terça-feira, 18 de agosto de 2009

ATROPELANDO O VERNÁCULO
João Eichbaum*
A juíza Simone Barbisan Fortes, de Santa Maria, é a personagem que mais tem atraído refletores, microfones, câmeras e gravadores ultimamente. Aparece nos jornais com todas as poses possíveis. Até trepando. Sim, trepando num paredão. Eu vi com esses olhos míopes e estragados pela catarata.
Pois a meritíssima deve ser “doutora”, pelo que andei lendo, ela já não leciona nos cursos de graduação e espalha sua cultura, naturalmente, em cima dos futuros doutores.
Pois, bem. É da lavra de sua imensa e superior cultura essa preciosidade, transcrita em grossos caracteres nos jornais:
O fato “de que alguns desses agentes políticos possam incidir na prática de crimes de responsabilidade e de que tenham foro privilegiado em ações penais não implicaria na impossibilidade de que possam responder por improbidade administrativa”.
Preste, atenção no modo dos verbos: possam, tenham e possam todos no subjuntivo, com um futuro do pretérito no meio (implicaria).
Como vocês sabem, e qualquer pessoa razoavelmente alfabetizada sabe, o modo subjuntivo não expressa um fato, um acontecimento certo, real, mas, ao contrário, uma hipótese, uma dúvida, uma eventualidade, uma possibilidade, uma condição. Então, sem agredir o vernáculo, não é permitido dizer “o fato de que alguém possa”. O correto é “a hipótese de que alguém possa”. O mesmo vale para o verbo “ter”, empregado no subjuntivo (tenham).
Mas, pior que tudo isso é o uso do verbo no futuro do pretérito (implicaria) ligado a um verbo conjugado, mais uma vez, no subjuntivo (” possam”). O futuro do pretérito não combina com o presente.
Ainda não é tudo. “Incidir” significa “cair por cima”, cair sobre”, “refletir-se”. Como é que se vai “cair por cima” da prática de crimes? E o verbo implicar, doutora, é transitivo direto, dispensa a preposição.
Abstraída a superposição de negações, (não implicaria impossibilidade) que equivale a uma afirmação, pode-se traduzir, em vernáculo correto, o despacho da “doutora”:
A hipótese “de que alguns desses agentes políticos possam responder pela prática de crimes de responsabilidade e de que tenham foro privilegiado em ações penais não implica (finalmente um modo indicativo) a impossibilidade de que possam responder por improbidade administrativa”.
Não é uma bela frase essa, cheia de ”possam”, mas respeita a gramática, quebra o galho e não o vernáculo.
*Doutor em PONE (porra nenhuma)

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