DAS
MÁS LÍNGUAS ...
João
Eichbaum
Aludindo
às críticas assacadas contra o Supremo Tribunal Federal, o ministro que mais
náuseas provoca na boca do povo, Gilmar Mendes, disse em entrevista que o
“debate no Brasil virou uma coisa terrestre, pedestre, rastaquera...”
O
jornalista Leão Serva, da Folha de São Paulo, em crônica publicada na segunda-feira
de Carnaval, tira sarro da fala do ministro, extraindo dela um forte conteúdo
preconceituoso: “confundir o pedestre com má qualidade ou baixeza é uma prova
da suprema desigualdade social do país, no qual tradicionalmente os donos de
carro têm poder e dinheiro e ignoram o direito dos mais pobres a pé nas
calçadas”.
E
a seguir, o cronista informa o significado da palavra “rastaquera”, trazido
pelo dicionário: “é o indivíduo que pratica gastos luxuosos e ostentações,
pessoa de meios de subsistência suspeitos e que ostenta luxo exagerado e de mau
gosto”.
Não,
caro Leão Serva. As palavras usadas por Gilmar Mendes (pedestre, rastaquera) nada
têm de preconceituoso. Ele lhes desconhece o sentido, porque seu vocabulário
não passa daquele “juridiquês” limitado, com a mesma profundidade de um vocabulário de papagaio.
Tratando-se
de empregar adjetivos fortes, que contenham a carga ofensiva pretendida pelo
ministro, ele não encontra em seu vocabulário senão palavrões onomatopaicos,
que valham mais pela sonoridade do que pelo conteúdo.
O
domínio do vernáculo nunca foi o forte do Gilmar Mendes, como não o é de
muitos, senão de todos os ministros do STF. Parece que suas excelências
desconhecem a mais primária das regras das ciências jurídicas: sem o domínio
pleno de seu único instrumento, que é a linguagem, não há como aplicar
cientificamente o Direito.
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