quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

PIMENTA NOS OLHOS DELES MESMOS


João Eichbaum

Vocês estão lembrados do rebu que deu na Justiça Gaúcha, né? Mas, não custa recordar.
Assim, ó. O pleno do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul elegeu seu presidente, vice-presidentes e corregedor, para o próximo biênio, ou seja, de 2012 e 2013, segundo prevê o Regimento Interno, que estabelece o dia 1º de Fevereiro para a posse dos eleitos.
E eles tomaram posse, com direito a abraços, beijos, sorrisos e até a presença de políticos com sua respectiva cara de pau. Durante mais de duas horas a direção eleita recebeu cumprimentos, havia uma fila enorme de gente para puxar saco e ser lembrada.
Mas aí o Fux, um ministro do Supremo que costuma rasgar a Constituição, resolveu botar água no chope: deferiu uma liminar, a pedido do desembargador Arno Werlang, que estava louco por uma boquinha na direção- mas não levou - suspendendo a posse da nova direção do Tribunal. A reclamação do Werlang, um baixinho com cara de arcebispo, era de que ele era mais antigo do que o Corrregedor eleito.
Estragada a festa dos eleitos, eles foram a Brasília falar com o Fux. Tiveram quinze minutos com a dita celebridade. E o Fux disse pra eles que não era nada disso, que ele já tinham tomado posse e podiam ficar no cargo.
A turma voltou pra Porto Alegre, faceira que nem cabrito no traseira de ovelha.
No dia seguinte, o Fux despachou, dizendo que não era nada disso que eles estavam pensando, e sim que tinham que entregar os cargos para a diretoria anterior.
E é claro que a diretoria anterior estava presente e atenta, menos o desembargador Léo Lima, que é muito macho, de Lagoa Vermelha, e não ta nem aí pro Fux. Eu, fora, disse ele.
Então o vice da gestão anterior assumiu, não só para “obedecer a uma ordem judicial”, como pra ficar na história, que essa boquinha não ia perder.
Mais  uma vez o presidente eleito se tocou pra Brasília, achando que o Fux ia cumprir o Regimento Interno do Supremo e colocar em pauta o julgamento do  recurso que havia sido interposto.
Só eles para acreditarem no Fux, mesmo depois de terem sido enganados por ele. E o presidente eleito até falou com alguns ministros do Supremo, pedindo a reconsideração do rebu.
Só que não deu em nada. O Fux não botou em pauta o processo e ficou tudo na mesma merda.
Pois é, gente, agora os desembargadores estão sentindo na pele o quanto dói ter que esperar por essa falsidade chamada justiça. E tal tem sido o seu desespero que vão além das fronteiras da ética: vão pessoalmente pedir o julgamento a favor deles.
Agora, imaginem se cada pessoa injustiçada fosse fazer isso. Seria mandadas à putaquepariu, por estarem ofendendo a “independência” do Poder Judiciário, submetendo-o a pressões.
Nada como um dia depois do outro. E se os desembargadores gaúchos tiverem a humildade de assimilar os ensinamentos dessa justiça negativa, para riscá-los de seus procedimentos, a justiça vai melhorar muito. E só então poderemos talvez dizer que a justiça gaúcha é a melhor.
Mas, duvido.



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