DO LIXO DA CORRUPÇÃO PARA
O PALÁCIO
João Eichbaum
Tal como o mondongo, eles
não cozinham na primeira fervura. Wesley
e Joesley, os irmãos Batista, ex-açougueiros, se prestam, como poucos, para
servir de exemplo vivo, ilustrativo, da sábia filosofia popular.
Em matéria de acordos com
a Procuradoria Geral da República, há muito tempo, antes de oferecerem para
Rodrigo Janot, na bandeja, a cabeça do Temer, eles haviam perdido a virgindade.
Tinham um rabo aqui, outro ali, e iam levando a vida, ameaçados de prisão
preventiva.
Começaram enrascados na
operação Greenfield, entraram na Cui Bono, deixaram rabo preso para as
operações Sepsis e Bullish. Fundos de pensão da Caixa Econômica Federal,
Petrobrás e Correios, negócios envolvendo BNDES e políticos do PMDB alimentavam
a folha corrida de suas relações espúrias.
Ameaçados de perderem os
benefícios, em razão de descumprimento das condições dos acordos de leniência,
resolveram abrir a boca para entregar Temer numa delação eletrizante e, de
quebra, ofereceram também a cabeça do Aécio.
Esses são os irmãos
Batista. De Wesley não se sabe tanto. Mas de Joesley se conhece o suficiente,
para tê-lo como dono de uma honra esfarrapada. Em conversa de bêbados com
Ricardo Saud, executivo de seu grupo, se desnudou: pessoa de baixíssimo nível
intelectual, sem escrúpulos e descomprometido com a verdade.
A pergunta que passa pela
cabeça de qualquer pessoa inteligente é a seguinte: como é que um homem cevado
no submundo do enriquecimento ilícito tem tamanha intimidade com o Presidente
da República, a ponto de privar com ele a desoras, nos porões do palácio, sem
ser impedido pelas aldravas do poder?
Tal resposta Michel Temer
deve ao Brasil. E por não querer saldar sua dívida, usou do poder político,
abusou da máquina pública para comprar adeptos que o livraram dessa. Almas e
consciências foram leiloadas, enquanto a pátria cabeceava de sono, como um boi
sentado.
Douto do Direito, ele
deve saber que o malabarismo verbal da PGR é inconsequente. Mais pescando
ilações do que narrando fatos, a denúncia não tem força para transformar em
crime, a vulgaridade do diálogo com Joesley.
O que Temer pretende, na
verdade, enquanto sua uretra o permitir, é fugir do vexame histórico. Quer
entregar ao tempo, devorador de lembranças, a tarefa de não ser lembrado como
aquele chefe da nação que manchou a dignidade do cargo, quando misturou sua
reputação à dos aproveitadores dos vícios do poder.
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