terça-feira, 21 de outubro de 2008

COLUNA DO PAULO WAINBERG

Crônicas Didáticas


O VERMELHO E O PRETO
Paulo Wainberg




Certas palavras parecem que são feitas umas para as outras. Exemplo: volátil e volúvel.
Volátil desvanece no ar, é o perfume, o éter, o sonho e o mercado financeiro.
Volúvel troca de lado com facilidade, é a mulher, o amigo de ocasião, o puxa-saco e o mercado financeiro.
Para ser mais explícito e correto, não é o mercado financeiro e sim O CAPITAL que é volátil e volúvel quando a serviço do mercado financeiro.
Correto? Acho que sim.
É que ouço tanta gente falar em “capital volátil” querendo falar em “capital volúvel” que, volátil ou volúvel, esse tal de Capital não parece ser nem um pouco de confiança, isto é, eu não apostaria todas as minhas fichas nele sabendo que, de uma hora para outra ele desvanece no ar ou troca de lado.
Imagine se eu vou chegar lá em casa, abrir a gaveta, recolher as fichas da caixa e apostar que o Capital está sólido e constante. Posso ser louco mas não sou burro como poderia dizer um marido traído da, suponhamos, Débora Secco, ao perdoá-la pela traição.
Para entender com clareza o que é mercado financeiro vou revelar novamente, o seu funcionamento, para o caso de você não ter me lido antes ou não ter se dado conta.
Existe o grupo de compradores financeiros, isto é, compram ações, moedas, metais, flores, dinheiro e tudo o mais que, como se convencionou chamar, é oferecido nas Bolsas, não as femininas com alças, fivela e tudo, mas as de Valores.
E existe o grupo de vendedores financeiros, isto é, os que vendem essas mesmas coisas.
Como nenhum dos dois grupos pode estar ao mesmo tempo em todas as Bolsas de Valores existentes no mundo, criou-se a figura do Corretor que, como todo o mundo sabe, é aquele cara que aparece na foto vibrando de felicidade, em dia de alta, ou então coçando a cabeça com ar desalentado e perplexo, em dia de baixa.
Teoricamente as Bolsas de Valores deveriam obedecer a uma regra, uma lei que não foi gerada em câmaras de deputados, em poderes legislativos ou em decisões judiciais intrometidas. Trata-se da famosa Lei da Oferta e da Procura cujo parágrafo único determina que quando a oferta for muito grande o preço baixa e quando a procura for muito grande o preço sobe.
É simples de entender, tomemos um exemplo doméstico: Quanto mais você procura a sua mulher menos você a encontra e quanto mais sua mulher se oferece menos você quer procurar por ela.
Entendeste?
Pois bem, a Lei da Oferta e da Procura, por não ser escrita, não figura em Constituições nem em Códigos, Funciona no plano imaginário dos subentendidos que, de tanto serem repetidos, acabam nos convencendo de que o que sobra enjoa e o que falta... faz falta, mesmo que gente não queira.
Voltando ao mercado financeiro e ao Capital a coisa funciona assim: se o grupo de vendedores enche a Bolsa com seus produtos, o preço deles cai e o grupo de compradores, fazendo uma espécie assim de, como dizem os argentinos, culo dulce, vai comprando aos pouquinhos até encher as próprias burras.
Porém – e aí é que está o grande lance – quando o grupo de compradores resolve investir pesado, quem faz o tal culo Dulce é o grupo de vendedores que vão mostrando seus produtos aos pouquinhos e o preço vai lá para cima.
Quando os dois grupos, em raros momentos de harmonia, se equilibram, os compradores comprando pouco e os vendedores também, aí o mercado financeiro é chamado de “estável” o que significa, em outras palavras, que nesse momento o Capital é concreto e leal.
Você, por exemplo, que pega metade de suas fichas e aposta em qualquer das fases do Capital, guardando a outra metade para não arriscar tudo, duas coisas podem acontecer: você se dá bem ou você se dá mal. Quando é que você se dá bem? Ora, quando você sai de lá com mais fichas do que as que apostou. E se dá mal no popular vice-versa que inclui o empate técnico, você sai com o mesmo número de fichas que tinha mas deixou de apostá-las em outra coisa e perdeu tempo.
Quanto mais me aprofundo no estudo do fenomenal mercado financeiro, o mais suscetível que já conheci, capaz de oscilar para cima e para baixa apenas porque um Presidente importante espirrou, mais me convenço de uma coisa, coisa esta que consiste na revelação que agora vou fazer, gratuitamente: O grupo de compradores é formado pelas mesmas pessoas do grupo de vendedores. Eles são os voláteis e volúveis, desvanecem no ar e mudam de lado e não o coitado do Capital, que está aí apenas para ajudar, fazer o bem e trazer felicidade.
Caso um Presidente importante espirre duas vezes os compradores percebem que uma forte gripe está a caminho e passam imediatamente para o lado de vendedores. Colocam seus produtos à venda, esperam que o preço baixe aos níveis da desgraça alheia e depois, volátil e voluvelmente mudam de lado, comprando tudo de novo a preço de banana. No meio do caminho você, que apostou suas fichas, se ralou meu chapa, caiu de quatro tentando segurar entre os dedos um restinho ainda não volatizado de suas fichas tão suadamente adquiridas.
No dia seguinte, como o Presidente importante não se gripou, os compradores voltam para o lado dos vendedores mas aí o preço está tão alto que o que lhe restou de fichas não compra sequer um nabo, que dirá um rabanete ou duas colheres de açúcar.
Nos dias de hoje, com a vida permanentemente on line, ao vivo e a cores, as Bolsas de Valores estão abertas vinte e quatro horas por dia, graças ao fuso horário, permitindo que os compradores aqui sejam vendedores ali, que os vendedores acolá sejam compradores mais aquém e, para seu governo, é atrás das suas fichas que eles estão pois é com elas que eles aumentam o bolo.
Acredite, o capitalismo se divide em duas correntes que quando vão bem se harmonizam e quando uma dá xabú contamina a outra sem remédio: o selvagem e o racional. O capitalismo selvagem é exatamente esse, volátil e volúvel, onde o que está em jogo é o valor da aposta e o cacife que você guardou para o colégio dos filhos.
O capitalismo racional é a indústria, o comércio, a profissão, a prática, a pesquisa, a ciência, a arte. Nele se vislumbram traços selvagens pois o objetivo final é o mesmo: O Lucro.
Entretanto neste existe uma mínima lógica, uma mínima relação de causa e efeito que, ao contrário do mercado financeiro, não desdenha tão grosseiramente da lei da oferta e da procura e, ao seu modo, condiciona-se a ela..
Não se convenceu? Proponho um teste: aposte suas fichas na roleta. No vermelho ou no preto, cinqüenta por cento de chances, certo? Imensas probabilidades de ganhar, certo? Errado. Observe a bolinha girando sobre os números e veja o que lhe acontece quando o croupier gritar ZERO.

Um comentário:

DEMOCRACIA,JUSTIÇA E LIBERDADE disse...

Agora finaLmente entendi da maneira simples como foi explicada, como funcionam as bolsas de valores. Quer dizer que as pessoas NAO PERDEM quando as bolsas estao em baixa.. é isso.? só DEIXAM DE GANHAR.. É ISSO JOAO?
Desculpe minha santa ignoráncia.. mas em materia de $$$ sou néofito.