O
GATO ANGORÁ
João
Eichbaum
O gato angorá turco é uma
espécie muito valiosa de felino. Elegante, bonito, derramando um olhar de quem
não tá nem aí para entes inferiores, ele é municiado de jeitos e trejeitos que
o tornam saliente em exposições de raças. Vendido em leilões, pode render
cifras que só banqueiros conhecem.
O apelido de Gato Angorá,
atribuído ao senhor Moreira Franco, não é obra da Odebrecht. Os direitos
autorais são de Leonel Brizola. Casado com uma neta de Getúlio Vargas, a pessoa
do referido Moreira Franco está em todas as rodinhas que dominam a política
neste país. A cabeleira densa e cor de neve, onde o rosto quase se esconde, faz
lembrar exatamente o branco peludo de um gato angorá.
Mas, além disso, tal qual gato angorá, que tem
apreço em acomodar fundilhos e demais partes subalternas em regaços avantajados
de madame, Moreira Franco anda de colo
em colo, mas sempre no colo do partido que está no poder. No poder, ele se
ajeita muito à vontade, porque montado no poder ele pode mostrar para o mundo
aquele olhar de quem não ta nem aí, que o gato angorá tem.
Parece que a raça felina é
uma das preferidas do Michel Temer. Além de ser casado com uma fêmea de belos
traços e corpo bem desenhado, tipo desses a que o vulgo costuma chamar pelo
mimoso despaupério de gata, por causa das curvas que as partes cima fazem, para
emendar com as partes debaixo, o presidente anda muito chegado ao dito angorá.
Estavam os dois, o Gato Angorá
e o Temer, no velório do Teori Zawaki, finado no mar maravilhoso de Angra dos
Reis. Depois do enterro viajaram para Brasília e, de longe, a imprensa tirou
retrato de corpo presente deles, no pátio do palácio Jaburu, em companhia do
ubíquo Gilmar Mendes. Não podia ser reunião de trabalho, porque o Executivo não
trabalha junto com Judiciário, nem vice-versa. Encontro de amigos, para jogar
conversa fora, tomando cachaça com mel, num domingo de tarde?
Nada se sabe. Quer dizer, nada que represente certeza. Mas, que dá para tirar lascas proveitosas desse
encontro, dá. O assunto do momento era o sucessor de Teori Zawaski no Supremo.
Bem que podia ser isso que tratavam. Mas, de repente, quem apareceu nas
manchetes mesmo foi a Carmen Lúcia, anunciando a aproximação do juízo final,
com a homologação das delações da Odebrecht.
Aí as coisas andaram
rapidamente. O Gato Angorá entrou para a folha de pagamento dos ministérios, de
modo a não ser vistoriado pelo juiz Sérgio Moro. O ministro da Justiça foi
encaminhado para vestir toga do Supremo e o Maia botou em regime de urgência a
votação da lei que mantém enroscadas em artigos e parágrafos as ilegalidades
praticadas por partidos políticos, misturando verbas com propinas, para
amamentar candidaturas.
No ministério do Temer, o
Gato Angorá poderá manter seu pelo íntegro, a salvo das garras e demais
enquadramentos do Sérgio Moro. E por via das dúvidas, o Alexandre Moraes, como revisor
no plenário do STF, quando lá chegarem os autos e apensos da Lava Jato, poderá
fornecer oxigênio, para que a turma do governo respire aliviada. Nada que uma
reunião depois de um velório não resolva.
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