RICO RI À TOA
João Eichbaum
A situação, no Rio Grande do
Sul, o Estado que uma vez exportava modelos de façanhas, mas hoje não passa
duma imensa cabanha de vacas magras, está mais para cócegas de pulgas do que
para cócegas de gargalhadas; mais para sorrisinho amarelo do que para exposição
de arquitetura odontológica.
Há escolas caindo aos pedaços,
com salas de aula desprotegidas contra a chuva, paredes sem pintura, telhados
vulneráveis, instalações sanitárias deficientes, patrimônio mobiliário sem
garantia contra furtos e depredações.
O sistema prisional, que mais
lembra a idade média do que a moderna era da tecnologia, é um palco para
desfile de tragédias e incompetência. Os presídios não passam de casarões com
muros, grades e paredes, nas quais a umidade desenha as figuras escabrosas do
descaso. Lá dentro, onde pequenos espaços são disputados por um amontoado
descomunal de gente, a miséria humana se desabotoa, para escândalo de quem
acredita em dignidade.
Encerrado num presídio,
ninguém é feliz, ninguém se sente justiçado de acordo com o Direito: todo mundo
se considera “vítima do sistema”. Aqui no Estado, juntando-se essa insatisfação
natural à revolta contra o descalabro material, criou-se um fosso de ódio entre
a sociedade e os segregados.
Reunida, a nata da
bandidagem organizou o crime de tal forma, que o Estado se apequenou: não teve
mais condições de oferecer segurança aos cidadãos. Pipocando aqui e acolá, o
crime faz o Estado de bobo: enquanto o poder estatal corre para um lado, o
poder criminal pratica suas atrocidades em outra ponta.
Na saúde e no sistema viário
nada existe que faça sorrir. Hospitais precários, sem condições de atender à
demanda por falta de leitos e com estrutura técnica do tempo da gonorreia, a
saúde é mais administrada por liminares apressadinhas do Judiciário do que pela
Secretaria competente. Para transitar por estradas esburacadas, sem
sinalização, sem segurança para pedestres e motoristas, paga-se pedágio.
E para emoldurar esse quadro
de iniquidades sociais, a falta de dinheiro levou o governador Ivo Sartori a
fechar a porta da felicidade para muitas famílias. Com os salários atrasados e
parcelados, professores, policiais, agentes penitenciários, peritos do IGP e
funcionários de todos os níveis, encarregados de tocar a máquina estatal, têm
que fazer ginástica para sobreviver, pagar aluguel ou prestação de casa, e iludir
os filhos com a falsa promessa de que no mês que vem será melhor.
Mesmo diante desse
descalabro social, com milhões de gaúchos sem razão alguma para sorrir, o que
mais a imprensa mostra no rosto do ex-seminarista Ivo Sartori é o sorriso, um
largo sorriso, o mesmo sorriso de quem senta à janela enfeitada com gerânios e
tem vista para o mar.
Está muito longe do bom
senso acreditar que ele ache tudo isso lindo e maravilhoso. Mas, viverá Sua
Excelência em outro mundo? Conseguirá ele transformar em sinfonia de ovações os
berros desafinados dos apupos? Não lhe pesam a responsabilidade e o tamanho do
cargo? Ou ele ri só de pensar em sua aposentadoria vitalícia, com salário de
desembargador?
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