terça-feira, 8 de junho de 2010

COM A PALAVRA, HUGO CASSEL

NAS ASAS DO PASSADO

Voam na memória as recordações do tempo em que a aviação era feita principalmente de amor, comprometimento e poesia.
O fabuloso Douglas C47 sobra de guerra,depois de transportar soldados e armas pelos céus da Europa e Ásia conflagradas,foi distribuído pelos países do mundo a transportar tudo o que representou a recuperação econômica dos países envolvidos e que foram praticamente todos no planeta.Trocados seus bancos de lona por poltronas, dezenas deles foram incorporados na Varig e nas demais companhias aéreas do Brasil.Real,Aerovias,Panair do Brasil,e Vasp.passaram a desbravar o interior do país levando para os mais distantes lugares,pessoas,cargas,remédios,e jornais num tempo em que não existiam nem televisão nem telefone celular, nem radar. Existiam sim profissionais que “operavam milagres” pousando suas aeronaves em “pistas” inacreditáveis para os padrões de hoje.
O topo da coxilha em frente à porteira da estância do doutor Getulio Vargas, era um exemplo.Ali pousava e decolava um avião da Varig com visitantes como Jango,Paqualini,Flores da Cunha e dali partiu Getulio para percorrer o Brasil na campanha de 1950 para a presidência.
Em alguns aeroportos o guia era um instrumento chamado “Radio Goniômetro” avô do Radar e bisavô do GPS.
Lembro que numa linha da Varig, que fazia Porto Alegre, Pelotas, Rio Grande, quando havia mau tempo, o instrumento mais usado era o “olhômetro”. Como o terreno era plano o piloto identificava “aquela casinha branca” na boca do Rio Camaquã ou “aquele silo de arroz” na margem do São Lourenço.Não tinha erro, pois na opinião que perdura até hoje entre os entendidos, o Douglas C47 (DC3), foi o melhor avião jamais construido, para operar em quaisquer condições de terreno.Pilota-lo era até divertido.
Muitas brincadeiras eram feitas.Uma delas foi quando um comandante amarrou uma garça morta numa cordinha e depois de decolar soltou o bicho pela janela para que ficasse ao lado das janelas dos passageiros.Foi um acontecimento.O pessoal admirado pela velocidade com que a garça “acompanhava” o avião.
A comunicação era feita por rádio e com um telegrafista por Código Morse.Certa feita um curto circuito no equipamento gerou muita fumaça e o telegrafista abriu a porta da cabine para buscar um copo com água para jogar nas faíscas.Um passageiro assustado perguntou o que havia e o tripulante respondeu.”-Não se preocupe.A besta do co-piloto abriu a janela e entrou uma nuvem”.
Uma brincadeira de mau gosto gerou uma pequena confusão certa vez em um aeroporto do Nordeste. Enquanto um Panair e um Varig reabasteciam para seguir o primeiro para Fortaleza e o outro para o Rio de Janeiro, ambas tripulações aproveitaram para um lanche no bar do aeroporto.Mesas próximas, o comandante da Varig diz para o mecânico:”Tchê vê se não demora muito.Tenho que chegar cedo no Rio para atender a mulher de um comandante da Panair que está me esperando.”.
Começou a confusão e o VARIG remendou:”Desculpa tchê não é da Panair é da Real......” e fomos todos saindo de fininho.
Foi na verdade um tempo que deixou saudades.

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