segunda-feira, 31 de maio de 2010

CRÔNICAS IMPUDICAS

TRINTA DINHEIROS A JUROS

João Eichbaum

Trinta dinheiros foi o valor embolsado por Judas, um dos apóstolos, para entregar Jesus Cristo, o filho de uma certa Maria, de Nazaré, que era noiva de um tal de José, e de cujo casamento, por sinal, até hoje não se tem notícia.
Trinta dinheiros devia ser preço de tabela, porque os consumidores não reclamaram. Nem barganha houve, pelo que se sabe: foi toma lá e dá cá, me passa a grana e pode levar o Cristo.
Assim começou o cristianismo, com um capital inicial de trinta dinheiros.
Não fossem os trinta dinheiros, não haveria cristianismo, o filho da Maria não teria sido crucificado, teria morrido de velho e aí não haveria graça nenhuma. Iriam vender o quê os cristãos, para conseguir o capital, iriam captar onde os recursos para a montagem do seu negócio?
Tudo isso me ocorreu ao ouvir a seguinte publicidade, conclamando turistas, numa emissora do interior: “ a paróquia de Flores da Cunha estará promovendo, na próxima quinta-feira, a grande festa de “Corpus Christi”, com animação de banda, churrasco, jogos e diversões. Venha participar da festa, apreciando também as ruas enfeitadas para a procissão”.
Tudo de graça? Hã! Aqui, ó!
O corpo do Cristo até hoje está rendendo, a partir daqueles trinta dinheiros. Olhem as maravilhas da cristandade, as enormes igrejas, as basílicas, as obras de arte de valor inestimável, o fausto e a pompa do Vaticano, o apostólico turismo dos papas, e me digam: não foram realmente os trinta dinheiros que pariram toda essa riqueza?
Quem de vocês conhece algum capital que tenha rendido tantos juros?
Por isso, minha gente, festa e festa, com direito a feriado na próxima quinta-feira, todo mundo folgando, tudo por conta do corpo de Cristo que custou só trinta dinheiros. Amém.

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