A VOLTA DE BARRABÁS
João Eichbaum
Já naquele tempo o povão
era essa massa amorfa e volúvel. Contam os evangelhos que J. Cristo entrara
triunfalmente em Jerusalém, sob aplausos e ramos de flores, montado num
burrinho. A turba festejava seus milagres e o anúncio de um novo reino. Cinco
dias depois, o mesmo povão, no júri presidido por Pilatos, mandava para a cruz
o Messias, em troca da liberdade para o ladrão Barrabás.
Hoje, dispondo de um
instrumento que se convencionou chamar de redes sociais, a plebe assumiu o
poder da palavra. Alimentado pelas opiniões que circulam nas redes, o povo
adere às correntes que afinam com seus desejos, necessidades, maldades e
frustrações.
É evidente que, em
convicções apimentadas por tais sentimentos, não há lugar para a ponderação, o
raciocínio, o argumento, a lógica. O que prepondera é o arrastão verbal.
Tudo bem. Coisas do povo,
essa massa amorfa e volúvel. Mas, o pior é quando o turbilhão das paixões
contamina pessoas, cujo suposto preparo intelectual as impediria de ultrapassar
as fronteiras da dialética.
Nas últimas semanas,
quando o cenário do país enrosca política e ordenamento jurídico, misturando
ambos numa barafunda que paixão nenhuma conseguiria separar, causa estupefação a
atitude de doutores e bacharéis em Direito que se deixaram levar pelo citado
arrastão verbal.
Aécio Neves e Michel
Temer, desde que foram flagrados em diálogos de baixa linguagem com o
parlapatão Joesley Batista, passaram a ser considerados no mesmo nível do ex-
açougueiro ensebado por corrupção. O ditado “dize-me com quem andas, dir-te-ei
que manhas hás” lhes foi impingido ao pé da letra: o povo, com todo o direito,
já os demitiu da política.
Um mínimo de
conhecimentos jurídicos permite a divisão entre política e Direito. Mas, parece
que esses conhecimentos foram varridos dos intelectos. Aécio não foi sequer
denunciado. A denúncia contra Temer, para desencadear processo, terá que ser
recebida pelo STF. Mas, a turba quer ver o primeiro fora das baladas e o
último, privado de encontros furtivos nos porões e de noites nupciais nas
alcovas da República.
Para o povo ressentido e
bruto, o mundo só será justo sem eles. O grito por cadeia consegue o abraço
nacional de gatos e lebres. Apenas a voz corajosa de poucos se levanta, para
mostrar que temos ordenamento jurídico e processo legal.
Muitos juristas
emudeceram. Outros se juntam à virose do “pega pra capar”. E nesse dramalhão de
circo mambembe, escrito pelas redes sociais e pela mídia tendenciosa, parece
que já está escolhido o ator para o papel de Barrabás: Luiz Inácio, o maior
artista da política brasileira.
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