A VARA DO MORO
João Eichbaum
Quem não conhece as origens do “imortal” José Sarney, ignora que o
autor dos “Marimbondos de Fogo” nunca foi “Sarney” na vida dele. Esse nome foi
sacramentado em autos da Justiça do Maranhão, onde seu pai, o patriarca do clã
Sarney, era desembargador.
Sarney de Araújo Costa era o nome do desembargador, o pai do “imortal”:
No Maranhão, de certo, desembargador é coisa que cheira a extrato de gente
fina, ilustrada, de muita importância. Então, o menino José era conhecido como
“Zé do Sarney”, alusão ao poderoso progenitor. Isso o levou a ganhar na pia
batismal da Justiça maranhense o nome de José Sarney.
Quando se trata de Justiça, o pomposo nome Sarney sempre tem peso de
elefante num dos pratos da balança. Ele, os filhos dele, a família toda, que
manda no Maranhão e arredores, que o digam. Agora se vê que os tentáculos do
polvo Sarney alcançam também os píncaros do Judiciário.
Para quem não se lembra: José Sarney foi citado por Sérgio Machado como
um dos beneficiários do dinheiro sujo que rola nos porões da república.
Enredado nas malhas da investigação, o “imortal” pediu ao Supremo que livrasse
sua augusta pessoa da vala comum da Lava Jato, onde os processos fazem o povo
rir de alto a baixo, só de pensar no figurão acocorado sobre o buraco do boi.
José Sarney pediu para ser levado ao andar de cima da torre de marfim,
o STF, onde a luxuosa carruagem da Justiça, ornada com adereços de ouro, anda
com a lentidão própria dos grandes féretros. Esses, ao ritmo do dobre de
finados, conduzem os processos mortos por conta de tardios julgamentos para o
cemitério da prescrição.
O acadêmico maranhense não quis ficar para trás de seus
correligionários Romero Jucá, embarcado nessa carruagem há doze anos, e Renan
Calheiros, que há pouco foi aliviado de várias denúncias. Isso, sem falar no
Collor e muitos outros que tiraram os fundilhos do banco dos réus, intactos, sem
as avarias do processo.
O pedido acaba de ser atendido pela segunda Turma do Supremo Tribunal
Federal, por quatro votos contra um. Celso de Mello, antigo colaborador de Sarney
como assessor jurídico de sua Casa Civil, Lewandowski e Dias Tofolli, amigos de
Lula, para quem “Sarney tem história no Brasil para não ser tratado como pessoa
comum”, e o ubíquo Gilmar Mendes desbastaram as boas razões de Luiz Fachin, que
negava foro privilegiado para o “imortal”.
Como se vê, a maioria deu sentido às arengas do Romero Jucá, que prega
a organização da suruba: “é dando que se recebe”. Assim, tiraram o do José
Sarney da reta e o livraram da vara do Sérgio Moro, de quem todo mundo quer
fugir, porque corre a lenda de que o homem tem leme rijo.
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