quinta-feira, 23 de outubro de 2008

COLUNA DO PAULO WAINBERG

RELIGIÕES
Paulo Wainberg




A palavra religião vem do latim “re-ligare” que significava estabelecer vínculos com a divindade.
A Humanidade, desde os seus primórdios, esteve ligada à divindade, isto é, sempre foi “religiosa”.
Falo sobre isso porque em outubro os judeus celebram o Yom Kipur que, em Hebraico, significa o Dia do Perdão. Trata-se de uma data purificadora como existem em tantas outras religiões, sem nada de misterioso, cabalístico ou oculto.
Neste dia, aqueles que praticam sua religiosidade concentram-se no templo – a sinagoga – e passam o dia orando, louvando a Deus e reforçando sua obediência e crença, purificam alma e corpo através do perdão e do jejum. Pedem perdão a Deus, aos ascendentes falecidos – pais, mães, avós – e às pessoas, a quem também perdoam, pelos pecados, pelos erros, pelos males que, em pensamento ou ação, ocasionaram.
Não há promessas, no Dia do Perdão. Os judeus não assumem compromissos para o futuro, apenas pedem para serem perdoados e perdoam seus semelhantes.
Na religião católica o ritual do Dia dos Finados tem o mesmo sentido purificador, acrescido da promessa de não mais pecar. Sentindo semelhante tem o Ramada islâmico e as demais religiões, variando apenas nos respectivos rituais, também celebram datas específicas.
Eu que, sendo de origem judaica, não pratico nenhuma religião e sou religiosamente ateu, tenho uma opinião no mínimo polêmica sobre religiões e seus efeitos, na História.
Sei que vou entrar em terreno perigoso, pantanoso e que minhas palavras poderão gerar revolta. Não me surpreenderei se muitos dos que recebem estas crônicas solicitarem a sua exclusão do meu catálogo de endereços. Entretanto quero deixar consignado que respeito todas as religiões e crenças, não sou contra nenhuma delas nem contra ninguém que as pratique.
Também não quero me intrometer na fé das pessoas nem convencer ninguém a pensar ou sentir de forma diferente. Se você não concordar comigo e quiser conversar sobre assunto será ótimo. Se preferir calar, será ótimo também.
Sinceramente, o que desejo é que você não me peça para não enviar mais estas crônicas, pois, concordando ou não comigo, o fato de você lê-las é a única razão para elas existirem.
Enfim, chega de dedos e salamaleques. Já me expliquei, então vamos lá.
Qualquer estudo, mesmo superficial, da História, mostra que as origens das guerras, chacinas, genocídios, massacres, perseguições, xenofobia e destruição são, invariavelmente as mesmas: terra e religião.
Em outras palavras, riqueza, poder e medo.
Desde os primórdios os deuses mantêm seus representantes na Terra, ungidos por rituais específicos que conservam a unidade da fé, o temor inerente e a Tribo submetida ao poder respectivo.
Tal poder exerce-se internamente e, para as ambições de conquistas, como um resultado da mensagem divina que exige expandir-se sobre os heréticos, infiéis, impuros, em simples palavras, professantes de outra religião.
A guerra entre os homens era a guerra entre deuses, a vitória de um povo sobre outro era a vitória do deus mais poderoso.
A palavra “heresia”, hoje usada como afronta à fé, na verdade tem o sentido de contestar a ritualística. Assim, para exemplificar, o Cristianismo foi a Heresia do Judaísmo, o Protestantismo foi a Heresia do Catolicismo, o Budismo foi a Heresia do Hinduismo e assim por diante.
Guerra de rituais como pano de fundo para o Poder e a conquista da terra, logo, da riqueza.
Tento imaginar um mundo sem religiões, isto é, sem instituições voltadas à fé e devidamente burocratizadas, com quadros de carreira, escalas de poder, símbolos esotéricos e metafísicos e, principalmente, sem rituais específicos.
Nesse mundo a fé não seria uma questão de “ordem” e sim uma questão individual, a “verdade” não mudaria de mãos ao gosto de profetas ensandecidos, pregadores, milagreiros e visionários. Uma igreja não se voltaria contra outra, a Metafísica não seria pretexto para aniquilamentos e os povos co-existiriam sem intolerâncias, prerrogativas, anúncios premonitórios, os conceitos de Bem e de Mal seriam relativos e não se confundiriam com os de Certo e Errado.
Um mundo sem religiões não teria Senhores Espirituais e, conseqüentemente, não teria Escravos Espirituais e o Poder resultaria das capacidades humanas por si só, sem o disfarce da proteção divina.
Deus não teria atributos e seria, em suma a Criação nua e crua, dispensando o marqueting e as campanhas publicitárias. A Humanidade não se preocuparia com “a origem” e estaria voltada para a “finalidade”, nada mais nada menos do que o aprimoramento da inteligência, tal como ela se mostra e não como um mistério ou milagre, produto de insondável desígnio.
Porque as religiões trazem, no seu bojo, a pretensão de compreender desígnios divinos para impô-los como a verdade única e ai de quem deles duvidar.
O que salta aos meus olhos é um imenso paradoxo religioso que não resiste ao menor esforço de compreensão lógica, paradoxo que se manifesta a partir da repetição de gestos, palavras e frases e se estende aos interesses profundos fincados no mundo material onde boas intenções são sinônimo de fraqueza, onde o sofisma ritualístico afronta a realidade e onde, diante da morte, pretexta-se celebrar a vida.
Assim como na Política, os ideais religiosos são os mais elevados, motivo pelo qual cada partido político, assim como cada religião é capaz de tudo pelo Poder de disseminar, sobre os demais, os seus próprios ideais.
Doa a quem doer.

Um comentário:

DEMOCRACIA,JUSTIÇA E LIBERDADE disse...

Foi muito feliz o Joao ao colocar de forma breve, precisa e concisa o que poucos entendem ou sabem. o próprio AVATAR CRISTO, foi vítima da religião na época e dos seus sacerdotes, os fariseus. Quase tres mil anos depois, ainda existem TEOCRACIAS, onde os "FARISEUS ATUAIS" ainda perseguem,prendem e ate matam Baháis no Irã a nome da religião.Isto sem falar dos homens bombas, das meninas que sao vitimas de cliterecomias,do desrepeitos a mulher e um monte de barbaridades que se praticam em nome da religiao por ahi. Ja Lennon dize na sua célebre canção IMAGINE .. Imaginem que nao existem ceus nem inferno.. e que nao existem religioes também... "
Jesus Cristo nao veio para fundar NEHUMA religião muito menos o CRISTIANISMO.Disto eu tenho certeza.