MULHER MODELO
Gostava de futebol, cerveja e mulher. Nesse terceiro item era compulsivo: não podia ver mulher, que dava em cima. Não tinha paciência, não ia devagar tipo tartaruga, partia sedento pra cima das fofas, se amarrava em sacanagens. Podia ser uma loira descomunal, dessas com o corpo mais que perfeito,.assim, tipo deusa nórdica, total, absoluta, aquele lance que deixa qualquer um doido. Podia ser um tribufu camuflado, um trambolho mascarado pelas luzes da boate. Podia até ser aquele tipo com bigode, que fica dando em cima e no escurinho ninguém nota nada, principalmente quando embalado pela cerveja.. Ou também aquelas ligeiramente acima do peso, uns doze quilos mais ou menos, que ele traçava, mesmo que estivesse tristemente sóbrio no momento. Algumas caiam na conversa e lhe enchiam de adjetivos: inteligente, bonito e boa-praça. Outras, nem tanto. Muito antes pelo contrário, lhe atiravam na cara que era o maior bofe do planeta, onde já se viu, não se enxerga esse barriga de nove meses. Colheu mulheres de todo o jeito, aquelas que gostavam de sofrer, que curtiam uma sessãosinha básica de sadomasô, aquelas com carinhos inimagináveis que curtiam um draminha de tudo bonitinho e perfeito, outras, aquelas que estão sempre no maior barato, sendo macho não importa.
Assim era ele, priápico, que sempre fazia hora extra no escritório e a esposa com a qual se unira pela Santa Madre Igreja engolia. Só que um dia se deu mal. Era um desses dias de verão escaldante e ele, ao chegar em casa, se desvencilhou do paletó, da gravata, da camisa e ainda afrouxou a cinta sobre aquele barrigão de sedentário. Não tinha se lembrado da “hora extra” e a mulher deu de olhos com aquela baita mancha de rímel pouco abaixo do umbigo dele.
Você teria explicação? Nem ele. Não é preciso dizer que a mulher armou o maior barraco. E só não teve que sair rua fora apenas com a roupa do corpo, porque seus demais pertences foram jogados pela janela do apartamente, adquirido em suaves prestações pelo sistema BNH.
Cabisbaixo e desgraçado, sem saber para onde ir, foi em direção à praia. Caminhou, caminhou e, quando lá chegou, se sentou sobre a areia, pensando na puta da vida e olhando a lua que inundava o mar de prata.
Foi aí que viu uma garrafa de cerveja. Caiu do céu, pensou. Só que tinha rolha e não tampinha. Melhor pra ele: meteu os dentes e tirou a rolha. Aí surgiu aquela enorme figura na frente dele: mais de dois metros de altura, dorso de mármore, braços e pernas mais possantes do que coxas de elefante:
-Sou um gênito – tonitroou o gigante. Obrigado por me ter libertado. Em agradecimento, posso lhe satisfazer o desejo que quiser, desde que seja o único.
Ele teve uma recaída de priapismo, não pensou duas vezes e, exaltado, pediu ao gênio, esfregando as mãos:
-Desejo aqui e agora, debaixo desse luar de prata na praia, a melhor mulher do mundo.
O gênio estalou os dedos e, naquele exato momento, apareceu, encurvada dentro do hábito azul, encarquilhada, raquítica e murcha como uma folha morta , produzindo o milagre de curar o mais granítico priapismo, a madre Tereza de Calcuttá.
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