IDOLOS
João Eichbaum
Em foto que ocupava espaço considerável no alto da
página de um jornal, o menino, aparentando seis ou sete anos, portava um
cartaz, onde estava escrito: ‘Neymar realiza o meu sonho de tirar uma foto
contigo”.
Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso há de ter
se chocado com a foto, que estampava uma bestial inversão de valores, num país
onde tanta gente clama por educação, saúde, segurança, emprego e seriedade na
política.
Mas, infelizmente, é assim que se cultiva uma zona
imarcescível de ignorância, que deturpa para sempre a personalidade das
pessoas: inculcando nas crianças falsos valores, futilidades que levam a lugar
nenhum.
A criança, na sua inocência, aceita tudo, assimila com
a maior facilidade o que lhe é imposto ou permitido pela família. Uma vez
registrado no inconsciente aquele falso valor, nem mesmo a dureza da vida, a
batalha de cada um para sobreviver, apagará a futilidade plasmada.
É por isso que a maioria esmagadora da humanidade não
vive sem ídolos, não concebe a vida sem superstições ou sem alguma obsessão,
que ela acaba transformando em necessidade. E no teatro da vida desfilam
absurdos, comportamentos ridículos, posturas que nada acrescentam para o
bem-estar das pessoas, para sua realização como seres humanos, para um
apaziguamento pleno e feliz, com objetivos perseguidos e alcançados.
Romarias e peregrinações de nossa senhora disso, nossa
senhora daquilo mostram o quanto a desvalia toma conta das pessoas, que andam
léguas, enfrentam o frio, a chuva, o cansaço, para verem imagens de barro, às
quais “agradecem” ou “pedem” saúde. Passada a euforia da visão do santo, voltam
a comer o pão que o diabo amassou.
Um mínimo de certeza assegura que ninguém se cura sem
remédio, sem médico, e ninguém tem saúde, se não se previne. Por que se formam
imensas filas esperando pelo SUS? Por que faltam leitos nos hospitais? Se
santos resolvessem os problemas, nada disso aconteceria. Bastaria rezar ou
beijar o santo.
Mas, as loucuras do fanatismo e da superstição não têm
limites. A mídia mostrou, no último fim de semana, a cena ridícula de gente se
amontoando na frente de um hotel, para ver se enxergava um velhinho que ia
cantar músicas de antigamente. Pior ainda: barbados já se postavam em fila ao
relento, há dois dias, para assistirem ao show da figurinha. Qualquer macho
normal, ao invés de perder tempo esperando um marmanjo velho, iria para um
motel com a gata própria ou a gatinha disponível do vizinho.
Esse macaco humano que cultua carne, osso e barro
forma a maioria, contra qual é inútil qualquer apelo à razão, à sensatez. Essa maioria não vive sem os bezerros de ouro
que as corporações religiosas e a mídia lhe metem goela abaixo. E delas se origina
a massa amorfa, servil, chamada povão, que serve, na medida, à ambição dos
poderosos.
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