COPA DO MUNDO
João Eichbaum
Não chego a torcer contra a seleção brasileira, mas o meu entusiasmo por ela tem a temperatura de uma pedra de gelo. Por uma razão muito simples: sou do tempo em que se jogava futebol, o verdadeiro futebol, aquele que tem como finalidade o gol e não o anti-futebol, traduzido por um amontoamento de jogadores no meio de campo, para evitar o gol.
A Fifa era, naquele tempo, uma entidade exclusivamente esportiva, como era a CBF (Confederação Brasileira de Futebol). O único interesse que predominava era de cunho esportivo.
Então, a Fifa era pobre, poucos eram os países filiados a ela. Por isso mesmo, eram poucos os países que participavam das Copas e os jogadores que compunham as seleções eram jogadores que jogavam dentro dos respectivos países.
Foi assim até 1972, quando o Brasil se consagrou bi-campeão. Depois, aos poucos, os conceitos e os valores foram mudando, à medida que a tecnologia foi dotando a televisão de um poder sem limites. A Fifa deixou de ser entidade esportiva, para se transformar num empreendimento lucrativo que reparte gordos dividendos entre seus mandantes e os mais chegados. Ela faz qualquer negócio, desde que resulte muito dinheiro, negocia com as redes de televisão, com as multinacionais dos artigos esportivos, com quem quer que lhe traga lucro. E, sobretudo, trata de expandir os seus domínios, filiando países que jamais tiveram qualquer tradição em futebol.
Mas, o grande negócio mesmo envolve os jogadores, as “estrelas” que são patrocinadas pela publicidade de grandes empresas, tomando conta dos “out doors” espalhados pelo mundo inteiro. E para que essas “estrelas” possam estar em evidência, têm que ser convocadas pelas respectivas entidades representativas do futebol. Isso dá lucro: para as empresas e para os demais envolvidos na formação das seleções.
Hoje, a seleção brasileira só tem jogadores que jogam no exterior, onde ganham milhões, e estão se lixando para o Brasil. O país deles é o país que os acolhe. Lá eles fazem amigos, que são seus companheiros de equipe. Ora bolas, por que irão “suar a camiseta” contra amigos com quem, terminada a copa, voltarão a conviver no dia a dia?
Enfim, o futebol, hoje é negócio: para os jogadores, para seus patrocinadores, para a Fifa, para a CBD, para todos quantos fizerem o jogo das multinacionais. O que domina o futebol é o dinheiro.
Enquanto isso, o povinho, vestido de verde e amarelo, chora, berra, se exalta, se espreme, reza, aperta entre as mãos o judeu crucificado, babando por um gol da “gloriosa” seleção brasileira, como se fosse esse o único problema da sua existência.
Nos dias de Copa do Mundo, não se fala de outra coisa. Todo mundo, mesmo quem não entende de futebol, é obrigado a viver esse clima. Bancos, repartições públicas, poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, escolas, mudam seus horários, e não há como ignorar o evento, pois a nossa rotina é determinada pelo futebol.
E quem gosta do verdadeiro futebol tem que aguentar uns pernas de pau fazendo gol contra, de canela, ou de meia virada, depois de ajeitar a bola com o braço esquerdo e o braço direito, assim fez o Luís Fabiano, da seleção brasileira, ontem. Porque, afinal, para a Fifa o que importa é o lucro, e não futebol como espetáculo esportivo.
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