E DAÍ, JOÃO DE DEUS?
João Eichbaum
Dona Marisa Letícia morreu.
Contra as regras da natureza, não há dinheiro, nem fé, ou qualquer outra forma
de superstição que salve da morte. A mulher do Lula foi levada para o hospital
mais famoso do Brasil onde, exatamente por causa da fama, e só por causa da
fama, acabam morrendo as pessoas mais ricas deste país.
Não bastando a cara imagem
que vende o Sírio Libanês, o Lula ainda mandou importar do interior de Goiás um
bruxo conhecido como João de Deus, a quem milhares de pessoas desabastecidas de
instrução e de conhecimentos mínimos de ciência atribuem o poder de produzir
milagres. João foi de Abadiânia, no interior de Goiás, para São Paulo,
exclusivamente com a finalidade de “orar” pelo restabelecimento de dona Maria
Letícia.
Os
supersticiosos afirmam que ninguém morre. Do cadáver, dizem, evola uma energia
que o transforma em espírito. Mas, apesar de nunca ter tido prova da existência
dessa energia, a maioria das pessoas vai levando a vida com seus solavancos,
dores, desenganos, sofrimentos, perdas, paixões e desamores, esperando, com
orações, pelo fim que não será o fim. E, para tornar mais forte essa esperança,
procuram meios físicos aos quais creditam o poder de ligá-las ao mundo criado
por suas fantasias.
Uma desses
instrumentos de comunicação com o além, são o papa, Maomé e outros pretensos
representantes de alguma divindade, como “médiuns” e “pais de santo” a quem se
atribuem poderes de encarnar almas do outro mundo. Essas, por sua vez, são
dotadas de qualidades que as do lado de cá não têm: curam doenças, servem de
mensageiras de recados de outros falecidos, transformados em espírito pela
morte.
Ora, ora.
Esse João de Deus teve câncer, mas não curou a si próprio, nem procurou outros
colegas do além: submeteu-se à cirurgia e à quimioterapia, como qualquer um
(será que ele paga IRPF?) que tenha CPF. Claro, não foi tratado como vivente
comum. Com a grana que tem, ele foi incluído entre aqueles do andar de cima: no
famoso hospital Sírio Libanês de São Paulo. Ou seja, usou o dinheiro dos
crentes e dos supersticiosos, para se curar pela ciência.
João de Deus
não curou a si mesmo, como não curou dona Marisa e jamais vai curar alguém.
Mas, nem por isso, a ignorância impedirá que multidões continuem formando filas
na frente da casa dele. Os supersticiosos sempre acreditarão em bruxos, porque
o medo da morte coloca a superstição e a ignorância acima da razão.
Mas o
Instituto Lula, a partir do momento em que o Luiz Inácio transformou o velório da mulher dele em palanque político, certamente trocará o João de Deus
pela CNBB, onde tem vários bispos companheiros. Com eles vai tratar da canonização
de dona Marisa.
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