segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

A LOTERIA DA FÉ

João Eichbaum

Uma estranha e incongruente pesquisa do Datafolha anuncia que 88% dos brasileiros, ou seja, nove em cada dez, atribuem o sucesso financeiro à ajuda da divindade judaico-cristã, convencionalmente chamada Deus. Quer dizer, para ficar rico basta a fé em Deus - diz o resultado da enquete.

Só foram consultados os mais abastados? Os políticos de Brasília? O pessoal da Odebrecht? Ou o Brasil é realmente um país composto por uma maioria acachapante de pessoas ricas? Essas indagações surgem naturalmente para quem tem um mínimo de inteligência, sem necessidade de recorrer a métodos científicos de análise.

Das duas, uma: ou a pesquisa foi mal dirigida, se foram só consultadas pessoas ricas, ou o que nossos olhos veem todos os dias é pura farsa. Na primeira hipótese, a pesquisa foi orientada por pessoas despreparadas, que não se valem de critérios técnicos para a aferição de valores.

Na segunda hipótese, somos levados a acreditar que nossos olhos nos enganam. Não é verdade que existem filas no SUS, gente se apertando no trem ou no ônibus de madrugada para ir ao trabalho, numerosas vilas na periferia das grandes cidades sem um mínimo conforto, sem saneamento, sem estrutura básica, barracos pendurados nos morros, escolas caindo aos pedaços, pedintes todos os dias batendo às nossas portas. Enfim: a pobreza, no Brasil, não passa de estado de espírito, ou de mera falta de classe.

Na rica Suécia, jamais seria realizada uma pesquisa de tal natureza. Naquele país, com um padrão de vida e de cultura superior ao das massas populares da América Latina, não existe plateia para romarias, procissões ou peregrinações com homenagens a santos. A taxa de ateus suecos alcança a significativa cifra de 85% da população.

As várias respostas contraditórias, colhidas na pesquisa do Datafolha, revelam uma enquete típica de país de terceiro mundo: perguntas idiotas para um povo ignorante. Desse quadro a única conclusão séria que se pode extrair é de que a ignorância não deixa o Brasil tirar o pé do barro. A menos que se prefira acreditar que o Lula rezou muito, por ele e por seus aliados. Aí, ele já terá a resposta na ponta da língua, quando for indagado pelo juiz Sérgio Moro: “foi tudo presente de Deus”.



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