O
PAPEL DO GENERAL
João
Eichbaum
Todo
mundo viu. O Brasil inteiro se aterrorizou com a violência no Rio de Janeiro,
uma cidade dominada por traficantes de droga e bicheiros. Uns e outros,
traficantes e bicheiros, fizeram sua parte no Carnaval. Enquanto esses
distraiam o povo, tirando sarro dos políticos, os dependentes daqueles
saqueavam o dito povo embevecido.
Lê-se
no jornal Zero Hora de domingo: “caminhões tendo suas cargas roubadas, pais
escondendo-se com os filhos entre carros parados em rodovias, enquanto ocorriam
tiroteios, policiais assassinados, arrastões em toda a cidade”. E no mesmo
jornal, na página seguinte, o general designado para presidir a intervenção
federal no Estado do Rio de Janeiro, se saía com a seguinte pérola: ‘é pura
mídia”.
Pois esse é o general que, segundo a imprensa, tem 23 condecorações nacionais e
quatro estrangeiras. Mas, só o que ele disse já basta para se aquilatar o valor
das condecorações e de suas finalidades, num país empestado pela corrupção, que
há mais de setenta anos não sabe o que é uma guerra.
Diante
da imprensa, o general não teve palavras, nem jogo de cintura que o
apresentassem como pessoa de espírito preparado enfrentar imprevistos. Com esse
perfil ele vai para o Rio, a fim de administrar os serviços de segurança.
Talvez lhe tenham dito que o Rio de Janeiro é uma cidade onde só dormem pessoas
felizes, e não um lugar onde o crime se arraigou e conquistou a hegemonia há
muitos anos.
Notícias
pretendem enriquecer o currículo do general com experiência “em ações da
segurança pública”: foi enviado ao Espírito Santo “para socorro das Forças
Militares”, durante a greve dos policiais militares daquele Estado.
Ora, ora. Enviado não manda nada. Se um
interventor não tem poder de polícia, muito menos um “enviado”, salvo subversão
das regras constitucionais. E a bronca no Espírito Santo era com os policiais,
pendenga entre milicos, não com o crime.
Outra
experiência: “coordenador-geral da assessoria especial para os Jogos Olímpicos
e Paralímpicos”. “Coordenador da assessoria”... Então ta, maravilha! Ele é o
homem certo para atuar na peça teatral do governo federal, com aquele peitinho
que mamãe besuntava de Vick Vaporub, hoje carregado de insígnias. Como ator,
ele desempenhará um papel de faz de conta, já que não há violência, nem terror,
nem arrastões, nem tiroteios no Rio, sendo tudo isso “pura mídia”...
Nenhum comentário:
Postar um comentário