quinta-feira, 1 de março de 2012

DO SER HUMANO (I)


Paulo Wainberg

Tortura
Não há tortura mais eficaz do que a punição permanente, por erros cometidos não importa quando. Esse tipo de castigo se faz, em geral, através de palavras, alusões ‘en passant’, acusações explícitas, tom de voz áspero e ironias cotidianas. O torturado demora a perceber o estupro psicológico. O torturador desconhece o perdão.  

Gigantes da alma

O amor é como a cera do assoalho. Tem que acariciar, espanar, aflanelar, limpar, nunca pisotear e, de vez em quando, renovar.
A paixão é como a fogueira, se um dos amantes esquecer da lenha, apaga.
O medo é como a comida, indispensável à vida.
Ciumes e vermes se alimentam do podre.
O ódio é como o abismo: fundo, úmido, frio e mortal.
A culpa é como a inteligência, como a capacidade de raciocinar, como a capacidade de lembrar.
A fé é como a ilusão, diante da realidade fenece e some.

Amargura

Amargura não é produto só da insatisfação. Ela nasce também do rancor, da incompreensão, da incapacidade de relevar e de gostar de si mesmo

Perdão

Perdoar a si mesmo é o primeiro passo para a compreensão. É, talvez, a tarefa mais dificil que existe, quando temos que nos desfazer da arrogância, da prepotência e, principalmente, da vaidade. Se conseguimos imergir no próprio âmago, com simplicidade e sem censura, vamos nos entender humanos, bons e maus, cruéis e piedosos e, finalmente, nos aceitamos. Só então conseguimos aceitar o outro como ele é. E então, compreendemos.

Amor

O amor é o mais animal de todos os sentimentos. Qualquer ser vivo sente, a seu modo, amor. Nós, humanos, transformamos esse sentimento assim natural, em algo complicado, profundo e confuso, que tanto pode nos enlevar quanto nos remeter à mais traiçoeira agonia. O amor humano, quase sempre, dói.

Paixão

Paixão é quando o corpo pega fogo e a alma enlouquece. Nossas percepção, instinto, desejo, interesse, ciume, emoção e medo extrapolam e só pensamos no objeto da paixão. Na paixão, nunca é suficiente, é pouco quando estamos juntos, é interminável quando estamos separados. A paixão é o estágio pré-insanidade e o período mais criativo do ser humano. E, apaixonado, é a melhor fase da vida. Quando acaba, voltamos à mesmice.

Medo

Medo da vida é o mais relevante, porque nada é mais perigoso do que viver. Os humanos não temem a morte, temem a vida que é repleta de perigos, do início ao fim. Por medo da vida, fazemos a guerra, matamos, dirigimos em alta velocidade, escalamos montanhas, ingerimos álcool, drogas e tranquilizantes. A vida é uma sequencia de dores e nós, humanos, temos muito medo da dor, assim como temos medo do outro, medo do desastre, medo da tragédia, medo de viver. A morte é, afinal, a grande calma, a derradeira paz de espírito.

Liberdade

A liberdade é uma ilusão que não pode ser confundida com as escolhas do dia a dia. Nascemos programados pelo código genético, somos educados à imagem e semelhança de nossos pais, códigos são implantados em nossas áreas de condicionamento, desde a mais primitiva infância. A vida é, assim, uma eterna consequência, sem nenhuma causa. Só poderíamos ser realmente livres se conseguíssemos atingir o estágio da irresponsabilidade absoluta e, neste caso, a vida perderia qualquer sentido.

Sexo

Sexo é o prazer sublime do ser humano. Quando dois corpos se encontram, um novo universo nasce, para toda a eternidade. Toda forma de sexo é normal, quando dá prazer e, se existe um Deus, o sexo é sua dádiva máxima. Sexo sem prazer é brutalidade, invasão e indecência e a abstinência consiste numa grave ofensa à Natureza. Desfrutá-lo é nossa obrigação, sem censura, sem culpa e sem limites, porque o limite do sexo é o prazer que ele proporciona.





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