terça-feira, 22 de setembro de 2009

COLUNA DO PAULO WAINBERG

VEM
Paulo Wainberg


Eram mil assuntos para falar, que se acumularam. Sarney e senado, com perdão das más palavras, pré-sal, pós-sal e inter-sal a repetir o que Monteiro Lobato já dizia na década de Trinta, plagiando o que digo hoje, que o petróleo é nosso; racismo contra Barak Obama – uma surpresa! – Renan e Collor (me perdoem, muitas vezes os palavrões são essenciais à literatura), o Porto Alegre em Cena, muito mais para balé do que para teatro, mas ainda assim um investimento à valer; bienais aqui e ali, explosões terroristas, salvamento de um pinguim, sei lá, sei lá, tanta coisa... que resolvi falar da.... primavera.
Muitos amigos meus e um sem número de outros que nunca conheci tiveram a felicidade de ter uma prima chamada Vera, com quem iniciaram suas experiência sexuais, sabendo-se, como se sabe, que as experiências sexuais se iniciam entre primas e primos.
Eu, infelizmente, não tive e não tenho nenhuma prima chamada Vera, razão pela qual tive que aventurar-me em outros terrenos, predominando o das empregadas domésticas, verdadeiros mananciais eróticos da geração dos quarenta... anos quarenta, pessoal, 1940, fui claro?
Bem!
Estamos no limiar da Primavera e isto me preocupa muito. Sofro por causa das alergias. Não as minhas, que não tenho nenhuma. Não. Sofro por causa das alergias alheias. Sei o quanto sofrem os alérgicos ao pólen, os asmáticos, os que vão para o hospital por causa de uma abelha e tantos outros.
Me preocupo com eles. Entra ano, sai ano, e lá vão os alérgicos, carregando suas alergias nos elevadores e nas filas do cinema, espirrando para todos os lados, assoando narizes, tossindo, fungando, fumegando, furubundando, lacrimejando, com saudades dos bons e velhos tempos do inverno onde, no máximo, um resfriado flibusteiro ataca as gônadas, digo, as adenóides.
Enquanto isso, pássaros, trinam, flores supimpam, insetos zunem, cores inebriam, ares anilam, a natureza recrudesce e, como tumores benignos, pêssegos começam a dar.
Por outro lado, encho-me de piedade de nossos irmãos do norte, do hemisfério norte, que durante meses iludiram-se com as aparências do verão e se vêem, subitamente, à beira de um outono purulento a anunciar um inverno febril.
Pobres norte-americanos e europeus que, durante alguns meses, brindaram suas cervejas à beira das piscinas de biquínis em flor, seus daiquiris em areias de praias sem sutiãs, seus uísques em recepções ar-refrigeradas de longos vestidos decotados e sandálias, mal imaginando que, para eles, avizinhava-se o que agora é verdade: frio, chuva, neve, escuridão e, convenhamos, é brabo!, permanente encarquilhamento.
E nós aqui, Primavera a dentro, rumo ao Verão!
Imagino-me à beira-mar, chapinhando na água, caipirinha na mão, olhos mis para mis visões, esquecido de tudo, das agruras que me esperam, iludido pela doce fantasia de que é para sempre, nunca mais Inverno, nunca mais, nunca mais, nunca mais.
Há quem pense que a melhor vida que se pode levar é estar sempre no verão, hospedado num luxuoso hotel, com tudo do bom e do melhor, sem nenhum compromisso ou obrigação, vivendo apenas o prazer e o lazer, rodeado por beldades, as melhores bebidas, as melhores comidas, os melhores amigos e nenhum, mas absolutamente nenhum desconforto ou preocupação.
Eu sou um. Penso exatamente isso!
Outros pensam que a melhor vida que se pode levar é estar sempre sob mau tempo, trabalhando oitenta horas por dia, repleto de reuniões, compromissos, chuva e frio, não tem taxi, aeroporto fechado, celular a pleno, tranquilizantes, relaxantes, aporrinhantes, ex-esposas e fast-foods.
Eu não!
Sou da brisa, contra a ventania.
Eis que a primavera chega iluminando a praça, colorindo o gradil, poetizando a alma.
Estou dentro. Conta comigo que sou parceiro. Me leva pra navegar, me convida pro chope, diz que é legal falar comigo, que eu estou dentro.
É hora de sorrir, me diz alguém aqui dentro, e eu sorrio. É hora de ver a beleza e, para isto, troco as lentes de contato, ponho novas para nada perder, nem mesmo as moscas varejeiras que, como se sabe, são lindamente coloridas.
Portanto, primavera, vem com tudo! Vem fervendo que eu estou morno! Vem blue que eu estou gris! Vem com água que estou com sede!
Vem com alegria, que estou precisando!
Vem!

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