segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

SEM NATAL NO STF*

João Eichbaum

A ministra Carmen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, decidiu que esse ano não haverá o almoço comemorativo de Natal naquela Corte. Como todo mundo sabe, o encontro de Natal do pessoal da firma é um evento quase obrigatório no mundo cristão. Os chefes fazem questão de unir a todos e, para isso, serve exatamente a chamada “festa máxima da cristandade”.

Segundo o costume, nessas ocasiões, já que o Natal não é apenas uma efeméride cristã, mas também uma ferramenta que serve para alavancar a economia, o tradicional “amigo secreto”, ponto alto dos brindes baratos e dos falsos sorrisos, não pode faltar. É a ocasião que serve para tudo, para coisas boas ou detestáveis: você terá que apertar a mão daquele pulha que detesta, mas também poderá ter a sorte de receber um beijo da gostosa do RH.

Parece que a Carmen Lúcia não acredita muito na força do mandamento cristão que ordena o amor ao próximo, para cuja eficácia o Natal é a ocasião mais propícia. Parece que sua fé não vai tão longe. Mesmo sabendo que seus pares são cristãos e que nenhum teria coragem suficiente para se dizer ateu, ela vacila nesse item.

A questão é a seguinte: no ano que está por findar, o STF se mostrou tal qual ele, na realidade, é. Ao contrário do que o povo imaginava, enxergando na Suprema Corte, a “turris eburnea” (torre de marfim) que entesoura um valor inestimável chamado Justiça, aquele tribunal mais expôs as criaturas humanas que o compõem, do que o Direito propriamente dito.

Bate-bocas, xingamentos e menosprezo no plenário e na imprensa, decisões que o Direito não explica, pedaladas jurídicas e outras atitudes negativas foram as faces que o STF mais mostrou ao distinto público.

O gigantismo dos egos jamais poderá ser suplantado pelo espírito natalino, que é metido goela abaixo nesses almoços, jantas e encontros de Natal. Mais bafejada pela prudência do que pela fé, Carmen Lúcia preferiu acreditar que nem esse faz-de-conta tem vez naquela Corte.

* Crônica publicada no jornal Visão do Vale




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