terça-feira, 24 de outubro de 2017

A VOLTA DE BARRABÁS
João Eichbaum

Já naquele tempo o povão era essa massa amorfa e volúvel. Contam os evangelhos que J. Cristo entrara triunfalmente em Jerusalém, sob aplausos e ramos de flores, montado num burrinho. A turba festejava seus milagres e o anúncio de um novo reino. Cinco dias depois, o mesmo povão, no júri presidido por Pilatos, mandava para a cruz o Messias, em troca da liberdade para o ladrão Barrabás.

Hoje, dispondo de um instrumento que se convencionou chamar de redes sociais, a plebe assumiu o poder da palavra. Alimentado pelas opiniões que circulam nas redes, o povo adere às correntes que afinam com seus desejos, necessidades, maldades e frustrações.

É evidente que, em convicções apimentadas por tais sentimentos, não há lugar para a ponderação, o raciocínio, o argumento, a lógica. O que prepondera é o arrastão verbal.

Tudo bem. Coisas do povo, essa massa amorfa e volúvel. Mas, o pior é quando o turbilhão das paixões contamina pessoas, cujo suposto preparo intelectual as impediria de ultrapassar as fronteiras da dialética.

Nas últimas semanas, quando o cenário do país enrosca política e ordenamento jurídico, misturando ambos numa barafunda que paixão nenhuma conseguiria separar, causa estupefação a atitude de doutores e bacharéis em Direito que se deixaram levar pelo citado arrastão verbal.

Aécio Neves e Michel Temer, desde que foram flagrados em diálogos de baixa linguagem com o parlapatão Joesley Batista, passaram a ser considerados no mesmo nível do ex- açougueiro ensebado por corrupção. O ditado “dize-me com quem andas, dir-te-ei que manhas hás” lhes foi impingido ao pé da letra: o povo, com todo o direito, já os demitiu da política.

Um mínimo de conhecimentos jurídicos permite a divisão entre política e Direito. Mas, parece que esses conhecimentos foram varridos dos intelectos. Aécio não foi sequer denunciado. A denúncia contra Temer, para desencadear processo, terá que ser recebida pelo STF. Mas, a turba quer ver o primeiro fora das baladas e o último, privado de encontros furtivos nos porões e de noites nupciais nas alcovas da República.

Para o povo ressentido e bruto, o mundo só será justo sem eles. O grito por cadeia consegue o abraço nacional de gatos e lebres. Apenas a voz corajosa de poucos se levanta, para mostrar que temos ordenamento jurídico e processo legal.
Muitos juristas emudeceram. Outros se juntam à virose do “pega pra capar”. E nesse dramalhão de circo mambembe, escrito pelas redes sociais e pela mídia tendenciosa, parece que já está escolhido o ator para o papel de Barrabás: Luiz Inácio, o maior artista da política brasileira.



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