sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

A VARA DO MORO
João Eichbaum
Quem não conhece as origens do “imortal” José Sarney, ignora que o autor dos “Marimbondos de Fogo” nunca foi “Sarney” na vida dele. Esse nome foi sacramentado em autos da Justiça do Maranhão, onde seu pai, o patriarca do clã Sarney, era desembargador.
Sarney de Araújo Costa era o nome do desembargador, o pai do “imortal”: No Maranhão, de certo, desembargador é coisa que cheira a extrato de gente fina, ilustrada, de muita importância. Então, o menino José era conhecido como “Zé do Sarney”, alusão ao poderoso progenitor. Isso o levou a ganhar na pia batismal da Justiça maranhense o nome de José Sarney.
Quando se trata de Justiça, o pomposo nome Sarney sempre tem peso de elefante num dos pratos da balança. Ele, os filhos dele, a família toda, que manda no Maranhão e arredores, que o digam. Agora se vê que os tentáculos do polvo Sarney alcançam também os píncaros do Judiciário.
Para quem não se lembra: José Sarney foi citado por Sérgio Machado como um dos beneficiários do dinheiro sujo que rola nos porões da república. Enredado nas malhas da investigação, o “imortal” pediu ao Supremo que livrasse sua augusta pessoa da vala comum da Lava Jato, onde os processos fazem o povo rir de alto a baixo, só de pensar no figurão acocorado sobre o buraco do boi.
José Sarney pediu para ser levado ao andar de cima da torre de marfim, o STF, onde a luxuosa carruagem da Justiça, ornada com adereços de ouro, anda com a lentidão própria dos grandes féretros. Esses, ao ritmo do dobre de finados, conduzem os processos mortos por conta de tardios julgamentos para o cemitério da prescrição.
O acadêmico maranhense não quis ficar para trás de seus correligionários Romero Jucá, embarcado nessa carruagem há doze anos, e Renan Calheiros, que há pouco foi aliviado de várias denúncias. Isso, sem falar no Collor e muitos outros que tiraram os fundilhos do banco dos réus, intactos, sem as avarias do processo.
O pedido acaba de ser atendido pela segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, por quatro votos contra um. Celso de Mello, antigo colaborador de Sarney como assessor jurídico de sua Casa Civil, Lewandowski e Dias Tofolli, amigos de Lula, para quem “Sarney tem história no Brasil para não ser tratado como pessoa comum”, e o ubíquo Gilmar Mendes desbastaram as boas razões de Luiz Fachin, que negava foro privilegiado para o “imortal”.
Como se vê, a maioria deu sentido às arengas do Romero Jucá, que prega a organização da suruba: “é dando que se recebe”. Assim, tiraram o do José Sarney da reta e o livraram da vara do Sérgio Moro, de quem todo mundo quer fugir, porque corre a lenda de que o homem tem leme rijo.


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