sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

RICO RI À TOA

João Eichbaum

A situação, no Rio Grande do Sul, o Estado que uma vez exportava modelos de façanhas, mas hoje não passa duma imensa cabanha de vacas magras, está mais para cócegas de pulgas do que para cócegas de gargalhadas; mais para sorrisinho amarelo do que para exposição de arquitetura odontológica.

Há escolas caindo aos pedaços, com salas de aula desprotegidas contra a chuva, paredes sem pintura, telhados vulneráveis, instalações sanitárias deficientes, patrimônio mobiliário sem garantia contra furtos e depredações.

O sistema prisional, que mais lembra a idade média do que a moderna era da tecnologia, é um palco para desfile de tragédias e incompetência. Os presídios não passam de casarões com muros, grades e paredes, nas quais a umidade desenha as figuras escabrosas do descaso. Lá dentro, onde pequenos espaços são disputados por um amontoado descomunal de gente, a miséria humana se desabotoa, para escândalo de quem acredita em dignidade.

Encerrado num presídio, ninguém é feliz, ninguém se sente justiçado de acordo com o Direito: todo mundo se considera “vítima do sistema”. Aqui no Estado, juntando-se essa insatisfação natural à revolta contra o descalabro material, criou-se um fosso de ódio entre a sociedade e os segregados.

Reunida, a nata da bandidagem organizou o crime de tal forma, que o Estado se apequenou: não teve mais condições de oferecer segurança aos cidadãos. Pipocando aqui e acolá, o crime faz o Estado de bobo: enquanto o poder estatal corre para um lado, o poder criminal pratica suas atrocidades em outra ponta.

Na saúde e no sistema viário nada existe que faça sorrir. Hospitais precários, sem condições de atender à demanda por falta de leitos e com estrutura técnica do tempo da gonorreia, a saúde é mais administrada por liminares apressadinhas do Judiciário do que pela Secretaria competente. Para transitar por estradas esburacadas, sem sinalização, sem segurança para pedestres e motoristas, paga-se pedágio.

E para emoldurar esse quadro de iniquidades sociais, a falta de dinheiro levou o governador Ivo Sartori a fechar a porta da felicidade para muitas famílias. Com os salários atrasados e parcelados, professores, policiais, agentes penitenciários, peritos do IGP e funcionários de todos os níveis, encarregados de tocar a máquina estatal, têm que fazer ginástica para sobreviver, pagar aluguel ou prestação de casa, e iludir os filhos com a falsa promessa de que no mês que vem será melhor.

Mesmo diante desse descalabro social, com milhões de gaúchos sem razão alguma para sorrir, o que mais a imprensa mostra no rosto do ex-seminarista Ivo Sartori é o sorriso, um largo sorriso, o mesmo sorriso de quem senta à janela enfeitada com gerânios e tem vista para o mar.

Está muito longe do bom senso acreditar que ele ache tudo isso lindo e maravilhoso. Mas, viverá Sua Excelência em outro mundo? Conseguirá ele transformar em sinfonia de ovações os berros desafinados dos apupos? Não lhe pesam a responsabilidade e o tamanho do cargo? Ou ele ri só de pensar em sua aposentadoria vitalícia, com salário de desembargador?




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