quarta-feira, 14 de março de 2012

COM CRISTO OU SEM CRISTO? (II)




João Eichbaum

A decisão do Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça do RGS, determinando a retirada dos crucifixos das salas de juízos e tribunais, tem dado pano pra manga.
É uma bobagem, como muitas que a Justiça faz. Não merecia todo esse estardalhaço. Mas a gente se diverte, lendo asneiras. Se diverte e aprende, conhecendo cada vez mais o primata chamado homem.
Olhem só, o bispo CARLOS ROSSI KELLER, de Frederico Westphalen, redigiu e divulgou uma “nota pastoral”, atribuindo a decisão da Justiça à pressão  “de um grupo determinado, ideologizado e raivoso”.
Será que sua excelência reverendíssima (como gostam de ser chamados os bispos católicos - e por sinal o Edir Macedo nunca foi tratado assim) não é também “ideologizada”? E terá, por acaso, agido como Cristo que, simplesmente, ergueu os olhos para o céu e pediu “perdoai-os, porque não sabem o que fazem”, ao invés de divulgar a sua pastoral, da qual se coa incontida revolta?
E aquele católico, nem me lembro quem foi, que sugeriu  se retirasse o Cristo do Corcovado, e se mudasse o nome das cidades que têm nome de “santos”, já que o Brasil é um Estado “laico”, teria falado com serenidade cristã? Não sabe ele que “bemaventurados são os pacíficos, porque deles será o reino dos céus”, como já dizia Jesus Cristo?
Percival Puggina, outro católico fervoroso, (a quem sempre admirei e admiro não só pelas idéias, como pelo texto, que considero o mais brilhante do RGS), diz que “ante símbolos religiosos, pessoas normais reagem com respeito ou indiferença. Indignação, revolta, alergia escapam à normalidade.” E acrescenta, mais adiante: “tal abominação é um problema que está nelas” (nas pessoas que “investiram contra os crucifixos”.
Pois, o Percival, meu ídolo, também se determina segundo a sua “ideologia” e a diatribe que assina contra os que “investiram contra os crucifixos” não pode escapar do adjetivo “raivoso”.
Nem vou comentar o que diz Paulo Brossard, porque ele não diz alguma coisa que se possa aproveitar e, apesar disso, um puxassaco qualificou o artigo de “notável”.
Resumindo: o assunto é besteira. Mas, para os crentes ele assume grande relevância, porque o "ateísmo militante" está crescendo e poderá terminar com o deus judaico-cristão.
 Quem está gostando da coisa mesmo são os ateus. E sem se pronunciar com veemência. Estão assistindo de camarote.
Mas, de qualquer modo, não dá para deixar passar a oportunidade de lembrar a crentes e descrentes que o Estado Brasileiro é religioso. A invocação do nome do “Deus” na Constituição Federal, diz tudo. E Deus é que protege toda essa bandalheira que se ´pratica na  política. Foi “sob a proteção” dele que se estruturou a política: nada se faz sem a permissão da Constituição.
Mas, ainda uma coisinha: de que serviu a presença do Crucificado nos juízos e tribunais até hoje? Melhorou alguma coisa? Afastou os juízes corruptos? Impediu as injustiças?
Por favor, me digam. Como pragmatista, até hoje não descobri. Como não descobri também a razão pela qual o Cristo foi crucificado: a humanidade continua na mesma merda.




Um comentário:

Gigi disse...

Diferenças à parte, gostei muito do texto, que é um artigo bem escrito, de alguém que realmente pensa, isto é, por sua própria cabeça. Não conheço o texto do Brossard, sou admirador, também, do Puggina. Para mim, pessoalmente, é um tema difícil para eu escrever.
Luiz Cioccari