DESSA VEZ O SENADOR ACERTOU
João Eichbaum
Cercado, como uma vedete, por estudantes e professores da Faculdade de Direito da USP, a do largo São Francisco, Pedro Simon, o senador gaúcho aquele que, na política, já deve ter mais de oitenta anos só em recesso parlamentar, se saiu com essa, a respeito das semvergonhices do Sarney, conclamando o povo: “é preciso uma manifestação de fora para dentro. Porque de dentro do Congresso e do Supremo Tribunal Federal não vai dar nada. Do presidente Lula não vai dar nada. E não adianta destituir o Conselho de Ética, porque o STF acaba arquivando tudo.”
É nessas horas que ele aparece. Sendo pra botar a boca no trombone, é com ele mesmo, até porque, fumador de cachimbo que é, tem boca apropriada pra trombone. Que pra outra coisa, aliás, nunca mostrou competência.
Mas dessa vez, gostei, porque botou todo o mundo no mesmo saco, Congresso, Presidente, STF, ou seja, pela ordem constitucional: Legislativo, Executivo e Judiciário.
A razão da imprestabilidade desses chamados poderes da República é uma só: a troca de favores. Aquilo que, na teoria constitucional, seria o sistema de contrapesos, para permitir o equilíbrio da administração pública, se transformou num vergonhoso toma lá e dá cá, para que todos possam se manter no poder. Os conchavos do congresso contam com a bênção do nosso “Grande Guia”, as medidas provisórias e o aumento de impostos do mesmo “Grande Guia” contam com a bênção do congresso, e os ministros do Supremo, que para lá são conduzidos por apadrinhamentos políticos, ficam devendo favores tanto ao Legislativo como ao Executivo. Resultado: temos um Judiciário sem personalidade e sem independência.
Então, tem razão o Pedro Simon. Além de mostrar que nenhum dos poderes merece credibilidade, ele alertou para outra coisa: o povo é que nem elefante, não sabe a força que tem. Se soubesse, de há muito toda essa cambada já teria ido pro beleléu. Mas como é uma baita besta esse povo, fica sofrendo, calado, submisso, que nem a gente quando vai no urologista, baixa as calças, e fica quietinho, aguentando aquele dedão enfiado no fiu-fiu.
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