terça-feira, 17 de outubro de 2017

IDOLOS
João Eichbaum

Em foto que ocupava espaço considerável no alto da página de um jornal, o menino, aparentando seis ou sete anos, portava um cartaz, onde estava escrito: ‘Neymar realiza o meu sonho de tirar uma foto contigo”.

Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso há de ter se chocado com a foto, que estampava uma bestial inversão de valores, num país onde tanta gente clama por educação, saúde, segurança, emprego e seriedade na política.

Mas, infelizmente, é assim que se cultiva uma zona imarcescível de ignorância, que deturpa para sempre a personalidade das pessoas: inculcando nas crianças falsos valores, futilidades que levam a lugar nenhum.

A criança, na sua inocência, aceita tudo, assimila com a maior facilidade o que lhe é imposto ou permitido pela família. Uma vez registrado no inconsciente aquele falso valor, nem mesmo a dureza da vida, a batalha de cada um para sobreviver, apagará a futilidade plasmada.

É por isso que a maioria esmagadora da humanidade não vive sem ídolos, não concebe a vida sem superstições ou sem alguma obsessão, que ela acaba transformando em necessidade. E no teatro da vida desfilam absurdos, comportamentos ridículos, posturas que nada acrescentam para o bem-estar das pessoas, para sua realização como seres humanos, para um apaziguamento pleno e feliz, com objetivos perseguidos e alcançados.

Romarias e peregrinações de nossa senhora disso, nossa senhora daquilo mostram o quanto a desvalia toma conta das pessoas, que andam léguas, enfrentam o frio, a chuva, o cansaço, para verem imagens de barro, às quais “agradecem” ou “pedem” saúde. Passada a euforia da visão do santo, voltam a comer o pão que o diabo amassou.

Um mínimo de certeza assegura que ninguém se cura sem remédio, sem médico, e ninguém tem saúde, se não se previne. Por que se formam imensas filas esperando pelo SUS? Por que faltam leitos nos hospitais? Se santos resolvessem os problemas, nada disso aconteceria. Bastaria rezar ou beijar o santo.

Mas, as loucuras do fanatismo e da superstição não têm limites. A mídia mostrou, no último fim de semana, a cena ridícula de gente se amontoando na frente de um hotel, para ver se enxergava um velhinho que ia cantar músicas de antigamente. Pior ainda: barbados já se postavam em fila ao relento, há dois dias, para assistirem ao show da figurinha. Qualquer macho normal, ao invés de perder tempo esperando um marmanjo velho, iria para um motel com a gata própria ou a gatinha disponível do vizinho.

Esse macaco humano que cultua carne, osso e barro forma a maioria, contra qual é inútil qualquer apelo à razão, à sensatez.  Essa maioria não vive sem os bezerros de ouro que as corporações religiosas e a mídia lhe metem goela abaixo. E delas se origina a massa amorfa, servil, chamada povão, que serve, na medida, à ambição dos poderosos.

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