Ou o mundo vai acabar, ou não vai, neste ano. A profecia maia, baseada em elevados cálculos astronômicos, ricos em logaritmos, algoritmos e ritmos, estima uma conjunção planetária, galáctica e universal que acarretará o fim do mundo, não se sabe se apenas o nosso ou os demais também.
Caso fosse eu um citador, não perderia a oportunidade para citar o filósofo alemão Fritz-Frantz Flüssembader, racionalista do Segundo Período – a quem acabei de inventar – que em seu livro mais famoso, Das Nacht um Der Tag, ensinou que “Wen Mir Schlaffen, Ich Macht Gurnicht”, isto é, numa tradução livre, “quando nós dormimos eu nada faço”, pondo fim à polêmica sobre o significado do descanso.
Mas não sou um citador, portanto, não cito.
É minha missão, sagrada e inadiável, instruir você, paciente leitor, estimada leitora, sobre como proceder em caso de (a) o mundo acabar, (b) o mundo não acabar e (c) as duas coisas acontecerem.
Em caso de (a), meu primeiro conselho é para que você não esteja lá, na hora do evento. Porque as duas primeiras consequências do fim do mundo serão que as suas ações despencarão e você não será mais obrigado tomar chá, em caso de gripe.
Se o fim do mundo for sequencial e não simultâneo, você ainda terá um tempinho para curtir o mercado, ou daqui ou da Ásia, dependendo de por onde começar o desastre.
Imagine como seria a vida humana, na ausência do mundo. Difícil, muito difícil, onde você iria acampar, por exemplo? Ou passar as férias? Por isto recomendo, enfaticamente, que diante da iminência do fenômeno, você comece a fazer, hoje, agora, imediatamente, tudo o que sempre teve vontade de fazer. Depois vai ser complicado.
Se você seguir esta recomendação, torça para que o mundo acabe mesmo, pois fazendo tudo o que sempre teve vontade e o mundo não acabar, o que você vai dizer em casa? Como vai encarar seu chefe?
Minha derradeira instrução é dirigida aos mais afoitos, aqueles que, diante do inevitável, resolvem acabar com o mundo individual antes de acabar o mundo coletivo. Não façam isto! Dêem uma chance para o azar porque, no mínimo, o fim do mundo vai ser mais bonito do que qualquer espetáculo de fogos que você já assistiu. Caso você se antecipe, não vai estar lá para ver.
Em caso de (b), estamos todos com o mesmo problema: continuar levando a vida do jeito que está e do jeito que der.
Recomendo que a população, caso o mundo não acabe, continue fazendo greve, protestando, se explodindo e se matando, já que o mundo continua, precisamos que os noticiários de televisão também continuem.
O aspecto positivo de o mundo não acabar, é que poderemos continuar assistindo as várias versões, dependendo dos interesses da emissora, sobre as notícias de corrupção, umas a favor, outras contra, mas nenhuma indiferente.
Outra coisa boa é que enquanto nosso PIB cresce, nosso Pub lota e o dinheiro circula mais, principalmente com as multas aplicadas aos motoristas embriagados.
Tem o sexo, também. Já pensou não existir mais o mundo? Como é que você vai fazer sexo, aonde, a que horas, não existirão motéis, bancos traseiros, sofás da sala, paredes para apoiar e muito menos camisinha para garantir. Prevalecendo a hipótese (b), esses problemas não nos afligirão e você só precisa conseguir a parceria. Ou nem isto.
Por último, caso ocorra a hipótese (c), aí, meu amigo, lamentavelmente você vai ter que escolher. Não me peça ajuda para a sua opção, decida sozinho que mais lhe convir e faça bom uso.
Nada recomendo porque não quero ser acusado, depois, de induzir a testemunhaem erro. Sóo que me falta é você vir se queixar que eu não avisei que o Fim do Mundo podia doer, ou que o mundo não acabando você ia ter que continuar pagando o carnê.
Eu fora.
E, com a coerência de sempre, reafirmo que não sou um citador, porque se fosse estaria invocando, justamente agora, as sábias palavras do grande físico italiano Pimpinelli Scarlatina que declarou, na hora de bater o escanteio:
“Lacha com me que io suono sinistro.”
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