SEM NATAL NO STF*
João Eichbaum
A ministra Carmen Lúcia,
presidente do Supremo Tribunal Federal, decidiu que esse ano não haverá o
almoço comemorativo de Natal naquela Corte. Como todo mundo sabe, o encontro de
Natal do pessoal da firma é um evento quase obrigatório no mundo cristão. Os
chefes fazem questão de unir a todos e, para isso, serve exatamente a chamada
“festa máxima da cristandade”.
Segundo o costume, nessas ocasiões,
já que o Natal não é apenas uma efeméride cristã, mas também uma ferramenta que
serve para alavancar a economia, o tradicional “amigo secreto”, ponto alto dos
brindes baratos e dos falsos sorrisos, não pode faltar. É a ocasião que serve
para tudo, para coisas boas ou detestáveis: você terá que apertar a mão daquele
pulha que detesta, mas também poderá ter a sorte de receber um beijo da gostosa
do RH.
Parece que a Carmen Lúcia
não acredita muito na força do mandamento cristão que ordena o amor ao próximo,
para cuja eficácia o Natal é a ocasião mais propícia. Parece que sua fé não vai
tão longe. Mesmo sabendo que seus pares são cristãos e que nenhum teria coragem
suficiente para se dizer ateu, ela vacila nesse item.
A questão é a seguinte: no
ano que está por findar, o STF se mostrou tal qual ele, na realidade, é. Ao
contrário do que o povo imaginava, enxergando na Suprema Corte, a “turris
eburnea” (torre de marfim) que entesoura um valor inestimável chamado Justiça,
aquele tribunal mais expôs as criaturas humanas que o compõem, do que o Direito
propriamente dito.
Bate-bocas, xingamentos e
menosprezo no plenário e na imprensa, decisões que o Direito não explica,
pedaladas jurídicas e outras atitudes negativas foram as faces que o STF mais mostrou
ao distinto público.
O gigantismo dos egos jamais
poderá ser suplantado pelo espírito natalino, que é metido goela abaixo nesses
almoços, jantas e encontros de Natal. Mais bafejada pela prudência do que pela
fé, Carmen Lúcia preferiu acreditar que nem esse faz-de-conta tem vez naquela
Corte.
* Crônica publicada no
jornal Visão do Vale
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