João Eichbaum
A decisão do Conselho
Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça do RGS, determinando a retirada
dos crucifixos das salas de juízos e tribunais, tem dado pano pra manga.
É uma bobagem, como muitas
que a Justiça faz. Não merecia todo esse estardalhaço. Mas a gente se diverte,
lendo asneiras. Se diverte e aprende, conhecendo cada vez mais o primata
chamado homem.
Olhem só, o bispo CARLOS ROSSI KELLER, de
Frederico Westphalen, redigiu e divulgou uma “nota pastoral”, atribuindo a
decisão da Justiça à pressão “de um grupo determinado, ideologizado e
raivoso”.
Será que
sua excelência reverendíssima (como gostam de ser chamados os bispos católicos - e por sinal o Edir Macedo nunca foi tratado assim)
não é também “ideologizada”? E terá, por acaso, agido como Cristo que,
simplesmente, ergueu os olhos para o céu e pediu “perdoai-os, porque não sabem
o que fazem”, ao invés de divulgar a sua pastoral, da qual se coa incontida
revolta?
E aquele
católico, nem me lembro quem foi, que sugeriu
se retirasse o Cristo do Corcovado, e se mudasse o nome das cidades que
têm nome de “santos”, já que o Brasil é um Estado “laico”, teria falado com
serenidade cristã? Não sabe ele que “bemaventurados são os pacíficos, porque
deles será o reino dos céus”, como já dizia Jesus Cristo?
Percival
Puggina, outro católico fervoroso, (a quem sempre admirei e admiro não só pelas
idéias, como pelo texto, que considero o mais brilhante do RGS), diz que “ante
símbolos religiosos, pessoas normais reagem com respeito ou indiferença.
Indignação, revolta, alergia escapam à normalidade.” E acrescenta, mais
adiante: “tal abominação é um problema que está nelas” (nas pessoas que
“investiram contra os crucifixos”.
Pois, o
Percival, meu ídolo, também se determina segundo a sua “ideologia” e a diatribe
que assina contra os que “investiram contra os crucifixos” não pode escapar do
adjetivo “raivoso”.
Nem vou
comentar o que diz Paulo Brossard, porque ele não diz alguma coisa que se possa
aproveitar e, apesar disso, um puxassaco qualificou o artigo de “notável”.
Resumindo:
o assunto é besteira. Mas, para os crentes ele assume grande relevância, porque o "ateísmo militante" está crescendo e poderá terminar com o deus judaico-cristão.
Quem
está gostando da coisa mesmo são os ateus. E sem se pronunciar com veemência.
Estão assistindo de camarote.
Mas, de
qualquer modo, não dá para deixar passar a oportunidade de lembrar a crentes e
descrentes que o Estado Brasileiro é religioso. A invocação do nome do “Deus”
na Constituição Federal, diz tudo. E Deus é que protege toda essa bandalheira
que se ´pratica na política. Foi “sob a
proteção” dele que se estruturou a política: nada se faz sem a permissão da
Constituição.
Mas,
ainda uma coisinha: de que serviu a presença do Crucificado nos juízos e
tribunais até hoje? Melhorou alguma coisa? Afastou os juízes corruptos? Impediu
as injustiças?
Por
favor, me digam. Como pragmatista, até hoje não descobri. Como não descobri
também a razão pela qual o Cristo foi crucificado: a humanidade continua na
mesma merda.
Um comentário:
Diferenças à parte, gostei muito do texto, que é um artigo bem escrito, de alguém que realmente pensa, isto é, por sua própria cabeça. Não conheço o texto do Brossard, sou admirador, também, do Puggina. Para mim, pessoalmente, é um tema difícil para eu escrever.
Luiz Cioccari
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