo nível de qualquer animal. E a elas temos que nos submeter todos os dias da nossa vida.
Então, não há como fugir à constatação de que temos muito mais de animais do que de “humanos”. A parte “humana” em nós não passa de artificialidade: temos que nos “comportar bem” no convívio social, cada qual respeitando os direitos do outro.
Todavia, esse “bom comportamento” não é atrativo para todos e, por isso, tanto a violência como a corrupção marcam presença diuturna no convívio social. Do animal pode se esperar qualquer coisa. Nossa história, como primatas, data de milhões de anos e ela sempre foi pontilhada de violência, pilhagem, guerras, mentiras e engodos. Sempre vivemos entre o amor e o ódio. Até os atos concupiscentes que multiplicaram nossa espécie primata foram determinados ou pelo amor, ou pela sedução ou pela violência.
Nem a mitologia cristã, segundo a qual um “Deus” teria sacrificado seu “Filho” para salvar a humanidade, conseguiu realizar o milagre da dignificação do “ser humano”. Pela simples e pura razão de que continuamos animais, assim distribuídos: violentos e desonestos de um lado, e tolos de outro.

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