ASSIM SE FAZ UM MINISTRO DO
SUPREMO
João Eichbaum
Na edição do último fim de
semana, Zero Hora conta histórias folclóricas, que tornam folclóricos os
candidatos a ministro do STF. É de morrer de rir a história do Luiz Fux. Quando
recebeu, da própria Dilma, a informação de que seria ele o indicado, Fux
despencou num vale de lágrimas.
Para se livrar do chorão,
Dilma ordenou que o levassem num carro da Presidência. Lá pelas tantas, o
motorista parou o carro e ligou para a presidente: “o rapaz continua chorando,
o que faço?”. Dilma respondeu: “espere
que ele pare de chorar e pergunte para onde ele quer ser levado”. Não se sabe o
que ele disse. Mas, se ele não fosse judeu, pediria, certamente, que o motorista
o levasse até a Catedral de Brasília.
O corpo de Teori Zawaski nem tinha sido
retirado do avião submerso, e já o sonho de ser ministro do Supremo Tribunal
Federal, na contramão da ordem natural, tirava o sono de muitos doutores,
mestres e bacharéis de Direito.
Durante o velório do
falecido ministro, o caixão esteve cercado por candidatos sonhadores.
Empurrados pela certeza de que “quem não é visto, não é lembrado”, lá estavam
aqueles engravatados senhores, botando na cara os ares de condolências
compatíveis com o rito e com os costumes cristãos de se despedir dos mortos.
A presença do chefe da nação
e de políticos que se tornam respeitáveis para quem deseja uma boca rica nesta
república, além das augustas presenças de ministros do Supremo Tribunal Federal
e de outras figuras ligadas ao mundo jurídico, transformava aquele ambiente na
passarela ideal para o desfile de quem ambiciona a toga daquela Corte.
O velório foi, enfim, o
apito de largada. A partir daquele momento, a vaidade passou a assumir a rédea
do caráter dos candidatos, transformando-os em dóceis cordeiros, servos fiéis
de ilustres padrinhos, homens despidos de arrogância, desapegados de princípios
que defenderiam até a morte, se a vaidade não lhes exigisse tal renúncia, para
vestirem a almejada toga.
É assim. A vaidade empobrece
e envilece o homem. Na corrida pela toga de ministro do Supremo Tribunal
Federal, os doutores e bacharéis, que se têm ou são tidos por sábios, se tornam
pedintes e romeiros vulgares das vias do Poder. Nesse rastejar, eles se desatrelam
da própria personalidade e deixam de ser árbitros do próprio destino,
entregando-o, por via das dúvidas, nas mãos de safados ou de santos, porque
nunca se sabe quem é quem na política.
Quem os vê depois, com a
empáfia de deuses debaixo das farfalhas da toga, emparedados na sua torre de
marfim e desconhecendo as injustiças que sofremos todos os dias, não imagina de
que coisas foram eles capazes para chegar lá, o quanto perderam de si, o quanto
se desnudaram, quantas fraquezas tiveram
que mostrar.
É o preço que paga para
obter um respeito, que não merece, o homem dessangrado em humilhações e empobrecido
pela vaidade. Ou vocês acham que merecem
respeito as lágrimas do Luiz Fux?
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