terça-feira, 6 de setembro de 2016

AMIGO NÃO É PARA ESSAS COISAS

João Eichbaum

O José Ivo Sartori saiu do seminário, mas não perdeu o jeito, o sotaque e a fala de padre. No governo do Estado, ele age como se o Rio Grande do Sul fosse uma paróquia cheia de boas almas e homens de boa vontade, a quem Deus prometeu paz, na terra.

A insegurança, que é o maior problema da população gaúcha, o ex-seminarista trata mais com ingenuidade do que com sabedoria, se inspira mais nas fantasias do sermão da montanha do que na realidade cruenta que enche as páginas dos jornais todos os dias.

Instado a fazer cumprir o papel do Estado nesse setor seriamente atingido pela inércia que contamina toda sua administração, o Sartori trocou o antigo secretário de segurança, que também tinha jeito e fala de padre, por Cézar Schirmer. Esse é o prefeito de Santa Maria, cujo nome a história ligará para sempre à maior tragédia causada pela insegurança no RGS: o incêndio da boate Kiss.

Entre as necessidades da população e as do amigo, prestes a perder o emprego em Santa Maria, o governador preferiu aplicar o mandamento cristão do “amor ao próximo”. É que, segundo noticia a Rosane de Oliveira, em sua coluna, Sartori e Cézar Schirmer são amigos de longa data, muito “próximos”.

Às críticas pela escolha de uma pessoa sem experiência para administrar o problema crucial da falta de segurança no Estado, Sartori respondeu assim: “vou pedir a Deus que o ilumine”. Cézar Schirmer, por seu turno, admitiu a inexperiência na área, mas informou que irá se cercar de “técnicos competentes” (para suprir suas deficiências, bem entendido).

Ora, ao reconhecer que existem pessoas mais abalizadas do que ele no trato com os problemas da segurança, Schirmer, se tivesse consciência pública e privada, teria dito “muito obrigado, maior é o meu interesse pelo bem-estar da população, do que pelo meu emprego, tchau pra vocês”.

E Sartori, se confia tanto em Deus, deveria trocar o gabinete de governador pelos genuflexórios da sua vizinha, a catedral, e lá rezar: não só pela segurança, mas também pela saúde, pela educação e, sobretudo, pelas finanças. Assim não deixaria seus funcionários pendurados no pincel todos os meses, por falta de ...orações.





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