Paulo Wainberg
As mulheres são o
Pomo de Ouro, o prêmio máximo que Paris, príncipe deTróia, concedeu à Afrodite
no concurso que escolheu a deusa mais linda do Olimpo.
As mulheres são como Hera, esposa de Zeus, que
para se vingar de Paris, fez com que Helena, esposa do rei grego Menelau,
tivesse, aos olhos do jovem príncipe, a fisionomia de Afrodite, por quem
imediatamente se apaixonou, raptou e deu origem à Guerra de Tróia.
As mulheres são como Cassandra, irmã de Paris,
que previa a destruição de Tróia e foi trancafiada nos porões da cidade, como
louca. As mulheres são o sonho encantado, como a virginal Alice lutando contra
a Rainha de Corações, no País das Maravilhas.
As mulheres são o brilho magnífico da
inteligência, como Madame Bovary, trezentos anos adiante do seu tempo.
As mulheres são como o diamante, brilhante e
frio, mas que esquentam ao contato com o corpo.
As mulheres são a alma e a força da Natureza,
interligando todas as forças e dominando uma a uma.
A mulher é aquela que um homem ama para sempre
e, se tiver sorte, estará para sempre ao lado dela.
Euforia é tudo de
bom. Não importa que cometamos nossos maiores equívocos quando estamos
eufóricos.
Sentir-se poderoso, capaz, ter certezas e
nenhuma dúvida é o sintoma preferido da euforia, quando ela resolve assumir
nosso controle. Qual um ser vivo, com vontade própria, a euforia afasta todos
os problemas, elimina quaisquer riscos, torna tudo possível, gostoso, alegre e
feliz.
O único lado negativo da euforia, que eu
conheça, é que quando ela resolve nos abandonar, chama para ocupar o seu lugar,
uma terrível depressão. Se o mundo
fosse eufórico, não seria prático, não seria trágico, não seria teórico,
retórico nem bélico. Seria idiótico.
Vida sem fim será,
provavelmente o título de um livro que está lançando fagulhas em minha mente.
Ainda não sei o que significa vida sem fim, mas sei que nada tem a ver com
eternidade.
O que me sugere, a frase, é mais próximo de
excesso, demasia, algo que deveria terminar e não termina. Uma dor de dente?
Ataque de apendicite? Vida sem fim é um espasmo incontrolável, uma convulsão,
ou uma dádiva cruel.
Por que me acordo às cinco horas da madrugada,
sem sono e com receio do dia que vem aí? Que excedente de culpa não me deixa
despertar em paz? Quem quer paz? Imagino uma vida tranquila, nenhuma
preocupação ou compromisso, nada que eu não queira fazer e, só de imaginar,
sinto um cansaço, uma inútil urgência, a verdadeira chatice.
Eu queria não ter de mudar nada, mas não gosto
do jeito que está. Nem quero gostar. Vida sem fim é, talvez, colocar tudo isto
diante do espelho e pensar que só vem coisa boa, que o prazer está me esperando
logo ali, que é tão bom ser feliz com as pequenas coisas, que nada é mais
grandioso do que o detalhe.
Ser capaz de esquecer de tudo e, durante
horas, admirar o vôo de um pardal ou o estranho desenho feito pelo desgaste da
pintura numa parede do edifício. E depois sair andando, satisfeito da vida, com
a sensação de missão cumprida.
Van Gogh, alguma vez ficou feliz por ter
acertado o amarelo perfeito de suas margaridas? E foi dormir em paz para, em
paz, acordar no outro dia? Castro Alves tossia, tranquilo, após concluir
o Navio Negreiro? Lorival Souza estava feliz, tomando cerveja com seus amigos,
depois de um dia de trabalho na construção?
Vida sem fim, com certeza. Tal qual Plinius,
oleiro na Roma Antiga. Nero, incendiando a cidade. Napoleão reconquistando o
trono. Zé Antônio, cobrador da linha T.
Sim, Vida sem Fim será o título de um romance
que vou escrever um dia, quando acordar na madrugada, sem sono e sem medo,
olhando o dia passar como uma banda formada apenas por contrabaixos e
violoncelos, cruzando as ruas da cidade e entoando, em ritmo de marcha, um
réquiem de Mozart ou de Verdi para alegrar os corações empedernidos.
Nosso erotismo é
diferente dos demais animais, onde a coisa não tem erro. Nós, humanos temos
especial afeto pelo erotismo, prezamos tanto nossos impulsos amorosos e sexuais
que inventamos remédios para aumentá-los e conservá-los.
É o erotismo que move a humanidade, desde a
literatura até a moda e, a ele, erotismo, servem as artes e o conceito de
Estética.
O Homem não erótico é, no mínimo, neurótico,
quase psicótico, nem um pouco platônico. A política, praticada sem o charme
erótico, é vulgar e corrupta. O erotismo é a essência do balê, da ginástica, do
teatro e das artes marciais.
Os gregos da antiguidade, erotizados ao
extremo, transformaram o erotismo em poesia e criaram Eros, origem da palavra e
do amor.
Há uma forte
conotação homossexual no ciúmes injustificado. Quando um homem ou uma mulher
destrói-se imaginando o parceiro com outro, está se colocando no lugar desse
parceiro, como se ele, ou ela, estivesse participando do ato imaginado. Este
tipo de ciumes provoca os mais terríveis assassinatos, especialmente praticados
pelos homens, inconformados com a própria imaginação e os próprios desejos
ocultos. Quando o parceiro dá motivos para o ciumes, a relação pode ser salva
pelo esclarecimento, pela aceitação e, até mesmo, pela co-participação.
Somos corajosos
quando admitimos nossos medos e temos bravura quando resolvemos enfrentá-los.
Revelamos nossa força de caráter pela tenacidade e pela forma como lidamos e
dominamos os medos. Aquele que não tem medo de nada é o verdadeiro covarde.
O único direito que a
Natureza concede é o direito à morte.
O nascimento e a sobrevivência são conquistas
dos seres vivos, na luta constante para permanecer. Planetas e galáxias morrem
como tudo o mais que é Natureza. Absolutamente nada sobrevive. As regras e leis
são construções humanas, porque entre os animais prevalesce a lei do mais
forte, sem qualquer censura ou punição.
O que me leva a
pensar que, se a morte é inexorável, ela também não é um direito e sim um dever
natural de tudo o que existe. A existência é um fato e morrer é sua finalidade
.
Meu coração
apaixonado não cansa de tanto cantar a beleza e o amor.
Sou como o pássaro da
manhã, celebrando a vida que vem, a vida que nasce,o dia que chega até não mais
chegar.
Minha ilusão de
paixão não cansa de me apaixonar, iluminar e coloriros dias mais tristes, as
tardes cinzentas, as noites escuras, boas de dormir.
Sou como as águas do
mar, docemente salgadas, refrescantes e lindas, celebrando a visão incontida da
imensidão, do infinito e da eternidade.
Meu coração acelerado
na cansa de tanta paixão apaixonada, um amor revelado, um amor avançado, na
trilha feliz da felicidade, sou como a lua em sua sinceridade, sou como a rua
iluminada, sou como a alegria consignada, por um pouco de paz, por quem diz e
quem não diz, sou feliz.
Queria ter um
manancial de putas fiéis, que o seguissem e lhe satisfizessem os desejos, sem
pejos. E quando quisesse estar sozinho, saíssem quietas, sem perguntas
indiscretas, sem queixas, bem treinadas gueixas.
Queria ser o rei do
bordel, onde putas a granel lhe servissem as fantasias, todos os dias, e que a
toda semana, lhe trouxessem putas novas, uma paraguaia, outra peruana.
Queria ser o cafetão
do puteiro, recolhendo dinheiro, com cara de mau, nariz de cangaceiro, corrente
no pescoço, relógio altaneiro, paletó branco batendo nas putas com tamanco.
Queria uma mulher
para amar, beijar e honrar, que lhe desse um filho e duas filhas, que lhe
esquentasse a noite com abraços e açoite e, nas noites de verão, jogasse cartas
na mesa, com a comadre e o compadre, ao som de um violão suave, entoado sem
alarde.
Mas não podia. Era
padre.