quinta-feira, 16 de outubro de 2008

COLUNA DO PAULO WAINBERG

QUEM? COMO? POR QUE?
Paulo Wainberg



Dia desses ocorreu-me que se Jeová queria sua obra deitada eternamente no berço esplêndido do Paraíso, não teria plantado lá uma macieira com poderes de transmitir o conhecimento. Também não teria posto uma serpente a seduzir Eva, não teria deixado Eva convencer Adão a dar a mordida fatal para, diante do abominável crime da desobediência e do conhecimento, expulsá-los sem direito a recurso ordinário, especial ou extraordinário, obrigando-os a prover o sustento com o suor dos próprios rostos.
Com a onipotência digna de uma divindade, poderia ter evitado o drama, deixando-nos, a todos, burros, ignorantes e felizes.
O que eu nunca entendi é o que os outros bichos tinham com isso. Qual a culpa do leão no episódio, ele que vivia e convivia, na mais absoluta e placêntica paz, com o cordeiro, o alce e o antílope.
Entretanto o pobre animal, por conta da falha humana, foi também remetido a um mundo cruel, tendo que caçar e comer os outros que, também sem culpa alguma, se transformaram em presas felinas, correndo pelas estepes inutilmente, esperando a vez de serem devorados.
Se O Sublime quisesse que o pênis de Adão balançasse ao acaso, indiferente à exposta vagina de Eva, não teria previsto que a coisa não é bem assim e que certas reações, físicas e químicas, são incontroláveis?
Quem é onipotente pode tudo, isto é mais do que claro. E poder tudo é um atributo infinitamente executável, o que custava ao Criador ter dispensado os animais, entre eles o Homem e a Mulher, de desejos pecaminosos que, como se sabe, se expressam através da ereção e da lubrificação? No vulgo, Tesão?
Sendo o Senhor, além de onipotente, também onisciente, não lhe competia saber previamente qual o resultado das tentações propostas ao pobre Primeiro Casal?
A onisciência, como a palavra diz, é saber tudo, mas tudo mesmo, o antes, o agora e o depois.
Não é crível que a onisciência seja seletiva e que o Todo Poderoso escolha o que vai ou não saber. Não. Ele sabe de tudo por definição, conseqüentemente, sabendo o que estava acontecendo no momento da mordida na maçã, sabendo o que aconteceria logo a seguir e, o que é mais curioso, sabendo antes o que aconteceria, qual a razão motivou o Santíssimo, de tudo sabedor e tudo podendo, a não evitar o desastre?
Sendo Adonai, além de onipotente e onisciente, também onipresente, estou perfeitamente autorizado a afirmar que o Grandioso estava presente e assistindo à toda trama, das primeiras falas ofídicas ao resultado final, bastando-lhe um tremilicar de pestanas para salvar a pátria.
Tais questões, nas quais me detive a pensar ha alguns dias e que vieram a tona hoje, não por acaso uma segunda-feira, me levaram a duas conclusões possíveis, as únicas que consegui para dar uma lógica mínima aos desígnios de Deus, também conhecido aqui no Sul como “o patrão véio da grande fazenda lá de riba”:
Primeira: O Pai eterno não é, como dizem alguns, onipresente, onisciente e onipotente. Neste caso fica tudo claro, Deus fez o Mundo, criou o Homem e a Mulher, estabeleceu as duas regras fundamentais – obediência absoluta e não provar do fruto proibido – e depois perdeu o controle. Não sendo onisciente, desconhecia as artimanhas da serpente. Não sendo onipotente, mesmo que as conhecesse, não podia impedir. E não sendo onipresente, não estava lá quando se consumou o atentado.
Segunda: O senhor é tudo isso e armou para Adão e Eva. Prometeu-lhes a eterna bem-aventurança sabendo que eles iam falhar e aí... bem, e aí fodeu-se a dupla e, conseqüentemente, fodemo-nos todos. Isto é, simplesmente sacaneou o casal, mostrando-lhes tudo o que iam perder, coisa que ele já sabia que ia acontecer.
Sei que usei palavras fortes mas peço que as aceitem como um uso adequado do vernáculo diante da gravidade da situação.
Se a primeira conclusão for verdadeira, lamento dizer-lhe, minha cara beata, meu prezado crente e fiel, que estamos entregues à nossa própria sorte e que o Criador definitivamente nos largou de mão, naquele dia fatídico lá no Éden. Talvez ele possa interferir aqui e ali, de modo ocasional e utilizando os limitados recursos de que dispõe. Nada muito contundente, assim de mudar a História, talvez um favorzinho, algo que ELE tenha escutado de passagem e, dispondo de tecnologia avançada nos tenha permitido acesso à, digamos, internet.
Estou para dizer que nem mesmo sobre a meteorologia ele tem qualquer controle, basta ver que chove ou faz sol, furacões entram e saem, ciclones irrompem, calores sufocam, frios congelam e nós aí, á mercê, sem saber se usaremos sungas na praia ou casacos e cachecóis na serra. Sem falar nos terremotos e nos tsunames que acontecem vez que outra, devastando a valer.
Basta consultar o Google para ver que aquilo que a humanidade não se encarrega ela mesma de destruir, a natureza completa o serviço.
Entretanto, tudo bem. Se assim quis o Criador, assim à Criatura compete exercer o papel e não adianta chorar, cair de joelhos, cobrir a cabeça, acender velas ou deitar-se em direção a um ponto cardeal e orar. Infelizmente ELE não sabe, se sabe não pode e se pode, não está ali, no momento exato.
Triste? Claro que sim mas, finalmente, compreensível.
Se a segunda conclusão for a verdadeira então, meus filhos, estamos definitivamente no mato se cachorro, o urso rugindo na nossa cara e nós sem espingarda, o caminhão a cem por hora invadindo a nossa loja ou sentados na privada, depois de uma dor de barriga mortífera, na casa do cônsul, e não tem papel higiênico.
Porque, neste caso, o Imenso está tirando com a nossa cara, pura e simplesmente, sabe tudo o que aconteceu e vai acontecer, está permanente nos assistindo e, podendo tudo, inclusive nada fazer, nada faz.
É o caos, cada um por si e ninguém por todos, vamos que vamos para ver no que dá e, como ELE sabe muito bem, não vai dar em nada.
Então é justo que você me pergunte qual o motivo que me leva a pensar essas coisas, ocupar o meu e o seu tempo com essas matérias esotéricas e inexplicáveis e, na prática, o que é que tais questões vão influenciar o nosso café da manhã.
E também é justo que eu lhe responda, o que vou fazer sucintamente: não sei!
E se soubesse, não diria.
E se dissesse........

Nenhum comentário: