quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O APITO FINAL

João Eichbaum

Eles nunca imaginaram que um dia teriam a torcida do mundo inteiro a seu favor, e que o adversário não teria ninguém na arquibancada. E nunca imaginaram também que aquele jogo não seria um jogo apenas decisivo, mas o jogo definitivo. Era o jogo contra o mais poderoso, o mais temido, o mais cruel adversário: a morte.

Também não imaginavam que, ao invés da entrada em campo, aquilo era, na verdade, a saída, o fim do jogo, o apito final. Não imaginavam que jamais haveria prorrogação daquela foto que sua amada bateu no celular, quando já se dirigiam para o portão de embarque. E que seu último sorriso, seu último gesto de despedida, a mão abanando, era também o último pênalti marcado, para sair com as mãos levantando na direção do céu, pedindo apenas isso: mais uma chance para viver.

 A morte, para eles, podia ser realidade, mas uma realidade distante, impensável, que só se mostra para os velhos, os doentes, os que foram deixados pelo destino à margem da vida. Mas, de repente ela enviou avisos, nítida, sem rodeios:  no desequilíbrio do avião, no voo cego, naquelas voltas que não tinham fim, na súbita transformação da esperança em desespero.

Naquele jogo definitivo a morte se anunciou minutos antes de sua chegada. Ela chegou sorrateira, de improviso, chegou muito antes do prazo de validade que a natureza assina para cada um. Primeiro lhes trucidou a alma, aguçando-lhes o pavor diante da dor física inevitável e da certeza de que tudo estava acabando. Depois, subtraiu-lhes a vida, com um estrondo que eles nem chegaram a ouvir.

Mas, a torcida, a torcida no mundo inteiro ouviu esse estrondo, que foi o apito final no jogo contra a morte. E, petrificada pela tristeza, essa imensa torcida calou-se. Não mais vibrou, nem vaiou, nem aplaudiu. Simplesmente se calou, com as lágrimas a lhe deixarem um gosto de sal no canto da boca: seu time, que havia se transformado no único time de futebol do mundo naquela hora, havia perdido o campeonato. Adeus, meninos.



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