sexta-feira, 27 de outubro de 2017

DO LIXO DA CORRUPÇÃO PARA O PALÁCIO
João Eichbaum

Tal como o mondongo, eles não cozinham na primeira fervura.  Wesley e Joesley, os irmãos Batista, ex-açougueiros, se prestam, como poucos, para servir de exemplo vivo, ilustrativo, da sábia filosofia popular.

Em matéria de acordos com a Procuradoria Geral da República, há muito tempo, antes de oferecerem para Rodrigo Janot, na bandeja, a cabeça do Temer, eles haviam perdido a virgindade. Tinham um rabo aqui, outro ali, e iam levando a vida, ameaçados de prisão preventiva.

Começaram enrascados na operação Greenfield, entraram na Cui Bono, deixaram rabo preso para as operações Sepsis e Bullish. Fundos de pensão da Caixa Econômica Federal, Petrobrás e Correios, negócios envolvendo BNDES e políticos do PMDB alimentavam a folha corrida de suas relações espúrias.

Ameaçados de perderem os benefícios, em razão de descumprimento das condições dos acordos de leniência, resolveram abrir a boca para entregar Temer numa delação eletrizante e, de quebra, ofereceram também a cabeça do Aécio.

Esses são os irmãos Batista. De Wesley não se sabe tanto. Mas de Joesley se conhece o suficiente, para tê-lo como dono de uma honra esfarrapada. Em conversa de bêbados com Ricardo Saud, executivo de seu grupo, se desnudou: pessoa de baixíssimo nível intelectual, sem escrúpulos e descomprometido com a verdade.

A pergunta que passa pela cabeça de qualquer pessoa inteligente é a seguinte: como é que um homem cevado no submundo do enriquecimento ilícito tem tamanha intimidade com o Presidente da República, a ponto de privar com ele a desoras, nos porões do palácio, sem ser impedido pelas aldravas do poder?

Tal resposta Michel Temer deve ao Brasil. E por não querer saldar sua dívida, usou do poder político, abusou da máquina pública para comprar adeptos que o livraram dessa. Almas e consciências foram leiloadas, enquanto a pátria cabeceava de sono, como um boi sentado.

Douto do Direito, ele deve saber que o malabarismo verbal da PGR é inconsequente. Mais pescando ilações do que narrando fatos, a denúncia não tem força para transformar em crime, a vulgaridade do diálogo com Joesley.

O que Temer pretende, na verdade, enquanto sua uretra o permitir, é fugir do vexame histórico. Quer entregar ao tempo, devorador de lembranças, a tarefa de não ser lembrado como aquele chefe da nação que manchou a dignidade do cargo, quando misturou sua reputação à dos aproveitadores dos vícios do poder.


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