CRÔNICAS PORNO-IDOSAS
NOVA CARTA AO OSMAR
Paulo Wainberg
O Osmar, você sabe, é o meu correspondente que não corresponde e não responde, mas não desisto.
Nunca vi o Osmar, imagino que ele seja barrigudo e careca, deve ter entre quarenta e sessenta e dois anos, solteiro convicto, e, pelo que ouvi falar – e não acredito – é um funcionário fantasma do Sarney.
Allors, aqui estou, renovando a esperança de ser respondido e correspondido, porque o tema me aflige sobremaneira.
Are Baba!
Vamos à carta.
Caro Osmar,
O que está incomodando meus nervos decorre de uma reflexão que fiz há poucos dias, sobre a idade e as fases sexuais do homem masculino, alguém como eu, por exemplo.
Veja você que, na juventude, vivenciamos a fase do sexo explícito, isto é, sempre alertas, sempre prontos, traçamos quem se apresenta. Não há tempo para indagações, questionamentos e lamúrias.
É um período que se estende, felizmente para os que estão nele, por um longo tempo.
Porém, desgraçadamente, tudo passa.
É quando entramos, estimado Osmar, na fase do sexo oral que, você sabe muito bem, é um derivativo para a nossa recém-adquirida insegurança. Como assim insegurança? Não se faça de desentendido, Osmar! Já esqueceu quando, ali pelos cinquenta, seu desempenho arrefeceu e seu instrumental apresentou uma espécie assim de fadiga? Você, tão habituado a desempenhar, sem mais nem menos viu-se a pensar na coisa, a colocar em dúvida sua capacidade de diálogo entre uma cabeça e outra e, porque a falta de entendimento é a mãe do fracasso, fracassar?
Então.
Longe de se dar por vencido, você passa a práticas adventícias, como se fosse um pré-efeito colateral, dando-se tempo e vazão à natural generosidade, ó eufêmica desculpa, segundo a qual sua mentirosa preocupação é proporcionar prazer, muito mais do que receber.
Sendo ora, você passa a falar em sexo além do que jamais falou, e, conversa vai, conversa vem, entre bocas e línguas, dá o assunto por encerrado, orgulhoso da sabedoria que a idade acumulou.
Porém... ah o tempo, esse cruel devorador de filhos... ele passa, passa, o sexo deixa de ser assunto, você tem uma vaga lembrança e... ingressa na terceira fase, a fase do sexo digital.
Osmar, não faça cara de curioso nem me tome por bobo!
Sexo digital é praticável de duas maneiras: pela Internet, usando os dedos para digitar; ou em espécie, usando os dedos para dedilhar. Em ambos os casos você vive da memória, Osmar, da lembrança das outras fases.
Pela Internet você digita com alguém, do outro lado da linha, que encontrou por acaso em salas de bate-papo. É o sexo total, você diz que é capaz de tudo, faz tudo, inventa, cria e acontece, não importa que esteja de pijama, chinelos e com uma bolsa de água quente na barriga.
Ou, quando o produto está ao seu lado, in natura, você dedilha, conta antigas histórias e, se calhar, periga entoar uma cantiga de ninar...e você adormece cantando.
Não, meu caro Osmar, não são por causa das três fases sexuais que a inquietação me acometeu.
Conforme expus, uma reflexão nova pôs-me a beira do quase-pânico: existe uma quarta fase, Osmar, essa sim, terrível, na minha opinião: é a fase do sexo mental!
Sim, sim, Osmar, sexo mental!!! Aquele estágio dramático em que, durante todas as horas do dia em que consegue ficar acordado, você pensa em sexo. Sem parar.
E sem levantar da cadeira de balanço.
Para a frente e para trás, olhar perdido no horizonte – a meio metro de distância – você pensa em garotas de vinte anos, mulheres nuas, orgias, posições, milhares de coisas que você nunca fez na vida.
Até que alguém interrompa o devaneio, trazendo como consolo, uma sopa quentinha. De legumes.
Será, querido Osmar, que isso acontece realmente?
Eu, você sabe, ainda percorro, qual cavaleiro andante, empunhando a bandeira flamejante da honra e da virtude, a primeira fase.
Mas a idéia de atingir a quarta, palavra de honra, me apavora.
Osmar, tenha um pouco de sensibilidade e vergonha na cara. Trate de responder.
Sinceramente seu.
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