terça-feira, 20 de fevereiro de 2018


O PAPEL DO GENERAL
João Eichbaum
Todo mundo viu. O Brasil inteiro se aterrorizou com a violência no Rio de Janeiro, uma cidade dominada por traficantes de droga e bicheiros. Uns e outros, traficantes e bicheiros, fizeram sua parte no Carnaval. Enquanto esses distraiam o povo, tirando sarro dos políticos, os dependentes daqueles saqueavam o dito povo embevecido.
Lê-se no jornal Zero Hora de domingo: “caminhões tendo suas cargas roubadas, pais escondendo-se com os filhos entre carros parados em rodovias, enquanto ocorriam tiroteios, policiais assassinados, arrastões em toda a cidade”. E no mesmo jornal, na página seguinte, o general designado para presidir a intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro, se saía com a seguinte pérola: ‘é pura mídia”.
Pois esse é o general que, segundo a imprensa, tem 23 condecorações nacionais e quatro estrangeiras. Mas, só o que ele disse já basta para se aquilatar o valor das condecorações e de suas finalidades, num país empestado pela corrupção, que há mais de setenta anos não sabe o que é uma guerra.
Diante da imprensa, o general não teve palavras, nem jogo de cintura que o apresentassem como pessoa de espírito preparado enfrentar imprevistos. Com esse perfil ele vai para o Rio, a fim de administrar os serviços de segurança. Talvez lhe tenham dito que o Rio de Janeiro é uma cidade onde só dormem pessoas felizes, e não um lugar onde o crime se arraigou e conquistou a hegemonia há muitos anos.
Notícias pretendem enriquecer o currículo do general com experiência “em ações da segurança pública”: foi enviado ao Espírito Santo “para socorro das Forças Militares”, durante a greve dos policiais militares daquele Estado.
 Ora, ora. Enviado não manda nada. Se um interventor não tem poder de polícia, muito menos um “enviado”, salvo subversão das regras constitucionais. E a bronca no Espírito Santo era com os policiais, pendenga entre milicos, não com o crime.
Outra experiência: “coordenador-geral da assessoria especial para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos”. “Coordenador da assessoria”... Então ta, maravilha! Ele é o homem certo para atuar na peça teatral do governo federal, com aquele peitinho que mamãe besuntava de Vick Vaporub, hoje carregado de insígnias. Como ator, ele desempenhará um papel de faz de conta, já que não há violência, nem terror, nem arrastões, nem tiroteios no Rio, sendo tudo isso “pura mídia”...

Nenhum comentário: