ENTRE COCHICHOS E JANTARES
João Eichbaum
No domingo que se seguiu ao enterro de
Teori Zawaski, reuniram-se no Palácio Jaburu, em cujo pátio foram flagrados à
sombra de árvores por repórteres da Globo, Michel Temer, Gilmar Mendes e
Moreira Franco, secretário de Parcerias e Investimentos. O encontro se
prolongou pela tarde e findou à noite com um jantar.
Os cochichos entre os três, com certeza,
não eram para contar piadas de papagaio ou anedotas de sacanagem. De certo
também não versavam sobre as excelsas virtudes do finado e tampouco sobre os
milhões de desempregados do país. A toga que ficou sobrando no Supremo Tribunal
Federal, com a partida sem adeus de Teori Zavaski, deve ter sido o móbil da
conversa.
Gilmar Mendes não estava lá, representando
o STF. As confabulações com Temer e Moreira Franco não dizem respeito a
assuntos próprios de seu ofício. Afinal, seu ofício é um só: julgar. Mas, para
julgar, ele não precisa consultar o Presidente da República, nem qualquer
ministro que componha o time do Executivo.
Só os ingênuos não atinarão com essa
indisfarçável inquietude de Gilmar Mendes. Na certa ele já tem o número do
candidato que irá vestir a toga, sob medida, no STF. Ou, se assim não for, ele
deve estar se sentindo com a força de um cupido, para flechar alguém que tenha
as preferências de Temer, na composição daquela Corte.
Embora esse jeito de ser e de agir não
seja próprio de um ministro do Supremo, de quem se espera um pudor de noiva, além
de circunspecção, equilíbrio, sensatez e
sabedoria, a desenvoltura de Gilmar Mendes, num palco destinado à política,
poderia passar em branco, longe dos olhos da imprensa e da cupidez das redes
sociais, não fossem os efeitos
colaterais.
Acontece que o cargo de Michel Temer
está a depender de julgamento no Superior Tribunal Eleitoral, que é presidido
pelo mencionado Gilmar. Além disso, prenunciam oráculos dignos de fé que estilhaços
da Lava Jato, poderão cair no colo do marido da Marcela, quando as delações
desovadas pelos executivos da Odebrecht provocarem o deus nos acuda do juízo
final.
O cenário em que a larva da imoralidade
vai decompondo a crença na política não é o melhor lugar para cochichos e
jantares de egrégios juízes e virtuais réus, ou partes visceralmente
comprometidas com alguma causa em juízo. Por melhores que sejam as intenções de
qualquer juiz, do primeiro ao último grau, ele não pode se considerar maior do
que a toga, que lhe dá apenas o poder de julgar.
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