sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

RESUMO DA ÓPERA DA PROPINA

João Eichbaum

Anunciada a PEC 241, logo surgiram as primeiras reações populares, com grupos ensaiando protestos e  ocupando escolas. Houve conflitos de pais e estudantes, que não queriam ocupações, contra os invasores. O governo se manteve alheio, como se nada tivesse a ver com o assunto. O MEC preferiu negar educação para quem queria estudar, a barrar a ação dos profissionais da baderna.

Nesse interregno, Renan desacatou ordem judicial. Em resposta, o Supremo ficou de quatro e ouviu de todo o Brasil o que nunca em sua história tinha ouvido. Foi avacalhado em uníssono, destruiu o resto da confiança que o povo depositava nele.

No ato seguinte, a imprensa, que não cala, fez o que lhe competia: foi atrás da notícia e a trouxe, botando a nu políticos da esquerda e da direita, falsos cordeiros e lobos assumidos, tendo à frente das manchetes Michel Temer: todos encontrados nos vômitos da delação Odebrecht.

A delação apocalíptica plantou o terror.  Os políticos, anunciados no listão dos vilões e das iniquidades, experimentaram a humilhação cotidiana a que eles submetem o povo. As instituições foram escorraçadas para os lixões do desprezo.

 Então, com o peito cheio de prebendas e devidamente blindado contra as maldades previdenciárias, surgiu o comandante do exército, dando entrevista. Entre o povo e as instituições desprezadas, o general mostrou claramente de que lado está. Não é exatamente ao lado do povo, a quem chamou de tresloucado.

O povo não tem voz nem vez, na Constituição Federal. As Forças Armadas só terão vez quando o país entrar em guerra, ou quando algum dos Três Poderes as chamar. Ao que se saiba, nenhum dos Três Poderes chamou o general. E de guerra nem se cogita, porque nenhum país, fronteiriço ou distante, irá gastar chumbo em chimango.

Resultado: a fala do comandante o transformou em vidraça e o arrastou para o poço dos achincalhes, nas redes sociais, que hoje em dia substituem os mictórios públicos. Mas, paradoxalmente, ela serviu de Viagra para a concupiscência política de Renan Calheiros. Arrotando poder, o alagoano saiu botando leis pela popa, com a fúria de um tirano. Então o mundo inteiro ficou sabendo que este país tem muito a contribuir para a história universal da corrupção.


Nenhum comentário: