terça-feira, 6 de dezembro de 2016

QUANDO O PODER NÃO DIGNIFICA O HOMEM

João Eichbaum

“A valente Chapecoense merecia um país melhor”, escreveu, pleno de inspiração, José Henrique Mariante, na Folha de São Paulo. Realmente. Enquanto o país inteiro, perplexo, dominado pela comoção, já antes do raiar do dia chorava, a Câmara de Deputados se transformava num covil de maquinações.

Não há outra desculpa para a insanidade dos deputados: só um covil, inteiramente fechado, bloqueado, desligado de tudo o que acontecesse no mundo, lhes serviria de esconderijo, no turvo propósito de tramar contra o povo brasileiro.

O tresloucado espírito de vingança de Renan Calheiros, que tentou levar o texto do projeto para a aprovação no Senado, no mesmo dia fatídico em que os brasileiros estavam amordaçados pela dor, nem se pode dizer que seja pior. Renan Calheiros é o que o Brasil inteiro sabe o que ele é. Seu perfil, sua personalidade, a massa psíquica que lhe comanda o comportamento, dispensa adjetivos. Nada que parta dele, de uns tempos para cá, gera outro sentimento nos brasileiros que não seja aversão, nojo, vontade de vomitar.

Só a indignidade explica esse descompasso emocional, num dia que não será facilmente esquecido, o 29 de novembro de 2016. A impiedosa fatalidade, que nem aos mais brutos deixou indiferentes, que ocupou o coração de quem gosta e de quem não gosta de futebol, mostrou que os deputados federais deste país são entes de que não se podem orgulhar os brasileiros.

Até aqueles que antes se xingavam, se agrediam, se engalfinhavam, ficaram juntos, na hora em que o cérebro lhes vazou pelo traseiro, criando uma lei para acobertar crimes e criminosos. Alguns, prestes a responder a processos penais, e outros já tendo sido até condenados, mostraram o que realmente são: criaturas que não passam pelo detector de dignidade.

Ninguém aqui está contando novidades. Não se está a censurar aqui um fato inusitado, um deslize ocasional, um descuido, uma descostura involuntária no tecido da dignidade nacional. Não. Foi pura questão de rotina: para os tipos e as figuras que se concentram no parlamento brasileiro, as leis não passam de um simples arroto do poder. E o povo que vá girar a roda da sorte, para ver se dá alguma coisa.


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