terça-feira, 31 de janeiro de 2017

ASSIM SE FAZ UM MINISTRO DO SUPREMO
João Eichbaum
Na edição do último fim de semana, Zero Hora conta histórias folclóricas, que tornam folclóricos os candidatos a ministro do STF. É de morrer de rir a história do Luiz Fux. Quando recebeu, da própria Dilma, a informação de que seria ele o indicado, Fux despencou num vale de lágrimas.

Para se livrar do chorão, Dilma ordenou que o levassem num carro da Presidência. Lá pelas tantas, o motorista parou o carro e ligou para a presidente: “o rapaz continua chorando, o que faço?”. Dilma respondeu:  “espere que ele pare de chorar e pergunte para onde ele quer ser levado”. Não se sabe o que ele disse. Mas, se ele não fosse judeu, pediria, certamente, que o motorista o levasse até a Catedral de Brasília.

 O corpo de Teori Zawaski nem tinha sido retirado do avião submerso, e já o sonho de ser ministro do Supremo Tribunal Federal, na contramão da ordem natural, tirava o sono de muitos doutores, mestres e bacharéis de Direito.

Durante o velório do falecido ministro, o caixão esteve cercado por candidatos sonhadores. Empurrados pela certeza de que “quem não é visto, não é lembrado”, lá estavam aqueles engravatados senhores, botando na cara os ares de condolências compatíveis com o rito e com os costumes cristãos de se despedir dos mortos.

A presença do chefe da nação e de políticos que se tornam respeitáveis para quem deseja uma boca rica nesta república, além das augustas presenças de ministros do Supremo Tribunal Federal e de outras figuras ligadas ao mundo jurídico, transformava aquele ambiente na passarela ideal para o desfile de quem ambiciona a toga daquela Corte.

O velório foi, enfim, o apito de largada. A partir daquele momento, a vaidade passou a assumir a rédea do caráter dos candidatos, transformando-os em dóceis cordeiros, servos fiéis de ilustres padrinhos, homens despidos de arrogância, desapegados de princípios que defenderiam até a morte, se a vaidade não lhes exigisse tal renúncia, para vestirem a almejada toga.

É assim. A vaidade empobrece e envilece o homem. Na corrida pela toga de ministro do Supremo Tribunal Federal, os doutores e bacharéis, que se têm ou são tidos por sábios, se tornam pedintes e romeiros vulgares das vias do Poder. Nesse rastejar, eles se desatrelam da própria personalidade e deixam de ser árbitros do próprio destino, entregando-o, por via das dúvidas, nas mãos de safados ou de santos, porque nunca se sabe quem é quem na política.

Quem os vê depois, com a empáfia de deuses debaixo das farfalhas da toga, emparedados na sua torre de marfim e desconhecendo as injustiças que sofremos todos os dias, não imagina de que coisas foram eles capazes para chegar lá, o quanto perderam de si, o quanto se desnudaram,  quantas fraquezas tiveram que mostrar.


É o preço que paga para obter um respeito, que não merece, o homem dessangrado em humilhações e empobrecido pela vaidade. Ou vocês acham que  merecem respeito as lágrimas do Luiz Fux?

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