HERÓIS NÃO FABRICADOS
João Eichbaum
Acidente aéreo é matéria
para repórter e não para cronista. A menos que haja muita fofoca para se extrair
do acidente ou que a reportagem não seja completa, deixando furos e motivos
para a imaginação voar, e isso de imaginação é coisa de cronista mesmo.
Claro que, sendo relator da
Lava Jato e tendo no colo uma bomba para desmontar, o Teori estava sujeito a
explosões. As delações da Odebrecht pairavam sobre cabeça de meio mundo,
tirando o sono de dezenas de políticos, muitos dos quais de altíssimo calibre.
Ocorrido o acidente com o
avião que levava o ministro, a primeira conclusão foi: mataram o Teori. E choveram
acusações, pragas, ofensas, ilações gratuitas, exclamações de ódio contra
supostos assassinos. Paralelamente surgiram airosos comentários sobre a pessoa
do relator da Lava Jato, sobressaltando sua isenção, seu espírito de justiça,
sua seriedade, seu heroísmo e outras virtudes capazes de despertar invejas em
querubins e serafins.
A imprensa, de uma hora para
a outra, saiu dos presídios para se concentrar exclusivamente na pessoa de Teori
Zavaski, para cogitar do “substituto” do Teori no Supremo e, perdida em
elucubrações, parece culpar a morte pelo atraso da Lava Jato. Esquece do fato, das
outras pessoas que estavam no avião, da realidade, das coisas da vida e da
morte, que exigem o verdadeiro heroísmo.
Os únicos heróis que
surgiram, em razão desse acidente, mas não mereceram uma linha sequer de
louvor, foram aquelas criaturas maravilhosas de pescadores, que conseguiram
evitar o afundamento da aeronave, os mergulhadores e os bombeiros que vararam a
noite fazendo das tripas coração para retirar as pessoas de dentro do aparelho.
Ninguém se torna herói
porque morre. Herói é aquele que arrisca a vida, para sustentar a família – sem
receber o salário em dia. Coisa que não acontece com políticos e juízes.
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