A JUSTIÇA EM SANTA MARIA
Faz parte dos jargões jornalísticos tratar as decisões judiciais, como decisões “da justiça”. A gente abre os jornais e lá aparece: a justiça decretou a falência, a justiça decretou a prisão preventiva, a justiça concedeu “habeas corpus”, e por aí vai. A justiça. Como se “a justiça” fosse um ente etéreo, incorpóreo, desatrelado da humanidade e acima dela.
Quando dizem os jornais que “a justiça” ordenou isso ou aquilo, mandou prender, mandou soltar, mandou seqüestrar, permitiu escutas telefônicas, ordenou quebra de sigilos fiscal e bancário, etc, não passa pela cabeça de ninguém que “a justiça” possa ser uma mocinha de minissaia, bem maquiada, loira de farmácia, filhinha de papai, que nunca trabalhou na vida, mas freqüentou cursinhos pré-vestibulares, bebeu, dançou, foi pra boates e depois cursou a Ajuris, estudou, decorou, rodou no primeiro, no segundo, no terceiro e, talvez, no quinto concurso, tenha passado, tornando-se juíza. E que, com tal currículo, tenha saído a ordenar isso ou aquilo, a prender, a soltar, a seqüestrar, a ouvir escutas telefônicas, a quebrar sigilos fiscal e bancário, etc. Ou a gordinha mal-amada que, finalmente, depois de passar no concurso de juiz, pôde dar emprego de marido ao saradão aquele, com quem anda à tiracolo, para arrancar suspiros e despertar a inveja das amigas. Ou a morena gostosa, peituda e bunduda, que teve que dar pra todo mundo, a fim de passar no concurso. Ou o rapagão bonito de olhos azuis, boa pinta e bem falante, que também nunca soube o que é basquetear na vida, mas é igualmente filhinho de papai, de desembargador, de procurador, de ministro, do papai, enfim, que pôde se dar o luxo de lhe pagar cursos e mais cursos, por quantos anos foram necessários, para que o garanhão se tornasse juiz. Ou o rapazinho e a menina sérios, compenetrados, estudiosos, intelectuais, mas sem nenhuma intimidade com os revezes da vida, e cujo único objetivo era um bom emprego, à altura do seu “status”, como a magistratura, que lhes proporcionou mestrado, doutorado, especializações e um lugar de prestígio no olimpo dos juristas.
Pois a “justiça” pode ser tudo isso e mais um pouco, ou menos um pouco: gente cheia de defeitos, como qualquer um de nós, que tem a vantagem de ter o poder na mão.
Tudo isso me ocorre a propósito da “justiça” de Santa Maria que transformou o Código de Processo Penal em quermesse, convocou seguranças, imprensa, rádio, televisão, refletores, câmeras e microfones para receber uma denúncia. Só faltaram os fogos de artifício, a bandinha alemã e a bênção do bispo. Será que essa mesma “justiça” age assim também quando o réu é um pé-de-chinelo, que não dá ibope?
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Um comentário:
Adorei ... perfeito!
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