sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018


DAS MÁS LÍNGUAS ...
João Eichbaum
Aludindo às críticas assacadas contra o Supremo Tribunal Federal, o ministro que mais náuseas provoca na boca do povo, Gilmar Mendes, disse em entrevista que o “debate no Brasil virou uma coisa terrestre, pedestre, rastaquera...”
O jornalista Leão Serva, da Folha de São Paulo, em crônica publicada na segunda-feira de Carnaval, tira sarro da fala do ministro, extraindo dela um forte conteúdo preconceituoso: “confundir o pedestre com má qualidade ou baixeza é uma prova da suprema desigualdade social do país, no qual tradicionalmente os donos de carro têm poder e dinheiro e ignoram o direito dos mais pobres a pé nas calçadas”.
E a seguir, o cronista informa o significado da palavra “rastaquera”, trazido pelo dicionário: “é o indivíduo que pratica gastos luxuosos e ostentações, pessoa de meios de subsistência suspeitos e que ostenta luxo exagerado e de mau gosto”.
Não, caro Leão Serva. As palavras usadas por Gilmar Mendes (pedestre, rastaquera) nada têm de preconceituoso. Ele lhes desconhece o sentido, porque seu vocabulário não passa daquele “juridiquês” limitado, com a mesma profundidade de um  vocabulário de papagaio.
Tratando-se de empregar adjetivos fortes, que contenham a carga ofensiva pretendida pelo ministro, ele não encontra em seu vocabulário senão palavrões onomatopaicos, que valham mais pela sonoridade do que pelo conteúdo.
O domínio do vernáculo nunca foi o forte do Gilmar Mendes, como não o é de muitos, senão de todos os ministros do STF. Parece que suas excelências desconhecem a mais primária das regras das ciências jurídicas: sem o domínio pleno de seu único instrumento, que é a linguagem, não há como aplicar cientificamente o Direito.

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