segunda-feira, 5 de julho de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

MEU HERÓI

Como o leitor deve ter notado, não sou muito chegado a futebol. No entanto, daqui a pouco, estarei em meu boteco com meus amigos, erguendo um brinde a este brasileiro extraordinário, Felipe Melo.
É com homens desta fibra que se constrói uma nação.

ALL HAIL THE DUTCH PEOPLE!

Quem me conhece sabe que hoje estou feliz. Uma amiga gaúcha me perguntava se eu não tinha time. Justo quando eu lhe respondia que tinha time sim, mas só durante as Copas, o Brasil já havia feito um gol. Qual meu time? Qualquer um, desde que jogasse contra o Brasil. As Copas são meu inferno astral, já disse. No jogo anterior, contra Portugal, consegui encontrar um restaurante italiano que não tinha televisão. Miracolo! – pensei com meus botões. Santa ilusão. Às três horas – sempre almoço tarde – todos os funcionários haviam dado no pé e um garçom perplexo me olhava esperando que eu pedisse a conta.
Com o primeiro gol de hoje, perdi as esperanças de qualquer paz. Já começava a lidar com a idéia de um hexa quando, às 13h08, entra mail em meu correio de outra amiga muita querida: “Aconteceu algo muito bom hoje ... e a manada barulhenta vai enfiar suas cornetas no saco. Vais escrever sobre o assunto? Beijos”.
Beijo de volta. Como não escrever? Poucas coisas me alegram tanto como ver o Brasil perder numa Copa. Aí acaba essa fuzarca obscena. Mas não imagine o leitor que me disponho a torcer. Tanto que nem sabia do resultado do jogo. Fui ao UOL e vi que minha pátria querida havia sido escanteada da Copa. Com perdão pelo trocadilho,
Salve Holanda, pendão da esperança,salve símbolo augusto da paz.Tua nobre presença à lembrança,a miséria da pátria nos traz.
Não gosto de trocadilhos. C'est la fiente de l'esprit, dizia Balzac. Mas hoje não resisti. Terei paz nos próximos dias. Honra e glória aos bravos holandeses, que fizeram o país retornar ao trabalho e acabaram com essa palhaçada verde-amarela. Confesso que não sei o que me causa mais asco nesses dias de nojo, se o ruído de cornetas e foguetes ou a mediocrada uniformizada. Ainda há pouco, um leitor irritado – e provavelmente psicanalisado – me escrevia: “Se você não gosta de gente, de alegria, devia mesmo procurar um psicanalista correndo, a vida está passando e você não aproveita o que há de mais humano”.
Gosto de gente, sim. E gosto também de alegria, quem não gosta? Mas não dessa gentinha, nem dessa alegria fanatizada. Não sou exceção. Não tenho, em meu pequeno círculo, nenhum torcedor de futebol. Seleciono com muito rigor meus amigos e não corro o risco de ver nenhum deles vestido de verde e amarelo. A propósito, os mails de confraternização estão começando a pipocar. Me escreve o Piaia, um de meus fiéis interlocutores: All hail the dutch people!

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