segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

VARIAÇÕES EM TORNO DO TEMA FIADASPUTAS

MERDA

João Eichbaum

A imprensa noticiou, escandalizada, que Lula, o Filho do Brasil, falou merda. Na manchete não aparecia merda, aparecia “palavrão”.
Merda, pra mim, não é palavrão. Palavrão é, por exemplo, “funfundzwanzigste”, que quer dizer “vigésimo quinto” em alemão. Mas merda é uma palavrinha que todo o mundo diz, e uma das primeiras coisas que as crianças aprendem a dizer é “méida”, exatamente porque criança não tem cultura, não tem vocabulário, não tem noção de dignidade e a única coisa que sabe fazer é merda mesmo, nas fraldas.
Quando li a notícia, sinceramente, não me escandalizei mas me escandalizaria, sem dúvida, se o Filho do Brasil tivesse empregado outro termo, como “dejetos”, por exemplo. Não me escandalizei, sobretudo, porque me lembrei de um antigo ditado latino, um dos primeiros que aprendi, quando estudava a inesquecível língua de Cícero: “ex abundantia cordis os loquitur”, que significa “ a boca fala daquilo que está cheio o coração”.
No caso do Filho do Brasil, ele falou daquilo de que estão cheias a barriga e a cabeça dele.
Nada mais natural, portanto, que ele falasse merda. Em primeiro lugar, porque foi só isso que ele fez e falou toda a vida. Em segundo lugar porque seu vocabulário, que é o vocabulário de quem não completou o ensino fundamental, não pode ir além disso. Em terceiro lugar porque ele estava discursando para o povinho do Maranhão, aquele mesmo que elege o Sarney e a filha dele, um povo do seu nível. O que é que pode ter na cabeça um povo que elege o Sarney e a filha dele?
Nada de novo, portanto, disse o Lula. Nada de novo no seu comportamento, que é o comportamento de que gosta o povinho ignorante. E o Filho do Brasil joga para a platéia como ninguém, faz e diz o que o povo gosta.
A palavra merda soaria menos dignificante, digamos assim, se brotasse da boca acadêmica do Fernando Henrique Cardoso, filho de general, que teve educação francesa. Mas merda senta perfeitamente na boca e na cabeça do Lula. Nunca o Filho do Brasil me pareceu tão autêntico.
Só a imprensa não viu isso.

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