terça-feira, 17 de janeiro de 2017

BANDIDOS E CACHORROS

João Eichbaum

Segundo pesquisa conduzida pelo Datafolha no ano passado, para 57% dos brasileiros, “bandido bom é bandido morto”. Observe-se que a enquete foi realizada antes das barbáries praticadas nos presídios de Manaus, de Roraima e de Natal.

Imagine-se agora, depois desses últimos acontecimentos, que transmitiram à população a certeza de que o crime, sendo mais organizado do que o Estado, a esse subjuga. Mesmo sem índices estatísticos atuais, pode-se afirmar que a maioria do povo brasileiro jamais mostrou inclinação em favor dos criminosos.

Gente que, cercada de livros, em gabinetes com ar condicionado, se tem por intelectual mas, ao invés de argumentar, chama de “néscios” aos que pertencem à maioria da população, mostra alarmante incapacidade de raciocínio: a ofensa atrai para o ofensor a qualificação de “burro”, na ausência de argumentos que o coloquem em nível superior.

De certo esses “intelectuais” partem da falácia chamada “dignidade humana”, sofisma de filósofos cujas ideias nunca mostraram a que vieram. O mais elementar raciocínio revela que o homem, sendo apenas uma espécie do gênero animal, desse não consegue se desgarrar completamente. Toda a criatura humana pode virtualmente agir ora como homem, ora como animal, dependendo das circunstâncias.

Essa dualidade de comportamento já afasta, ontologicamente, a tese de que a “dignidade” nasce com o homem, é ínsita nele. A dignidade foi um termo convencional inventado pelo homem, para proporcionar a convivência social. Isso sim. O homem tem condições sociais de se portar com dignidade. Mas apenas condições sociais. Não, biológicas.

Biologicamente o ser humano é um animal igual aos outros. E nesse nível de igualdade há homens que se tornam inferiores a alguns animais quadrúpedes. Por exemplo, o convívio social do cão com o seu dono lhe aguça o instinto de tal forma, que ele pode se comportar melhor do que muitos homens.

Donde se pode extrair sinais de dignidade: da fidelidade de um cão, ou de um homem que retalha em fatias seus semelhantes, motivado unicamente pelo orgulho de demonstrar o seu poder?

A pergunta fica no ar. Respondam-na os “intelectuais”, para quem os bandidos vivos são tão bons como suas vítimas, estupradas, decapitadas, espoliadas sob violência. Sim, sendo todos criaturas humanas dotadas de dignidade, não se pode fazer diferença entre eles, não é?



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