terça-feira, 10 de outubro de 2017

O PRIMATA ERETO E SEU FACEBOOK
João Eichbaum

Comecemos por dar nome aos bois. Nós, os homens, não somos um gênero, como muita gente diz:  “o gênero humano”. Não. Nós somos uma espécie, (para não dizer uma subespécie, da ordem dos primatas, chamada antropoide) que deriva do gênero animal.

Quer dizer, somos um tipo de animal. Somos um animal, que tem a capacidade de pensar, de criar, de raciocinar. Como todo o animal, temos instinto, mas numa taxa mínima, comparada à de outros animais, que a têm em expressiva intensidade.

Em compensação, temos a inteligência, que os outros animais não têm, e que nos ajuda a exacerbar o instinto de sobrevivência, comum a todo o gênero a que pertencemos.

Por termos inteligência, sabemos quem somos e o que queremos: somos alguém que quer o melhor para si. O nosso núcleo central, que é o egoísmo, exige isso.

Alguns de nós se destacam, porque são mais inteligentes e mais criativos, já que os graus de inteligência e criatividade variam de indivíduo para indivíduo. Como resultado, o vertebrado, mamífero bípede chamado homem, evolui.

Graças a essa evolução, dispomos da tecnologia de que foram privados nossos antepassados. Hoje temos, por exemplo, o facebook, que conseguiu nivelar a humanidade na capacidade de expressão. Hoje, cada indivíduo da espécie humana tem a virtual oportunidade de mostrar ao mundo quem é e o que quer. Do mais ignoto à maior celebridade, somos todos iguais, nesse item.

Então, de posse desse instrumento, cada um se mostra dono da sua verdade. Cada um tem a sua mania, cultiva valores próprios, ou gerados por um servilismo interesseiro. Política, religião, futebol, sexismo, status social, se diluem em paixões que botam o ego na frente, na primeira fila.

Quem nunca teve vez, agora tem voz. A expressão do pensamento deixou de ser exclusiva de jornalistas, apresentadores de TV, escritores, reis, presidentes, papas e demais celebridades. Cada um pode dizer o que pensa e, em o fazendo, mostra o que é.

 No geral, o que domina é a ignorância, (há quem ainda esteja mais próximo do “pithecantropus erectus” do que do “homo sapiens”) em cujo encalço segue a vaidade. Essa e aquela, além de outras fraquezas do ser humano, porém, provam que ele jamais será o que gostaria de ser. E a razão disso é muito simples: as deficiências inatas do gênero impedem a plena satisfação da espécie.

Ou seja: a espécie jamais será maior do que o gênero. Sem se dar conta disso, o “homo sapiens”, insatisfeito, frustrado, ruminando sua impotência, ainda espera pelas recompensas das divindades inventadas por seus ancestrais.




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