NÃO
BASTA USAR TOGA
João
Eichbaum
A
senhora Rosa Weber não transita pelo Código Eleitoral e leis correlatas com a
mesma desenvoltura com o que o fazia, na sua juventude, no corredor das leis
trabalhistas. Seu forte, na área jurídica, eram férias, décimo terceiro, justa
causa, aviso prévio, e outras miudezas do gênero, que qualquer trabalhador
conhece na ponta da língua.
Até
ser ministra do Superior Tribunal Eleitoral, cargo decorrente de sua nomeação
para o Supremo Tribunal Federal por obra e graça da então presidente Dilma
Rousseff, o máximo que ela conhecia, certamente, era seu título eleitoral, no
concernente à obrigação de votar.
Evidentemente,
nunca foi juíza eleitoral e, por isso, jamais lidou com impugnações de
candidatura, inelegibilidades e outros tropeços, a que estão sujeitas as pessoas
que aspiram ao bem estar e às mordomias só reservadas para quem se encosta em
cargos políticos.
Graças
a essas lacunas na sua trajetória pela magistratura, a referida senhora foi
protagonista de uma gafe que, certamente, vai engrossar o anedotário das lides
forenses: pediu vista de um processo eleitoral, do qual era relatora.
Esclarecendo,
para quem não conhece o sistema judiciário: nos tribunais, relator é o juiz
encarregado de estudar o processo, interpretando os fatos e o direito, para
emitir um juízo de valor. Para isso, deve ser guiado pelo princípio ético de
que, não bastando ser juiz, é preciso ser responsável.
Condenado
por improbidade administrativa, o atual prefeito de São Leopoldo, Ari Vanazzi,
coordenador da campanha da Dilma, teve a candidatura impugnada: esse era o
conteúdo do processo confiado a Rosa Weber. Ela, como relatora, no seu voto deu
ganho de causa a Vanazzi.
Gilmar
Mendes não se convenceu e pediu vista. Semana passada trouxe o processo para
julgamento e contrariou o voto da relatora. Diante da posição do polêmico
colega, ágil e desembaraçado em Direito Eleitoral e legislação congênere, Rosa
Weber se apequenou: sucumbiu à humilhação de pedir vistas de um processo do
qual era relatora.
Teria
ela confundido justa causa com ato ímprobo? Ou teria confiado o processo àquela
equipe que sempre a assessorou, nas miudezas das causas trabalhistas,
entregando-lhe a decisão de uma questão gravíssima, a questão da imoralidade
dos políticos, que mais atormenta a população brasileira e é responsável pelo
escárnio internacional do país? Ou, simplesmente, escorregou na banana?
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