quarta-feira, 30 de junho de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

MARMANJO CONSULTA PSICANALISTA

Descobri há pouco, lendo o Estadão, que pertenço à raivosa extrema direita brasileira, por não gostar de futebol. Leio agora na Folha de São Paulo que estou precisando de psicanálise.
Escreve Rubem Alves, antigo colunista do jornal: - Sou indiferente ao futebol, exceto quando o Brasil está jogando. Essa indiferença tem sido a causa de muitos embaraços, e cheguei mesmo a levar esse problema à minha psicanalista. "Por que é que todo mundo se entusiasma com futebol e eu não me entusiasmo?" Ela me sugeriu que deveria haver algum trauma infantil não resolvido no início dessa perturbação. Sugeriu-me entregar-me às associações livres da mesma forma como os urubus se deixam levar pelo vento. Voei. E eis que, de repente, uma cena esquecida me apareceu.
Essa agora! Desde quando não gostar de futebol constitui problema e mais ainda, problema que tenha de ser levado a um psicanalista? Para início de conversa, considero um indício de pobreza mental consultar um desses gigolôs das angústias humanas. Mais grave ainda é o caso de um homem que pensa, escreve e se situa naquele círculo que se pretende formador de opinião pública.
A verdade é que, em certos meios, análise é a solução para tudo. Tanto que naquela coluna de auto-ajuda da Veja, assinada por Betty Milan, psicanalista que vive em Paris, todo e qualquer drama humano tem invariavelmente uma solução: procure um analista.Ora, psicanálise é vigarice. Tanto que a profissão sequer foi regulamentada. Na França, para efeitos do imposto de renda, psicanalistas são equiparados a videntes, quiromantes, astrólogos e profissionais do sexo. Cá entre nós, se você estiver desempregado e precisar ganhar o pão nosso de cada dia, a solução está ao alcance de sua mão. Alugue uma saleta, compre um divã e ponha uma plaquinha na porta: psicanalista. É claro que a guilda vai chiar, mas nada poderão fazer contra sua nova “profissão”. Não estando regulamentada, não se pode exigir qualquer requisito para seu exercício. Afirmei isto há mais de trinta anos, quando escrevia nos jornais de Porto Alegre. Soube então que alguns psicanalistas pensaram em processar-me. Só pensaram, pois tiveram de tirar os cavalinhos da chuva.
Mas vejamos o trauma infantil que marcou a delicada psique do sensível cronista. Estava em um campo de futebol de roça, onde dois times jogavam, quando uma vaca investiu contra a bola. Seu irmão, para protegê-lo da vaca, arrastou-o para um chiqueiro e o colocou junto aos porcos.- "Minha analista, comovida com o meu relato, concluiu que minha indiferença ao futebol se devia a essa experiência em que o jogo aparece ligado a uma vaca desembestada e a porcos mal cheirosos. Concordei. Minha primeira experiência com o futebol foi traumática: mistura de bola, vaca e porcos. "
E está certo: não é raro que uma partida termine em tourada e que seja manifestação de espírito de porco...Ora, se assim fosse, hoje eu não conseguiria sequer suportar o cheiro de álcool. Em meus dias de juventude, quando não sabia beber, tomei porres de conseqüências eméticas. (Confesso que um deles me marcou: até hoje não suporto o cheiro de gim).
Provavelmente não gostaria nem de Mozart ou Fernando Pessoa, pois muito me encharquei ouvindo estes dois. E talvez não gostasse nem de mulher, pois muitos pileques tomei com elas em minhas universidades.
Certa vez, ao acordar, encontrei a meu lado uma mulher nua. Olhei-a por todos os ângulos, não a reconheci. Bom, já que estava ali... Quando ela finalmente acordou, perguntou-me: e tu, quem és? Tentamos reconstituir nosso itinerário na noite anterior, até que achamos onde havíamos nos encontrado, um bar na Salgado Filho. Por algumas semanas, parei de beber. Mais por precaução que por qualquer outro motivo.
Abomino o futebol, já disse. Não o jogo em si, que considero bonito, inteligente, dinâmico. Mas o fanatismo que gera. Não preciso procurar em minha infância trauma algum que justifique minha ojeriza. Simplesmente detesto multidões, passionalismo, barulho, foguetes, buzinas. A multidão maior que consigo suportar é a lotação de uma sala de ópera. Mas aí se trata de uma multidão culta, civilizada. Fora isso, mais de seis pessoas para mim é multidão. Em minhas mesas de bar, ou na távola redonda cá de casa, só por acidente sentam mais de seis pessoas. Em geral são quatro, preferentemente duas. Uma mesa de dez ou vinte pessoas me arrepia. Durante muitos anos, o réveillon me pegou no estrangeiro. Sempre encerrado em quartos de hotel. Multidões me horripilam. Escusado dizer que não vou a festas.
Se a moda pega, teremos ainda de consultar psicanalistas para saber por que não gostamos de caju ou goiaba, de jiló ou mollejas, de samba, rap ou funk. Ou do Piazzolla ou do Chico Buarque. Ou do Paulo Coelho ou do Machado de Assis. Algum trauma deve ter ocorrido em nossos tenros dias. Só pode ter sido isso. Ou então a psicanálise não tem sentido.
De qualquer forma, é triste ver um marmanjo consultando uma psicanalista para saber por que não gosta de futebol.

terça-feira, 29 de junho de 2010

ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA

É ASSIM QUE SE FAZ UM MINISTRO
João Eichbaum

Ministro do Superior Tribunal de Justiça. Bah, um nome pomposo, uma denominação que transpira poder e inspira medo. Ministro. Quando o ministro chega, há sempre um monte de puxassacos que se adiantam para cumprimentá-lo com humildade, reverência e temor. Chegou sua excelência, cuja presença enche com o poder qualquer ambiente.
Então, ser ministro do Superior Tribunal de Justiça não é pouca coisa. E poucos chegam lá.
Sabem porque? Porque nem todas as pessoas, nem todos os bacharéis em direito querem abrir mão de uma qualidade pessoal que os distingue: a personalidade.
Quem ler a entrevista do candidato gaúcho ao cargo de Ministro do Superior Tribunal de Justiça, o desembargador Paulo de Tarso Sanseverino, na ZH de hoje, compreenderá o que eu digo.
Na entrevista, o desembargador omite que teve que se candidatar ao cargo. Sabe, quando, na sala de aula, a professora pergunta: quem é que me ajuda a apagar o quadro negro, e uns três ou quatro, os mais salientes, se adiantam, porque nunca perdem oportunidade de aparecer?
Pois é, para ser ministro, o cara tem que se adiantar: eu, aqui, eu aqui...levantando o dedo.
Bom, aí, conta o desembargador Sanseverino que o nome dele consta da lista tríplice em razão de um “acordo político dentro do STJ”. Quer dizer, rolou um conchavo, os ministros escolhendo afilhados: vota no meu, que eu voto no teu. (eu disse vota, não bota)
Com o desembargador gaúcho foram escolhidos mais dois, um paranaense e um pernambucano. A lista, com o nome dos três, irá para a presidência da República, que atualmente está sendo ocupada pelo ex-torneiro mecânico Luiz Inácio que, casualmente, é pernambucano, mas precisa dos votos dos gaúchos para eleger a Dilma.
Então, assim, ó: um ex-torneiro mecânico é que escolherá o ministro.
Agora é que são elas, e o candidato gaúcho não se peja de confessar que está acendendo uma vela para cada santo, a fim de conseguir que o ex-torneiro mecânico o escolha: está “articulando” com a OAB, a Procuradoria da Justiça, a Procuradoria do Estado, o Tribunal Regional Federal, ou como diz ele mesmo “envolvendo toda a comunidade jurídica, ministros, políticos”. E arremata, para espanto de todos nós: “agora estamos buscando obter o apoio da área empresarial e dos sindicatos.
Tudo vale, para ser ministro. É claro que os outros candidatos estão fazendo a mesma coisa, isto é vendendo a alma ao diabo e rezando, ao mesmo tempo, pedindo a Deus. Tudo vale, até sindicato tem força para fazer um ministro.
E aí, sei que vocês vão perguntar: mas o escolhido não vai ficar devendo favores pra todo o mundo?
Claro que vai, meus amigos. Independência? Imparcialidade? O que que é isso para quem é obrigado, por vaidade, a abrir mão de sua personalidade?
Nessa lista de santos e diabos para os quais os candidatos a ministro estão acendendo velas não entra o povo. O povinho, sabe? Aquele cujas causas nunca chegam ao STF ou, se chegam, não dão em nada.
Agora vocês entendem porque é que os ricos e os poderosos nunca vão para a cadeia?

segunda-feira, 28 de junho de 2010

COM A PALAVRA, HUGO CASSEL

BRUCUTU

As pessoas da minha geração, devem lembrar de um personagem de história em quadrinhos com o nome de Brucutu.No Exercito Brasileiro existia um carro de combate blindado com esse apelido, usado em missões onde era preciso usar um pouco mais de “força de persuassão” no controle de agitação publica.
Com esse perfil existem também pessoas.Uma delas é o treinador da seleção nacional.
A diferença é que no veículo militar, a ação é comandada por seres humanos treinados e com plena noção dos limites e dos efeitos de sua ação.Conheço Dunga desde muito jovem, eis que nos meus 81 anos, muitos deles passei envolvido com imprensa esportiva e administração de clubes esportivos de várias modalidades.Cinco Copas Mundiais.Vi jogar uma geração de craques que mereceram de fato, assim serem chamados.Garrincha,Pele,Ademir da Guia,Nilton Santos,Falcão,Tesourinha, e dezenas de outros que fizeram a história do futebol não só no Brasil, como no mundo inteiro.Por dever de oficio procurei observar sempre as normas comportamentais dentro e fora das quatro linhas.lamentavelmente Pelé,Falcão e alguns poucos outros se destacaram na vida, depois das glorias obtidas.O numero daqueles que naufragaram é muito maior.
Entre a razão e a emoção,o desconhecimento de si mesmo e insegurança sobre sentimentos conflitantes interiores, levaram muitos a arranhar sua imagem de ídolos.Na minha opinião Dunga um homem inseguro e carente.Isso o torna agressivo, quando se julga atacado.Esse é o seu geitão de “se defender”,batendo primeiro.
Na semana passada foi assim. Agrediu com palavrões um repórter que nem tinha ainda participado da entrevista.Esqueceu que ali na pessoa dele estava o Brasil, assistido pelo mundo todo.Depois pediu desculpas.Não ao jornalista agredido com palavras de baixo calão, mas “ao povo brasileiro”.Endereço errado.
Antecipando seja o que for já declarou que depois da Copa perca ou ganhe larga tudo.Certamente vai saborear sua vingança ao não convocar Ronaldinho Gaucho pelos dois “balõesinhos” tipo,”vai indo que eu vou depois”,que levou do dentuço no primeiro grenal que jogou depois de ser campeão do mundo.
Com tudo que alega que seu pai lhe ensinou Dunga não aprendeu e não vai mais aprender que o futebol atual é uma industria que movimenta bilhões no mundo inteiro com patrocinadores,clubes, seleções , jogadores imprensa ,torcidas, todos os segmentos da sociedade e muitas vezes até política nacional e internacional, e que ele faz parte disso, apenas como uma parte que não é mais importante como ele parece pensar que é.
É pena.O Brucutu da historinha, também pensava com o fígado.

COM A PALAVRA, HUGO CASSEL

sexta-feira, 25 de junho de 2010

CRÔNICAS IMPUDICAS

COPA DO MUNDO (II)
João Eichbaum

Falei outro dia que a seleção brasileira me causa indiferença – principalmente essa, formada por mercenários, que ganham milhões na Europa, não jogam lá essas coisas, e vivem muito mais o espírito europeu do que o brasileiro.
Mas, hoje, vou torcer pela seleção brasileira, apesar do Daniel Alves e do Júlio Batista, que não jogariam no meu time, de jeito nenhum, a não ser de goleiros, se faltasse gente e não tivesse nenhum guri por perto, para preencher o “quorum”.
Bom, porque vou torcer pelo Brasil?
Não por ser brasileiro, mas porque detesto português. Eta povinho miserável! Vieram aqui, derrubaram nossas matas, levaram o nosso ouro, o nosso pau-brasil, comeram as nossas índias e, quando se cansaram delas, trouxeram as negras da África, escravizaram aquela pobre gente, enfim, não fizeram merda nenhum que prestasse, e que nos enchesse de orgulho, pela linhagem.
Olhem o povo do norte e do nordeste! Coitados, são os descendentes diretos dos portugueses, dos quais herdaram a lassidão e a falta de iniciativa e só sabem aproveitar a vida, quando tudo se torna fácil, quando, por exemplo, entram para a política, como o Sarney, o Lula, o Calheiros, ih, tantos outros...
Olhem os do sul! Olhem para nossas belas mulheres, descendentes de alemães, italianos, suíços. Quem é que realmente brilha? Gisele Bündchen, Sirlei Malmann, Ana Hickmann, por aí afora. Alguma Silva? Oh, aqui oh!
E a nossa indústria! Ai de nós se não fossem os imigrantes empreendedores!
Portanto, amigos, Portugal fora! Torço até pro Grêmio, se ele jogar contra Portugal.
Só me perdoem, em caso de derrota. A culpa será do pé frio aqui.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

A ESTUPIDEZ AVANÇA

Comentei há pouco que fanatismo em futebol era coisa de país pobre. Vários leitores me alertaram para os hooligans da Itália, Espanha e Inglaterra. Ok! Terá sido a eles que se referia Orwell, quando dizia que o futebol é o princípio da guerra civil.
Mas hooliganismo é fenômeno que antecede o futebol. O termo surgiu em meados da década de 1890 - quando foi usado para descrever o nome de uma gangue de rua em Londres – e foi cunhado por um jornal londrino em 1898. A transferência do fenômeno para o futebol é relativamente recente, dataria dos anos 60 do século passado.
A palavrinha já constava de livros de Conan Doyle e H. G. Wells, de inícios do século XX. Quer dizer, antes de ser futebolístico, o fenômeno é britânico. Na Rússia tem outra acepção. Se refere a desordeiros em geral ou dissidentes políticos. Quem não lembra de Mathias Rust, o jovem alemão que, voando de Hamburgo, atravessou a defesa aérea soviética, conseguindo aterrar na Praça Vermelha ao lado do Kremlin, em 28 de maio de 1987, com dezenove anos de idade? Eu lembro, e como. Recebi a notícia numa madrugada em que perambulava por Madri, e me diverti imensamente. Pois bem, Rust foi acusado de hooliganismo.
Não, não me refiro à violência das torcidas quando falo em fanatismo. Isso sempre existirá em qualquer parte do mundo. Me refiro, isto sim, a esta mania nossa de todo mundo vestir-se de verde e amarelo nos dias de copa. De buzinar e berrar e soltar foguetes durante os jogos. Vivi pelo menos dois períodos de eventos futebolísticos na Europa e não vi nada disso.O primeiro foi a Copa de 78, quando eu vivia em Paris. Algumas televisões nos bares, franceses torcendo com discrição. Quando jogavam os azuis, discretas manifestações de apoio, tipo “allez, les bleus”, “c’est bon!”, “c’est bon ça!” Não ouvi foguetes nem buzinas nem gritarias. Nem franceses uniformizados.
O segundo foi em 2000, durante uma Eurocopa. Caí em Oslo em um feriadão. Fui comer em um boteco imenso, em meio a uma praça e encontrei, para minha surpresa, oito telões. Com futebol, é claro. A impressão que tive é que tinha chegado ao Brasil. Mas os noruegueses não faziam escândalos a cada gol, nem estavam fantasiados de noruegueses. Na ocasião, passei por mais quatro países e nada vi que cheirasse a fanatismo. Ou seja, futebol naquelas bandas não é a pátria de chuteiras.
O legado perverso das copas, que noto na Europa, foi a televisão nos cafés. Chegaram durante os jogos e foram ficando. Seja como for, o norte é sempre mais civilizado. Enquanto a televisão está se tornando onipresente no sul do continente, nos países nórdicos é mais rara.
Falei também desta mania nossa de decretar feriado a cada jogo da seleção. Um leitor me adverte que “a idiotice é uma doença mundial. Em qualquer telejornal é possível ver cidadãos em Paris, Roma, ou em outras cidades da Europa vestindo as cores dos seus times ou enrolados com bandeiras. Quanto a liberar funcionários, uma amiga uma vez contou que, quando fazia mestrado em Stuttgart, as aulas eram suspensas nos dias em que a Alemanha jogava, as repartições e lojas fechavam e apenas os bares permaneciam abertos, com muita cerveja e grandes telões para transmitir os jogos”.
Cá entre nós, nunca vi gente enrolada em bandeiras nas ruas das cidades européias. Que estejam enroladas nos estádios se entende. Quanto à Alemanha, consultei boa amiga que vive em Berlim há mais de trinta anos e ela me respondeu:“Muitas coisas mudaram na Alemanha nos últimos anos, inclusive em relação ao comportamento durante a copa do mundo. Diria que os alemães estão mais descontraídos e tem mais coragem de mostrar suas paixões. Os restaurantes e bares todos tem uma televisão ou telão ligado durante os jogos, às vezes sem som, mas onde podes dar uma olhada enquanto comes. Virou moda, como no Brasil, assistir os jogos em comunidade em lugares abertos ou cobertos. “Existe um enorme telão na frente do estádio olímpico onde 300 mil pessoas podem assistir ao jogo. Estão montando mais um telão na frente da porta de Brandengurgo e vão fechar a Avenida 17 de Junho para os próximos jogos. Há também mais descontração em relação aos horários de trabalho e escolas. Os colégios secundários dispensaram os alunos às 13:00 horas quando a Alemanha ia jogar às 13:30. Neste dia meu filho foi dispensado de ir de terno e gravata ao seu trabalho e o chefe assistiu com os empregados ao jogo, mas depois se voltou a trabalhar novamente.“Quer dizer: pode-se em alguns tipos de trabalho dar uma olhada no jogo, não há dispensas e os serviços públicos continuam a funcionar, mas procura-se não fazer uso deles. Ainda assim acho que nos bancos alguém pode dar uma olhadinha na internet. Quando a Alemanha joga às 20:30 a cidade já está vazia meia hora antes e posso afirmar que a metade da população está na frente dos grandes telões distribuídos em todos os bairros”.
Ou seja, a estupidez se universaliza. Volto àquela pergunta de um filme cujo nome não lembrava e um leitor informou-me ser Invasores de Corpos - Invasion of the Body Snatchers - de Philip Kaufman:
- Fugir para onde?

quarta-feira, 23 de junho de 2010

CRÔNICAS FUTUROSAS

FIBRILAÇÕES MENTAIS
Paulo Wainberg



INTRODUÇÃO

“Após o Grande Vírus, boa parte dos registros foram adulterados, razão pela qual a precisão histórica fica prejudicada.
O seguinte relatório só foi possível graças a resíduos de um material antigo, chamado ‘papel’, em que letras impressas formavam palavras que, aparentemente, davam sentido aos pensamentos.
Felizmente hoje não precisamos mais disto.”
Ass.: O Historiador.

O Brasil ganhou seu décimo campeonato mundial na Copa de Helzinski, a primeira disputada no gelo, em 2042. Na condição de único país participante de todas as Copas, coube ao Brasil a honra de abrir a competição no Monumental de Reikjawik, numa homenagem da FIFA à Finlândia e demais países nórdicos.
Algo assim.
Após aquele mundial, a FIFA assumiu de direito o que exercia de fato há uma década, quando a última ditadura desapareceu: o Governo Mundial.
Foi inusitada, para aqueles conturbados tempos, a queda da ditadura da Coréia do Norte, remanescente dos governos autoritários, desde quando a família Castro enjoou do poder, em 2028, e seu representante da época mandou os cubanos literalmente à merda, num discurso de doze horas e meia em que contou a história da revolução, desde 1959, detalhadamente, exortando seu avô e seu pai com grandes heróis, salvadores da Humanidade, tanto que, graças a eles fora possível permitir acesso à Internet a todos os cubanos, semana passada.
Quatro e meia da madrugada, ninguém mais assistia à única TV em Cuba, a oficial.
O auditório dava sinais explícitos de impaciência e trezentos cubanos dormiam nos corredores do Palácio de las Convenciones, em Havana, embalados pela voz pausada, suave e tranquilizadora de El Presidente.
Poucos escutaram quando ele disse que a família Castro estava cansada de cuidar do País há tanto tempo e só ouvir reclamações.
– A la mierda! – declarou Fidel Raul Castro Castrito. – A partir de hoy, pueden elegir su próprio Presidente! Y que Dios tienga piedad de sus almas!
E o povo ululou, enquanto El ex-Presidente dirigiu-se aos camarins, onde refrescou-se com espumante e fumou um charuto cubano dos bons.
Como última ditadura do planeta, sob a mão de ferro de Park Liu Park, a Coréia do Norte aguentou-se mais dez anos, sempre ameaçando a Coréia do Sul e os Estados Unidos com seus testes nucleares.
Naquele sábado chuvoso de fevereiro de 2038, às onze horas da manhã, o Comandante em Chefe das Forças Armadas Coreanas do Norte, Liu Park Park deu a ordem de invasão.
E foram com tudo, Marinha, Exército, Aeronáutica, mísseis nucleares armados e apontados, rumo à Coréia do Sul que, totalmente desprevenida, entregou-se como vaca ao touro.
Entrou pisando firme no Palácio do Governo, sob o olhar atônito de funcionários sul-coreanos então ocupados com suas burocracias, o Comandante em Chefe, trajando uniforme de gala, invadiu o gabinete de Park Park Liu, o Premier, e depôs sua espada de cabo de ouro e lâmina de aço aos pés dele:
– Premier, venho apresentar nossa rendição!
– Como é que é? – duvidou o estupefato baixinho (dizem os registros que Park Park Liu tinha um metro e trinta de altura).
– Estamos nos rendendo aos nossos irmãos da Coréia do Sul.
– Mas...
– A grande República Democrática da Coréia do Norte se entrega, Premier! Desistimos do ideal socialista porque nosso povo quer tênis adidas nos pés, carros esportivos nas mãos e pizza na mesa. Ah, e assistir futebol ao vivo na televisão.
– Mas....
– Nem mas nem menos, ó grande líder Park Park Liu. Eu, Liu Park Park, Comandante em Chefe das Forças Armadas da República Democrática da Coréia do Norte, deposito aos seus pés a Sagrada Espada Fu-Num-Fu do Poder. Com este gesto simbólico declaro que nossas Forças Armadas e nosso arsenal de armas, inclusive as nucleares, agora pertencem à Coréia do Sul.
Estarrecido e atônito, Park Park Liu, o Premier, olhou para a Sagrada Espada, sinistramente pousada aos seus pés, no piso de madeira brilhante do gabinete. Abaixou-se, com mãos trêmulas segurou a arma e a colocou sobre a mesa, dizendo para Liu Park Park:
– Um minutinho só.
Em seguida pegou o telefone vermelho e entrou em contato com Park Park Park, o Presidente do País, comunicando o acontecido.
Em menos de uma hora o mundo inteiro exultava. A última ditadura caíra, a última ameaça à Humanidade desaparecera.
– Exijo tratamento de prisioneiro de guerra, conforme a Convenção de Genebra – finalizou Liu Park Park, pondo fim à reunião.
E foi assim que, em menos de duas horas, a Coréia do Norte invadiu a Coréia do Sul, tomou conta do País e se rendeu.
O ditador da Coréia do Norte, num inflamado discurso perante as emissoras oficiais, exortou o povo à resistência.
A gargalhada foi ouvida a quilômetros.
Na semana seguinte a Coréia do Norte transformou-se no bairro pobre da Coréia do Sul que adotou o nome de Duas Coréias.
Em dez dias as multinacionais, quais formigas vermelhas sobre o carnegão do furúnculo, assumiram as coisas. A mídia mundial mostrava a população norte-coreana, principalmente os idosos mais velhos, com seus sorrisos desdentados, tomando coca-cola e comendo cachorros-quentes e xisburguers com ovo, pela primeira vez na vida.
Feliz da vida, a ONU passou a encarregar a FIFA de resolver discórdias internacionais.
Quando havia uma discussão sobre, por exemplo, a criação de barreiras para importação e exportação de determinados produtos, o caso era encaminhado para a FIFA que designava uma melhor de três entre as respectivas seleções nacionais, ida e volta e o desempate em campo neutro. Caso persistisse o empate em todos os critérios, prorrogação e pênaltis.
A seleção vencedora dava ao seu país o ganho de causa.
Cada vez mais a ONU usou desse expediente que a FIFA executou, com todo o prazer.
O resultado imediato foi que os países desviaram suas energias e os bilhões de dólares empregados na indústria bélica para a formação de jogadores de futebol, formando seleções cada vez mais fortes.
As organizações terroristas foram dizimadas pelos próprios adeptos que preferiam muito mais uma boa partida de futebol do que explosões de pessoas em supermercados, metrôs e aviões.
Lentamente, o mundo acostumou-se com a nova Ordem.
Quando o capitão Capita Carlos Alberto Quinto ergueu a taça FIFA e piscou marotamente o olho para o técnico Zagallo Décimo Terceiro, a ONU se auto-dissolveu e entregou o comando definitivo do mundo à FIFA.
Inspirada no modelo legislativo da Seleção decacampeã do mundo, a FIFA editou sua primeira medida provisória: Fica definitiva, perfunctória e peremptoriamente proibida a utilização de recursos eletrônicos para ajudar o árbitro da partida.
E não se discutia mais!
Na exposição de motivos do Comitê do Caderno de Encargos, explicou-se que o erro de arbitragem e, até mesmo o roubo, fazem parte do futebol. Que, conforme pesquisa do Ibope Internacional, as pessoas passam dois terços de sua vida útil (Nota do Historiador. – Naqueles tempos a média de vida era de apenas cento e vinte anos) discutindo se foi ou não foi pênalti, se o cara estava impedido, se o caso era para cartão amarelo ou vermelho, se o bandeirinha estava comprado pelo adversário e outras incidências do jogo, sobretudo a honra do árbitro. Que, caso eliminassem o erro e/ou o roubo, mediante análise dos lances confusos através de replays de televisão postas no campo à disposição da arbitragem, sobre o que falaria a Humanidade durante cerca de oitenta anos de vida?
Cabia à Assembléia Geral da FIFA elaborar os textos e as exigências do Caderno de Encargos, que envolviam desde as exigências urbanas sobre obras estruturais, construção e reformas de estádios, tráfego de planadores individuais, construções de mais andares subterrâneos de metrô, até normas de comportamento, direitos e obrigações dos cidadãos, leis penais, civis e comerciais.
Após cinco meses da instalação da nova Ordem, o Caderno de Encargos era constituído de sete mil e oitocentas páginas divididas em vinte volumes holográficos.
Outra decisão definitiva foi proibir que questões internacionais fossem decididas através de competições oficiais da FIFA, como Eliminatórias da Copa do Mundo, a própria Copa do Mundo, Copa das Confederações e várias outras. Os conflitos pontuais exigiam jogos inter-seleções pontuais. No parágrafo único, ficava determinantemente proibida a manutenção de seleções nacionais permanentes.
As datas FIFA e os prazos de treinamento eram rígidos.
Por fim e para o que interessa, determinou que, em qualquer hipótese, as seleções nacionais seriam formadas apenas por jogadores atuando nos respectivos países. Com isto evitava, a entidade suprema, o aliciamento, a compra e a naturalização oportunista de jogadores de futebol.
Os países membros, adaptando-se à nova Ordem, modificaram suas estruturas políticas: os prefeitos, governadores e presidentes da república eram indicados pelos clubes de futebol, desde que fizessem parte da diretoria, e eleitos pelo voto direto dos respectivos associados.
Não havia mais necessidade de vereadores, deputados e, supremo avanço da época, de senadores!
O benefício de tal normativa foi que as discussões sobre qual time tinha a maior torcida acabaram, porque a maior torcida era a que elegia seus representantes.
Foi assim que Richard Teixeira The Fourth, bisneto de Ricardo Teixeira o Primeiro, Presidente permanente da Confederação Brasileira de Futebol, tornou-se Presidente da República e, como tal permaneceu até o fim dos seus dias, sendo sucedido por seu filho Richard Teicherth the Fifth.
Logo a seguir da FIFA no Poder instalou-se no Planeta a única e possível guerra: a dos patrocínios.
As seleções mais tradicionais eram cobiçadas e disputadas pelas grandes companhias, cabendo às companhias de menor porte a disputa pelas demais seleções.
A questão gerou o então conhecido efeito dominó, atingindo os clubes de futebol da primeira, da segunda e da terceira divisão, e pequenos rescaldos no futebol de várzea.
O benefício econômico e o crescimento do PIB mundial foi óbvio, decorrência lógica da chamada Guerra Branca: as companhias menores faziam de tudo para se transformar em companhias maiores, portanto cresciam. E as companhias maiores faziam de tudo para não perder o status, portanto também cresciam.
A Assembléia Geral da FIFA determinou que a Terra teria uma nova e única moeda, com o mesmo valor, o Soccter, pondo fim à especulação financeira, ao mercado cambial e valorizando astronomicamente a Bolsa de Valores.
A FIFA queria que a moeda se chamasse Soccer mas o redator do texto tinha péssimo sotaque e, ao digitar, errou. Quando Joseph Avelange Blesther Oitavo, Presidente plenipotenciário da FIFA se deu conta, era tarde.
Mudar a moeda era incogitável, seria um sinal de fraqueza cujas consequências o mundo não estava mais preparado para enfrentar;
O mundo viveu em paz por décadas e as únicas notícias de tumultos referiam-se à discussão e troca de sopapos entre jogadores, no calor da refrega. Ou da peleja.
Alguns árbitros e bandeirinhas recebiam empurrões e ouviam palavrões de dirigentes, nada demais, nada que não fosse inerente ao jogo.
Quando, finalmente, graças à tecnologia e à ciência, a Humanidade atingiu o presente estágio, as partidas de futebol passaram a ser jogadas mentalmente e, aos poucos, normas e leis foram dispensadas.
Alguns, antigos, reacionários e conservadores, utilizam os antigos aparelhos e passam replays de jogos velhos, onde se pode perceber claramente o horrível contato pessoal e indícios da terrível barbárie.
Felizmente, isto é História.


EPÍLOGO e AGRADECIMENTO

O Historiador agradece ao incentivo que recebeu de seus amigos e familiares, especialmente sua mãe que, ao ler este trabalho declarou, com seu belo sorriso: – Está muito bom, meu filho.
E realizou este trabalho graças ao patrocínio de João Tex, o que garante proteção total.
Envolva sua mente com João Tex e gargumilhe em paz.

HAROLDO VIGÉSIMO PRIMEIRO

SkyLab XXXV, 18/06/2098

terça-feira, 22 de junho de 2010

COM A PALAVRA, HUGO CASSEL

DRAMAS

Dramas e comedias acontecem a toda hora e todos os dias em todos os lugares.Não deixam acontecer portanto numa Copa do Mundo. Jogadas bizarras e caretas, lesões, temporárias, permanentes e até mortes já aconteceram.Pode consagrar um atleta como pode estigmatiza-lo para sempre como aconteceu com Bigode na Copa de 50, ao “entregar” aquela bola.
Nesta Copa ainda em seu inicio já tivemos um drama que foi a falha do goleiro Green da Inglaterra, tomando um gol que pode fazer imensa falta, e mesmo que não faça ainda assim marcará para sempre a carreira dele. Por coincidência outro goleiro inglês, Gordon Banks marcou para sempre seu nome na história do futebol, de forma positiva ao defender de forma fantástica a cabeçada mortal de Pelé na Copa do Mexico em 70.
Com mais de meio século envolvido com futebol, e conhecendo a posição em que joguei por tantos anos, é que resolvi escrever sobre essa figura que trabalha em um lugar onde nem a grama resiste. Aí vai o poema:”O Goleiro”:
Compacta multidão histérica, no verde retângulo projetando vozes,
cintilações fugazes na policromia,
pequeninos pontos a correr velozes.
]Dilatadas orbitas no afã hercúleo,
de comandar a rota da pequena esfera,
enquanto estático e desamparado,
solto no espaço o goleiro espera.
Satélite branco com destino certo,
buscando a méta final da trajetória,
já nada impede o fatal transpasse,
e a massa gesta um grito de vitória.
Porém do nada surge num lampejo,
Ícaro estranho que estendendo o braço,
na colisão côa esfera em pleno espaço,
transforma o grito em doloroso arquejo.
Vilão maldito, Herói pagando tanto,
pelo vil direito que lhe cobram,
de chorar sosinho quando todos riem,
de sosinho rir, quando tantos choram.

VUVUZUELAS-É lamentável a decisão da FIFA de permitir apesar das reclamações, o prejuízo auditivo causado pela tal corneta africana, que não quer dizer absolutamente nada e prejudica também o jogo dentro do campo.Lembro ainda outro problema:Os bilhões de perdigotos soprados na cara das pessoas, é uma festa para o vírus HINI, num país que já é o campeão mundial de AIDS.A OMS devia agir.

BASTIDORES-Alguns Boletins e Ordens do dia, que circulam nas forças armadas,dão uma idéia do que pode vir a ocorrer contra essa disparada comunista do governo Lula:...Um trecho do Brigadeiro Ivan Frota:”Esperamos pois que o esforço denodado de todos, funcione como o bastião de defesa do nosso Estado Democrático de Direito,impedindo que idéias totalitárias já ultrapassadas, venham trazer sofrimento para nosso povo”-

PARADA GAY-Ao mesmo tempo em que agradeço as inúmeras mensagens de apoio à minha crítica sobre os exageros pirotécnicos da “gayolandia” brasileira,transcrevo a opinião de José Nestor Klein de Porto Alegre, publicada em ZH:”A propósito da Parada Gay,as esquerdas,por meio da “Revolução Cultural”,visam libertar a sociedade dos dogmas da moral.Tentam abalar o instituto familiar em sua estrutura jurídica e mina-lo em seus fundamentos morais.Mas perdida a moral,estaremos lançando pontes para a destruição do que resta de nossa civilização”-Assino junto.

IGNORANTE-Sarney disse que “não sabia” da nomeação de mais 1500 funcionários para o Senado.Não sei porque essa gente “esconde” as coisas de Lula e Sarney!

CANDIDATAS-Visitar países da Europa, acompanhadas de assessores para “fazer o que” parece ser uma praxe do PT.Antes foi a Senadora Ideli agora foi Dilma.Tudo por “conta da viúva” e de “nóis” Eta trem bão né Dirma? Diria um mineiro.

PIRIQUITO-Senhor Prefeito. Em tempo de Copa do Mundo, porque não marcar um “golaço” com Antena Digital no Cristo Luz? Joinville já tem e nossa cidade ?

segunda-feira, 21 de junho de 2010

CRÔNICAS IMPUDICAS

COPA DO MUNDO
João Eichbaum

Não chego a torcer contra a seleção brasileira, mas o meu entusiasmo por ela tem a temperatura de uma pedra de gelo. Por uma razão muito simples: sou do tempo em que se jogava futebol, o verdadeiro futebol, aquele que tem como finalidade o gol e não o anti-futebol, traduzido por um amontoamento de jogadores no meio de campo, para evitar o gol.
A Fifa era, naquele tempo, uma entidade exclusivamente esportiva, como era a CBF (Confederação Brasileira de Futebol). O único interesse que predominava era de cunho esportivo.
Então, a Fifa era pobre, poucos eram os países filiados a ela. Por isso mesmo, eram poucos os países que participavam das Copas e os jogadores que compunham as seleções eram jogadores que jogavam dentro dos respectivos países.
Foi assim até 1972, quando o Brasil se consagrou bi-campeão. Depois, aos poucos, os conceitos e os valores foram mudando, à medida que a tecnologia foi dotando a televisão de um poder sem limites. A Fifa deixou de ser entidade esportiva, para se transformar num empreendimento lucrativo que reparte gordos dividendos entre seus mandantes e os mais chegados. Ela faz qualquer negócio, desde que resulte muito dinheiro, negocia com as redes de televisão, com as multinacionais dos artigos esportivos, com quem quer que lhe traga lucro. E, sobretudo, trata de expandir os seus domínios, filiando países que jamais tiveram qualquer tradição em futebol.
Mas, o grande negócio mesmo envolve os jogadores, as “estrelas” que são patrocinadas pela publicidade de grandes empresas, tomando conta dos “out doors” espalhados pelo mundo inteiro. E para que essas “estrelas” possam estar em evidência, têm que ser convocadas pelas respectivas entidades representativas do futebol. Isso dá lucro: para as empresas e para os demais envolvidos na formação das seleções.
Hoje, a seleção brasileira só tem jogadores que jogam no exterior, onde ganham milhões, e estão se lixando para o Brasil. O país deles é o país que os acolhe. Lá eles fazem amigos, que são seus companheiros de equipe. Ora bolas, por que irão “suar a camiseta” contra amigos com quem, terminada a copa, voltarão a conviver no dia a dia?
Enfim, o futebol, hoje é negócio: para os jogadores, para seus patrocinadores, para a Fifa, para a CBD, para todos quantos fizerem o jogo das multinacionais. O que domina o futebol é o dinheiro.
Enquanto isso, o povinho, vestido de verde e amarelo, chora, berra, se exalta, se espreme, reza, aperta entre as mãos o judeu crucificado, babando por um gol da “gloriosa” seleção brasileira, como se fosse esse o único problema da sua existência.
Nos dias de Copa do Mundo, não se fala de outra coisa. Todo mundo, mesmo quem não entende de futebol, é obrigado a viver esse clima. Bancos, repartições públicas, poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, escolas, mudam seus horários, e não há como ignorar o evento, pois a nossa rotina é determinada pelo futebol.
E quem gosta do verdadeiro futebol tem que aguentar uns pernas de pau fazendo gol contra, de canela, ou de meia virada, depois de ajeitar a bola com o braço esquerdo e o braço direito, assim fez o Luís Fabiano, da seleção brasileira, ontem. Porque, afinal, para a Fifa o que importa é o lucro, e não futebol como espetáculo esportivo.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

EU, DIREITISTA RAIVOSO

De quatro em quatro anos, vivo meus dias de inferno astral. São os dias da Copa. Não que eu abomine futebol. Considero um esporte estético, dinâmico, inteligente. O que me desagrada é o que vem junto. Futebol seria civilizado se um torcedor aplaudisse uma boa jogada do time adversário. Isso não acontece. Futebol traz à flor da pele os mais baixos instintos da plebe: facciosismo, fanatismo, agressividade, violência e o pior de todos, patrioteirismo. O futebol é início da guerra civil, escreveu George Orwell.
O que me desagrada é a identificação de futebol com nação. A seleção é a pátria de chuteiras, dizia Nelson Rodrigues. Pátria de chuteiras para países subdesenvolvidos. Em país decente, é apenas mais um esporte entre outros. Nestes dias, quando saio na rua e vejo gente uniformizada de verde e amarelo, sinto vergonha de ser brasileiro. Mas que se vai fazer? Meu passaporte é brasileiro e só me resta sentir vergonha.
Ontem, fui almoçar em um restaurante francês, do qual gosto, além de razões culinárias, por não ter televisão. Lá fugirei das massas, pensei. Santa ilusão! Quando vi os garçons com lenços verde-amarelos atados na cabeça, lembrei de um antigo filme, cujo título já não recordo. Alienígenas invadem a terra e começam a tomar o corpo dos terráqueos. O herói se insurge contra a invasão mas não consegue contê-la. Quando o planeta está totalmente dominado, ele diz à sua companheira: "Vamos fugir para algum lugar onde eles não tenham chegado". Ela, já com a voz rouca dos contaminados, pergunta: "Para onde?"Não há para onde fugir. Nem mesmo ficando em casa.
Sou avesso às grandes datas em que todo mundo confraterniza, como Natal e Ano Novo. Mas nestas datas, pelo menos meu silêncio não é perturbado. Nas Copas, é. Não há como escapar das cornetas e foguetes. Por isso, sempre torço nas Copas. Para que o Brasil seja eliminado no primeiro jogo. Assim se tem um pouco de silêncio no mês. Mas torço em vão. Para mim, pior que Natal e Ano Novo, só mesmo a Copa.
Dito isto, sempre fui tido como homem de direita. Pelas mais variadas razões. Primeiro, porque não sou nem nunca fui comunista. Para os comunistas, quem não é comunista é de extrema direita. Segundo, porque além de não ser petista abomino o PT. Para um petista, quem não é petista só pode ser de direita. Terceiro, porque não tenho papas na língua na hora de condenar ditaduras comunistas. Quarto, porque não considero Fidel nem Che libertadores do continente, mas operosos assassinos. Quinto, porque não hesito em afirmar que Francisco Franco salvou das garras de Stalin não só a Espanha como também a Europa. E por aí vai.
Hoje, surpreendentemente, descubro que sou de direita... porque não gosto de Copas. Leio no Estadão que vários comentaristas norte-americanos estão atacando a popularização do esporte no país, dizendo que se trata de uma modalidade esportiva "de pobre", coisa de sul-americano, resultado da crescente influência dos hispânicos no país e ligado às "políticas socialistas" do presidente Barack Obama.
Glenn Beck, o mais famoso comentarista conservador da Fox News, compara o futebol às políticas de Obama. "Não importa quantas celebridades o apóiam, quantos bares abrem mais cedo, quantos comerciais de cerveja eles veiculam, nós não queremos a Copa do Mundo, nós não gostamos da Copa do Mundo, não gostamos do futebol e não queremos ter nada a ver com isso", esbravejou Beck na TV. Segundo ele, o futebol é como o governo atual: "O restante do mundo gosta das políticas de Obama, mas nós não".
Comentário do redator da Agência Estado, que não assina a matéria: “A Copa do Mundo é a mais nova vítima da raivosa extrema direita dos Estados Unidos”. Mais um adendo em meu currículo. Pertenço à raivosa extrema direita brasileira, que não gosta de futebol. Mais um pouco e serão pichados como direitistas aqueles que gostam de ópera e não de samba, de zarzuelas e não de funk, de csárdás e não de axé.
Fanatismo em futebol é coisa de país pobre, sim senhor. Os países ricos também vibram com futebol, mas neles não vemos essa palhaçada de patrioteiros enrolados em bandeiras ou vestindo as cores do país. Em país rico não há essa canalhice demagógica de liberar funcionários do trabalho em horários de jogos. Muito menos esse zumbido atroador de cornetas e foguetes, típico de retardados mentais. Por que raios se tem de celebrar um gol perturbando a paz dos demais cidadãos?
Fanatismo em futebol é coisa de gente inculta. Ontem, ao voltar do restaurante para a casa, antes de terminar o jogo, vi as ruas de desertas de carros. São Paulo é mais inculta do que parece. Direitista raivoso, continuo minha torcida para que o Brasil caia no próximo embate e o país volte à normalidade.Sei que não estou só. Não poucos leitores participam desta direita raivosa.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

ESSE CIRCO CAHMADO JUSTIÇA

UM TRIBUNAL DE PADRINHOS e AFILHADOS

Felipe Recondo escreveu o seguinte: “ O nome do próximo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) ainda é uma incógnita, mas a banca que dirá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva qual é o melhor candidato para substituir Eros Grau, que se aposenta nas próximas semanas, já está definida. Antes da definição, Lula submeterá os nomes dos possíveis candidatos a cada um deles. Além dos integrantes do governo que naturalmente participam do processo de seleção de um ministro do STF - o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, e Advogado-Geral da União, Luís Inácio Adams -, Lula ouvirá pelo menos quatro pessoas. Por ser sua última indicação para o Supremo, a participação de cada um desses conselheiros do presidente será mais valorizada.Um dos consultados será o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, que participou ativamente de quase todas as indicações feitas para o tribunal por Lula. Foi ele, por exemplo, quem brigou dentro do governo com o ex-ministro José Dirceu para garantir a indicação do atual presidente do tribunal, o ministro Cezar Peluso. Agora, como integrante da cúpula da campanha de Dilma Rousseff à Presidência, terá ainda mais poder de voz na escolha do próximo ministro da corte.Participação. Outro que terá importante participação nesse processo é o ex-ministro do STF e presidente da Comissão de Ética Pública, Sepúlveda Pertence.Foi ele quem apadrinhou a indicação da ministra Cármen Lúcia e antecipou sua aposentadoria para permitir a nomeação de Carlos Alberto Menezes Direito.Sigmaringa Seixas, que já foi convidado por mais de uma vez pelo presidente Lula para integrar o STF, também faz parte do grupo a ser ouvido. Com bom trânsito no governo, na oposição e entre os ministros do Supremo, ele poderá, além de influenciar na escolha, trabalhar pela aprovação do indicado no Senado.Mais discreto que os demais, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Ricardo Lewandowski, será consultado agora, como foi durante o processo de indicação de Menezes Direito. À época, Lula perguntou por telefone a Lewandowski o que achava da escolha.Sem restrição. O ministro não fez qualquer restrição ao nome, ao contrário, elogiou o currículo do candidato apadrinhado por Nelson Jobim, ministro da Defesa, e Gilmar Mendes, ex-presidente do STF.Dentro da Presidência, o subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Beto Vasconcelos, fará mais do que preparar o ofício quando o nome tiver sido escolhido. É ele quem despacha diariamente com Lula os mais diversos assuntos e terá opinião importante também neste processo.Até o momento, vários nomes foram citados como candidatos ao tribunal. No governo, esses nomes são tratados até o momento como mera especulação.O nome mais forte nesse período de especulação era o do presidente do Superior Tribunal de Justiça, Cesar Asfor Rocha. Porém, dentro do governo e entre apoiadores do próprio ministro, sua cotação começa a cair. Se não indicar o presidente do STJ para a vaga, dificilmente escolherá outro ministro daquele tribunal.No pregão para o tribunal, muitos nomes já cotados para outras vagas voltam a ser citados, como do advogado Luís Roberto Barroso. Mas auxiliares de Lula dizem que qualquer especulação neste momento é precipitada.”

João Eichbaum:
E aí eu pergunto o seguinte: dá para confiar num tribunal assim, composto de padrinhos e afilhados, tendo como alicerce os favores? Quem é que acredita nessa lorota da "independência " do Judiciário? Vocês compreendem agora por que só os ricos são absolvidos e ganham causas no Supremo?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

CRÔNICAS INTERNACIONAIS

NENHUM DIA DE PAZ
Paulo Wainberg


Não conheço Israel. Nunca viajei para lá e, talvez, um dia, faça uma viagem turística para conhecer os lugares que tanto imaginei, com base em leituras da História e da Bíblia. E também pelas notícias, referências e informações gerais a que temos acesso.
Sou judeu de nascimento, absolutamente nada religioso (aliás tenho restrições absolutas à religião, qualquer religião), ateu de fé, brasileiro e gaucho, orgulhoso do meu País e do meu Estado, colorado genético e não abro.
Assim, resumidamente, apresento-me com um ser social que não teve qualquer ingerência em suas origens, qualquer escolha sobre sua condição como, aliás, somos todos os humanos, frutos de um atavismo eventual que condiciona nossas emoções e, não raro, destorce nossa razão.
Atrevo-me a dizer que, naquilo que nos interessa e diz respeito, é impossível a imparcialidade e isenção, qualidades aplicáveis apenas quando tratamos dos interesses alheios.
O melhor exemplo com o qual conforto meus inevitáveis condicionamentos resume-se a uma prosaica frase: Se eu tivesse nascido na Argentina, acharia Maradona melhor do que Pelé e ponto final!
Com isto quero dizer que somos produtos das contingências e que nossas escolhas pouco influem nas nossas crenças, na nossa formação e nos nosso heróis.
É esta contingência que me coloca na situação peculiar de ser sempre a favor do Brasil, no macro, do Rio Grande do Sul, no micro, de Israel no universal e do Internacional no particular.
Compreendeste, meu bem?
Vou dar uma última dica: se eu fosse filho de árabes, nascido na Hungria e criado em Viena, torceria sempre para os Húngaros no macro, para os Austríacos no micro, e para os árabes no universal.
Esta perfeita e clara compreensão das dimensões humanas me permitem abordar o assunto do qual teimo em me esquivar mas que, às vezes, não dá: A questão árabe-israelense, que vem à tona sempre que algum incidente acontece por lá.
Tenho certeza que seu eu fosse coreano, não estaria preocupado e poderia tratar da questão com a melhor das isenções e imparcialidade. Assim como faço quando me ocupo de questões coreanas.
Israel, como qualquer país democrático, tem suas mazelas internas, suas lutas pelo poder, suas questões ideológicas, o confronto entre esquerda e direita e um processo político natural em que o Governo é o alvo da crítica constante da oposição e a oposição sempre lutando para se tornar Governo.
Acontece lá, acontece no Brasil, acontece no mundo democrático. Felizmente é assim, ao contrário da maioria dos países do mundo árabe em que as questões do Poder se resolvem pela força ou pela fraude.
Quando a ONU celebrou a partilha da Palestina, criou dois países: Israel e o Estado Nacional Palestino. O mundo árabe preferiu não aceitar o Estado palestino e optou por destruir Israel. Se tivessem gasto toda a energia e o dinheiro empregados numa guerra genocida e cruel na construção de uma nação palestina, teríamos hoje, naquela região, dois grande e pujantes países, ricos, desenvolvidos, fraternos.
Porém, a lógica do fanatismo optou pela pior das idéias: Não quero ter e não quero que tenhas.
Resultado trágico é que Israel, à base de muita luta e de muitas guerras invasivas, cresceu, se desenvolveu e adquiriu o status de grande nação, enquanto os palestinos submeteram-se às políticas fanáticas, de cunho irracional e terrorista, sem abrir mão da condição de refugiados, como se isto fosse suficiente para justificar áreas de influência internacional.
Por que isto aconteceu?
O que levou os tiranos árabes, ditadores, xeiques, poderosos barões do petróleo a optar pela destruição e pela guerra? Quais interesses internacionais de natureza financeira e ideológica impediram que os palestinos tivessem, conforme a comunidade internacional através da ONU proporcionava, um País independente?
São questões cujas respostas são até hoje debatidas e, nunca, encontradas ou aceitas. Para cada versão há uma contra-versão, para cada explicação uma contra-explicação.
Resta um fato contra o qual não há argumento, nenhuma versão resiste à simples análise sensorial humana: Israel foi sempre atacado, jamais atacou.
Foi assim quando o mundo árabe atacou Israel tão logo proclamada a república e nas sucessivas guerras que se sucederam, culminando na prática mais cruel e intolerante de todas: o terrorismo.
Nos limites cabíveis da minha razão, obviamente condicionada em parte por meu atavismo, mas não menos racional, na qualidade de observador distante, noto que a chamada opinião pública internacional está em permanente alerta para condenar Israel, independentemente dos fatos.
E, por isto, afirmo que essa opinião pública internacional é parcial e tendenciosa, sempre contra Israel e suas atitudes no conflito, não importam as circunstâncias, não importam as razões.
Por exemplo, depois de ser, por mais de um ano bombardeado por mísseis de longo alcance disparados pelo Hamas, diretamente da faixa de Gaza, Israel reagiu.
Antes de fazê-lo, inundou a faixa de Gaza de panfletos explicativos, advertindo seus cidadãos da iminência do ataque, que buscassem proteção, que se afastassem da área de conflito, coisa rara no mundo das guerras, porque o inimigo, assim como a população, foi previamente alertado.
Não obstante, o Hamas continuou com suas táticas terroristas de ataque e destruição, bombardeando diariamente, varias vezes por dia, o território israelense.
Quando, por fim, Israel revidou, direcionando o ataque às bases do movimento terrorista Hamas, evitando ao máximo atingir áreas populacionais e reduzir o quanto possível a incidência de vítimas civis, a tal opinião pública internacional voltou-se contra Israel alegando a ‘desproporção da força utilizada’.
Vários órgãos de imprensa do mundo interno, inclusive do Brasil, inclusive de Porto Alegre, chegaram ao desplante de minimizar os ataques com mísseis protagonizados pelo Hamas, como coisa de somenos, como mísseis de pouco poder destrutivo, para justificar suas tendenciosas opiniões no sentido de condenar a atitude israelense.
Israel determinou o bloqueio da faixa de Gaza porque por ela, comprovadamente, entravam armamentos de poderoso teor destrutivo, enviados por países árabes, municiando os terroristas do Hamas para os seus ataques solertes ao território israelense.
Certo? Errado? Não sei. Sei apenas que Israel trava uma luta de sobrevivência que a tal opinião pública internacional teima em não reconhecer.
Mais uma vez me pergunto: por que?
Estará a opinião pública internacional a favor da destruição do Estado de Israel, como querem os terroristas do Hamas e o famigerado presidente do Irã?
Aparentemente, sim.
Talvez essa opinião pública internacional não tenha, ainda, absorvido a culpa pelo Holocausto e prefira destruir, de uma vez por todas, o povo para o qual tem que olhar diariamente, sabendo que permitiu o genocídio nazista.
Talvez seja mais fácil, para a opinião pública internacional, exterminar os que, aos seus olhos culpados, os afrontam com a simples existência, pondo fim ao próprio penar, ao próprio sofrimento culpado.
Agora, no mais recente episódio, Israel interceptou um comboio naval, autodenominado de ajuda humanitária, que pretendia furar o bloqueio imposto à faixa de Gaza.
Qual ajuda humanitária era essa? Por que as pessoas querem ajudar os habitantes da Faixa de Gaza que convivem com o grupo terrorista Hamas e o legitimam, em seu território?
Por que, como costuma acontecer no caso de outros bloqueios impostos por nações em ação auto defensiva, não respeitam o bloqueio imposto por Israel como autodefesa, instinto de conservação e preservação do legítimo direito de existir?
Por que as ajudas humanitárias invasivas são, sempre, lá?
Por que as entidades caridosas internacionais não tentam levar ajuda humanitária à Cuba, por exemplo, desrespeitando o bloqueio imposto pelos Estados Unidos àquele País.
Por que a opinião pública internacional não é tão veemente, insistente e operativa em condenar, com eficácia, os governos autoritários, cruéis e sanguinários existentes nos países Africanos e em muitos países asiáticos?
Por que todas as energias postas à afrontar e condenar Israel?
E quando vejo judeus, por razões de política interna, confundirem questões éticas e humanitárias com interesses políticos localizados, condenando ações israelenses de forma peremptória e definitiva, fico muito indignado.
Primeiro porque, como judeus, não têm direito à isenção e à imparcialidade.
Segundo porque parecem não saber que os que querem destruir Israel utilizam cada palavra dita por um judeu contra Israel, como ‘prova’ de suas teses sanguinárias, jogando-as à comunidade e à opinião pública internacional como suprimento ao manancial preconceituoso, tendencioso e, na maioria dos casos, indubitavelmente antissemita, às suas manifestações.
Acho que árabes e judeus podem viver em paz e harmonia como, aliás, vivem na maior parte do mundo civilizado, através das respectivas comunidades.
Porto Alegre e o Brasil são exemplos disto, mesmo que o nosso Governo teime em amparar e apoiar ditadores sanguinários, do porte do fraudulento presidente iraniano, de candidatos à ditadores como Hugo Chaves e Evo Morales, desfazendo, pelas atitudes, as palavras ditas em nome da democracia.
Onde está a opinião pública internacional que não condena o presidente do Irã por negar o holocausto e por pregar a destruição total de Israel?
E que, sob a duvidosa liderança norte americana, lança sanções punitivas por presumíveis ações visando criar armas nucleares, àquele país.
Não esqueçam de uma coisa, isto deve ser dito e repetido até que a opinião pública internacional se dispa dos preconceitos e, pelo menos uma vez, trate da questão com isenção e imparcialidade:
Desde o minuto de sua criação, em 1948, o mundo não concedeu à Israel um único dia de PAZ
Trata-se de um País e de um povo submetido à guerras de destruições, ataques militares e terroristas, sob o acobertamento da ‘opinião pública internacional’ a qual, caso Israel se submetesse, há muito teria sido destruído.
Mais do que fomentar e influenciar para uma paz efetiva e duradoura no oriente médio, a comunidade internacional tem que abandonar seus preconceitos, os fanáticos e oportunistas de ocasião devem ser calados e os povos devem celebrar a Humanidade como o legítimo dom com que a Natureza beneficiou o ser humano

terça-feira, 15 de junho de 2010

COM A PALAVRA, HUGO CASSEL

FIFA

Essa é a sigla que identifica uma das mais poderosas organizações do planeta.não temo dizer que a FIFA é mais poderosa que a própria ONU.é também a mais rica.Alguns países têm desafiado a ONU, mas ninguém se atreve a desafiar ou desobedecer a FIFA.Essa quatro letras podem significar muita coisa:Oficialmente quer dizer algo como FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE FUTEBOL ASSOCIATION . A entidade no entanto só se tornou tão poderosa depois que o brasileiro João Havelange assumiu o seu comando, porque antes dele os países que sediavam a Copa do Mundo, gastavam pouco e ganhavam muito.
Na Copa de 50, no Brasil aconteceram jogos em campos como nos Eucaliptos em Porto Alegre e em Belo horizonte no America que mais parecia um banhado. Ali por sinal ocorreu o maior “crime” que foi a vitoria da seleção americana, composta por estudantes universitários, sobre a poderosa Inglaterra.Nos últimos minutos de uma correria sobre o lamaçal o centro avante americano ao qual faltava um braço, deu um “bico” do meio do campo e a bola traiu o goleiro inglês. Estados Unidos 1, Inglaterra 0.
Lembro este jogo pois nesta Copa da África ,Carlos Simon apitou Estados Unidos e Inglaterra num Estádio moderno que custou milhões de dólares.
E por falar em milhões de dólares e euros, gastos pelo governo na construção de verdadeiros palácios para seu pobre futebol, quero ver o que farão com esses templos depois que terminar a competição e, enquanto milhões de cidadãos morrem de fome e de AIDS. É o caso do Brasil com Copa do Mundo, e Olimpíada,tudo para satisfazer a vaidade de um presidente megalomaníaco.
Com poucos turistas, os africanos terão um monumental prejuízo e pelo que tem visto no Brasil o vexame será igual, eis que é duvidoso o aporte de milhares de viajantes para lugares sem a mínima segurança, sujeitos e assaltos em hotéis, postos de gasolina, seqüestros e balas perdidas. Pode parecer estranho que justo um jornalista de turismo da ABRAJET diga isso mas e preciso reconhecer que com muito menos seria amenizada a fome,melhorada a saúde,as estradas,e a educação. Nada disso porem preocupa a FIFA, pois o dela está garantido, e tem sempre alguém querendo verter sangue suor e lagrimas de seus cidadãos pela honra de sediar uma Copa do Mundo. E pelo jeito não preocupa muito o Presidente Lula, pois acaba de dizer que os 22 bilhões previstos para estádios novos, reformas, e infra-estrutura serão custeados pelo dinheiro publico, ou seja pela “galinha dos ovos de ouro” que é o contribuinte.Os presidentes do São Paulo e do Internacional, bem que poderiam agradecer e renunciar à “honra” de ter jogos em seus estádios, e depois passar anos pagando a conta.
ORGULHO GAY
Quando Deus criou o homem num sopro de sua divindade, repartiu com ele o poder de criar a vida através do espermatozóide que depositado no templo sagrado do útero de uma mulher, garantiria a perpetuação da espécie. Assim não entendo como pode alguém que tem dentro de si esse poder possa sentir “orgulho” em fraudar a vida depositando-a ou recebendo-a numa cloaca imunda misturada com restos putrefatos. E além disso exigir direitos e respeito em exibições publicas que agridem o respeito e ferem o direito de ir e vir de terceiros?Se isso é ser homofóbico então eu sou. Homem pra mim só prá compadre Estou começando a acreditar nas profecias Mayas, e também em Don Bosco, padroeiro de Brasília que disse que naquela região nasceria uma nova civilização. Só não revelou, se boa ou má. Se honesta ou corrupta.Cada um que tire suas conclusões.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

CRÔNICAS IMPUDICAS

DOR DE AMOR
João Eichbaum

E aí, cara, sei que você passou o “dia dos namorados”, na pior, pensando nela, naquela ingrata que lhe bateu o telefone na cara e depois, quando você ligou de novo, simplesmente ignorou a sua chamada. Claro, viu seu número e nome no celular, fez um muxoxo, tipo não to nem aí, e deixou você pendurado.
Você passou praticamente a noite sem dormir, derretido em lágrimas, virando de um lado pra outro, suspirando, ouvindo músicas que lembravam sua amada, aquela que foi sua, na alegria e na tristeza, naquele amor que foi eterno, enquanto durou, como diria o Vinicius.
Você fez tudo o que podia por ela, fez das tripas coração para torná-la feliz, pagou-lhe as contas, presenteou-a com roupas, calçados, levou-a nos melhores restaurantes, mandou-lhe torpedos mil, cheios de amor, cercou-a de carinho e agora leva a maior porrada.
E a dúvida lhe corrói as entranhas, impiedosamente, coitadinho do seu ego: será que ela me amava mesmo? será que não tem outro? será que aquelas festas com amigas, os bares da Cidade Baixa, os bailões de que ela tanto gosta...Hum, será que não foi por isso que você levou cartão vermelho?
E passa na sua cabeça o filme do grande amor que vocês viveram. Foi um doce filme, cheio de esperança e luz, completo em tudo que se pode desejar em matéria de felicidade.
E agora, você aí, sozinho, sofrendo, justamente no “dia dos namorados”.
Meu amigo, não adianta chorar! Ela não vai ver suas lágrimas, nem acreditar que você tenha chorado, se algum dia lhe der chance para um novo encontro e um blá, blá,blá cheio de explicações.
Saiba que tudo isso passa. A ferida causada pelo amor que foi pro beleléu, como toda a ferida, tem cura. Só o tempo consegue o milagre de deixar o passado no seu devido lugar. E mais, agora já é conclusão científica: para apagar a cicatriz da ferida causada pelo amor, nada melhor do que um novo amor. O neurologista Antoine Bechara, da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, esteve em Gramado e fez uma palestra sobre o tema, aconselhando a “reforçar as emoções negativas ligadas àquela ingrata e mudar o foco da atenção, arrumando outro amor”.
Não sou eu que digo. É o doutor.
Portanto, amigo, sacuda a poeira, dê a volta por cima e parta em busca de um novo amor. Claro, a história vai se repetir, mas faz parte: o jogo do amor, como o futebol, não tem lógica, mas sempre tem prorrogação. E pênaltis, naturalmente.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

HISTÓRIA DO FEIO MANFRED
Conto de Tage Danielsson
Tradução do sueco de Janer Cristaldo
Era uma vez um rapaz de 26 anos que se chamava Manfred. Vocês mal podem imaginar quanta pena inspirava. Morava com sua madrasta junto com seus dois malvados irmãos por parte de pai, Knut e Stig-Niklas. Knut e Stig-Niklas vagavam pelas noites e encontravam garotas, mas Manfred jamais encontrava garota alguma, por um lado porque não podia sair, por outro porque seu aspecto medíocre e murcho não chamava a atenção de ninguém. Enquanto seus irmãos gozavam as boas coisas da vida, Manfred tinha de ficar em casa e encarregar-se dos mais pesados trabalhos domésticos, como preparar tele-sanduíches e limpar cinzeiros.
Nessa época o rei organizaria um baile no castelo para casar de uma vez a princesa mais jovem. Tinha um trabalhão com isso, mas enfim, já havia encontrado bons partidos para todas as princesas, exceto para a mais jovem. Não que ela tivesse dificuldades em encontrar candidatos interessados, pois era bela como um dia de primavera e formosa como a estação inteira. Não, o problema era que a princesa era muito exigente. Achava que ninguém lhe servia. E é claro que se alguém joga fora rios de dinheiro e se submete a uma série de incômodos em função de sua aparência e educação, vai querer ser bem pago por seu trabalho.
O rei iria então dar um baile, e todos os sedutores rapazes de boa família foram convidados ao castelo. Os irmãos de Manfred foram também convidados, já que o pai destes fora cavalheiro de companhia do rei, pois lhe contava histórias divertidas que muito o agradavam.
Por um engano na expedição dos convites, Manfred também foi convidado. Primeiro ficou muito alegre, mas depois pensou desolado:“Como posso ir ao baile no castelo, eu que pareço tão murcho e medíocre e nem ao menos tenho roupas bonitas?”Seus irmãos não o estimulavam:“Ha, ha, Manfred feioso, tu não podes ir ao castelo. A princesa morreria de rir se chegasse a ver tua cara com essa pele horrorosa. Ha, ha!”Manfred não conseguiu dormir naquela noite.
Ele queria intensamente ver a linda princesa. Soluçava em silêncio em sua cama estreita e dura.Subitamente surgiu como que uma fada na noite escura e segredou-lhe no ouvido:“Brilhantina! Brilhantina!”Manfred sentou-se rígido na cama. Como não lhe ocorrera isso antes? A vida adquiria um novo sentido para ele naquela noite, e ele mal podia conter-se até a chegada da manhã.
Tão logo abriram as butiques, lá estava Manfred fazendo compras. Esvaziou seu bolso de todas as moedinhas que os irmãos lhe haviam ordenado que retirasse do bolsinho de suas calças, pois não queriam deformar as linhas de suas coxas com as moedinhas de cinco öre penduradas na perna.Esse dinheiro vinha agora bem a propósito. Como um enfeitiçado, Manfred perambulou no mundo mágico dos anúncios de lojas, comprou cremes, óleos, loções, um smoking para homens que têm aquele algo a mais e também um creme dental de duplo efeito (por um lado tornava os dentes mais belos, por outro mais feios). Com um pensamento de gratidão à boa fada, comprou também Brylcreem e, finalmente, como coroamento de tudo, um vidro de Drops of Magic, que elimina todas as rugas e asperezas da face pelo espaço de cinco horas.
Assobiando alegremente Manfred voltou para casa, chaveou-se em seu minúsculo quarto e começou a lavar-se, escovar-se, friccionar-se, engraxar-se, massagear-se, sprayar-se, aftershevar-se e vestir-se.
Quando ficou pronto eram sete horas. Aplicou delicadamente as gotas mágicas de Drops of Magic em sua face rugosa e áspera e deixou passar o tempo indicado. O milagre acontecera! Rugas e asperezas haviam sumido por cinco horas!
No castelo do rei os convidados já haviam chegado. Era uma linda e brilhante reunião de cavalheiros e damas, mas a mais bela de todas era a própria princesa. Ela brilhava como uma estrela luminosa e transtornava a cabeça de todos os homens.
Manfred desceu de seu táxi, jogou displicentemente duas moedinhas de cinco öre ao chofer e subiu a escadaria do castelo com aquele ar descontraído e leve de um homem que usa roupas de estilo. Abriu caminho nonchalantemente através da multidão, inclinou-se ligeiramente ante a princesa e beijou-lhe a mão. O público sobressaltou-se – e como que um sussurro perpassou o castelo:“Brilhantina! Brilhantina!”
Os malvados irmãos de Manfred não acreditavam em seus olhos. Então era este o irmão grosseiro e insignificante? Como era possível uma tal mágica? A pergunta estava escrita nos olhos dos irmãos. E nos olhos de Manfred se podia ler a resposta:“Arregalem os olhos! Sinto-me seguro, compreendem, seguro sob os braços, no cabelo, na boca, nariz e garganta, nos ouvidos, nos pés, em toda parte!”
A princesa arregalou os olhos ao fixá-los no elegante penteado de Manfred e em suas feições suaves porém viris. “Quero a ele”, gritou algo dentro dela, “ele e mais ninguém”.Manfred sorria vitorioso. Durante o tempo olharam-se, comeram, beberam, dançaram, conversaram e pensaram no que poderiam fazer se estivessem a sós, como pensam os namorados quando não estão a sós.
O tempo transcorreu para a princesa e Manfred numa nuvem rósea de felicidade. Na última dança, Manfred deixou de lado o rígido protocolo do baile real e colou sua face à da princesa, com a superior autoconfiança de um homem que usa loção de barba com aroma de couro e de tabaco inglês.Manfred sentia-se embriagado por ter o destino transformado seus maus dias em bons dias. Retirou sua mão esquerda da mão da princesa em meio à suave valsa e acariciou delicadamente seus cabelos.Em meio ao movimento seus olhos pousaram ocasionalmente em seu relógio Rolex, que é usado pelos homens que regem os destinos do mundo. Parou com um movimento brusco em meio a um elegante passo duplo. Era meia-noite! Com uma sensação de naufrágio no vácuo do estômago, Manfred notou como as Drops of Magic deixaram de agir. Seu rosto começou a ficar mais enrugado do que nunca.Tentou esconder da princesa o rosto olhando para seus sapatos – outros fizeram o mesmo. Sapatos franceses de verniz laqueados para senhores com pés delgados. Os pés de Manfred não eram delgados. Os sapatos estavam com as costuras rebentadas!Em pânico selvagem, Manfred desembaraçou-se dos sapatos que mais pareciam casretas abertas e precipitou-se desabaladamente pela escadaria do castelo. Com lágrimas correndo pelas suas agora indescritivelmente enrugadas faces, correu para longe na noite, para muito muito longe.
A princesa chorou sete dias e sete noites e ameaçou seu pai de morrer de dor se não lhe trouxesse de volta o amado. O rei empregou todos seus recursos. Servidores saíram com os restos dos sapatos de verniz laqueado para encontrar os pés que os haviam feito em pedaços. Nada de Manfred. O rei chamou Manfred pelo rádio, pelo canal 7, pois quando se é rei deve-se evidentemente parecer cultivado. Nada de Manfred.
Por fim os cães do castelo foram enviados à caça de Manfred. Mas Manfred estava e continuou desaparecido, pois Mum elimina qualquer odor de um homem que nem mesmo um cão de rastro consegue farejá-lo.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA

A JUSTIÇA E SEUS BARRACOS

João Eichbaum

“Conselho Nacional de Justiça”, esse é o nome. Um palavrão que lembra ditadura comunista, ou qualquer coisa do gênero.
Foi criado pelo Congresso Nacional o tal de CNJ para “moralizar” o Judiciário, a partir de alguns casos (que, por acaso vazaram) de corrupção, apropriação do dinheiro público através de obras faraônicas, etc. O mesmo que acontece com os outros poderes, diga-se da passagem. Nada de novo.
Eu já sabia o que ia acontecer com o tal de Conselho Nacional de Justiça. Como eu, outras pessoas, que conhecem juízes e juízes, políticos e políticos, ou seja o macaco humano, já sabiam o que iria acontecer. J. Quercus, no seu livro “A Justiça no Banco dos Réus”, alertava, quando da criação do Conselho: “tudo está a indicar que o tal de Conselho Nacional de Justiça não passará de mais uma entidade inútil, a serviço de interesses políticos, para acomodar simpatizantes e apadrinhados, tal como se faz na composição do Supremo Tribunal Federal”.
Bem, de que se trata de uma entidade inútil, o próprio Conselho dá provas. Uma entidade pública, cuja eficácia e utilidade seja por todos conhecida, não necessita de propaganda, não precisa mostrar que existe. Pois o tal de Conselho faz propaganda de si mesmo, usando o nosso dinheiro, naturalmente. Começa por aí: não tem moral, não tem decência, porque bota fora, ou melhor, entrega para os empresários da imprensa o dinheiro do contribuinte, sem a mínima necessidade, sem o mínimo escrúpulo. Ao invés de mostrar serviço, faz propaganda enganosa.
E a prova de que acomoda apadrinhados à nossa custa veio a furo ultimamente, em razão de um bate-boca por e-mail entre o Mendes, aquele amigo do banqueiro Dantas, e o Peluso, atual presidente do STF. Olhem só. Nada menos do que R$ 4.036.314,90 foram gastos com diárias e passagens aéreas, no ano passado, com o “bolsa-voto”, pagos para “juízes auxiliares”, que deixam suas comarcas, deixam as partes a ver navios, esperando por justiça, enquanto eles se tocam para a Brasília, a fim de lavrar votos que serão assinados pelos conselheiros. São “estagiários” de luxo, que trabalham para os figurões. E nós pagamos a conta.
Agora, se tem notícia do barraco armado numa reunião do tal Conselho, com um bate-boca ao vivo e a cores entre o seu presidente, Peluso, e o presidente da OAB, um tal de Ophir Cavalcante. O cara da OAB queria falar, dizendo que tinha esse direito, mas o Peluso não permitia, dizendo que quem mandava era ele.
Briga de belezas, gente, com a vaidade falando mais alto e provando, como sempre, que o cargo de alto escalão ou o poder, em si, não é repositório de dignidade. É o homem que empresta dignidade ao cargo, e não vice-versa.
Mas, falando em beleza, se diz que integra o CNJ, como representante da OAB, uma gata que deixa magistrados, membros do Ministério Público e advogados babando, quando desfila, rebolando o bum-bum hipnótico, sob a cadência das botas de cano alto, pelo santuário da Justiça. – que é cega.
Mas, isso já é papo pra outra crônica.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

CRÔNICAS IMPUDICAS

O MAIS ESPERTO

João Eichbaum

Você está numa pior. O carro está na oficina, esperando a liberação do seguro. Primeiro foi aquela coisa. A batida, você distraído, olhando para aquela bunda hipnótica e lasciva que subia na calçada à sua direita, não prestou atenção no carro que vinha à frente, dirigido por uma mulher, e bum!
Culpa sua, claro, bateu atrás, se ralou. A motorista não quis saber de arreglo, chamou os azuizinhos, porque estava sentindo uma dor nas costas, culpa sua: lesão corporal. Aí, um TC, termo circunstanciado, você tendo que aguardar audiência, comparecer na frente do juiz, pagar advogado e ter que aguentar aquele pobrerio em volta de você no juizado de pequenas causas, a justiça especializada para pobres. Sem contar o recolhimento da carteira, curso de direção, novos exames, o caralho.
Isso tudo, depois de esperar o guincho, o povinho curioso ao seu redor, querendo saber quem era o culpado e os azuizinhos com aquela antipatia que pede um boa bofetada na cara, mas é resistência, desacato, exige fiança, senão termina em cana. Tudo por causa duma bunda.
Mas isso ainda não era tudo. A explicação para sua mulher, que não perdoa nada e quer saber de tudo, tim-tim por tim-tim. Que desculpa você iria inventar? Não podia dizer a verdade. Mas como explicar que você não é barbeiro e, mesmo não sendo barbeiro, não tinha culpa.
Ah, sim, era uma mulher na direção...Mas isso sua mulher não iria aceitar como desculpa, iria chamar você de porco chauvinista, preconceituoso...
Ah, enfim...veio a idéia. A mulher travou, por causa de um pobre cachorrinho que vinha atravessando a rua, distraído, sem se dar conta de que duas quadras além havia uma faixa para pedestres.
Todas essas coisas haviam acontecido antes de você ter se entregado àquela péssima idéia de pedir aumento, logo num dia em que a mulher do chefe possivelmente estava com TPM. Ele olhou pra você de alto a baixo, fez um muxoxo e não disse nada, mas mentalmente há de ter mandado você se fuder. A resposta, propriamente, veio no fim do expediente: você ganhou os trinta.
Logo você, um executivo que se prezava, que se tinha como o melhor da empresa, criativo e operante. Dentro de trinta dias estará na rua, como milhões de brasileiros, dependendo do seguro desemprego, saindo desesperado à procura de novo emprego, largando currículo, olhando os classificados e vendo a imprensa festejar o PIB do Lula, o metalúrgico.
E hoje de manhã, pouco antes de você começar a ser torturado, outra vez, pelas hemorróidas, que não lhe permitem nem sentar pra ver televisão, pra ver aquela merda do time do Dunga, veio a notícia de última hora: com saudade das crianças, sua sogra vem passar um mês com vocês!
Porra, que fase!
Tudo isso acontece logo pra você, hein, o espermatozóide mais esperto e o mais apressadinho da sua turma, o único que conseguiu pegar carona no óvulo que passava...

terça-feira, 8 de junho de 2010

COM A PALAVRA, HUGO CASSEL

NAS ASAS DO PASSADO

Voam na memória as recordações do tempo em que a aviação era feita principalmente de amor, comprometimento e poesia.
O fabuloso Douglas C47 sobra de guerra,depois de transportar soldados e armas pelos céus da Europa e Ásia conflagradas,foi distribuído pelos países do mundo a transportar tudo o que representou a recuperação econômica dos países envolvidos e que foram praticamente todos no planeta.Trocados seus bancos de lona por poltronas, dezenas deles foram incorporados na Varig e nas demais companhias aéreas do Brasil.Real,Aerovias,Panair do Brasil,e Vasp.passaram a desbravar o interior do país levando para os mais distantes lugares,pessoas,cargas,remédios,e jornais num tempo em que não existiam nem televisão nem telefone celular, nem radar. Existiam sim profissionais que “operavam milagres” pousando suas aeronaves em “pistas” inacreditáveis para os padrões de hoje.
O topo da coxilha em frente à porteira da estância do doutor Getulio Vargas, era um exemplo.Ali pousava e decolava um avião da Varig com visitantes como Jango,Paqualini,Flores da Cunha e dali partiu Getulio para percorrer o Brasil na campanha de 1950 para a presidência.
Em alguns aeroportos o guia era um instrumento chamado “Radio Goniômetro” avô do Radar e bisavô do GPS.
Lembro que numa linha da Varig, que fazia Porto Alegre, Pelotas, Rio Grande, quando havia mau tempo, o instrumento mais usado era o “olhômetro”. Como o terreno era plano o piloto identificava “aquela casinha branca” na boca do Rio Camaquã ou “aquele silo de arroz” na margem do São Lourenço.Não tinha erro, pois na opinião que perdura até hoje entre os entendidos, o Douglas C47 (DC3), foi o melhor avião jamais construido, para operar em quaisquer condições de terreno.Pilota-lo era até divertido.
Muitas brincadeiras eram feitas.Uma delas foi quando um comandante amarrou uma garça morta numa cordinha e depois de decolar soltou o bicho pela janela para que ficasse ao lado das janelas dos passageiros.Foi um acontecimento.O pessoal admirado pela velocidade com que a garça “acompanhava” o avião.
A comunicação era feita por rádio e com um telegrafista por Código Morse.Certa feita um curto circuito no equipamento gerou muita fumaça e o telegrafista abriu a porta da cabine para buscar um copo com água para jogar nas faíscas.Um passageiro assustado perguntou o que havia e o tripulante respondeu.”-Não se preocupe.A besta do co-piloto abriu a janela e entrou uma nuvem”.
Uma brincadeira de mau gosto gerou uma pequena confusão certa vez em um aeroporto do Nordeste. Enquanto um Panair e um Varig reabasteciam para seguir o primeiro para Fortaleza e o outro para o Rio de Janeiro, ambas tripulações aproveitaram para um lanche no bar do aeroporto.Mesas próximas, o comandante da Varig diz para o mecânico:”Tchê vê se não demora muito.Tenho que chegar cedo no Rio para atender a mulher de um comandante da Panair que está me esperando.”.
Começou a confusão e o VARIG remendou:”Desculpa tchê não é da Panair é da Real......” e fomos todos saindo de fininho.
Foi na verdade um tempo que deixou saudades.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

CRÔNICAS TRISTES, MUITO TRISTES

NOVA CARTA AO OSMAR
Paulo Wainberg

O Osmar, para quem não sabe, é o meu correspondente que não responde e não corresponde. Sei que ele tem cerca de sessenta e poucos anos, barrigudo, solteirão convicto – não gay – e bebedor de cerveja. Ouvi dizer que ele é torcedor do Internacional de Porto Alegre, mas não tenho certeza.
Você pode estranhar, afinal por quê escrevo para alguém que nunca me responde? Simples, minha querida, é que o Osmar é um personagem que inventei, um dos meus muitos, talvez, alter-egos.
E sempre tenho esperanças. Quem sabe um dia, devido a um desses fenômenos metalingüísticos e metafísicos, chega uma resposta do Osmar?
Mas, vamos à carta.

Meu queridíssimo Osmar.
Espero te encontrar em perfeita saúde e, se tiveres família: mãe e pai, tios, irmãos, desejo o mesmo para eles.

Você, assim, como eu, é das antigas, daquele tempo em que professor, na sala de aula, era autoridade e o tal de bulling, não ia além de simples gozações e brincadeiras perfeitamente assimiláveis, sem nenhuma violência física ou ameaças.
Ninguém, no nosso tempo, ia para o colégio com medo de apanhar, salvo discórdias pessoais e pontuais, por causa de uma guria. Aí sim, era bater ou apanhar, e a turma toda olhando e torcendo. E a guria? Apanhar na frente da guria? Exato, quando a gente apanhava, a guria era nossa!
Logo, o negócio era apanhar e depois, apoiado nas coxas dela, revelar que não era nada, aquela dor no nariz sangrando, e que estar ali, naquela posição, fazia o mundo luminoso.
Eu, por exemplo – e olha só a candura – pertencia à turma da Zona Norte, inspirada no gibi do Bolinha... Sentávamos no fundo da classe, fazíamos esculhambação e gozávamos com os CDFs da primeira fila.
E sabe por que? Porque eles eram os primeiros a levantar a mão para as respostas, os queridinhos dos professores, formalmente falando, porque tenho certeza que os professores gostavam mais de nós, os esculhambadores.
Recordo, Osmar, da rua da minha infância, a mesma em que hoje moro.
A gente se encontrava, no fim da tarde, uns vinte garotos, e jogávamos futebol na calçada. As goleiras eram pastas e arquivos escolares. A bola era qualquer coisa mais ou menos redonda que pudesse ser chutada. Quando tínhamos sorte, alguém tinha feito uma bola de meia. E o máximo: no Natal ou no aniversário de alguém, aparecia uma bola de couro, número cinco, que, em poucos dias, detonávamos com nossos duros sapatos escolares.
Raramente um carro interrompia o jogo. Quase sempre o motorista parava para assistir. Íamos até à noite e a partida só terminava quando as últimas mães nos chamavam, que era hora de ir para casa, tomar banho e jantar.
Hoje, Osmar, minha rua está mudada. Muitos edifícios no lugar das casas, carros passando sem parar e... nenhuma criança na calçada! Sabe pelo que as crianças foram substituídas, Osmar? Por cachorros. Na minha rua muitas pessoas e casais passeiam com seus cachorros.
Ninguém passeia com crianças.
Falando nisso, onde estão as crianças de nossa cidade, hein Osmar?
Sumiram das ruas. Estão confinadas nos colégios, nas escolinhas, nos condomínios fechados.
As ruas de minha cidade são freqüentadas por adultos sisudos, alegres, tristes, preocupados, satisfeitos, com pressa, angustiados e... nenhuma criança.
As ruas da minha cidade estão repletas de neuroses ambulantes, automóveis buzinantes, gente pobre e gente rica, nas calçadas, nos bares, no trânsito e... nenhuma criança, Osmar!
Qual é a graça de uma cidade sem meninos?, perguntou certa vez Carlos Drummond, numa de suas cariocas crônicas;
Sou, Osmar, do tipo sonhador e apegado às coisas. Estou sempre ligado às referências, às minhas referências do passado e do presente, como se fossem uma garantia para o futuro.
Ocorre que, enquanto o tempo passa, meu futuro diminui. Mas não desanimo, invoco a lei das compensações: o meu futuro diminui mas, em compensação, meu passado aumenta.
Não me incomodo com a diminuição do futuro. É a ordem natural, Osmar, acontece comigo, acontece contigo, acontece com todos.
Mas não tolero quando me subtraem o passado! Se o meu futuro diminui e arrancam pedaços do meu passado, o que restará então, que não seja chorar no banheiro?
Estudei, quando criança, na tenra infância do primário, numa escola na Avenida que, depois, foi desmanchada e transformou-se num ginásio, mais tarde num colégio, em outra Avenida, uma continuação da primeira.
Quiseram as minhas escolhas e os fados, que meus trajetos na vida percorressem essas duas avenidas que vi crescer, desenvolver, modificar, ampliar, melhorar e... piorar.
Por elas, diariamente, acostumei às referências que me mantinham e me mantêm integrado, fazendo parte, um ser social na melhor acepção do termo.
Vi os cinemas das minhas matines substituídos por edifícios; vi os bares da infância e dos sanduíches de presunto e queijo cederem espaços à lojas e imobiliárias. Vi o local da antiga escola transformar-se em estacionamento descoberto, o ponto da esquina, do bilhar e das trocas virar ponto de venda de maconha, vi o grande parque iluminar-se e apagar-se várias vezes, vi de tudo, indo e vindo por aquelas avenidas que me faziam celebrar uma cidadania conformada, porém, confortada.
Na poeira dos tempos tudo mudou, salvo duas coisas: a papelaria e a loja de roupas femininas.
Elas sobreviveram às mudanças, continuaram ostentando sua permanência afirmativa, a mostrar que os velhos tempos não morreram de todo, que os novos tempos estavam de acordo, desde que elas permanecessem, um marco histórico da minha existência.
Mal as via, a papelaria e a loja, quando passava de carro na ida e na volta, mas sabia que elas ali estavam e isto era suficiente.
E então, Osmar, há mais ou menos não sei quando, fecharam a loja!!!
Foi assim, de repente, ontem ela estava lá com seu luminoso e suas vitrines coloridas e, sem mais menos, no dia seguinte, as vitrines fechadas, a porta fechada e um grande cartaz na porta: “Aluga-se”.
Foi-se a metade das minhas referências infantis, adolescentes, juvenis e adultas.
Fecharam a loja, Osmar!
Ninguém me avisou, ninguém me perguntou, não me pediu licença e, com a fria indiferença das novas gerações, me deixaram à deriva, não há dia que eu passe por ela sem uma dor no coração.
Por ser do meu direito, fui reclamar! Fui me queixar!
Em vão, Osmar. A minha referência não existe mais, restou-me apenas a papelaria e, me pergunto, por quanto tempo?
Amanhã, daqui a uma semana, daqui a seis meses, passarei por ela e ela estará fechada também, apagando para sempre os vestígios das minhas brincadeiras de criança, dos meus passos adolescentes em busca das namoradas, das marcas de pneu dos meus carros no meio da rua, da minha certeza no infinito significativo de uma vida que se mostra cada vez menor, das memórias sugestivas de pessoas que nelas viveram, agiram, atuaram, foram importantes e que não eram para, jamais, serem esquecidas.
Encurtam-se o futuro. Arrancam-me o passado. O que sobra, Osmar, para justificar minhas glórias, meus amores, meus afetos?
Dizem que saber perder dignifica e fortalece o caráter. Será?
Quanto mais me tiram as referências, Osmar, mais percebo que estou por minha conta, que sobram poucos a quem apelar, que, no fim das contas, está acontecendo comigo o que acontece com todos e que, por mais que tenha pretendido, não sou nada especial, não sou nada diferente.
E, o que é pior, Osmar. Caso eu, como todo o mundo, seja uma referência para as gerações que chegam, também deixarei de ser, por obra e graça de outros interesses, de outros significados sobre os quais não terei ingerência, sobre os quais nada poderei fazer.
Nem, ao menos, opinar.
Em resumo, meu caro Osmar, estou triste, entristecido, muito, muito triste.
Percebo que não sou mais um agente modificador. Não passo de um sujeito à mercê de novas modificações. E não me resta outra coisa a não ser aceitar.
E ficar triste, como nunca fiquei.
É por isso, caro Osmar, que lhe escrevo e que sonho com uma resposta sua que, como já sei, não virá.
Mas não desisto.
Um abraço do, sempre seu,
HAROLDO.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

COM A PALAVRA, HUGO CASSEL

NAS PAGINAS DO PASSADO

Com esse título a revista AVIAÇÃO em sua edição de abril, mostrou coisas da aviação antiga.Nesse mesmo número o publicitário Gianfranco Beting, filho do grande jornalista Joemir Beting, que eu admiro por sua coragem ao cumprir o sagrado dever de dizer sempre a verdade,fala sobre a VARIG.
De minha parte como ex-tripulante da Viação Aérea Riograndense,na década de 50, sempre disse e repito: Aviação no Brasil começa com V. Aquele ridículo “leilão” em 2006 como diz Gianfranco enterrou apenas uma sigla sem alma.
A Varig não era apenas uma empresa comercial, com seu nome indelevelmente unido ao nome do Brasil, no planeta inteiro. A Varig era um corpo e uma alma imensa e poderosa constituída pela alma de todos nós, funcionários.e tripulantes. Desde o primeiro vôo de seu primeiro avião em 1927. Nenhuma outra aérea, em qualquer parte do mundo até hoje repetiu isso. Repito mais um pouco do Gianfranco, embora não concorde quando diz que “O nome da Pioneira está sendo apagado gradativamente pela empresa que a comprou.
Varig mesmo foi a combinação dos melhores aviões, tripulados pelos melhores profissionais, operando nas melhores rotas, nos mais convenientes horários, com os melhores passageiros,(eu acrescento com o melhor tratamento maior segurança).”
Por essa razão é que a VARIG VIVE. Já comprovei em vários países onde, mostrada uma foto de qualquer aeronave com nome Varig ou com a famosa Rosa dos Ventos no leme, a exclamação é a mesma: BRASIL! Vive na luta desesperada de seus ex-funcionários espoliados em seus direitos de indenização, num processo vergonhoso que se arrasta sem solução no Congresso Nacional.
Pode ser saudosismo, mas acho que a aviação antigamente tinha mais amor e mais poesia.Onde o piloto era o “bracinho” que amava sua profissão era o “dono do pedaço” sem ter que brigar e obedecer um computador que só sabe o “politicamente correto”.
Espero nas próximas edições contar alguma coisas dos velhos C47 (DC3), sobras de guerra, que encheram os céus do Brasil, e onde privei com grandes homens como Getulio Vargas, João Goulart, Brizola, Salgado Filho, Pasqualini e tantos outros.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

PESADELO

autor desconhecido

Num pesadelo..........eu acordo, me olho no espelho e descubro que sou vesgo. Procuro frenéticamente nos bolsos, para ver minha foto na identidade, para ver se sou realmente daquele jeito. Acho um passaporte e descubro.... sou argentino... Não pode ser, meu Deus!!!
Sinto-me inconsolável em uma cadeira. Mas não é possível!! É uma cadeira de rodas, o que significa que, além de ser vesgo e argentino, sou também deficiente físico! É impossível, digo para mim mesmo, que eu seja vesgo, argentino e deficiente físico... - 'Amoooooor!', grita uma voz atrás de mim. É o meu namorado...
Cacete! Sou também viado...!
- 'Foi você que pegou a minha siringa?'
Ó Deus! Vesgo, argentino, deficiente físico, viado, viciado e talvez soropositivo! Desesperado, começo a gritar, a chorar, a tentar arrancar os cabelos E... Nãooo!!!!! Sou careca!
Toca o telefone. É meu irmão, que diz:
- 'Desde que mamãe e papai morreram, você só faz se entupir de drogas, vagabundeando o dia inteiro! Vê se procura um emprego, arranja algum trabalho!'
Que merda, descubro que também sou desempregado!!! Tento explicar ao meu irmão que é difícil encontrar trabalho quando se é vesgo, argentino, deficiente físico, viado, viciado, talvez soropositivo, careca e órfão, mas não consigo,porque.... Porque sou gago!!!! Transtornado, desligo o telefone, com a única mão que tenho, e com lágrimas nos olhos, vou até a janela olhar a paisagem.
Milhões de barracos ao meu redor... Sinto uma punhalada no marca-passo: além de vesgo, argentino, deficiente físico, viado, viciado, talvez soropositivo, careca, órfão, gago, desempregado, maneta e cardíaco, sou também Favelado...
Começo a passar mal e sentir um calafrio e dirijo-me ao guarda-roupa para pegar um agasalho, e para minha surpresa, quando abro a gaveta encontro uma camisa do GRÊMIO.
Aí já é sacanagem... Entro em surto, pois além de vesgo, argentino, deficiente físico, viado, viciado, talvez soropositivo, careca, órfão, gago, desempregado, maneta, cardíaco, sou também favelado... e Torcedor do GRÊMIO.
Nesse momento, volta o meu namorado e diz:
- Morziiiiiin, vamu indu sinbora, sinão a gente chega atrasado na Convenção do PT pra apoiá a Dilma.
PUTA QUE PARIU!!! Desmaiei.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

BACHARÉIS DE CAMA E MESA

Autor desconhecido

Desajeitado, o magistrado Dr. Juílson tentava equilibrar em suas as mãos, a cuia, a térmica, um pacotinho de biscoitos, e uma pasta de documentos.Com toda esta tralha, dirigir-se-ia para seu gabinete, mas ao dar meia volta deparou-se com sua esposa, a advogada Dra. Themis, que já o observava há sabe-se lá quantos minutos.
O susto foi tal que cuia, erva e documentos foram ao chão. O juiz franziu o cenho e estava pronto para praguejar, quando observou que a testa da mulher era ainda mais franzida que a sua.
Por se tratarem de dois juristas experientes, não é estranho que o diálogo litigioso que se instaurava obedecesse aos mais altos padrões de erudição processual.
- Juílson! Eu não agüento mais essa sua inércia. Eu estou carente, carente de ação, entende?
- Carente de ação? Ora, você sabe muito bem que, para sair da inércia, o Juízo precisa ser provocado e você não me provoca, há anos. Já eu dificilmente inicio um processo sem que haja contestação.
- Claro, você preferia que o processo corresse à revelia. Mas não adianta, tem que haver o exame das preliminares, antes de entrar no mérito. E mais, com você o rito é sempre sumaríssimo, isso quando a lide não fica pendente... Daí é que a execução fica frustrada.
- Calma aí, agora você está apelando. Eu já disse que não quero acordar o apenso, no quarto ao lado. Já é muito difícil colocá-lo para dormir. Quanto ao rito sumaríssimo, é que eu prezo a economia processual e detesto a morosidade. Além disso, às vezes até uma cautelar pode ser satisfativa.
- Sim, mas pra isso é preciso que se usem alguns recursos especiais. Teus recursos são sempre desertos, por absoluta ausência de preparo.
- Ah, mas quando eu tento manejar o recurso extraordinário você sempre nega seguimento. Fala dos meus recursos, mas impugna todas as minhas tentativas de inovação processual. Isso quando não embarga a execução.Mas existia um fundo de verdade nos argumentos da Dra. Themis. E o Dr. Juílson só se recusava a aceitar a culpa exclusiva pela crise do relacionamento. Por isso, complementou:
- Acho que o pedido procede, em parte, pois pelo que vejo existem culpas concorrentes. Já que ambos somos sucumbentes vamos nos dar por reciprocamente quitados e compor amigavelmente o litígio.
- Não posso. Agora existem terceiros interessados. E já houve a preclusão consumativa.
- Meu Deus! Mas de minha parte não havia sequer suspeição!
- Sim. Há muito que sua cognição não é exauriente. Aliás, nossa relação está extinta. Só vim pegar o apenso em carga e fazer remessa para a casa da minha mãe.
E ao ver a mulher bater a porta atrás de si, Dr. Juílson fica tentando compreender tudo o que havia acontecido. Após deliberar por alguns minutos, chegou a uma triste conclusão:
- E eu é que vou ter que pagar as custas.

terça-feira, 1 de junho de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

CINEMA QUER GORJETA SEM PRESTAR SERVIÇO

Quem me acompanha, sabe que faz mais de trinta anos que não vejo cinema nacional. O último filme nacional que vi em minha vida foi Aleluia Gretchen, do Sílvio Back. Eu o assisti em Tunis, Tunísia, lá por 78 ou 79, quando fazia a cobertura do Festival de Cinema de Cartago. Assisti porque fui coagido, mais ou menos manu militari, pelo diretor. Depois disso, nunca mais.Em primeiro lugar, porque o cinema tupiniquim não me agrada. Em segundo, porque quem financia os filmes nacionais somos nós, contribuintes. Compulsoriamente. Muitas vezes nem financiamos filmes, mas apenas o bem-estar dos diretores, vide Norma Benguel e Guilherme Fontes. Se nós financiamos, não vejo porque pagar para assistir o que já pagamos.
Talvez até pensasse no assunto se a produção do filme viesse me buscar em casa de limusine. Mesmo assim, não sei.
Comentei há dois dias o estúpido e totalitário projeto de lei do senador Cristovam Buarque, de empurrar goela abaixo dos estudantes o medíocre nacional. O cinema nacional está morrendo de morte morrida. Não bastassem os dias de exibição obrigatória, o Senado – que já aprovou o projeto – pretende empurrá-lo aos estudantes. Como já se empurra Machado de Assis, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Luís Fernando Verissimo e outros que tais.
Dito isto, gosto de revisitar, de vez em quando, a culinária francesa que São Paulo oferece. Digo de vez quando, porque restaurante francês em São Paulo é sinônimo de exploração. Por acaso, está em minha escrivaninha o cardápio do Chartier, um dos mais antigos e tradicionais restaurantes de Paris, fundado em 1896. Não é a grande cozinha, é verdade. Mas é cozinha honesta. Sem falar que o restaurante, instalado em um salão magnífico, foi tombado como monumento nacional. Preço dos pratos: entre 10 e 12 euros. Isto é, entre 22 e 27 reais, na cotação de hoje. Vinhos, entre 10 e 20 euros. Ou seja, entre 22 e 44 reais. Por cem reais, você come e bebe bem. Com direito a sobremesa.
Transporto o leitor para São Paulo. Em restaurantes que mal têm uma década de idade, sem o requinte arquitetônico do Chartier, por 20 reais você não paga nem a entrada. Pratos, a partir de 40 ou 50 reais. Vinhos, por baixo, na faixa dos 100 reais. Para quem gosta de exibir status, há também os de dois, três, quatro ou cinco mil reais. Estes últimos significam duas passagens de ida-e-volta a Paris e ainda sobra troco.
Volto ao cinema. Para meu pasmo, leio hoje na Folha de São Paulo, na coluna de Mônica Bergamo, iniciativa ainda mais insólita:“Ameaçado de fechar as portas após perder o patrocínio do banco HSBC, o cinema Belas Artes, na rua da Consolação, está negociando com um grupo de restaurantes para obter receita e manter as atividades. "
A idéia seria o cliente acrescentar um valor na conta, que iria para um fundo de ajuda ao espaço", diz André Sturm, sócio do cine. A iniciativa partiu de 14 restaurantes, entre outros, Le Casserole, Arabia e Ici Bistrô. A primeira reunião para detalhar o projeto estava marcada para ontem”.
Só o que faltava. Ao ir a um restaurante, não bastassem os dez por cento de gorjeta – dos quais metade não vai para o garçom, mas para o restaurador – tenho agora de subsidiar as salas de cinema paulistanas.
Entre os restaurantes que participam da malsinada idéia, estão o Casserole e o Ici Bistrô. São casas que freqüento, uma ou eventualmente duas vezes por mês, quando quero introduzir alguma amiga na cozinha francesa.O Casserole é o mais antigo restaurante francês de São Paulo. Foi fundado em 1954. Isto é, tem pouco mais de mísero meio século. Resiste ainda no centro degradado da cidade. Com amplas janelas, dá para uma floreira, o que atenua a paisagem hostil do entorno. É ambiente agradável, que nos transporta a uma São Paulo que já não mais existe.O Ici fica aqui perto de casa. Terá uns cinco anos de idade. É o que chamo de um restaurante com visão do futuro: a sua frente, está o cemitério da Consolação. Carta de vinhos hostil. Passo lá de vez em quando, para matar as saudades de um cassoulet ou escargot. Mas se for para contribuir com uma sala de cinema, nunca mais.O cinema está em estado terminal no Brasil. Não que a arte, em si, esteja morrendo. É que é desconfortável ir ao cinema. A estrutura da cidade afasta o público das salas. Estacionamento, flanelinhas, risco de assalto, gente comendo pipoca e conversando como se estivesse assistindo a um DVD com amigos. Melhor então ficar em casa e ver um DVD, ora bolas!
Preciso ver quais outros restaurantes querem ressuscitar o cadáver. Para eliminá-los de minha rotina. Falta de respeito! Imagine um parisiense chegar num restaurante francês e pagar um percentual para salvar o cinema francês! Sai todo mundo entoando a Marseillaise