A LOTERIA DA FÉ
João Eichbaum
Uma estranha e incongruente
pesquisa do Datafolha anuncia que 88% dos brasileiros, ou seja, nove em cada
dez, atribuem o sucesso financeiro à ajuda da divindade judaico-cristã,
convencionalmente chamada Deus. Quer dizer, para ficar rico basta a fé em Deus
- diz o resultado da enquete.
Só foram consultados os mais
abastados? Os políticos de Brasília? O pessoal da Odebrecht? Ou o Brasil é
realmente um país composto por uma maioria acachapante de pessoas ricas? Essas
indagações surgem naturalmente para quem tem um mínimo de inteligência, sem
necessidade de recorrer a métodos científicos de análise.
Das duas, uma: ou a pesquisa
foi mal dirigida, se foram só consultadas pessoas ricas, ou o que nossos olhos
veem todos os dias é pura farsa. Na primeira hipótese, a pesquisa foi orientada
por pessoas despreparadas, que não se valem de critérios técnicos para a
aferição de valores.
Na segunda hipótese, somos
levados a acreditar que nossos olhos nos enganam. Não é verdade que existem
filas no SUS, gente se apertando no trem ou no ônibus de madrugada para ir ao
trabalho, numerosas vilas na periferia das grandes cidades sem um mínimo conforto,
sem saneamento, sem estrutura básica, barracos pendurados nos morros, escolas
caindo aos pedaços, pedintes todos os dias batendo às nossas portas. Enfim: a
pobreza, no Brasil, não passa de estado de espírito, ou de mera falta de
classe.
Na rica Suécia, jamais seria
realizada uma pesquisa de tal natureza. Naquele país, com um padrão de vida e
de cultura superior ao das massas populares da América Latina, não existe
plateia para romarias, procissões ou peregrinações com homenagens a santos. A
taxa de ateus suecos alcança a significativa cifra de 85% da população.
As várias respostas
contraditórias, colhidas na pesquisa do Datafolha, revelam uma enquete típica
de país de terceiro mundo: perguntas idiotas para um povo ignorante. Desse
quadro a única conclusão séria que se pode extrair é de que a ignorância não
deixa o Brasil tirar o pé do barro. A menos que se prefira acreditar que o Lula
rezou muito, por ele e por seus aliados. Aí, ele já terá a resposta na ponta da
língua, quando for indagado pelo juiz Sérgio Moro: “foi tudo presente de Deus”.
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