terça-feira, 24 de janeiro de 2017

HERÓIS NÃO FABRICADOS

João Eichbaum

Acidente aéreo é matéria para repórter e não para cronista. A menos que haja muita fofoca para se extrair do acidente ou que a reportagem não seja completa, deixando furos e motivos para a imaginação voar, e isso de imaginação é coisa de cronista mesmo.

Claro que, sendo relator da Lava Jato e tendo no colo uma bomba para desmontar, o Teori estava sujeito a explosões. As delações da Odebrecht pairavam sobre cabeça de meio mundo, tirando o sono de dezenas de políticos, muitos dos quais de altíssimo calibre.

Ocorrido o acidente com o avião que levava o ministro, a primeira  conclusão foi: mataram o Teori. E choveram acusações, pragas, ofensas, ilações gratuitas, exclamações de ódio contra supostos assassinos. Paralelamente surgiram airosos comentários sobre a pessoa do relator da Lava Jato, sobressaltando sua isenção, seu espírito de justiça, sua seriedade, seu heroísmo e outras virtudes capazes de despertar invejas em querubins e serafins.

A imprensa, de uma hora para a outra, saiu dos presídios para se concentrar exclusivamente na pessoa de Teori Zavaski, para cogitar do “substituto” do Teori no Supremo e, perdida em elucubrações, parece culpar a morte pelo atraso da Lava Jato. Esquece do fato, das outras pessoas que estavam no avião, da realidade, das coisas da vida e da morte, que exigem o verdadeiro heroísmo.

Os únicos heróis que surgiram, em razão desse acidente, mas não mereceram uma linha sequer de louvor, foram aquelas criaturas maravilhosas de pescadores, que conseguiram evitar o afundamento da aeronave, os mergulhadores e os bombeiros que vararam a noite fazendo das tripas coração para retirar as pessoas de dentro do aparelho.

Ninguém se torna herói porque morre. Herói é aquele que arrisca a vida, para sustentar a família – sem receber o salário em dia. Coisa que não acontece com políticos e juízes.






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