João Eichbaum
Conheço aqui no Rio Grande do Sul um
casal de desembargadores que está na lona do ringue das dívidas: devem uma vela
para cada santo, como diria minha avó.
Começou assim, ó: ele se tinha e era
tido por uma legião imensa de puxassacos como um sábio jurista. Escrevia
livros, dava aula em faculdades, nos cursos da escola da magistratura, do
ministério público, do instituto dos advogados, enfim, onde quer que se estivessem
iludindo sonhadores com a profissão de magistrado. Tudo isso, sem jamais ter
prestado um concurso em sua vida. Era advogado e se tornou desembargador porque
tinha padrinhos e puxassacos.
Ela, que era uma juíza de interior
quando o desembargador começou a arrastar a asa para seu lado , de repente
mudou. Começou a aparecer, quer dizer, começou a gastar para aparecer, para se
mostrar uma pessoa de grande poder aquisitivo, porque perdia na competição com
o marido famoso.
E tudo isso porque descobriu que o
maridão, sua excelência o desembargador, gostava mesmo de suas aluninhas, as
meninas deslumbradas que ouviam suas aulas numa linguagem que elas não
entendiam, mas as maravilhava.
Então o casamento deles ficou assim:
ela, já desembargadora, se transformou simplesmente numa perdulária, que gastava
mais do que podia, embora ganhasse um salário que só não fazia inveja para
jogador de futebol. Ele não reclamava, porque se reclamasse teria na cara a
acusação de adúltero, sedutor de meninas deslumbradas. Como ela o foi um dia,
nas aulas do mestre.
O resultado é que, depois de
comprometido todo o salário dela, ele teve que comparecer para pagar as contas
que iam formando um bolo de neve.
E tudo desembocou numa dívida gigantesca,
que não pára de crescer mês a mês, estando o casal a dever o que nunca conseguirá
pagar, para vários bancos.
Ele até que tentou ser ministro do
Superior Tribunal de Justiça, mas, como se diz na gíria, sua candidatura não
decolou. Não que lhe faltassem os requisitos fundamentais. Esses ele os tem: é
vaidoso e não tem caráter.
São esses os primatas que nos julgam:
são vaidosos, muitos não têm caráter e os poucos que têm caráter não têm bom
senso, porque a vaidade tomou conta do espaço, onde deveria residir aquela
virtude.
Ai de quem necessitar de “justiça”, hoje
em dia!
Um comentário:
Que baita história! O que custa colocar nomes e circunstâncias?
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