RESUMO DA ÓPERA DA PROPINA
João Eichbaum
Anunciada a PEC 241, logo
surgiram as primeiras reações populares, com grupos ensaiando protestos e ocupando escolas. Houve conflitos de pais e
estudantes, que não queriam ocupações, contra os invasores. O governo se
manteve alheio, como se nada tivesse a ver com o assunto. O MEC preferiu negar
educação para quem queria estudar, a barrar a ação dos profissionais da
baderna.
Nesse interregno, Renan
desacatou ordem judicial. Em resposta, o Supremo ficou de quatro e ouviu de
todo o Brasil o que nunca em sua história tinha ouvido. Foi avacalhado em
uníssono, destruiu o resto da confiança que o povo depositava nele.
No ato seguinte, a imprensa,
que não cala, fez o que lhe competia: foi atrás da notícia e a trouxe, botando
a nu políticos da esquerda e da direita, falsos cordeiros e lobos assumidos,
tendo à frente das manchetes Michel Temer: todos encontrados nos vômitos da
delação Odebrecht.
A delação apocalíptica
plantou o terror. Os políticos,
anunciados no listão dos vilões e das iniquidades, experimentaram a humilhação
cotidiana a que eles submetem o povo. As instituições foram escorraçadas para
os lixões do desprezo.
Então, com o peito cheio de prebendas e
devidamente blindado contra as maldades previdenciárias, surgiu o comandante do
exército, dando entrevista. Entre o povo e as instituições desprezadas, o
general mostrou claramente de que lado está. Não é exatamente ao lado do povo,
a quem chamou de tresloucado.
O povo não tem voz nem vez,
na Constituição Federal. As Forças Armadas só terão vez quando o país entrar em
guerra, ou quando algum dos Três Poderes as chamar. Ao que se saiba, nenhum dos
Três Poderes chamou o general. E de guerra nem se cogita, porque nenhum país,
fronteiriço ou distante, irá gastar chumbo em chimango.
Resultado: a fala do
comandante o transformou em vidraça e o arrastou para o poço dos achincalhes,
nas redes sociais, que hoje em dia substituem os mictórios públicos. Mas,
paradoxalmente, ela serviu de Viagra para a concupiscência política de Renan
Calheiros. Arrotando poder, o alagoano saiu botando leis pela popa, com a fúria
de um tirano. Então o mundo inteiro ficou sabendo que este país tem muito a
contribuir para a história universal da corrupção.
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