O PRIMATA ERETO E SEU FACEBOOK
João Eichbaum
Comecemos por dar nome aos bois. Nós, os homens, não
somos um gênero, como muita gente diz: “o gênero humano”. Não. Nós somos uma espécie,
(para não dizer uma subespécie, da ordem dos primatas, chamada antropoide) que
deriva do gênero animal.
Quer dizer, somos um tipo de animal. Somos um animal,
que tem a capacidade de pensar, de criar, de raciocinar. Como todo o animal,
temos instinto, mas numa taxa mínima, comparada à de outros animais, que a têm
em expressiva intensidade.
Em compensação, temos a inteligência, que os outros
animais não têm, e que nos ajuda a exacerbar o instinto de sobrevivência, comum
a todo o gênero a que pertencemos.
Por termos inteligência, sabemos quem somos e o que
queremos: somos alguém que quer o melhor para si. O nosso núcleo central, que é
o egoísmo, exige isso.
Alguns de nós se destacam, porque são mais
inteligentes e mais criativos, já que os graus de inteligência e criatividade
variam de indivíduo para indivíduo. Como resultado, o vertebrado, mamífero
bípede chamado homem, evolui.
Graças a essa evolução, dispomos da tecnologia de que
foram privados nossos antepassados. Hoje temos, por exemplo, o facebook, que
conseguiu nivelar a humanidade na capacidade de expressão. Hoje, cada indivíduo
da espécie humana tem a virtual oportunidade de mostrar ao mundo quem é e o que
quer. Do mais ignoto à maior celebridade, somos todos iguais, nesse item.
Então, de posse desse instrumento, cada um se mostra
dono da sua verdade. Cada um tem a sua mania, cultiva valores próprios, ou
gerados por um servilismo interesseiro. Política, religião, futebol, sexismo,
status social, se diluem em paixões que botam o ego na frente, na primeira
fila.
Quem nunca teve vez, agora tem voz. A expressão do pensamento
deixou de ser exclusiva de jornalistas, apresentadores de TV, escritores, reis,
presidentes, papas e demais celebridades. Cada um pode dizer o que pensa e, em
o fazendo, mostra o que é.
No geral, o que
domina é a ignorância, (há quem ainda esteja mais próximo do “pithecantropus erectus”
do que do “homo sapiens”) em cujo encalço segue a vaidade. Essa e aquela, além
de outras fraquezas do ser humano, porém, provam que ele jamais será o que
gostaria de ser. E a razão disso é muito simples: as deficiências inatas do
gênero impedem a plena satisfação da espécie.
Ou seja: a espécie jamais será maior do que o gênero.
Sem se dar conta disso, o “homo sapiens”, insatisfeito, frustrado, ruminando
sua impotência, ainda espera pelas recompensas das divindades inventadas por
seus ancestrais.
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