O APITO FINAL
João Eichbaum
Eles nunca imaginaram que um
dia teriam a torcida do mundo inteiro a seu favor, e que o adversário não teria
ninguém na arquibancada. E nunca imaginaram também que aquele jogo não seria um
jogo apenas decisivo, mas o jogo definitivo. Era o jogo contra o mais poderoso,
o mais temido, o mais cruel adversário: a morte.
Também não imaginavam que,
ao invés da entrada em campo, aquilo era, na verdade, a saída, o fim do jogo, o
apito final. Não imaginavam que jamais haveria prorrogação daquela foto que sua
amada bateu no celular, quando já se dirigiam para o portão de embarque. E que
seu último sorriso, seu último gesto de despedida, a mão abanando, era também o
último pênalti marcado, para sair com as mãos levantando na direção do céu,
pedindo apenas isso: mais uma chance para viver.
A morte, para eles, podia ser realidade, mas
uma realidade distante, impensável, que só se mostra para os velhos, os
doentes, os que foram deixados pelo destino à margem da vida. Mas, de repente
ela enviou avisos, nítida, sem rodeios:
no desequilíbrio do avião, no voo cego, naquelas voltas que não tinham
fim, na súbita transformação da esperança em desespero.
Naquele jogo definitivo a morte se
anunciou minutos antes de sua chegada. Ela chegou sorrateira, de improviso,
chegou muito antes do prazo de validade que a natureza assina para cada um. Primeiro
lhes trucidou a
alma, aguçando-lhes o pavor diante da dor física inevitável e da certeza de que
tudo estava acabando. Depois, subtraiu-lhes a vida, com um estrondo que eles nem
chegaram a ouvir.
Mas, a torcida, a torcida no mundo
inteiro ouviu esse estrondo, que foi o apito final no jogo contra a morte. E,
petrificada pela tristeza, essa imensa torcida calou-se. Não mais vibrou, nem
vaiou, nem aplaudiu. Simplesmente se calou, com as lágrimas a lhe deixarem um
gosto de sal no canto da boca: seu time, que havia se transformado no único
time de futebol do mundo naquela hora, havia perdido o campeonato. Adeus,
meninos.
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