sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

DOS ANTIGOS CARNAVAIS AO BURACO DO BOI

João Eichbaum

Agora não tem mais farra, confete, serpentina, glitter, bumbos e bundas, tamborins e reco-recos. Nem ceva geladinha, champanhe e paqueras no camarote da Brahma. Com a vida estragada pela propina, Eike Batista deve ter saudade de muitos carnavais. Sua ex-mulher, Luma de Oliveira, foi a mais inesquecível das rainhas de bateria. Com aquele corpo torneado, farto em ancas, coxas, arredondados traseiros e um frontispício de fazer frade babar na barba, ela irradiava uma beleza delirante.

Muita beleza tinha ela, e ele, muito dinheiro. Esses dois ímãs, cuja atração é inevitável, por mais distantes que estejam um do outro, servem sempre para unir o fútil ao agradável. Todo homem gosta de mulheres lindas e toda mulher linda, que sabe preservar sua beleza, não a entrega para qualquer pobretão. Há, exceções, é claro, confirmando essa regra milenar, que inclui Cinderelas e Brancas de Neve por esse mundo afora.

Imagine-se o que passa pela cabeça desse homem, de cuja biografia fez parte a exuberante Luma de Oliveira, agora confinado entre quatro paredes, com machos que sofrem os efeitos da abstinência sexual e que ali estão com ele porque não são santos. Provavelmente ele já tinha ouvido falar da lenda segundo a qual todo o novato na cadeia é sorteado entre os mais antigos para servir de mulher.

Sabe lá o que é deitar de costas para a parede, e assim ficar a noite inteira, teso, sem poder se virar? Aí vem o sono insone do medo, deixando o vivente de olho aceso e o ouvido atento a qualquer ruído, a qualquer movimento dentro e fora da cela. Tenso, alerta, de olhos abertos e de ouvidos em pé, e o filme da vida em outros carnavais rodando em sua cabeça.

Mas isso não é tudo. Tem aquele momento crítico, quando os intestinos dão o sinal de que precisam trabalhar. Lá está o boi, aquele buraco revestido de louça, que serve de latrina, sobre o qual o sujeito tem de se acocorar para dar vazão às necessidades que pedem saída pelo reto. Ali ele fica exposto para o que der e vier, sem a mínima condição de defesa.

Que rainha da bateria, que nada! É ali que o homem, nu, se depara com o terror de existir, porque encontra aquela verdade que muitos filósofos recusam e para a qual fecham os olhos os que veem o ser humano como concepção divina, revestida de dignidade. A verdade do boi salienta o que o homem verdadeiramente é: um animal despojado de toda a grandeza, de todo o poder, feito escravo das necessidades animalescas comuns, que nada têm de poesia, e botam o papa e o morador de rua no mesmo nível.

Acocorado daquele jeito, nem todo o dinheiro do mundo lhe servirá para comprar uma postura que o coloque acima dos demais seres humanos. A menos que os idólatras dos “direitos humanos” encontrem, em suas cavilações, algum outro modo de se livrar dos excrementos, com dignidade.



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